Escrito por Raquel Baldo
Foto: Blogueiras negras |
Responsabilidade de trabalhar,
cuidar da casa e dos outros gera às mulheres uma carga mental que está fazendo
com que elas adoeçam
Não podemos negar que a mulher
vem batalhando e conquistando cada vez mais espaço na sociedade. Tudo isso
acontece a um custo alto, de muita dedicação, esforço e adaptação. No meio profissional estamos cada
vez mais em destaque e a cada momento descobrimos e mostramos o quanto somos
capazes de estar presente, produzir e participar igualmente do meio, pois o
gênero não é e nunca foi uma questão para limitação, além do fato do imenso
tabu e histórico/cultural que ditava e ainda dita esse equívoco.
Com esse espaço alcançado
as mulheres ganharam
muitas possibilidades, mas em conjunto carregaram consigo as tantas
responsabilidades que já arcavam antes destas conquistas. Falo aqui das rotinas
caseiras, familiares e sociais do tal "papel da mulher" na sociedade.
As mulheres hoje trabalham não
somente por liberdade e opção, mas em muitas casas significam grande ou até
maior parte da renda que sustenta a família. Sendo assim, o trabalho e
conquista profissional da mulher atualmente é uma necessidade de sobrevivência
de muitas famílias. Porém, apesar da mulher representar a divisão ou arcar com
boa parte dos custos de vida da família, o mesmo não ocorreu com as tarefas
ainda ditas como femininas.
Os homens ainda se permitem a não assumir essas tarefas
e mesmo as mulheres muitas vezes têm dúvidas se eles devem realmente realizar
tais tarefas como lavar louça, roupa, varrer casa, cuidar do banho e lição dos
filhos.
O mais comum, quando os homens
participam destas tais atividades domésticas e familiares é que isso aconteça
por opção de prazer, exemplo cozinhar ou levar filhos para certas atividades.
E, nesses momentos, os pais/os homens ganham destaque de alto reconhecimento
social como destaque e merecimentos . Geralmente, quando um homem participa das
atividades domésticas, como lavar uma louça ou ir ao mercado, olhar as
crianças, isso se dá por pedido da mulher e assim fica entendido que é uma
ajuda e a responsabilidade continua com a mulher.
A carga mental da mulher
Assim, sem muito aprofundar ou
buscar porquês, entendemos facilmente que a mulher atualmente carrega uma carga
mental e física imensa e significativa, visto que está sempre envolvida por
muita responsabilidade, tanto da realidade de vida como trabalho e vida
pessoal, mas também e principalmente na fantasia histórico cultural. E é essa
em especial que acaba sendo a grande responsável pela estafa, pelo
cansaço, estresse e
adoecimento da mulher.
A sobrecarga no feminino se dá
pelo excesso de atividades que a mulher deve coordenar em sua rotina, desde o
acordar até o dormir, envolvendo a responsabilidade de satisfação, saúde e bem
estar de outros (filhos, marido, chefe). É muito comum, por exemplo, que seja a
mulher a primeira a levantar da cama e a última ir dormir em uma casa, pois a
noite tem que cuidar da roupa, dos estudos dos filhos, da refeição para o dia
seguinte... Mas apesar desse cansaço físico, a principal causa identificada
como responsável de síndromes de estafa, estresse e depressão da mulher é
resultado da pressão que os conceitos e tabus em torno do feminino causam desde
sempre e há muito tempo na história.
O papel da educação
Meninas crescem sendo
estimuladas a brincar de casinha, cuidar de filhos, marido e realizar tarefas
domésticas. Desde cedo, aprendem que devem ajudar na casa e que isso dita seu
valor. Uma boa e linda menina, educada, caprichosa na casa, que ajuda e cuida e
que um dia servirá para boa esposa e mãe. Enquanto isso, os meninos crescem
jogando bola, brincando de ser heróis e podendo não saber fazer, cuidar e
realizar tarefas da casa. Essa diferença na educação merece muita atenção e
explica muito do conflito na vida adulta de porque os homens não se sentem
responsáveis pelas tarefas da casa e família e a mulher ao contrário entende
que é a responsável pela casa, pelos filhos e pelo conforto e felicidade do
marido.
