Em setembro, foi publicada uma
matéria com reprodução em diversos sites e blogs, sobre a sub-representação dos
negros na política brasileira. Esta pesquisa , neste processo de votação
da reforma política, da a dimensão das dificuldades enfrentadas pelos negros
brasileiros que disputarão uma cadeira em 2018. Antes de chegarmos a esta bela pesquisa, relembremos seguintes dados:
- O Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de 2014, 55% dos 25,3 mil candidatos
eram brancos, 34,9% pardos e 9,2% negros.
- Dos 1,6 mil eleitos, 75,6% são
brancos, 21% pardos e apenas 3,1% negros.
- No Congresso Nacional, dos 594
parlamentares, menos de 10% são negros.
- Na maioria das casas
legislativas, são menos de 6% de negros deputados e deputadas .
Em 2010 a SEPPIR -Ministério
de Promoção da igualdade racial, extinto neste governo de Temer, trouxe um
estudo sobre a participação das mulheres negras nos espaços de poder . O
estudo traça um mapa da presença das mulheres negras, a partir
do perfil das candidaturas femininas a postos no Senado Federal, na Câmara dos
Deputados e no Poder Executivo nas eleições. Discute, ainda, aspectos da
reforma política e sugere ações afirmativas que contribuam de maneira efetiva
para a inclusão das mulheres negras nas instâncias e esferas de poder e de
decisão política.
http://www.seppir.gov.br/central-de-conteudos/publicacoes/pub-acoes-afirmativas/a-participacao-das-mulheres-negras-nos-espacos-de-poder
Em 2015, o portal Geledés
publicou uma matéria de por Francielle Costacurta com a chamada "
Quem são as mulheres negras na Politica? "
Eu Monica Aguiar, aqui no meu
blog Mulher Negra, tenho publicado várias matérias sobre
a participação das mulheres, em especial das mulheres negras na política .
Sendo, vejamos o pesquisador Osmar Teixeira Gaspar. Boa leitura !
Para especialista, baixo número
de deputados e senadores negros no Brasil só será revertido se houver pressão
da sociedade. “A elite branca não nos quer no Parlamento”, diz o senador negro
Paulo Paim.
Mais da metade da população
brasileira (54%) é composta de cidadãos que se autodeclaram negros – grupo que,
segundo o IBGE, reúne pretos e pardos. Mas isso não se reflete na representação
política. No estado de São Paulo, por exemplo, dos atuais 94 parlamentares da
Assembleia Legislativa, somente quatro são negros, ou seja, o equivalente a
4,2% dos eleitos.
“A ausência de negros no
Parlamento representa um contrassenso, em que a minoria passa a resolver os
problemas da maioria”, afirma O pesquisador Osmar Teixeira Gaspar
realizador do estudo na Faculdade de Direito (FD) da USP, em que buscou entender
mais a fundo as causas desse porcentual tão baixo, especialmente dos
negros, nas casas legislativas. Os resultados estão em sua tese de
doutorado Direitos Políticos e Representatividade da população negra,
realizada sob orientação do professor Kabengele Munanga, do
Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) da USP .
O estudo de Teixeira
concentrou-se no estado de São Paulo, mas, segundo ele, evidências apontam que
a dificuldade de negros serem eleitos é um fenômeno nacional. Ele ouviu
candidatos negros vitoriosos e derrotados, eleitores negros e dirigentes de
partidos.
Paulo Paim (PT) é hoje o único
senador negro do país eleito pelo voto direto. “Até hoje foram eleitos apenas
eu e a Benedita da Silva [para o Senado]. Na Câmara, dos 513, no máximo duas
dúzias são negros. A representação negra é mínima”, afirma o senador. “A elite
branca não quer negros no Parlamento.”
Há um volume significativo de
candidatos negros, mas eles quase sempre têm formação escolar incompleta, e,
portanto, pouca ou nenhuma estrutura financeira, então, quase nunca conseguem
votos suficientes para se eleger, aponta Teixeira.
“No entanto, o trabalho
realizado por esses candidatos pobres e negros, sem estrutura financeira e
material, e sem o apoio explícito dos partidos políticos, faz com que eles
funcionem como verdadeiros cabos eleitorais de outros candidatos brancos e mais
ricos”, diz Teixeira.
