Mônica Aguiar
Nos últimos anos, vários estudos foram apresentados enfatizando o quadro de desigualdades e violência sofrida
pelas mulheres. Na verdade, mesmo com as distâncias existentes no quadro das
desigualdades sociais, ouve avanços significativos no acesso, oportunidades e no
trabalho nos últimos 20 anos.
Com certeza este formato de
denunciar a partir de dados estatísticos é fundamental, mas precisamos avançar nas
pesquisas e dialetos para que as mulheres negras deixem de ser a coadjuvante da
marca e imagem das desigualdades e violência existente.
Afinal sabemos que as mulheres
negras sofrem cotidianamente com todas as variáveis do racismo direta e
indiretamente. Mas com tantos avanços reconhecidamente apresentados da reordenação
e ocupação de espaços sociais, na carreira e funções, se faz necessário deixar a
prática da invisibilidade, enfrentando o preconceito de não realizar análise da
conjuntura econômica correlata aos fatos.
Não podemos também deixar de
considerar que por mais avanços e crescimento nas atividades remuneradas, a
mulher e principalmente da mulher negra não deixaram de assumir a
responsabilidade das denominadas atividades domesticas e sustento sozinha da
maioria dos lares.
_________PESQUISA____________
Apesar de, proporcionalmente, o
rendimento das mulheres negras ter sido o que mais se valorizou entre 1995 e
2015 (80%), e o dos homens brancos ter sido o que menos cresceu (11%), a escala
de remuneração manteve-se inalterada em toda a série histórica: homens brancos
têm os melhores rendimentos, seguidos de mulheres brancas, homens negros e
mulheres negras. A diferença da taxa de desocupação entre sexos também merece
registro: em 2015, a feminina era de 11,6%, enquanto a dos homens atingiu 7,8%.
No caso das mulheres negras, ela chegou a 13,3% (e 8,5% para homens negros).
As mulheres trabalham em média 7,5
horas a mais que os homens por semana. Em 2015, a jornada total média das
mulheres era de 53,6 horas, enquanto a dos homens era de 46,1 horas. Em relação
às atividades não remuneradas, mais de 90% das mulheres declararam realizar
atividades domésticas – proporção que se manteve quase inalterada ao longo de
20 anos, assim como a dos homens (em torno de 50%). Esses são alguns dos dados
destacados no estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça com base em
séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad), do IBGE.
A quantidade de trabalhadoras
domésticas com até 29 anos de idade caiu mais de 30 pontos percentuais no
período analisado: de 51,5% em 1995 para 16% em 2015. No entanto, o emprego
doméstico ainda era a ocupação de 18% das mulheres negras e de 10% das mulheres
brancas no Brasil em 2015. Já a renda das domésticas saltou 64% nesses 20 anos,
atingindo o valor médio de R$ 739,00 em 2015. Porém, mesmo com esse
crescimento, ainda estava abaixo do salário mínimo, que, à época, era de R$
788,00.
O número de trabalhadoras
formalizadas também aumentou: se, em 1995, 17,8% tinham carteira, em 2015 a
proporção chegou a 30,4%. Mas a análise dos dados da Pnad sinalizou uma
tendência de aumento na quantidade de diaristas no país. Elas eram 18,3% da
categoria em 1995 e chegaram a 31,7% em 2015.
Nos últimos anos, mais brasileiras chegaram ao nível superior. Entre
1995 e 2015, a população adulta negra com 12 anos ou mais de estudo passou de
3,3% para 12%. Entretanto, o patamar alcançado em 2015 pelos negros era o mesmo
que os brancos tinham já em 1995. Já a população branca, quando considerado o
mesmo tempo de estudo, praticamente dobrou nesses 20 anos, variando de 12,5%
para 25,9%.
Chefes de família e reconfiguração nos arranjos familiares
Os lares brasileiros, cada vez mais, estão sendo chefiados por mulheres. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%. Cabe ressaltar que as famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina: em 34% delas, havia a presença de um cônjuge.
Paralelamente ao aumento do número de famílias chefiadas por
mulheres, houve uma gradativa reconfiguração dos tipos de arranjos familiares.
Se, em 1995, o tipo mais tradicional, formado por um casal com filhos,
respondia por cerca de 58% das famílias, em 2015 esse percentual caiu para 42%,
tendo aumentado de maneira significativa o número de domicílios com somente uma
pessoa e também o percentual de casais sem filhos.
Fonte: Ascom planalto/Consea, Ipea
Foto: Blogueirasnegras
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