Ser mulher está associado
automaticamente a cuidar e servir ao outro desde sempre. Desde que se é uma
pequena menina brincando, é entendido que seu valor enquanto pessoa, será
reconhecido neste lugar pela sociedade. Os equivocados elogios recebidos
associando sua qualidade a suas habilidades de cuidar da casa e família
confundem o existir e autopercepção da mulher e seu feminino.
Por isso, é muito comum uma
mulher cobrar seu marido, mas ao mesmo tempo boicotar ou não deixar o parceiro
fazer as tarefas ao ficar criticando e corrigindo. Ela acaba sendo convencida
por si mesma que a mulher faz muito melhor e, então, seria melhor não repassar
responsabilidades. Ao mesmo tempo, muitos homens se apoiam nesta mesma ideia
para justificar suas ausências nestas tarefas, transformar essa situação em
elogios e assim, tanto ele, quanto a mulher, se convencem e reforçam esse tabu,
que diz ter certas coisas que só uma mulher sabe fazer ou fazer melhor. Esse conceito
é equivocado, arcaico e responsabiliza a mulher por mais atividades, por certas
atividades e se apresenta disfarçado de elogio ou de qualidade do feminino.
Cuidar do outro x
autossatisfação
Foto Filme Estrelas Além do Tempo |
Como acabar com a carga mental
das mulheres
Podemos assim entender que a
carga mental e a vida da mulher vem sendo sobrecarregada há tempos e a solução
para isso deverá levar tempo também. Apesar de algumas mudanças imediatas serem
importantes e devem sim ocorrer para as mulheres, como dividir tarefas da casa
e família com seu parceiro, tirar tempo para descansar, se divertir e cuidar de
si mesma sem a responsabilidade de agradar outro alguém, não serão essas
atitudes concretas a verdadeira solução para amenizar a carga mental que adoece
o feminino.
Se há alguma chance desse
quadro dar sinal de melhoria, será através da desconstrução de conceitos e
tabus históricos, culturais e sexistas/gêneros. É preciso rever o conceito e
ressignificar o lugar da mulher e do homem, desde seu nascimento.
É preciso
entender que uma menina pode sim brincar de boneca e casinha e um menino
também, afinal assim aprendem desde cedo, pelo brincar, sobre certas
responsabilidades.
Assim como a menina deve ter o direito a não se preocupar em
agradar família ou agradar meninos, ela deve ter o direito de agradar a si
mesma e se respeitar e ser respeitada em suas particularidades.
As meninas
devem também brincar como os meninos e sentir-se heroínas, jogar bola, brincar
de carrinhos e ao lado de meninos e meninas entender que todos podem fazer
muitas coisas e todos devem aprender sobre responsabilidades da vida
igualmente.
O adoecimento do feminino é uma
realidade séria que precisa de atenção e cuidado. Os consultórios psicológicos
e psiquiátricos estão cada vez mais recebendo mulheres entristecidas e
perdidas.
É preciso ser compreendido pelo
meio, por mulheres e homens, por pais e mães, professores e escolas a
importância do ressignificado do lugar e papel da menina, da mulher.
O papel da
mulher precisa ser entendido como além de esposa, mãe ou mulher que serve para
atrair e conquistar homens.
A mulher precisa ter a chance de ser uma pessoa, um
ser humano que existe nela e por ela. E um dia, se assim desejar, poderá formar
uma família, ter um casa ou uma empresa que seja, desde que isso signifique
parceria entre as pessoas envolvidas, parceria igualitária em que ambos têm
direitos e deveres em todas as áreas, desde financeira até os cuidados básicos
da casa e filhos, visto que ambos escolheram esse mesmo caminho.
Edição: Mônica Aguiar
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