Por Mônica Aguiar
As mulheres negras do Mundo tem se destacado com discursos poderosos, garantindo a disseminação das vozes e bandeiras de luta que historicamente foram invisibilizadas.
Machismo,sexíssimo,violência,racismo,misoginia,patriarcado,desigualdades, discriminação, preconceitos, intolerância religiosa, islamofobia, antissemitismo, xenofobia, homofobia, são elementos em destaque para sustentação das desigualdades econômicas e sociais em todo o mundo. São historicamente enfrentados principalmente pelas mulheres negras.
As barreiras constituídas pelas práticas destes elementos, estão sendo traduzidos para milhares de pessoas e por mulheres negras que versam sobre seus efeitos maléficos, através de vozes poderosas, palavras declamadas e escritas, elevando a autoestima da população negra. Desmistificando a subserviência existente. Requalificando a cidadania negra. Potencializando o ser humano negro.
Palavras vindas de vários discursos
emocionantes.
As mulheres negras tem rompido com as barreiras existentes,
ao lutar por uma sociedade mundialmente igualitária.
Beyonce, cantora e empresária no evento “Dear Class of 2020” transmitiu por quase 10 minutos ininterruptos o que foi chamado de “uma dose de sabedoria” a jovens que estão saindo da faculdade no contexto da pandemia do novo coronavírus.
https://www.youtube.com/watch?v=iGtJE58bli0
Beyoncé ao iniciar ser discurso para os formandos de 2020, destacou as lutas únicas que os estudantes enfrentam hoje, principalmente, nos Estados Unidos e traçou uma linha de pensamento com ênfase especial no poder da ação comunitária, especialmente no combate à injustiça racial. Marcou seu discurso afirmando “Obrigado por usar sua voz coletiva e deixar o mundo saber que vidas negras importam”
Entre seu discurso destaco:
“Não havia mulheres negras sentadas
à mesa. Então eu tive que cortar a madeira e construir minha própria mesa.
Então, convidei o melhor para se sentar”.
“Por favor, continue a ser uma voz para os que não têm voz”,
disse. “Nunca se esqueça: podemos discordar de uma maneira que seja produtiva
para chegar a decisões que promovam mudanças reais. E se você cometer um erro,
tudo bem também. Mas todos temos a responsabilidade de nos responsabilizar e
mudar. Seja qual for o mundo em 10, 20 anos, parte disso depende de você. Peço
que você deixe que esse momento o leve a melhorar a si mesmo em todas as áreas
da sua vida. ”
Angela Davis, professora, escritora, filósofa, historiadora, símbolo da luta negra na década de 1960 nos EUA. Realizou um dos seus mais belos discursos na Marcha das Mulheres, em Washington, nos EUA, dia seguinte à posse de Donald Trump. Em 2017. “Nós representamos as poderosas forças de mudança que estão determinadas a impedir que as moribundas culturas do racismo e do patriarcado heterossexual se ergam novamente”.
“A luta por liberdade do povo negro, que moldou a própria
natureza da história desse país, não pode ser apagada com um gesto. Nós não
podemos ser forçados a esquecer que a vida negra importa. Esse é um
país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que quer dizer, para o bem
e para o mal, que a história dos EUA é uma história de imigração e escravidão.
Espalhar xenofobia, atirar acusações de assassinatos e estupros e construir
muros não vai apagar a história”.
“Nós nos dedicamos à resistência coletiva. Resistência contra a biolionária especulação imobiliária e sua gentrificação. Resistência contra os que defendem a privatização da saúde. Resistência contra os ataques aos muçulmanos e aos imigrantes. Resistência contra os ataques aos deficientes. Resistência contra a violência do estado perpetrada pela polícia e pelo sistema carcerário. Resistência contra a violência de gênero institucionalizada, especialmente contra as mulheres trans e negras”
“Pelos próximos meses e anos nós teremos de intensificar a
exigência por justiça social e nos tornarmos mais militantes em defesa das
populações vulneráveis. Os que ainda defendem a supremacia do homem branco
heterossexual patriarcal não passarão. Os próximos 1,459 dias do governo Trump
serão 1,459 dias de resistência: resistência no chão, resistências nas
salas de aula, resistência no trabalho, resistência na arte e na música.
Isso é só o começo, e nas palavras da inimitável Ella Baker, ‘nós, que
acreditamos na liberdade, não podemos descansar até que ela venha’. Obrigado.”
São centenas de lideranças que enfatizam intervenções no combate ao racismo e suas mazelas. Estas mulheres sempre lutaram e apoiaram as organizações das mulheres negras em todo o mundo. Se dispõem de onde estão e conquistaram, formar lideranças negras e fundamentalmente organizações coletivas. Nas questões da moradia, do emprego e da renda, da saúde, da educação, de segurança pública, saneamento e dentre tantos.
No Brasil
Suely Carneiro, escritora e doutora em Educação . Teórica da questão da mulher negra criou o único programa brasileiro de orientação na área de saúde física e mental específico para mulheres negras.
