sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Ilú Obá de Min, resistência e protagonismo da mulher negra. Abrem o Carnaval de rua de São Paulo

“A gente sai de lá mais forte, porque a gente troca muito entre a gente. O fato de o Ilú existir já é resistência, já que a mulher negra está sempre na posição de espectadora”

Bloco que abre o carnaval de rua de São Paulo com 
homenagem a Lia de Itamaracá

A ação de resistência da mulher negra ante a intolerância e o ódio que contaminam a cena política e as relações sociais no país ganha visibilidade no carnaval de rua de São Paulo com o desfile do bloco Ilú Obá de Min.

Uma mulher negra com um instrumento é uma resistência. A resistência que o Ilú traz para essas mulheres não é só para tocar no carnaval. 
É uma resistência de vida”, afirma Daiane Pettine, coordenadora de conteúdo do grupo.

 “A gente sai de lá mais forte, porque a gente troca muito entre a gente. O fato de o Ilú existir já é resistência, já que a mulher negra está sempre na posição de espectadora”. Afirma Daiane.

O coletivo de Mulheres Negras, Ilú Obá de Min é o bloco  abre o carnaval de rua de São Paulo, hojé, sexta-feira (21) e conta com 450 integrantes.

O Ilú se concentra a partir das 19h na Praça da República. Às 20h, desfila pelas ruas do centro. 

O espaço é democrático, aberto tem inspirações e foco voltados à mulher negra e à cultura afro-brasileira.

Acompanhe o Entre Vistas a partir das 22h

No domingo (23), o bloco se reúne pela segunda vez, às 14h, no bairro de Campos Elíseos. 
Da esquina da Rua Barão de Piracicaba com Alameda Nothmann, na frente do Teatro Porto Seguro, parte, às 15h, em direção à Barra Funda.

Ilú Obá de Min significa ‘mãos femininas que tocam para o rei Xangô’. O nome é uma licença poética traduzida do iorubá, explica Daiane.

Merendeira, cirandeira
A cada ano, o bloco homenageia uma mulher negra, dentro da cultura afro-brasileira. 
Este ano será homenageada a dançarina, compositora e cantora de ciranda brasileira, a pernambucana Lia de Itamaracá.

Lia está lançando seu terceiro disco, atuou historicamente como merendeira, e este é um “momento feliz para a homenagem, porque o Ilú defende que é importante homenagear as referências que estão vivas”, diz a entrevistada.

Por conta do lançamento do disco, Lia está em turnê pelo mundo inteiro. 
“É uma felicidade a gente ter a Lia fazendo parte do nosso enredo. 
Nós fizemos oito composições homenageando a história dela. A Lia estará com a gente na sexta-feira, é mais um motivo para ir ver o cortejo do Ilú, porque a gente tem homenagens também de uma vertente estética no nosso figurino.”

Intolerância e resistência
A finalização do desfile é na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, centro paulistano.

Ainda sobre intolerância e resistência, Daiane afirma que 

“quando a gente pensa em bloco de carnaval, em rua, em instrumentos, sempre tem a imagem do homem tocando, e geralmente esse homem é branco”. “E se é uma mulher tocando, essa mulher é branca. A ideia do Ilú é não segregar, não falar que esse espaço não pertence à branquitude, mas é um lugar de protagonismo das mulheres negras”, acrescenta.

Ela explica que nas inscrições para participar do grupo, primeiro é aberto espaço para as mulheres negras. 
“Estamos falando de cultura afro-brasileira, é um lugar de protagonismo negro. Nada mais justo do que isso.”

Depois que as inscrições para mulheres negras acabam, são abertas vagas para não negras. Os homens do Ilú só podem dançar ou andar na perna de pau. São quatro homens que fazem parte do grupo.
 “É uma reparação histórica necessária”, diz Daiane.

O Ilú Obá De Min – é uma associação composta por mulheres.
Educação, cultura e arte negra são bandeiras específicas, tendo como base o trabalho com as culturas de matriz africana, afro-brasileira e a mulher. 
Sua madrinha a cantora Leci Brandão.
Além dos ritmos do candomblé, desenvolvidos pelo bloco tocam jongo, maracatu, boi e ciranda.
As percussionistas são acompanhadas por cantoras e dançarinas (os) e pernaltas que representam os Orixás africanos.
Este projeto maravilhoso Bloco Afro Ilú Oba De Min é muito conhecido por sua bateria ser formada exclusivamente por mulheres, que desde 2005 sai em cortejo pelas ruas de São Paulo destacando a participação e protagonismo das mulheres no mundo.
E desde novembro de 2004, durante a finalização de uma oficina de toques dos orixás masculinos e femininos, ministrada pelas percussionistas Beth BeliAdriana Aragão e Girlei Miranda, surgiu a ideia de se formar um bloco de carnaval de rua.
O projeto Bloco Afro Ilú Obá De Min tornou-se referência étnico-cultural e educativa e foi premiado pelo “Prêmio Culturas Populares Mestre Humberto Maracanã 2008” – SID/MINC ao lado de grandes iniciativas culturais brasileiras conquistou também o Prêmio Governador do Estado para Cultura 2013”.
Durante sua trajetória, se apresentou no Carnaval de Blocos de Rua do Rio de Janeiro e Rio Bonito, Abertura do Carnaval de Santos, Carnaval de Itapecerica da Serra, com frequência faz shows em diversas unidades do Sesc SP e outros espaços culturais como o Theatro Municipal de São Paulo e Auditório Ibirapuera. Participou do Festival Coala, Wow, Festival da Lua Cheia dentre outros importantes festivais do país.


Fonte e trechos: Rede Brasil Atual / Marieclare/https://iluobademin.com.br/

Nenhum comentário:

MAIS LIDAS