“A gente sai de lá mais forte, porque a gente troca muito entre a gente. O fato de o Ilú existir já é resistência, já que a mulher negra está sempre na posição de espectadora” |
Bloco que abre o
carnaval de rua de São Paulo com
homenagem a Lia de Itamaracá
A ação de resistência
da mulher negra ante a intolerância e o ódio que contaminam a cena política e
as relações sociais no país ganha visibilidade no carnaval de rua de São Paulo
com o desfile do bloco Ilú Obá de Min.
“Uma mulher negra com
um instrumento é uma resistência. A resistência que o Ilú traz para essas
mulheres não é só para tocar no carnaval.
É uma resistência de vida”, afirma
Daiane Pettine, coordenadora de conteúdo do grupo.
“A gente sai de lá mais forte, porque a gente
troca muito entre a gente. O fato de o Ilú existir já é resistência, já que a
mulher negra está sempre na posição de espectadora”. Afirma Daiane.
O coletivo de Mulheres Negras, Ilú Obá de Min é o bloco abre o carnaval de rua de São Paulo, hojé, sexta-feira (21) e conta com 450
integrantes.
O Ilú se concentra a
partir das 19h na Praça da República. Às 20h, desfila pelas ruas do centro.
O
espaço é democrático, aberto tem inspirações e foco voltados à mulher negra e à cultura afro-brasileira.
Acompanhe o Entre
Vistas a partir das 22h
No domingo (23), o
bloco se reúne pela segunda vez, às 14h, no bairro de Campos Elíseos.
Da
esquina da Rua Barão de Piracicaba com Alameda Nothmann, na frente do Teatro
Porto Seguro, parte, às 15h, em direção à Barra Funda.
Ilú Obá de Min
significa ‘mãos femininas que tocam para o rei Xangô’. O nome é uma licença
poética traduzida do iorubá, explica Daiane.
Merendeira,
cirandeira
A cada ano, o bloco homenageia uma mulher negra, dentro da cultura
afro-brasileira.
Este ano será homenageada a dançarina, compositora e cantora de ciranda
brasileira, a pernambucana Lia de Itamaracá.
Lia está lançando seu
terceiro disco, atuou historicamente como merendeira, e este é um “momento
feliz para a homenagem, porque o Ilú defende que é importante homenagear as
referências que estão vivas”, diz a entrevistada.
Por conta do
lançamento do disco, Lia está em turnê pelo mundo inteiro.
“É uma felicidade a
gente ter a Lia fazendo parte do nosso enredo.
Nós fizemos oito composições
homenageando a história dela. A Lia estará com a gente na sexta-feira, é mais
um motivo para ir ver o cortejo do Ilú, porque a gente tem homenagens também de
uma vertente estética no nosso figurino.”
Intolerância e
resistência
A finalização do
desfile é na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do
Paissandu, centro paulistano.
Ainda sobre
intolerância e resistência, Daiane afirma que
“quando a gente pensa em bloco de
carnaval, em rua, em instrumentos, sempre tem a imagem do homem tocando, e
geralmente esse homem é branco”. “E se é uma mulher tocando, essa mulher é
branca. A ideia do Ilú é não segregar, não falar que esse espaço não pertence à
branquitude, mas é um lugar de protagonismo das mulheres negras”, acrescenta.
Ela explica que nas
inscrições para participar do grupo, primeiro é aberto espaço para as mulheres
negras.
“Estamos falando de cultura afro-brasileira, é um lugar de protagonismo
negro. Nada mais justo do que isso.”
Depois que as
inscrições para mulheres negras acabam, são abertas vagas para não negras. Os
homens do Ilú só podem dançar ou andar na perna de pau. São quatro homens que
fazem parte do grupo.
“É uma reparação histórica necessária”, diz Daiane.
O Ilú Obá De Min – é uma associação composta por mulheres.
Educação, cultura e arte negra são bandeiras específicas, tendo como base o
trabalho com as culturas de matriz africana, afro-brasileira e a mulher.
Sua madrinha a cantora Leci
Brandão.
Além dos ritmos do
candomblé, desenvolvidos pelo bloco tocam jongo, maracatu, boi e ciranda.
As
percussionistas são acompanhadas por cantoras e dançarinas (os) e pernaltas que
representam os Orixás africanos.
Este projeto maravilhoso Bloco Afro Ilú Oba De Min é muito conhecido por sua bateria ser formada exclusivamente por
mulheres, que desde 2005 sai em cortejo pelas ruas de São Paulo destacando a participação e
protagonismo das mulheres no mundo.
E
desde novembro de 2004, durante a finalização de uma oficina de toques dos
orixás masculinos e femininos, ministrada pelas percussionistas Beth
Beli, Adriana Aragão e Girlei Miranda, surgiu
a ideia de se formar um bloco de carnaval de rua.
O projeto Bloco Afro Ilú Obá De Min
tornou-se referência étnico-cultural e educativa e foi premiado pelo
“Prêmio Culturas Populares Mestre Humberto Maracanã 2008” – SID/MINC ao
lado de grandes iniciativas culturais brasileiras conquistou também o Prêmio Governador do
Estado para Cultura 2013”.
Durante sua trajetória, se apresentou no Carnaval de Blocos de Rua do Rio
de Janeiro e Rio Bonito, Abertura do Carnaval de Santos, Carnaval de
Itapecerica da Serra, com frequência faz shows em diversas unidades do
Sesc SP e outros espaços culturais como o Theatro Municipal de São Paulo e
Auditório Ibirapuera. Participou do Festival Coala, Wow, Festival da Lua Cheia
dentre outros importantes festivais do país.
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