Na abertura do FestiPoa Literária 2019 disse: ‘Organizem-se, porque não há mais limite para
a violência racista’.
“E aqui estou eu nesta noite, realizando sonhos não ousados,
fruto da generosidade e do acolhimento, não apenas dos meus discursos, mas
sobretudo de reconhecimento de realidades e vivências cruéis que pessoas negras
experimentam nessa sociedade e contra as quais tem que estar sempre em luta,
sempre alerta, em legítima defesa”.
Na entrevista para revista Cult 2017 “ ….Estamos entrando em
uma fase que ainda não conhecemos. Há uma nova etapa dessa sociedade. Eu tenho
a impressão de que o processo a que a gente está assistindo está apenas no seu
início. Ele não alcançou o seu limite. Nós temos um cenário político
assustador, em que todo tipo de conservadorismo, reacionarismo, um conjunto de
ideologias discricionárias, violentas prosperam impunemente na sociedade...”.
“Ser Mulher negra é experimentar esta condição de asfixia
social”
“Somos seres humanos como os demais, com
diversas visões políticas e ideológicas. Eu, por exemplo, entre esquerda e direita,
continuo sendo preta.”
A escritora Conceição Evaristo símbolo no combate a Vulnerabilidade
Social, faz a luta através dos livros. Suas obras literárias tratam da
periferia brasileira e da cultura negra de raiz africana, em especial da mulher
negra do Brasil.
“Minha escrita é contaminada pela condição de mulher negra”.
"Na face do velho, as rugas são letras [...] / O que os
livros escondem, as palavras ditas libertam. / E não há quem ponha um ponto
final na história."
Em entrevista ao G1,2018: - "O poema
traz uma espécie de diálogo entre o que significa o jovem e o que significa o
velho, como também traz um diálogo entre o valor da oralidade e o valor da
escrita. Este item 'do velho e do jovem' é muito presente na tradição das
culturas africanas em que o velho vale pela experiência que ele traz e passa
aos mais jovens, que são o símbolo de esperança e da certeza que a vida
continua. O mais jovem vai potencializar o mais velho", afirmou Conceição Evaristo.
Jurema Werneck médica, colunista, uma das mais importantes intelectuais do Brasil e Diretora executiva da Anistia internacional no Brasil. Seus desafios não são poucos.
“Mulheres potentes construíram nossas lutas, mas é preciso ir
além”
"A superação, ainda que precária, de tantas injustiças e
desigualdades, não teria sido possível se muitas não tivessem arregaçado as
mangas e se colocado na linha de frente. No entanto, seus nomes costumam
desaparecer dos livros, das homenagens, e mesmo de nossa memória coletiva”
Na coluna Marie Claire,2020:
“Suas vozes e ações não encontram o eco
necessário num país marcado pelo racismo patriarcal heteronormativo, que demora
em garantir a igualdade de direitos para quem não é branco, não é homem
cisgênero nem heterossexual”.
“A discriminação, a exclusão e a esperança em dias melhores
impulsiona a vida e a trajetória de todas essas mulheres – e me incluo entre
elas. Muitas outras, fora destas páginas, são protagonistas em suas realidades.
O mundo está sofrendo e, com ele, todas nós, mas, entre nós, algumas carregam o
fardo mais pesado. É preciso que continuem, mas que possam ter o apoio de
muitas mais. Nossos ombros, nossas mãos, nossos compromissos precisam resultar
em melhores condições para todas e não apenas para algumas entre nós”.
Luiza Bairros, professora, socióloga, escritora e ex Ministra da Promoção da Igualdade Racial no Brasil, faleceu em 2016.
No Geledés em 2016 : “Quanto mais desvalorizadas as
ocupações, menores as diferenças salariais. Por isso, muita gente acha que o
racismo brasileiro é mito. Aliás, o racismo no Brasil tem o poder de fazer com que
as pessoas brancas se sintam confortáveis em viver em uma sociedade que,
supostamente, não exige delas nenhum tipo de identidade racial. Eis o lance...”
“...O racismo institucional tem a ver com a forma com que a
instituição se estrutura, como ela é composta. Aí vamos perceber que nos
lugares de decisão a maioria das pessoas é branca. Os programas e os projetos
executados, no seu conteúdo, não levam em conta as diferentes necessidades das
pessoas que demandam esses programas, esses projetos. Além disto, também
percebemos o racismo pela total ausência de normas, de regulamentos que, de
algum modo, previnam ou desencorajem a prática de atos discriminatórios....”
“ Nosso grande desafio é básico: Assegurara o direito do
negro à vida. Este é o aspecto mais profundo do racismo. A desumanização da
pessoa negra”.
Na ONU News : “todos os Estados membros da ONU podem reiterar
sua capacidade de pensar que a situação dos afrodescendentes no mundo pode ser
diferente”
Fontes: Geledés/ Youtube/ G1/Marie Clare/ ONUNEWS/
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