Por Cristina Boeckel, G1 Rio
Das 14 escolas de samba do
Grupo Especial que passarão pela Marquês de Sapucaí este ano, sete delas contam
com mulheres entre os cantores. Em duas delas, elas ocupam lugar de destaque e
são as vocalistas principais dos sambas-enredo, dividindo o espaço com homens.
Grazzi Brasil será uma das
vozes principais da Paraíso do Tuiuti pelo segundo ano seguido. Na São
Clemente, Larissa Luz assume os vocais principais da escola este ano.
Mesmo assim, o espaço para as
vozes femininas nos carros de som ainda é reduzido. Em levantamento feito
pelo G1, entre os intérpretes das 14 escolas que fazem parte do
Grupo Especial este ano, apenas 12 são do sexo feminino. Isso representa 14,8%
do total.
A escola que conta com mais
vozes femininas é a São Clemente. Lá elas são a maioria. Larissa Luz dividirá
vocais principais com Leozinho Nunes e Bruno Ribas. Nos vocais de apoio, três
mulheres os auxiliam durante o canto.
Larissa não é inexperiente.
Soteropolitana, com mais de 15 anos de carreira, ela integrou a banda Araketu
entre 2007 e 2012, já foi indicada ao Grammy Latino de 2016, em sua carreira
solo.
“Eu estou fazendo tratamento
com uma fono específica, que trabalha com interpretes de samba-enredo. E ela me
orienta nesse sentido”, contou a cantora, que já se prepara para a maratona de
carnaval.
Atualmente, ela é a
protagonista do musical Elza, onde interpreta a cantora Elza Soares, que também
é uma das precursoras dos vocais femininos na avenida, pois já conduziu o samba
da Mocidade Independente de Padre Miguel na década de 70. Segundo Larissa, de
lá para cá, as mulheres seguem “avançando e se colocando”.
Na Paraíso do Tuiuti, Grazzi
Brasil não é novata. Ela assumirá a voz principal da escola pelo segundo ano
seguido. No carnaval de São Paulo, onde ela também canta, será intérprete da
Vai-vai pelo terceiro ano.
Dividindo os vocais com
Celsinho Mody, Grazzi reconhece que o mundo dos cantores de samba-enredo ainda
é muito masculino, mas que já é mais comum ver mulheres cantando e compondo
sambas-enredo. “Uma mulher pode cantar o que ela quiser”, explicou.
Ela começou a cantar aos 13
anos, cantando samba-rock e MPB. Tempos depois, o samba entrou em sua vida e
ela passou por inúmeras variações do ritmo. Ela participou do programa The
Voice, em 2017, e do elenco do musical Cartola.
“Hoje eu estou conciliando os
meus shows e o carnaval, que foi um trampolim para que as portas se abrissem e
eu pudesse mostrar ainda mais o meu trabalho. Tudo se junta e vira uma coisa
só”, destacou Grazzi.
Ela explica que as
interpretações são diferentes para cada estilo de música. “O amor é o mesmo,
mas uma música dolente é diferente de cantar, de interpretar, com doçura. O
samba-enredo é uma coisa mais valente”.
O preparo para a maratona
carnavalesca de conduzir duas escolas exige hidratação, preparo vocal e
descanso. Ela espera repetir o sucesso da performance do enredo do ano passado
'Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?'", que levou a Tuiuti ao
vice-campeonato.
Mesmo com o avanço feminino
entre as vozes da Sapucaí, sete das 14 escolas que desfilarão no Grupo Especial
não possuem vozes de mulheres cantando os sambas. Outra que deseja quebrar essa
barreira é Lissandra Oliveira, que canta nos vocais de apoio de escolas de
samba desde 1999. Filha de uma família que trabalha com carnaval, ela é irmã
dos mestres Jorjão e Jonas.
Ao longo do tempo, ela passou
pela Inocentes de Belford Roxo, Renascer de Jacarepaguá, Mocidade Independente
de Padre Miguel, Unidos da Tijuca, São Clemente e Grande Rio. Este ano, ela vai
representar o Salgueiro. Apesar do espaço ainda ser pequeno, ela considera que
o espaço para as mulheres nos carros de som que cruzam a avenida melhorou bastante
desde que começou.
“Era muito mais fechado.
Estamos dividindo espaço com os rapazes de igual para igual. Não só aqui como
em São Paulo”, destacou Lissandra.
A cantora considera que superou
uma certa desconfiança inicial que existia em relação ao seu trabalho.
Atualmente, ela divide a tarefa de interpretar sambas-enredo com o trabalho de
vocalista na banda de Dudu Nobre. Com o lema de sempre manter a humildade,
Lissandra conta que sonha em assumir os vocais principais de uma escola.
“Tenho sim, a gente sempre tem.
Seria bem legal, uma experiência diferente. Mas a gente não pode chegar com o
nariz em pé”, revelou a cantora.
Evandro Malandro, intérprete
oficial da Grande Rio e que já cantou em várias escolas do Rio e de São Paulo,
também reconhece a importância das vozes femininas nos sambas-enredo. Este ano
a escola conta com a cantora Cacau Caldas entre os cantores de apoio. Ele
explica que elas são necessárias para ampliar as possibilidades do grupo.
“Eu acho importante ter
mulheres no carro de som, principalmente em passagens melódicas mais agudas ou
então em passagens que requerem um pouco mais de brilho, não necessariamente
agudas, que sobressaem mais com uma voz feminina”, destacou o cantor.
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