Por Mônica Aguiar
Após pressão do Movimento de Mulheres de diversos seguimentos
da sociedade de Belo Horizonte, ontem dia 07, foi retirado da pauta o projeto
de Lei455/17, de autoria de um médico Vereador do PSD, que propõe criar um
Programa Municipal de Planejamento Familiar para as Dependentes Químicas.
O Conselho Municipal de Saúde, através da Presidenta Carla Anunciatta denunciou a PL que é de 2017, por ter entrado novamente em pauta já que estava com sua tramitação parada.
É um projeto higienista, porque você quer esterilizar a
população de mulheres pobres e
pretas, drogadícias e a população de mulheres
privadas de liberdade. Somos contra a implantação política pública sem
discussão sociedade, movimento de mulheres e área técnica. ( Carla Anunciatta, Presidenta do conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte).
A Comissão de Mulheres do Conselho Municipal de Saúde, (CISAM SMS BH), em sua reunião semanal, aprovou em caráter de emergência a convocatória de uma reunião virtual, que aconteceu no último dia 06 e contou com mais de 80 pessoas presentes, representando diversas entidades e setores dos movimentos de mulheres, mulheres negras, direitos humanos, LGBT, O.A.B, movimentos antimanicomial e conselheiros (municipal, distrital e local) de saúde.
Não faltaram manifestações de protestos contrárias a PL que, surpreendentemente
voltou a pauta neste mês de outubro.
O texto da PL, determina que a Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte(PBH) fornecesse métodos contraceptivos à mulheres dependentes
químicas da capital, com gestão à cargo da Secretaria Municipal de Saúde.
No artigo 3º do Projeto de Lei, determina implantação de métodos contraceptivos gratuitos em mulheres com dependência química e ressalva que os métodos a serem utilizados, somente poderiam se efetivar de
forma voluntária e após assinatura de termo de compromisso da mulher.
Pílula, injetáveis, dispositivo intrauterino (DIU) e métodos cirúrgicos
(laqueaduras de trompas) foram os métodos determinados na PL e que já são
ofertados nos programas de atenção à saúde pelo SUS em BH.
O que mais causou espanto foi a inclusão de implante
subdérmico liberador de etonogestrel, conhecido como Implanon, um sistema
intrauterino com liberação de levonorgestrel. Ainda não ofertado pelo SUS como método
contraceptivo em BH.
Além de ser muito caro
o Implano, para efetivação do distinto “Programa”, sua distribuição poderia
ser realizada por laboratórios particulares através de parcerias com setores privados
de saúde e com o Governo de Estado de Minas Gerais.
Eles combinaram de nós matar, mais nós decidimos VIVER!
(Sandra Munoz: ativista feminista RedeLesbi e Rede Afro LGBT de Minas Gerais / Coordenadora da CISAM CMS-BH)
Durante a reunião, as falas reafirmaram que a PL é racista,
higienista e segregadora. "Escolheram apenas um seguimento da sociedade para que sejam
atendidas, mulheres em estágio de dependência química (drogadícias)" afirmaram.
Para Mônica Aguiar, esta que vos escreve, a PL tem endereço certo uma vez que fala em criar uma lista. As mulheres que estão em situação de liberdade privada, semiliberdade, liberdade restritiva ou em cumprimento de medidas socioeducativas.
No Estado de Minas Gerais, a SUASE, por meio da
Superintendência de Medidas de Meio Aberto e Semiliberdade, executa várias medidas
em parceria com prefeituras e instituições não governamentais.
Eu acredito que este projeto manifesta o racismo
existente, reforça a segregação e impõem à um determinado grupo de mulheres determinantes
por não ter acesso amplo aos tratamentos adequados na saúde mental, na assistência
social e psicológica para se recuperar.
Esta PL trata as mulheres como se não tivessem chance nenhuma
de recuperação. Como se os futuros filhos tivessem como o único destino permanecer
no mesmo estágio que se encontra sua progenitora em um momento específico da
vida.
As desigualdades sociorracias
existente
em Belo Horizonte são determinantes para que exista uma atenção especial para todas
as mulheres as quais enfrentam barreiras individuais, sociais e estruturais. Principalmente
para as que estão jogadas em situações de vulnerabilidades.
São as mulheres negras as mais expostas a essas barreiras que
vai desde a dificuldades de acesso em serviços públicos, falta de escolaridade
até a falta de oportunidades no mercado de trabalho.
Os problemas sociais de Belo Horizonte não foram provocados
por estas mulheres. O que sofrem, a situação que se encontram é fruto de mazelas
dos racistas, do racismo estrutural e institucional, da misoginia e patriarcado
existe. Da falta de responsabilidade política e de gestão em programas sociais
que ajudem na condução de suas vidas e no exercício de sua cidadania.
Os direitos sexuais e reprodutivos devem ser respeitados e
não utilizados pelo Legislativo para diminuir nascimento de crianças a partir da
esterilização de mulheres que são maioria negras. Isto não vai resolver o
problema da fome, da miséria e da pobreza existente em Belo Horizonte.
E não será através das violações de corpos e desrespeitando a autonomia das mulheres, através da gestão de saúde pública para um setor de saúde privada que o fluxo de produtos, ou produtos em testes será ampliado no mercado. Isto é inadmissível. Direitos reprodutivos jamais poderão ser efetivados assim!
Um comentário:
Uma explicita transferência de responsabilidade que, diga-se de passagem é do Estado. Mas como sabemos, a culpa é sempre do povo.
Excelente artigo, parabéns. Tay Santos.
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