sexta-feira, 2 de outubro de 2020

O Poderoso discurso das Mulheres Negras

Por Mônica Aguiar 

As mulheres negras do Mundo tem se destacado com discursos poderosos, garantindo a disseminação das vozes e bandeiras de luta que historicamente foram  invisibilizadas.

Machismo,sexíssimo,violência,racismo,misoginia,patriarcado,desigualdades, discriminação, preconceitos, intolerância religiosa, islamofobia, antissemitismo, xenofobia, homofobia, são elementos em destaque para sustentação das desigualdades econômicas e sociais em todo o mundo. São historicamente enfrentados principalmente pelas mulheres negras.

As barreiras constituídas pelas práticas destes elementos, estão sendo traduzidos  para milhares de pessoas e por mulheres negras que versam sobre seus efeitos maléficos, através de vozes poderosas, palavras declamadas e escritas, elevando a autoestima da população negra. Desmistificando a subserviência existente. Requalificando a cidadania negra. Potencializando o ser humano negro.  

Palavras vindas de vários discursos emocionantes.

As mulheres negras tem rompido com as barreiras existentes, ao lutar por uma sociedade mundialmente igualitária.  


Beyonce, cantora e empresária
no evento “Dear Class of 2020” transmitiu por quase 10 minutos ininterruptos o que foi chamado de “uma dose de sabedoria” a jovens que estão saindo da faculdade no contexto da pandemia do novo coronavírus

https://www.youtube.com/watch?v=iGtJE58bli0

Beyoncé ao iniciar ser discurso para os formandos de 2020,  destacou as lutas únicas que os estudantes enfrentam hoje, principalmente, nos Estados Unidos e traçou uma linha de pensamento com ênfase especial no poder da ação comunitária, especialmente no combate à injustiça racial. Marcou seu discurso afirmando “Obrigado por usar sua voz coletiva e deixar o mundo saber que vidas negras importam” 

Entre seu discurso destaco: 

“Não havia mulheres negras sentadas à mesa. Então eu tive que cortar a madeira e construir minha própria mesa. Então, convidei o melhor para se sentar”.

“Por favor, continue a ser uma voz para os que não têm voz”, disse. “Nunca se esqueça: podemos discordar de uma maneira que seja produtiva para chegar a decisões que promovam mudanças reais. E se você cometer um erro, tudo bem também. Mas todos temos a responsabilidade de nos responsabilizar e mudar. Seja qual for o mundo em 10, 20 anos, parte disso depende de você. Peço que você deixe que esse momento o leve a melhorar a si mesmo em todas as áreas da sua vida. ”


Angela Davis,
professora, escritora, filósofa, historiadora, símbolo da luta negra na década de 1960 nos EUA.  Realizou um dos seus mais belos discursos na Marcha das Mulheres, em Washington, nos EUA, dia seguinte à posse de Donald Trump. Em 2017.  “Nós representamos as poderosas forças de mudança que estão determinadas a impedir que as moribundas culturas do racismo e do patriarcado heterossexual se ergam novamente”.

A luta por liberdade do povo negro, que moldou a própria natureza da história desse país, não pode ser apagada com um gesto. Nós não podemos ser forçados a esquecer que a vida negra importa. Esse é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que quer dizer, para o bem e para o mal, que a história dos EUA é uma história de imigração e escravidão. Espalhar xenofobia, atirar acusações de assassinatos e estupros e construir muros não vai apagar a história”.

“Nós nos dedicamos à resistência coletiva. Resistência contra a biolionária especulação imobiliária e sua gentrificação. Resistência contra os que defendem a privatização da saúde. Resistência contra os ataques aos muçulmanos e aos imigrantes. Resistência contra os ataques aos deficientes. Resistência contra a violência do estado perpetrada pela polícia e pelo sistema carcerário. Resistência contra a violência de gênero institucionalizada, especialmente contra as mulheres trans e negras”

“Pelos próximos meses e anos nós teremos de intensificar a exigência por justiça social e nos tornarmos mais militantes em defesa das populações vulneráveis. Os que ainda defendem a supremacia do homem branco heterossexual patriarcal não passarão. Os próximos 1,459 dias do governo Trump serão 1,459 dias de resistência: resistência no chão, resistências nas salas de aula, resistência no trabalho, resistência na arte e na música. Isso é só o começo, e nas palavras da inimitável Ella Baker, ‘nós, que acreditamos na liberdade, não podemos descansar até que ela venha’. Obrigado.”

São centenas de lideranças que enfatizam intervenções no combate ao racismo e suas mazelas. Estas mulheres sempre lutaram e apoiaram as organizações das mulheres negras em todo o mundo. Se dispõem de onde estão e conquistaram, formar lideranças negras e fundamentalmente organizações coletivas. Nas questões da moradia, do emprego e da renda, da saúde, da educação, de segurança pública, saneamento e dentre tantos.   

