Por Mônica Aguiar
O câncer de mama é uma das doenças mais prevalentes entre as mulheres no Brasil e, como em muitas outras cidades, Belo Horizonte enfrenta desafios significativos no início do tratamento. A detecção precoce e o início imediato do tratamento são cruciais para aumentar as chances de cura e melhorar a qualidade de vida das pacientes. No entanto, diversos obstáculos podem atrasar esse processo. É sobre estes obstáculos que pretendo dialogar.
O Painel de Monitoramento do Tratamento Oncológico, da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) traz seguintes dados : 2.767 casos da doença foram diagnosticados entre janeiro e agosto de 2025 — o que representa mais de 11 novos diagnósticos por dia. Em todo o ano de 2024, o estado registrou 6.907 casos. No ano de 2024, o câncer de mama foi a primeira causa de morte entre as mulheres em Minas Gerais, com 1.908 óbitos, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. Em 2023, 38,5% dos casos foram diagnosticados em estágios avançados. Em todo o Brasil os dados revelam um total de 173.690 mortes por câncer de mama entre 2018 e 2023. O número passou de 14.622 em 2014 para 20.165 em 2023 de óbitos – 38% de aumento.
Em Belo Horizonte, estes números chamam a atenção: foram 72 mil exames em 2022, 66 mil em 2023 e apenas 43 mil em 2024. Em 2025, até agosto, já foram contabilizadas 55 mil mamografias.
Porém, usuárias do SUS em Belo Horizonte relatam demoras excessivas na marcação, o que pode comprometer o diagnóstico precoce. Além de outros relatos sobre demora ao inicio do tratamento.
Eu tenho percebido apresentação excessiva de números de exames. Sendo, é difícil encontrar dados consolidados para o ano de 2024 sobre mortes por câncer de mama especificamente em Belo Horizonte.
A saúde das mulheres é um tema que merece atenção especial e um acompanhamento contínuo por parte de toda a sociedade. Embora as minhas citações sobre o assunto possam parecer incoerentes, elas são fundamentais para estimular uma reflexão profunda sobre o tema.
Neste sentido, outro fato a considerar que em Belo Horizonte, o debate sobre a saúde das mulheres enfrenta inúmeros desafios.
As discussões muitas vezes são desviadas para questões de responsabilidade individual, em vez de se focar nos fatores estruturais e institucionais que afetam o acesso das mulheres aos serviços de saúde. Há uma tendência a culpar as mulheres pela falta de realização de exames de rotina, ignorando as barreiras sistêmicas que elas enfrentam.
A Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher (CISAM) do Conselho Municipal de Saúde é uma comissão extremamente importante e frequentemente citada nas discussões sobre saúde da mulher. No entanto, essa comissão não possui autonomia para implementar várias mudanças necessárias.
A responsabilidade pela falta de políticas de saúde universalizadas e descentralizadas não pode ser atribuída a uma comissão que não tem o poder de tomar decisões independentes.
Barreiras Sistêmicas
Além da falta de autonomia da CISAM, existem várias barreiras sistêmicas n gestão, existem as barreiras que são fomentadas pelos determinantes sociais, dificultando ainda mai o acesso das mulheres aos serviços de saúde em Belo Horizonte:
Desigualdade Socioeconômica: Muitas mulheres enfrentam dificuldades financeiras que limitam seu acesso a cuidados de saúde. Quanto mais longe for a Unidade de Saúde, menor será o acesso das mulheres.
Falta de Informação : Muitas mulheres não têm acesso a informações sobre os serviços e seus direitos de saúde e não tem disponíveis acompanhamento adequados nas Unidades Básicas de Saúde. Sofrem inclusive com discriminações e preconceitos raciais.
As diferenças na infraestrutura de saúde e na disponibilidade de profissionais qualificados podem afetar a velocidade com que o tratamento é iniciado em diferentes regiões da cidade.
Contexto Geral
Belo Horizonte, como muitas outras cidades, enfrenta desafios políticos que impactam diretamente suas cidadãs. Nos últimos anos, as tensões políticas têm se intensificado, refletindo-se em diversas áreas, incluindo a saúde pública. As mulheres que trabalham neste setor frequentemente encontram-se na linha de frente, enfrentando situações desafiadoras tanto no ambiente de trabalho quanto na esfera política. A politização da saúde pública pode resultar em decisões que nem sempre são baseadas em evidências científicas, mas sim em interesses políticos, colocando as profissionais comprometidas com as reparações dos danos causados por machismo, intolerâncias, violências e racismo em situações muito difíceis.
Outro problema significativo é a falta de apoio institucional adequado. As mulheres que atuam na saúde muitas vezes não recebem o suporte necessário para lidar com as consequências das perseguições políticas, o que pode levar a um ambiente hostil e à desvalorização de suas contribuições como Conselheiras ou trabalhadoras. As perseguições políticas têm um impacto direto na qualidade dos serviços de saúde oferecidos à população.
Impacto da Individualização e desqualificação
- Fragmentação dos esforços: As conselheiras podem se sentir isoladas e sem o suporte necessário para realizar seu trabalho de forma eficaz.
- Perda de autoridade: As conselheiras podem ter sua capacidade de influenciar decisões políticas enfraquecida. Isto tem ocorrido com frequência.
- Redução da confiança pública: A desqualificação pode minar a confiança da comunidade e da Gestão nas conselheiras, dificultando seu trabalho de defensoras dos direitos humanos.
- Dificuldade em atrair novas conselheiras: A desqualificação pode desestimular novas candidatas a se envolverem, prejudicando a renovação e o fortalecimento do conselho.
O Outubro Rosa é uma campanha global que visa conscientizar
sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. No
entanto, além de focar na saúde física, é fundamental também refletir sobre os
aspectos sociais e sistêmicos que impactam o acesso à saúde, especialmente no
que diz respeito ao papel crucial das conselheiras de saúde.
As conselheiras de saúde são figuras essenciais na promoção
de uma saúde pública mais justa e acessível. Elas trazem a perspectiva da
comunidade, suas necessidades e desafios, atuando como ponte entre a população
e os serviços de saúde. Portanto, é imprescindível que suas vozes sejam ouvidas
e respeitadas.
Escuta Humanizada e
respeito as diferenças
Ouvir humanizadamente significa acolher as experiências e os
conhecimentos que as conselheiras trazem, sem desautorizá-las. Essa prática não
só enriquece o debate sobre saúde pública, mas também fortalece a confiança da
comunidade nos processos de saúde participativos.
Cada conselheira possui uma história única e um conhecimento
específico que não deve ser subestimado. Respeitar essas diferenças é essencial
para construir um sistema de saúde que realmente atenda a todas as pessoas,
levando em consideração a diversidade racial, cultural, social e econômica.
Reformulação de
Conceitos
Para promover a equidade no acesso à saúde, é necessário
reformular conceitos e práticas que perpetuam desigualdades.
Neste Outubro Rosa, além de promover a saúde física, devemos
também valorizar o papel das conselheiras de saúde. Ao ouvir com empatia e
respeito, e ao reformular práticas que geram desigualdade, podemos caminhar
rumo a um sistema de saúde mais equitativo e humano para todos.
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