Estudo revela que centro de recompensa no cérebro feminino recebe mais impulsos de bem-estar ao dividir do que homens. Cientistas alegam que diferenças de comportamento não são congênitas, mas fruto de padrões sociais. Mulheres são mais propensas do que homens a compartilhar, pois o gesto ativa com maior intensidade o centro de recompensa do cérebro delas do que do deles, aponta um estudo neurológico suíço publicado nesta segunda-feira (09/10) na revista científica Nature Human Behavior.
No estudo, pesquisadores bloquearam a atividade no centro de recompensa (núcleo accumbens) com o uso de medicamentos. As mulheres então agiram de forma mais egoísta em testes comportamentais, enquanto os homens se tornaram mais generosos. Os cientistas acreditam que o comportamento distinto entre os sexos se deve a paradigmas ditados pela sociedade.
A equipe de pesquisa da Universidade de Zurique, liderada pelo cientista Alexander Soutschek, realizou um teste comportamental com 21 homens e 19 mulheres, enquanto eles passavam por uma ressonância magnética.
Os participantes tinham de decidir se prefeririam receber uma soma maior de dinheiro para si ou uma quantia menor compartilhada com um participante anônimo. Os participantes decidiam por uma das duas variantes ao pressionarem teclas de seta num teclado. Estudos anteriores também indicaram que as mulheres compartilham dinheiro com mais frequência do que os homens neste teste padrão.
Durante o experimento, os pesquisadores analisaram a atividade do corpo estriado, uma região no centro do cérebro que é responsável pelo processo de avaliação e recompensa e é ativada em todas as tomadas de decisões. A região do cérebro provoca sentimentos positivos ao desencadear a liberação de hormônios de bem-estar, como a endorfina.
O corpo estriado estava particularmente ativo nas mulheres quando compartilharam, segundo os cientistas. Nos homens, por outro lado, estava mais ativo quando tomaram decisões egoístas.
Aspectos culturais
Para verificar os primeiros resultados, a equipe de cientistas realizou um teste de comportamento diferente com outros 65 participantes, sem examinar o cérebro. Desta vez, foi analisado se o comportamento muda quando a atividade do corpo estriado é suprimida por medicação. Metade do grupo recebeu a substância amissulprida, um fármaco antipsicótico antagonista seletivo da dopamina, responsável pela ativação do sistema de recompensas. A outra metade do grupo recebeu um placebo.
No grupo que recebeu o placebo, a maioria das mulheres (51%) decidiu compartilhar o dinheiro. No grupo que recebeu a droga amissulprida, apenas 45% das mulheres repetiram o gesto. Já nos homens, o comportamento social melhorou: sem a medicação, 40% dos homens optaram por dividir o dinheiro, contra 44% com a droga.
Ao todo, porém, os participantes de ambos os sexos se mostraram mais propensos a compartilhar quando têm a informação de que o recebedor anônimo é alguém que eles conhecem.
Os pesquisadores conseguiram, portanto, comprovar neurologicamente pela primeira vez que o cérebro masculino é mais propenso a recompensar decisões egoístas, enquanto o cérebro de mulheres tende a recompensar escolhas sociais.
Essa característica, segundo os cientistas, não é congênita. O centro de recompensas está fortemente ligado aos processos de aprendizagem no cérebro. "A diferença de gênero que observamos em nossos estudos pode ser explicada pelas diferentes expectativas culturais de homens e mulheres", disse Soutschek.
O centro de recompensas no cérebro é considerado um estímulo importante para a ação humana. Comportamentos que ativam o centro e criam sensações positivas e de bem-estar são mais buscados. O mecanismo, porém, também pode ser viciante depois de repetições. Dependendo de qual comportamento é repetido, pode causar um efeito negativo – como no caso do vício no jogo. O mecanismo também deve explicar o vício em drogas, já que estas também ativam o centro de recompensas.
PV/dpa/ots
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