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A 70 edição do
Festival de Internacional de Cinema de Berlim, mais conhecido como Berlinale,
começou ontem quinta-feira (20). O evento, que mudou de direção este ano, mantém
sua programação engajada, abordando temáticas sociais do mundo todo. O Brasil
bate recorde de participação, com 19 filmes, entre longas, curtas e
coproduções, e volta a concorrer ao Urso de Ouro, principal prêmio da
competição.
Até o dia 1° de março
Berlim se transforma em capital mundial do cinema. Com mais de 300 filmes, a
programação mais uma vez aposta da diversidade e, principalmente, em temas
sociais, marca registrada que diferencia o evento de seus concorrentes em
Cannes ou em Veneza.
Mas este ano, a
Berlinale abre sua portas com algumas mudanças. A principal delas é na direção,
com a saída de Dieter Kossick, após 18 anos no comando do evento, e a chegada
do italiano Carlo Chatrian, que pilotava até então o Festival de Locarno, e da
holandesa Mariette Rissenbeek. Eles trazem sangue novo para o evento alemão e
afastam as críticas de que os organizadores vinham tentando atrair estrelas e,
muitas vezes, esqueciam da qualidade nas telas.
“Dieter Kosslick
trouxe um certo glamour hollywoodiano para o festival, especialmente para a
competição principal. Mas sua partida também é vista como uma oportunidade
importante para redefinir os pontos fortes estéticos e cinematográficos do
festival, bem como a sua direção política”, comenta a historiadora do cinema e
professora da Universidade Livre de Berlim, Brigitta Wagner.
E isso já se sente na
programação deste ano, onde mesmo se nomes de peso, como a britânica Sally
Potter, traz Javier Bardem, Salma Hayek e Elle Fanning no elenco de “The Roads
not taken” e que um Urso de Honra será entregue à atriz oscarizada Helen Mirren,
a seleção parece mais engajada do que nunca. A prova com filmes como “There is
no Evil”, do iraniano Mohammad Rasoulof, proibido no Irã, ou o documentário
“Irradiés”, do cambojano Rithy Pahn, que fala do genocídio em seu país.
Diante dessa seleção,
o júri dirigido pelo ator britânico Jeremy Irons e que conta com a
participação, entre outros, do cineasta brasileiro Kléber Mendonça Filho terá a
difícil tarefa de escolher entre produções que fazem pensar no mundo de hoje.
“Os filmes que selecionamos tendem a observar o presente sem ilusão. Não para
provocar medo, e sim porque desejam abrir os nossos olhos”, ressaltou Chatrian,
que também se orgulha de ter escolhido a temática das migrações para a mostra
paralela Panorama.
Brasil volta na
corrida pelo Urso de Ouro
Seguindo essa
tendência “pé no chão”, mas olhando o passando para entender o presente e
melhorar o futuro, o Brasil concorre ao Urso de Ouro com “Todos os Mortos”, de
Caetano Gotardo e Marco Dutra. A partir da história de uma mãe e suas duas
filhas logo após a liberação dos escravos no país, esse drama de época olha no
retrovisor para abordar a questão da desigualdade social.
Os brasileiros sempre
tiveram bastante espaço na Berlinale. O próprio diretor do festival disse à
imprensa alemã que o cinema do país latino-americano sempre o inspirou. Mas que
este ano, em razão das mudanças recentes na política cultural nacional, era
“importante mandar um sinal para a indústria internacional de que nos importamos
com o cinema brasileiro”.
O sinal não poderia
ser mais claro. Além de voltar na corrida pelo Urso de Ouro, após ter levado a
estatueta em 1998, com Central do Brasil, e em 2007, com Tropa de Elite, o país
bate um recorde de participação, com 19 filmes selecionados nas diferentes
mostras, entre longas, curtas, documentários e coproduções.
Além de “Todos os
Mortos”, três ficções e dois documentários concorrem na mostra Panorama – que
apresenta obras independentes e que muitos veem como o equivalente da “Um certo
olhar”, de Cannes. Quatro produções serão exibidas na seleção Generation
14plus, que traz projetos voltados para o público mais jovem, e oito filmes na
Forum e Forum Expanded, onde se reúnem obras que exploram caminhos menos
convencionais na maneira de construir suas narrativas.
O Brasil aparece
ainda na Encounters, seleção criada este ano, e que promete ser ainda mais alternativa que as já famosas Panorama e Forum.
Mais mulheres do que
Cannes e Veneza
A competição
principal terá 18 filmes de 18 países, seis deles dirigidos por mulheres. “Seis
filmes não é paridade, mas é um caminho para alcançá-la”, explicou Chatrian,
lembrando o engajamento da Berlinale em aumentar o número do diretoras no
programa (no ano passado elas representavam 45%). De qualquer maneira, a
proporção já é bem acima dos concorrentes Cannes e principalmente Veneza, bastante criticado no ano passado por selecionar apenas
duas diretoras entre os 21 filmes na competição principal.
Mulheres fortes
também estarão presentem em eventos paralelos durante a Berlinale. É o caso de
Cate Blanchett, que participa de um debate com o diretor brasileiro Karim
Ainouz, ou ainda Hillary Clinton, estrela do documentário “Hillary”, de Nanette
Burstein, que também será exibido em Berlim.
A presença feminina
permeou toda a organização. “No ano passado, o festival divulgou um relatório
sobre a paridade de gênero em todos os níveis do festival – dos programadores
nos bastidores até os envios de filmes e o número de projetos selecionados. A
Berlinale parece estar desenvolvendo um maior senso de transparência ao tornar
essas questões públicas, visando uma maior consciência sobre como as decisões
são tomadas e como o gosto cinematográfico é definido”, avalia Brigitta Wagner.
E tudo isso acontece
em um clima descontraído, que conta com a participação direta do público.
Afinal, ao contrário de Cannes, onde apenas algumas sessões são abertas, na
Berlinale qualquer um pode comprar ingressos pelo preço de uma entrada de
cinema e assistir os filmes em competição ou das mostras paralelas. As
projeções acontecem em toda parte. Além do complexo de salas na Potsdamer
Platz, vários cinemas de bairro e até galerias de arte entram na maratona, com
projeções para todos os gostos.
A Berlinale vai
até 1° de março.
Filmes brasileiros na
70a Berlinale:
Competição principal
Todos os Mortos,
Caetano Gotardo e Marco Dutra (Brasil, França)
Panorama
Un crimen común,
Francisco Márquez (Argentina, Brasil, Suíça)
Vento Seco,
Daniel Nolasco (Brasil)
Cidade Pássaro, Matias
Mariani (Brasil, França)
Panorama Dokumente
Nardjes A,
Karim Aïnouz (Alemanha, França, Argélia, Brasil, Qatar)
O Reflexo do Lago,
Fernando Segtowick (Brasil)
Generation 14plus
Alice Júnior,
Gil Baroni (Brasil)
Meu nome é Bagdá,
Caru Alves de Souza (Brasil)
Irmã,
Luciana Mazeto e Vinícius Lopes (Brasil)
Rãs,
Ana Flavia Cavalcanti e Julia Zakia (Brasil)
Forum
Luz dos Trópicos,
Paula Gaitán (Brasil)
Chico Ventana también
quisiera tener un submarino, Alex Piperno, (Uruguai,
Argentina, Brasil, Holanda, Filipinas)
Vil, Má,
Gustavo Vinagre (Brasil, Itália)
Forum Expanded
Apiyemiyeki?, Ana
Vaz (Brasil)
Jogos Dirigidos,
Jonathas de Andrade (Brasil)
Outros Fundamentos,
Aline Motta (Brasil)
Vaga Carne,
Grace Passô e Ricardo Alves Jr (Brasil)
Letter from a Guarani
Wonam in Search of the Land Without Evil, Patricia Ferreira
Pará Yxapy (Brasil)
Encounters
Los Conductos,
Camilo Restrepo (França, Colômbia, Brasil)
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