Há mais de 100 anos, se reuniam José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e André Rebouças, para articular ações pelo fim da escravidão no país, segundo o historiador Luiz Cláudio Rodrigues. Ele é responsável pelo acervo do Museu do Negro, que fica no segundo andar da igreja e guarda acervo da época.
Na paróquia, funciona até os dias atuais a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Na época imperial, os associados articulavam ações de caridade e pelo fim da escravidão, como a produção de jornais. Na garagem do prédio, funcionavam a gráfica de periódicos como O Abolicionista, de José do Patrocínio. “Aqui foi o quartel general de vários grupos abolicionistas que recebiam dinheiro de doações”, disse Luiz Claudio.
De acordo com o historiador, a irmandade surgiu em 1640 para ajudar negros escravizados idosos ou doentes, abandonados à própria sorte no antigo Beco do Rosário, atual Rua Reitor Azevedo. Outra função era financiar o enterro de negros escravizados, que, pelas regras da época, não podiam ser enterrados nos cemitérios da população católica e branca. O grupo também facilitava fugas.
“Muitos chegavam aqui e se livravam das peças de tortura, de algemas, recebiam comida, roupas e um trocado para conseguir fugir, embora muitos chegassem tão doentes que não conseguiam”, contou. O historiador destaca que a estrutura da igreja também foi pensada para facilitar a liberdade. “Isso aqui é um labirinto de escadas e portas que, muitas vezes, não dão em lugar nenhum, o que atrasava as buscas”, revelou.
Na época da ditadura militar, a partir da década de 1960, na igreja também funcionou o jornalMelanina, publicação crítica ao regime e voltada para a população negra.
Atualmente, parte do acervo do Museu do Negro é composto de objetos da época doados por proprietários de antigas fazendas, como grilhões e quadros, além de peças da própria igreja, como estandartes em referência ao povo negro, aos santos católicos e a mitos, como a escrava Anastácia. Esta, até hoje, desperta curiosidade pela máscara de flandres sobre o seu rosto.
“Anastácia era uma negra que veio da África, muito bonita, de olhos azuis, que não quis se entregar ao dono. Em represália, além de chicoteá-la, ele colocou aquela máscara, para que ela não pudesse falar. Com o tempo, adoeceu e acabou morrendo”, narrou o historiador, lembrando que a história faz referência a um mito. “Não tem nenhum documento provando a existência dela. Tudo é história oral contada nas senzalas e que chegou até os dias atuais”. Na igreja, também são distribuídos santinhos da escrava com oração para causas “de solução difícil”.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito fica nas imediações do Largo de São Francisco, onde funcionou a primeira sede do Senado brasileiro e onde foi discutida a abolição da escravidão, em 1800. Atualmente, o prédio abriga o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, que incluiu também o curso de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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