sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Xenia França mostra força da mulher negra no primeiro álbum solo

Xenia saiu de Candeias na adolescência, para
ser modelo em São Paulo
  (Foto: Tomas Arthuzzi/divulgação)
Por Marília Moreira


No trabalho, cantora fala de racismo e pertencimento e dialoga com sons da musicalidade da diáspora negra

Foram os filmes protagonizados por negros americanos e exibidos na Sessão da Tarde que deram a Xenia França a certeza de que era preciso ganhar o mundo quando ela ainda era muito pequena.


“Minha mãe saia para trabalhar e eu ficava em casa sozinha ouvindo rádio ou vendo TV. Tinha um fetiche por morar nos EUA desde criança, e também, sempre fui muito apaixonada por música”, lembra a cantora baiana de 30 anos, nascida em Candeias, e que tem chamado atenção na cena nacional.


O fascínio era justificado. Afinal, aqueles eram os únicos momentos em que ela conseguia ver pessoas como ela, negras, na TV. 


Nas rádios, vozes como as de Michael Jackson, Bob Marley e Lauryn Hill também exerciam muito encanto. E tinha também as referências locais. “Pra ser a pessoa que eu sou hoje, eu tinha que nascer onde nasci. Na minha infância, a gente ouvia a música do Ilê e do Olodum na rádio. Por mais que a gente não tivesse consciência, essas músicas diziam o que a gente podia ser, era orgulho puro. Essas coisas em uma criança, com mente fresca, causam um impacto tremendo”, acredita. 



Na adolescência, depois de tanto ouvir as pessoas dizerem que ela tinha de ser aventurar na carreira de modelo, Xenia decidiu se inscrever em um concurso de beleza da revista Raça. Não venceu a disputa, mas foi chamada por uma agência de São Paulo, cujo casting era de modelos negros, para trabalhar lá. Se mudou sozinha de Camaçari para a maior cidade do país aos 17 anos, em 2004, com uma única mala em que pôs todos os seus pertences.
“A maioria das agências, na época, eram focadas no padrão branco e tinham cotas para negros. Isso limitava muito o mercado. Fiquei uns três anos direto trabalhando com moda, mas não me sentia nem um pouco feliz, nem representada”, lembra, ao mais uma vez colocar em foco o racismo. “Quando eu conseguia algo e estava no estúdio fotografando, eu estava bem. Fora isso, estava sempre preocupada, não trabalhava muito. Tinha a coisa velada do racismo, então as chances eram poucas. Era muito esforço para uma recompensa muito pequena”.


Mudança
Xenia França é única mulher a integrar a
 big band paulista Aláfia, com a qual fez um mergulho
na música afro-brasileira 
(Foto: Ste Frateschi)
Foi do convívio com amigos músicos, que conheceu quando chegou na cidade, que sua carreira de cantora começou. Até então, o único contato com a música tinha sido enquanto ouvinte e também como integrante de uma fanfarra na Região Metropolitana de Salvador. “Foi o primeiro ambiente que me abriu o portal para meus ideiais artísticos”, recorda.

Em 2011, ela conheceu a galera com quem formou a big band paulista Aláfia. Xenia é a única mulher do grupo composto por outros dez músicos de diversas regiões do país - incluindo Ceará, Bahia, interior e capital de São Paulo. Juntos, eles exploram a música de terreiro, a black music carioca dos anos 70 e o funk do EUA.
Foi a música quem proporcionou a ela relacionar satisfação e recompensa com o trabalho. Não sem muito esforço.


Reconhecimento
Dividir o palco com figuras como Elza Soares e Maria Bethânia e ter seu nome listado ao lado de tantos outros que têm movimentado a cena musical brasileira, é motivo de alegria para ela. “Toda vez que acontece alguma coisa assim eu agradeço. Eu sempre falo: ‘Não dê ousadia a baiano’. Apesar de ser uma surpresa, eu trabalho muito, me esforço mesmo, e não posso dizer que não é isso que quero. Sou perfeccionista. Então, tudo isso é resultado, uma resposta do universo para dizer que eu estou onde quero”, comenta.


É dessa maneira quase obstinada que ela vê o seu primeiro disco solo como um “ritual de passagem”, no qual ela se fez “mulher de uma vez por todas”. Intitulado XENIA, o disco será lançado nesta sexta-feira pelo selo Natura Musical. E nele, ela prova o que diz em uma das faixas: “música preta sou teu instrumento vim pra te servir”.

Estão lá os sons da diáspora negra, como jazz, samba-reggae, R&B, e música de terreiro, com pitadas de música eletrônica e rock. Ao lado de três faixas autorais (Perfeita Pra Você, Miragem e Pra Que Me Chamas?, esta última já liberada no YouTube), estão outras dez de artistas como o paraibano Chico César e o baiano Tiganá Santana. No dia 27 de outubro, ela apresenta o álbum em Salvador, em um show na Arena Sesc Senac Pelourinho.
https://www.youtube.com/watch?v=vRTUoJ7dVe8 
Veja matéria completa em http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/xenia-franca-mostra-forca-da-mulher-negra-no-primeiro-album-solo/ 
Fonte:Correio24horas

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