Segundo o pesquisador, enquanto
candidatos brancos e ricos contam com estrutura material e apoio financeiro e
econômico do partido ou externa, o que lhes permite um deslocamento mais eficaz
e rápido durante a campanha, os candidatos negros e pobres “têm severa
dificuldade”.
Outra constatação importante da
pesquisa é a disparidade patrimonial de candidatos brancos e negros. Em média,
os brancos que disputam eleições estaduais têm patrimônio de R$ 1 milhão. No caso
dos negros, com as mesmas condições de escolaridade, a média patrimonial é de
R$ 233 mil.
Segundo Teixeira, praticamente
todos os negros que chegaram ao Parlamento só tiveram êxito graças à fórmula do
coeficiente eleitoral. “Ao final, os votos desses candidatos negros e pobres
serão somados à legenda partidária que irá dividi-los e poderá somar um maior
número de eleitos. Portanto, o trabalho destes candidatos negros, que acabam
sendo numerosos, se dilui. Eles não têm mobilidade para sair de suas bases.”
Histórico dos negros na
política
A tese de Teixeira traz uma
abordagem histórica dos negros no Brasil pós-abolição da escravatura. O estudo
menciona, por exemplo, a decisão de Getúlio Vargas de extinguir, em 1937, a
Frente Negra Brasileira como partido político.
Outros partidos extintos na
mesma época “se refundaram com outros nomes ou se fundiram em outras siglas”,
permitindo que “o grupo oligárquico e politicamente dominante permanecesse
ativo”, aponta Teixeira. Apenas os negros não conseguiram encontrar outra
maneira de organização política.
Outro aspecto histórico citado
foi um documento elaborado pelo governo do estado de São Paulo em 1982, que
alertava para o aumento significativo da população negra e sugeria a
esterilização massiva de mulheres pretas e pardas sob a alegação de que os
brancos já estavam conscientes “da necessidade de se controlar a natalidade”.
O documento, escrito pelo
economista Benedito Pio da Silva, do grupo de assessores do ex-governador do
estado e ex-prefeito da cidade de São Paulo Paulo Salim Maluf, falava claramente
sobre os riscos de predominância de eleitores negros no Brasil. Curiosamente,
Pio da Silva era negro.
Cotas como solução?
Para Teixeira, cotas para
negros seriam a única maneira de desmascarar a utopia de uma democracia racial
no Brasil. “Para se resolver a questão da ausência do negro no Legislativo
brasileiro será preciso que se adotem cotas efetivas [de representação]. Cotas
de 20% seriam razoáveis”, defende o cientista social.
Lula Guimarães – especialista
em marketing político-eleitoral que fez a campanha presidencial de Marina Silva
(Rede) em 2014 e de João Doria (PSDB) para prefeito de São Paulo em 2016 –
reconhece a importância do sistema de cotas para negros, como o existente em
universidades, para corrigir distorções sociais históricas. No entanto, ele
questiona se o sistema seria eficaz também na política.
“Obama não foi eleito com o
sistema de cotas nos EUA. Na política, creio que as cotas tanto para mulheres
como para negros não causariam muito equilíbrio”, afirma.
Ele considera que o desafio
principal é a conscientização da sociedade. “A gente deve lutar para que o
Brasil tenha políticos mais qualificados e que possam nos representar de
maneira mais eficaz porque têm uma formação melhor ou porque representam melhor
determinados segmentos da sociedade no sentido profissional, ideológico, e não
necessariamente no sentido racial”, diz.
O senador Paim, por sua vez,
concorda com a tese de Teixeira. O senador, no entanto, não abraça a causa das
cotas com ilusão. Ele destaca que havia no Estatuto da Igualdade Racial um
artigo que previa cotas para negros na política, mas que “não teve jeito de
passar”. “Tivemos que tirar esse artigo, ou o Estatuto não seria votado. ”
Apesar de defender as cotas
para negros no Legislativo, Teixeira não tem nenhuma expectativa de que algum
parlamentar apresente um projeto de lei propondo tal medida. Para ele, a ideia
só vai prosperar se houver pressão da sociedade.
“É este mecanismo de
representação parlamentar que a rigor tem permitido aos estratos mais abastados
de nossa sociedade preservarem amplamente os seus seculares privilégios”,
afirma. “O aumento dos parlamentares negros no Legislativo pressupõe uma
redução de parlamentares brancos naquele mesmo espaço.”
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Coisas do Brasil.
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