 No Brasil


Suely Carneiro
, escritora e doutora em Educação . Teórica da questão da mulher negra criou o único programa brasileiro de orientação na área de saúde física e mental específico para mulheres negras.

Na abertura do FestiPoa Literária 2019 disse:  ‘Organizem-se, porque não há mais limite para a violência racista’.

E aqui estou eu nesta noite, realizando sonhos não ousados, fruto da generosidade e do acolhimento, não apenas dos meus discursos, mas sobretudo de reconhecimento de realidades e vivências cruéis que pessoas negras experimentam nessa sociedade e contra as quais tem que estar sempre em luta, sempre alerta, em legítima defesa”.

Na entrevista para revista Cult 2017 “ ….Estamos entrando em uma fase que ainda não conhecemos. Há uma nova etapa dessa sociedade. Eu tenho a impressão de que o processo a que a gente está assistindo está apenas no seu início. Ele não alcançou o seu limite. Nós temos um cenário político assustador, em que todo tipo de conservadorismo, reacionarismo, um conjunto de ideologias discricionárias, violentas prosperam impunemente na sociedade...”.

“Ser Mulher negra é experimentar esta condição de asfixia social”

  “Somos seres humanos como os demais, com diversas visões políticas e ideológicas. Eu, por exemplo, entre esquerda e direita, continuo sendo preta.”

A escritora Conceição Evaristo símbolo no combate a Vulnerabilidade Social, faz a luta através dos livros. Suas obras literárias tratam da periferia brasileira e da cultura negra de raiz africana, em especial da mulher negra do Brasil.

“Minha escrita é contaminada pela condição de mulher negra”.


"Na face do velho, as rugas são letras [...] / O que os livros escondem, as palavras ditas libertam. / E não há quem ponha um ponto final na história."

Em entrevista ao G1,2018: - "O poema traz uma espécie de diálogo entre o que significa o jovem e o que significa o velho, como também traz um diálogo entre o valor da oralidade e o valor da escrita. Este item 'do velho e do jovem' é muito presente na tradição das culturas africanas em que o velho vale pela experiência que ele traz e passa aos mais jovens, que são o símbolo de esperança e da certeza que a vida continua. O mais jovem vai potencializar o mais velho", afirmou Conceição Evaristo.

Jurema Werneck médica, colunista, uma das mais importantes intelectuais do Brasil e Diretora executiva da Anistia internacional no Brasil. Seus desafios não são poucos.

“Mulheres potentes construíram nossas lutas, mas é preciso ir além”

"A superação, ainda que precária, de tantas injustiças e desigualdades, não teria sido possível se muitas não tivessem arregaçado as mangas e se colocado na linha de frente. No entanto, seus nomes costumam desaparecer dos livros, das homenagens, e mesmo de nossa memória coletiva”

Na coluna Marie Claire,2020:  

“Suas vozes e ações não encontram o eco necessário num país marcado pelo racismo patriarcal heteronormativo, que demora em garantir a igualdade de direitos para quem não é branco, não é homem cisgênero nem heterossexual”.

A discriminação, a exclusão e a esperança em dias melhores impulsiona a vida e a trajetória de todas essas mulheres – e me incluo entre elas. Muitas outras, fora destas páginas, são protagonistas em suas realidades. O mundo está sofrendo e, com ele, todas nós, mas, entre nós, algumas carregam o fardo mais pesado. É preciso que continuem, mas que possam ter o apoio de muitas mais. Nossos ombros, nossas mãos, nossos compromissos precisam resultar em melhores condições para todas e não apenas para algumas entre nós”.

 


Luiza Bairros, professora, socióloga, escritora e ex Ministra da Promoção da Igualdade Racial no Brasil, faleceu em 2016.

No Geledés em 2016 : “Quanto mais desvalorizadas as ocupações, menores as diferenças salariais. Por isso, muita gente acha que o racismo brasileiro é mito. Aliás, o racismo no Brasil tem o poder de fazer com que as pessoas brancas se sintam confortáveis em viver em uma sociedade que, supostamente, não exige delas nenhum tipo de identidade racial. Eis o lance...”

“...O racismo institucional tem a ver com a forma com que a instituição se estrutura, como ela é composta. Aí vamos perceber que nos lugares de decisão a maioria das pessoas é branca. Os programas e os projetos executados, no seu conteúdo, não levam em conta as diferentes necessidades das pessoas que demandam esses programas, esses projetos. Além disto, também percebemos o racismo pela total ausência de normas, de regulamentos que, de algum modo, previnam ou desencorajem a prática de atos discriminatórios....”

Nosso grande desafio é básico: Assegurara o direito do negro à vida. Este é o aspecto mais profundo do racismo. A desumanização da pessoa negra”.     

Na ONU News : “todos os Estados membros da ONU podem reiterar sua capacidade de pensar que a situação dos afrodescendentes no mundo pode ser diferente”

 Fontes: Geledés/ Youtube/ G1/Marie Clare/ ONUNEWS/

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