quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Termina um sonho, chamado Carnaval.

Por Mônica Aguiar 

Entre cantos e contos abrem-se as Alas do nosso Carnaval para falar e retratar a realidade de um povo que sofre cotidianamente com a violência institucional, intolerância, racismo e machismo.

Do sonho a realidade. Cantos ecoaram! Brasil, mosaico de cores, cultura mas de muitas dores.

Viradouro,Mangueira,Grande Rio,União da Ilha,São Clemente,Salgueiro,Sapucaí, União da Tijuca,Portela e Mocidade independente.

Diante tanta realidade erguem majestosas esculturas retratando os laranjais brasileiros.

“Acabou a mamata”, "a culpa é do Leonardo di Caprio" revelam faixas(São Clemente) com frases atuais da realeza brasileira.

Fatos reais expostos nas fantasias e alegorias. Política, censuras, extermínios, fakenews, corrupção e aquecimento global.

Quem poderia imaginar que tudo junto e misturado marcariam a história do carnaval em 2020?

A história do Brasil contada entre batuques e melodias, um cardápio de manifestações com serias críticas ao governo atual.

“Onde moram os sonhos?” (Trecho Samba-enredo Unidos da Tijuca)

Questionamentos globais para reconstruir e transformar sem extinções e com preservação da natureza.  

Resgatou e cantou a importante história das mulheres negras no trabalho e na luta pra garantir a liberdade. As primeiras feministas no Brasil.(Unidos do Viradouros)

Um viva à Elza Soares(Mocidade) e Carolina de Jesus. Candaces:-  mulheres que detém o poder, matrilinear e guerreiras!

Escultura do menino negro, com cabelos dourados como raio de sol, nascido na favela, com marcas de tiros no peito, mostrava seu olhar pedindo socorro em direção aos céus. 

Simbolizou verdadeiramente Jesus na cruz.

“A verdade vos fará livre”.
(Trecho Samba-enredo da Mangueira)

Um fio condutor para releitura da triste realidade de milhares de crianças e jovens brasileiros. Um grito de socorro para os jovens da população preta, são os que mais morrem nas mãos da polícia no Brasil.

" Deixai as crianças e não as impeçais de vir a mim, pois delas é o Reino dos Céus". 
Os seguidores e o Messias ignoram este versículo da bíblia quando expõem críticas aos moradores de comunidades e quando perpetram gestos de arma com dedos da mão em direção aos jovens e crianças negras pobres, sugerindo o extermínio.

Eis que surge na passarela o refrão da Grande Rio "Eu respeito seu amém, você respeita meu axé" um pedido de tolerância entre as diferentes religiões.

"Exu te ama", subvertendo o clássico dizer "Jesus te amo". 
Bandeiras feministas, LGBT, e integrantes com placas de dizeres como "cultura", "saúde", "educação" bailavam aos ventos...

Personagem bíblica Maria Madalena levava uma placa com o arco-íris LGBT+ perguntando: 

Vai tacar pedra?”

Retrato vivo de milhões de brasileiros em situação de miséria, pobreza, sem escola, sem políticas sociais, desalentados, desempregados, enfrentando coletivos públicos caros e lotados. Reféns da falta de segurança pública.(União da ilha) 

Demostravam a garra e história do povo negro , sem armas, medo, felizes e suficientemente capazes de construir esta nação, livres de preconceitos, estereótipos e discriminações.   
Tudo na passarela.

Uma mulher negra representou Cristo, a bailarina  Evelyn Bastos, sua comissão de frente mostrou um Jesus pobre e com apóstolos negros.

“não tem futuro sem partilha, nem messias de arma na mão” 
(Trecho Samba-enredo da Mangueira)

Mazelas da escravidão apontaram o resultado palpável da atual conjuntura política. 

Um governo que conduz com víeis ideológicos, conservadores e pessoais, sem responsabilidades para combater as desigualdades sociais e raciais, retrocedendo com ações pública que existiram em governos anteriores de combate à fome e miséria no Brasil.

Poderemos esperar o que diate tal conjuntura política, social, econômica e institucional ?

“Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas, a sorte está lançada: Salve-se quem puder!”.(Trecho Samba-enredo da Ilha do Governador)

A arte dos picadeiros contaram a história do primeiro palhaço negro Benjamin de Oliveira. 

Viva à Mussum, Tião Macalé, Jorge Lafond, dentre tantos, eis que brota novamente para nossa alegria e reafirmação da resistência da mulher negra. (Salgueiro) , entrando em cena a única negra na equipe de nado sincronizado da seleção brasileira Anna Giulia, nadando em um grande aquário. Homenagem à Oxum. (Grande Rios)

O que muitos afirmam ser minoria, somam a maior população negra fora do Continente Africano. Mais de 52% da população brasileira é declaradamente negra.

Retratos vivos da situação da maioria do povo negro, simbolizada nas passarelas deste Carnaval!

“Indio pede paz mas é de guerra/ Nossa aldeia é sem partido ou facção/
 Não tem bispo, nem se curva a capitão”(Trecho Samba-enredo da Portela)


Fontes: G1/OGlobo/Carta Capital/EBC/

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns!Obrigado por tamanha reportagem.

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