Foi nesta quinta-feira(3),
em Pernambuco, que aconteceu o
lançamento da campanha “Mulheres Negras Pela Vida!”, promovida pela Rede de
Mulheres Negras de Pernambuco (RMNPE) e a ONG Fase Pernambuco.
A campanha, que pretende se
expandir para todas as regiões do Estado, tem como objetivo chamar levar conscientização
para a população que ainda não percebe como as mulheres negras são penalizadas
quando a violência sexista se alinha com o racismo estrutural, inaugurando uma
agenda de debates sobre a violência contra a mulher negra e as formas de
contra-ataque que foram e são construídas diariamente para ir de encontro a uma
realidade comprovados nas estatísticas.
Nesse primeiro
momento, a campanha “Mulheres Negras Pela Vida” vai se ocupar em apresentar dados
sobre a violência de gênero e raça utilizando manequins que ficarão alocados em
espaços de grande circulação. Primeiras paradas são a Estação Central do Recife
e o Terminal Integrado da Xambá, em Olinda.
A campanha
A identidade visual
da campanha é assinada pela artista e ativista feminista negra Ianah Maia.
Durante o lançamento,
além da apresentação do plano de ação, ocorreu uma mesa de debate mediada pela
RMNPE com a participação de Ciane Neves abordando o tema “Políticas de
Segurança Pública e impactos na vida das mulheres negras”, e Talita Rodrigues
falando sobre “Violência obstétrica e mortalidade materna de mulheres negras.
MULHERES NEGRAS PELA
VIDA!
As mulheres negras
são maioria nos piores indicadores sociais e econômicos do Brasil. São elas que
enfrentam, cotidianamente, as mais perversas manifestações de violência na
sociedade brasileira. Violências de toda ordem, em todas as dimensões da vida:
na casa, na rua, na escola, no lazer, no trabalho, no sistema de saúde, nas
diversas instituições do Estado.
No ano de 2017, no
estado de Pernambuco, cerca de 72% das mortes por mortalidade materna foram de
mulheres negras (pretas e pardas). A faixa etária mais atingida pelas mortes
maternas está entre 20 e 39 anos, com cerca de 74% desses óbitos. Na cidade do
Recife, 95% das mulheres que morreram de morte materna em 2018 eram negras.
(Dados do Comitê de Mortalidade Materna).
Cerca de 80% das
mulheres que estão em situação prisional em Pernambuco são negras. O Brasil é o
5º país do mundo que mais encarcera mulheres. Cerca de 20% dessas mulheres são
analfabetas (Dados do INFOPEN).
Pernambuco é o
terceiro estado com maior índice de aumento de casos de homicídios de jovens no
ano de 2017, com um aumento de 26,2% em relação a 2016.
Em torno de 70%
desses jovens assassinados, são jovens negros. São os filhos, maridos, irmãos,
familiares e amigos das mulheres negras (Dados do Atlas da Violência 2019).
Quase 70% dos negros
estão incluídos entre os que recebem até 1,5 salário mínimo (cerca eR$1400). Entreos
brancos, esse índice fica em 45%. Brancos e negros só terão salários iguais no
ano de 2089, ou seja, daqui a 70 anos, se a situação do Brasil continuar como
está hoje (Pesquisa de Oxfam Brasil, 2017).
E QUEM CUIDA DAS
MULHERES NEGRAS?
Sobre as mulheres
negras foram construídos mitos (fundamentados no racismo) que negam sua humanidade
e sua subjetividade. Um dos mais cruéis
é o que diz que a mulher negra aguenta qualquer tranco e não reclama.
Entretanto, são essas mesmas mulheres negras
que asseguraram, ao longo da história desse país, as diferentes estratégias de
resistência da população negra!
As mulheres negras
atuaram ombro a ombro com os homens negros na resistência à escravidão, lideraram
revoltas e quilombos, constituíram irmandades, preservaram a ancestralidade e a
cultura do povo negro, se constituíram como movimento autônomo e hoje fazem
diferentes lutas de resistência pelo Brasil todo e também mundialmente.
Estão nas lutas pelo
Direito à Cidade, no enfrentamento à violência do Estado, na luta pela terra, na
defesa dos bens comuns e do bem viver, disputando as universidades, construindo
conhecimento, ditando moda nas redes sociais, disputando narrativas de
liberdade no mundo on-line e no mundo off-line!
Cada vez mais vivas!
E é em nome dessa
vida negra pulsante, que a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e a ong FASE(Federaçãode
Órgãos para Assistência Social e Educacional-Pernambuco) lançam a campanha
“Mulheres Negras pela Vida”.
A campanha tem como principal
objetivo interpelar a sociedade acerca das violências que atingem cotidianamente
as mulheres negras, geradas pelo racismo, pelo machismo e a discriminação de
classe.
A campanha terá
atividades nas quatros regiões de Pernambuco: Recife e Região Metropolitana, Zona
da Mata, Agreste e Sertão.
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