Há seis edições, a FLUP vem se
destacando como uma plataforma de criação de grandes histórias literárias. Numa
inédita parceria com a Film2b, ela oferecerá agora um processo de formação na
área de roteiro. É o primeiro Laboratório de Narrativas Negras para
Audiovisual.
O processo oferecerá uma
formação para 30 potenciais roteiristas que se autodeclarem negras ou negros,
com encontros semanais com grandes nomes da TV e do Cinema nacional. Será um
espaço de trocas, aprendizados e novos repertórios literários e
cinematográficos.
O Laboratório tem como objetivo
incentivar a produção de narrativas potentes e criativas de roteiristas negras
e negros, suprindo uma incompreensível lacuna da nossa produção audiovisual.
Somente as pessoas negras podem reinventar seu lugar em nossa dramaturgia.
A brutal crise política e
econômica do país pode ter nos roubado a esperança por dias melhores, mas,
qualquer que seja a ideia de futuro para o Brasil, ela obrigatoriamente implica
uma discussão mais ampla sobre as heranças da escravidão. No Brasil, as pessoas
negras representam 51% da população e 76% das mais pobres.
Uma leitura rasa de nossas
estatísticas já é o bastante para mostrar que onde a ideia de República está
mais longe de se universalizar é nas áreas em que o povo negro é maioria. A
favela e os presídios são os exemplos mais dramáticos, mas não os únicos de um
racismo que pode ter como pior faceta o fato de não ser assumido.
:: O Negro em Hollywood
O Oscar de 2016 foi marcado
pela ausência de filmes dirigidos, roteirizados e interpretados por pessoas
negras na noite da entrega das estatuetas, mas também pela justa indignação dos
africanos-americanos diante da indiferença da academia em relação à sua produção.
Descobriu-se na ocasião que apenas 30 negros tinham sido indicados, decorrentes
da produção de 28 filmes. Além de serem poucos, eles só reconheciam a qualidade
de filmes em que o negro desempenhava papeis subservientes ou violentos.
A força da democracia
estadunidense, onde as grandes instituições são pautadas pela opinião pública,
reverteu esse quadro em apenas um ano. Na cerimônia do Oscar de 2017, não
apenas havia diversos filmes envolvendo a questão negra concorrendo em diversas
categorias, como o prêmio de melhor filme ficou com Moonlight, do diretor Barry
Jenkins. Além disso, houve um deslocamento temático, mais presente no filme
Hidden Figures (Estrelas além do tempo), cujas protagonistas tiveram importante
papel na corrida espacial da Era Kennedy.
Essa tendência só fez se
confirmar com a recente aprovação de uma lei do estado de Nova York, destinando
não menos que cinco milhões de dólares para a contratação de cineastas ligadas
às minorias: “Nos últimos anos, a indústria audiovisual entendeu que o aumento
da diversidade na escrita e na direção melhora a qualidade das histórias que
aparecem nas telas.”
A dramaturgia brasileira, em
sua quase totalidade, é produzida por escritores brancos. Um estudo conduzido
pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMA) da UERJ, e
divulgado em março de 2017, apresenta dados que foram coletados a partir da
análise das 219 maiores bilheterias de filmes brasileiros entre 1995 e 2016.
Apenas 3% dos roteiristas são negros. E esta cifra cai para 2% na direção. Não
foram encontradas nem diretoras nem roteiristas negras no universo de obras
analisadas.
Em um país onde a maior parte
da população é negra e esta está sub-representada na mídia, é preciso realizar
ações que contribuam para mudar este quadro. Formar e capacitar profissionais
negras e negros que possam atuar nas mais variadas funções do audiovisual são
ações indispensáveis para mudar este quadro.
Neste contexto, a FLUP e a
Film2b aliam suas experiências para criar um projeto com duplo viés: a formação
de roteiristas negras e negros para a criação de narrativas audiovisuais e a
criação de um ambiente que provoque e instigue a criatividade para fazer
emergir histórias e personagens latentes de um universo ainda pouco explorado e
representado pela nossa dramaturgia.
O processo de formação do
Laboratório de Narrativas Negras para Audiovisual contará com uma parceria da
Globo, que viabilizará a participação de profissionais de sua equipe como
palestrantes e oportunidades de capacitação para os selecionados que mais se
destacarem.
Quem
pode participar?
Pessoas
autodeclaradas negras
• Maiores de 18 anos
• Ficha de inscrição corretamente preenchida
• Disponibilidade para participar presencialmente de todos os encontros propostos
• Maiores de 18 anos
• Ficha de inscrição corretamente preenchida
• Disponibilidade para participar presencialmente de todos os encontros propostos
Processo
seletivo
• Encerramento de inscrições: 16 de julho de 2017, às 23:59
• Divulgação dos selecionados: 25 de julho de 2017
• Encontro para dirimir dúvidas e esclarecer as etapas do processo: 26 de julho de 2017
Todos
os encon tros serão presenciais na cidade do Rio de Janeiro, realizados aos sábados, das 14h às 18h. Os palestrantes incluem roteiristas da Rede Globo e do mercado de produção independente do audiovisual.
Fontes:todosnegrosdomundo
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