quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Roda Afrolaje Cultural - Agregar ao Por do Sol - Kwanzaa!

Tempestiva Depressagem com Flávia de Souza 


O solo Tempestiva Depressagem é performance que dialoga com as vivencias emocionais, mentais e sentimentais do ser humano. 

Estas sensações são de difícil compreensão para a maioria da população. E a população preta é a mais prejudicada neste contexto. A depressão, o mal do século XXI, atinge todas as faixas populacionais, porém por conta de um racismo estrutural os negros e, principalmente, as mulheres negras sofrem com muito mais furor suas conseqüências...  Segundo pesquisa de 2011 do IBGE As pesquisas do IBGE mostram que o número de jovens negros que se suicidam é bem maior do que o de jovens brancos. 

            Desde a época do navio negreiro, a população negra já sofria e se suicidavam por depressão, na ocasião chamada de banzo, e tida como um mal que só acometia aos escravizados. E assim nada foi feito para combater a patologia da relação mente e alma. E os pretos foram como sempre deixados de lado, e sem o condicionamento para reconhecer o problema eles tiveram potencializados seus distúrbios, pois o direito a humanidade foi negado.

            A sociedade brasileira se condicionou a uma cobrança excessiva sobre a mulher negra, pregando que esta é uma fortaleza ambulante e não sente nada conseguindo lidar bem com tudo. Sabemos que esta é uma construção racista e que traz uma ideia de que somos mais objeto do que humanos.

            Assim trago estes relatos, a partir das falas e do corpo em movimento trazendo os gestuais que identifiquei quando fui acometida pela síndrome do pânico, vêm também desmistificar esta fortaleza que nos desenharam, e nos humanizar, de forma que possamos buscar ajuda antes que ocorra o pior. Como aquilo que aconteceu com a perda da escritora Neusa Santos, a autora de Torna-se Negro. Ela suicidou-se, deixando apenas um pedido de desculpas em um bilhete. E também com a jovem Dáleti Jeovana, de 20 anos, militante, estudante de jornalismo da federal de Tocantins se suicidou 2017. A menina que pulou do oitavo andar da UERJ em 2013, a jovem Ana Ivy que também se suicidou este ano de 2017.

            Depressão e doenças psicológicas são desenvolvidas também em decorrência dos abusos constantes, como o Racismo. Morremos quando somos excluídos, silenciados, perseguidos, isto provoca fadiga, ansiedade, auto-boicote, insegurança e logo chega às doenças psicológicas, e quando esta chega muit@s de nós não percebem e deixamos a vida nos levar, sem que façamos nada para mudar a situação. Segundo Durkheim o que acontece com a população negra na maioria das vezes é o suicídio anômico: esse tipo de suicídio é o que mais nos interessa, por ser o motivador, na concepção durkheimiana, dos suicídios dos jovens negros por exclusão e discriminação social, ou seja, por anomia. Não quero mais ser ou estar assim. Neste ano de 2017, Flavia Souza, esta que vos fala, pensei em deixar este mundo, mas encontrei no meu corpo, no meu centro de equilíbrio interior, no meu eu espiritual, mental e físico a cura.  E assim surgiu o MOVIMENCURE.

            E venho a um ano me debruçando e pesquisando sobre esta patologia da qual já fui vitima, e a partir das manifestações culturais, circulares e acolhedoras, onde movimenta a energia que cada ser carrega em si, encontrei uma possibilidade de cura. Assim trazendo a reflexão através da ancestralidade: Existe mente sem corpo? Alguém já viu um pensamento por ai?

            Com esta vivência cheguei a seguinte argumento: “Com o giro da saia me permito devanear, com o vento que ela faz, leva tudo que prejudica o ser e todo mal que espreita e só deixa o que tem de bom no meu ser e no meu eu interior”!

            Através de pesquisas e oficinas, Flavia Souza, esta montando um pequeno fragmento solo, com participações e intervenções de vídeos com relatos sobre saúde mental, psíquica, sobre a construção de um ser forte, sobre a dificuldade que pessoas, principalmente, negras têm de admitir que esteja sofrendo e precisando de cuidados e sobre como, onde e quando podemos e devemos buscar ajuda. É sabido que o corpo fala e dialoga sobre tudo, sobre cura, angustia e ancestralidade.

            Flavia percebeu que ao lidar com a saúde mental o problema é invisibilizado e silenciado entre a população negra. O auto-cuidado é praticamente inexistente e isto é herança que o banzo nos deixou.

            O banzo costuma ser descrito como estado de espírito dos negros escravizados que vinham para o Brasil. As pessoas negras entravam num estado grande de melancolia com forte sentimento de saudade da terra natal, desmotivação pela vida e assim muitos deixavam de comer e outros muitos cometiam suicídio. Segundo o Doutor em psicologia clinica Marcos Antônio Chagas Guimarães, o banzo sempre foi descrito de forma romantizada e folclórica, “Fenômeno sobrenatural” que pousava sobre os africanos, assim tirando o peso psíquico sofrido pelos escravizados, que hoje conhecemos como DEPRESSÃO.

A proposta é trazer os sentimentos, sensações emocionais e psicológicas para a movimentação corporal, trazer estas nuances com intervenções de vídeo com relatos de pessoas que já passaram por depressão ou síndrome do pânico, psicólogas e psiquiatras.


Quem é  FLAVIA SOUZA

Atriz, Coreógrafa, Cantora, Dançarina. Bacharela em Dança - UFRJ
Licenciatura em Artes pela Cândido Mendes
Presidenta e Fundadora da A.C.G. AFROLAJE
Vice Diretora da Associação de Mulheres Negras AQUALTUNE
Coreografa, MovimenCure e Auto Cuidado. Pesquisadora em Cultura Popular Afro Brasileira. Equipe A Face Negra do Amor grupo Madalena - Anastácia teatro das oprimidas. Grupo Cor do Brasil teatro do oprimido CTO Rio

Companhia Folclorica do Rio - UFRJ
(21) 98593-9942

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