Faltam poucos dias para 15ª edição da Flip
(Festa Literária Internacional de Paraty).
Entre 26 e 30 de julho, a cidade história do litoral sul do Rio de Janeiro será palco de reflexões e debates sobre as atuais narrativas produzidas no Brasil e no mundo. Com curadoria da jornalista Josélia Aguiar, o evento literário mais importante do país abre neste ano espaço inédito para a diversidade de vozes da literatura negra.
Pela primeira vez em sua história, a Flip traz um número de autoras supera o de autores. Serão 22 mesas com 46 autores, dos quais 22 são homens e 24 são mulheres.
O escritor homenageado deste ano será Lima Barreto (1881-1922), autor marginal cuja trajetória foi marcada pela crítica contundente ao cotidiano racista e de segregação social no Brasil.
Na abertura do evento, o público acompanhará uma aula ilustrada sobre a vida e obra do escritor carioca. A antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz (autora de Lima Barreto: Triste Visionário) e o ator Lázaro Ramos conduzem o programa.
Em diálogo com os questionamentos que suscitam da obra de Lima Barreto estão 7 livros de autoras negras convidadas da Flip deste ano: Ana Maria Gonçalves, Djaimilia Pereira de Almeida, Grace Passô, Scholastique Mukasonga, Joana Gorjão Henriques e Conceição Evaristo.
Nascidas no Brasil, Portugal e em países do continente africano - e também radicadas em outros regiões não citados – essas escritoras são donas de narrativas, discursos e perspectivas tradicionalmente excluídos em eventos do gênero dentro e fora do País.
A seguir, o HuffPost Brasil destaca uma obra de cada autora. São livros que revelam uma literatura brasileira plural e que merecem espaço urgente nas mentes, corações e estantes dos brasileiros.
Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves
O romance Um Defeito de Cor conta a impressionante história de Kehinde, trazida da África como escrava para o Brasil no século XIX que após, muitas andanças, consegue comprar a própria alforria e regressar à África em busca do filho perdido. Lançada em 2006, a saga da heroína negra - inspirada na lendária figura baiana de Luísa Mahin - conecta discussões sobre poder, raça, cultura e sociedade. Catatau de mais de 900 páginas, a obra levou quatro anos para ser finalizada – incluindo pesquisa, escrita, reescrita (do zero) e revisão. Não à toa, Um Defeito de Cor alçou Ana Maria Gonçalves ao posto de voz fundamental na reflexões sobre racismo no Brasil.
Esse Cabelo, de
Djaimilia Pereira de Almeida
Livro de memórias, ficção e ensaio.
E também um manifesto antirracista. Pode-se definir assim o livro Esse
Cabelo, da escritora Djaimilia Pereira de Almeida, lançado no Brasil pela
editora Leya. Nascida em Luanda, na Angola, e radicada nos arredores de Lisboa,
em Portugal, a autora apresenta nesta obra uma bem-humorada biografia do
próprio cabelo crespo – interligando questões de raça, feminismo e identidade.
Djaimilia é doutorada em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa e uma
das representantes da novíssima literatura em língua portuguesa. É também
fundadora e dirigente da revista de literatura Forma de Vida
Por Elise, de Grace Passô
Uma dona de casa que fala sobre a vida dos seus vizinhos. Um
cachorro que late palavras. Uma mulher perdida E um lixeiro em busca de seu
pai. Esses são alguns dos personagens da peça Por Elise, escrito e
dirigido por Grace Passô juntamente com o grupo Espanca!. Umas das primeiras
peças da autora mineira, a obra lhe rendeu o APCA e o SESC/SATED de melhor
dramaturga e, em 2005, o Prêmio Shell de melhor texto em 2006. No formato
livro, o leitor pode acompanhar um olhar muito particular sobre as relações
humanas e as contradições que a conduzem.
A Mulher de Pés Descalços,
Scholastique Mukasonga
Escritora premiada, a ruandesa Scholastique Mukasonga é conhecida por
abordar em sua obra o genocídio da etnia a que pertence, tutsi, que ocorreu
durante a sangrenta guerra civil de Ruanda em 1994. No romance A Mulher
de Pés Descalços, o leitor acompanha a trajetória de Stefania, mãe da
autora, uma senhora alegre e conselheira da vida amorosa das moças da
vizinhança, que viveu em meio a terríveis cenários de extermínio, tornando-se,
ao fim, mais uma das cidadãs assassinadas pelos hutus.
Racismo em Português, de Joana
Gorjão Henriques
Como a política colonial de
Portugal na África marcou as relações raciais no continente? É ao redor desta
questão que gira Racismo em Português: O Lado Esquecido do Colonialismo,
da jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques. O livro é fruto de um longo
trabalho de jornalismo investigativo. Foram dezenas de entrevistas pelos cinco
países da África lusófona: Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe e Moçambique. Como resultado, a autora tenta mostrar até que ponto o
racismo afeta as relações nesses países.
Primeiro (e até agora único) livro de poesias de Conceição
Evaristo, Poemas da Recordação e Outros Movimentos é uma obra
que tem a crítica social como fio condutor. Publicado originalmente em 2008, a
obra aborda temas como pobreza, dor, amor, desejo e o tempo, numa escrita
marcada por ritmo, expressividade e toda a experiência de vida da autora.
Nascida numa favela de Belo Horizonte, Conceição Evaristo é hoje uma das
principais representantes da literatura negra brasileira. Acadêmica com
doutorado em Literatura Comparada pela UFF, voz ativa denúncia de
discriminações no Brasil, a escritora tem textos publicados em coletâneas
estrangeiras, assim como obras traduzidas em outras línguas.
O Tapete Voador, Cristiane
Sobral
Coletânea de contos, O Tapete
Voador é o quarto livro da atriz, escritora e poeta Cristiane Sobral.
Ele foi publicado no ano passado pela Malê, editora focada em títulos
literários em língua portuguesa de autores negros, brasileiros, africanos e da
diáspora. Nascida no Rio, Cristiane migrou nos anos 90 para Brasília, onde se
tornou a primeira mulher negra graduada em Interpretação Teatral pela UnB. Com
carreira estabelecida nos palcos, ela estreou na literatura e contundente
diversos aspectos sobra a questão racial no Brasil, incluindo racismo,
empoderamento e colorismo - apontando para a construção de uma identidade negra
contemporânea em 2000. Neste livro, a autora apresenta 19 narrativas que
abordam de forma inventiva.
Fonte:HuffPost
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