Pesquisa da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP revelam alterações nas Imagens do cérebro feitas por ressonância
magnética, causadas pela depressão pós-parto.
O trabalho identificou mudanças
na concentração de substâncias metabólicas relacionadas ao funcionamento de
regiões cerebrais responsáveis pelo processamento e regulação dos estímulos
afetivos, assim como na cognição, que acabam comprometidos em casos de
depressão. O estudo realizado pelo médico Carlos Eduardo Rosa envolveu especialistas
e pesquisadores de psiquiatria, neurorradiologia, ginecologia e obstetrícia,
pediatria, engenharia e física médica.
“A depressão pós-parto é um
subtipo de transtorno depressivo maior, subdiagnosticada e altamente
prevalente, acometendo cerca de 19% das mulheres. Ela acarreta um significativo
sofrimento para a mulher, sua criança e toda a família”, explica o médico. Segundo
ele, em casos raros, quando uma depressão pós-parto severa não é
detectada, e sobretudo se progride para uma psicose pós-parto, podem ocorrer
abortamento induzido, suicídio e até homicídio do bebê pela mãe.
A ressonância por
espectroscopia de próton possibilitou obter dados metabólicos e neuroquímicos
de regiões específicas do cérebro em casos de depressão pós-parto. De acordo
com o médico, tais regiões “participam de circuitos de sistemas que processam e
regulam os estímulos afetivos e estão envolvidos na fisiopatologia da
depressão”. Além disto, uma das regiões estudadas tem importante papel nas
funções executivas (relacionadas a adaptação e flexibilidade para lidar com
novas contingências, resolução de problemas, respostas de movimentos e verbais
a estímulos externos, ativação de memórias remotas e ao direcionamento do
comportamento) e na cognição, que ficam comprometidas em estados depressivos.
Diagnóstico
As participantes foram
recrutadas no estudo Brazilian Ribeirão Preto and São Luís prenatal
cohort (Brisa), que avaliou 1.370 gestantes de Ribeirão Preto,
realizado pelos professores Ricardo Cavalli, Marco Antonio Barbieri e Heloisa
Bettiol. “Após o parto, foram realizadas entrevistas por telefone com 199
participantes selecionadas, para uma triagem de sintomas depressivos”, relata o
pesquisador. “Posteriormente, 184 mulheres foram convocadas para uma detalhada
avaliação clínica presencial, envolvendo entrevistas estruturadas, aplicação de
escalas e instrumentos de avaliação, que selecionou 36 mulheres com depressão
pós-parto, predominantemente livres de medicações, e outras 25 sem problemas
psiquiátricos relevantes.”
O estudo detectou alterações
neuroquímicas em região cerebral relacionada com a depressão pós-parto, como a
redução do “complexo de glutamato” (glutamato mais glutamina). “Esta substância
participa da neurotransmissão dos neurônios do córtex cerebral, da plasticidade
e da formação de novas ligações entre células nervosas (sinapses). A redução
sugere disfunção metabólica no acoplamento entre células, evolução para dano
neuronal e baixa atividade funcional e metabólica”, diz o médico. Outra
diminuição importante é a do “complexo do NAA” (N-acetil-aspartato mais
N-acetil asparto-glutamato), que indica disfunção metabólica e perda da
integridade dos neurônios. “Ambas estão associadas a alterações no metabolismo
que resultam em comprometimento.”
A pesquisa também mostra que o
uso de contraceptivos hormonais apenas com progestágenos, independentemente das
participantes terem depressão ou não, está associado ao aumento do complexo de
glutamato e, possivelmente, à hiperatividade funcional de uma das regiões do
cérebro estudada.
“Os resultados abrem caminho
para o estudo de novos alvos para agentes terapêuticos e o desenvolvimento de
novas intervenções para tratar o transtorno depressivo maior e principalmente a
depressão pós-parto, a qual exige cuidados e intervenções específicas,
considerando tanto a gestação quanto a lactação.”
Além da FMRP, a pesquisa teve a
participação do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade do Texas, em Houston (Estados Unidos).
O estudo teve ainda a colaboração dos professores Jair C.
Soares, Carlos Ernesto Garrido Salmon e Cristina Marta Del-Ben.
Mais informações: e-mail cer.carlosrosa@gmail.com, com Carlos Eduardo Rosa
Fonte:jornal.USP/Júlio Bernardes - Foto: internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário