O ano passado ficou marcado pelo "recrudescimento dos protestos civis", numa "demonstração tanto de dificuldades económicas como de outras injustiças sentidas por muitas populações africanas", refere o relatório "Perspetivas Económicas em África 2011", divulgado hoje por ocasião da assembleia-geral anual do BAD, até dia 10 em Lisboa.
"Com o aumento dos preços alimentares e da energia (que representam uma larga fatia dos cabazes básicos em África), que começou na segunda metade de 2010 e que ainda não abrandou, existe um grande potencial para a existência, em 2011, de mais protestos públicos", alerta o BAD.
O relatório dá como exemplo o caso de Moçambique, cuja capital, em setembro de 2010, foi palco de uma "grande agitação popular contra o aumento do custo de vida". Esta manifestação resultou em confrontos entre populares e a polícia que se saldaram em várias mortes e centenas de feridos e detidos.
O BAD ressalva, contudo, que se é certo que as "difíceis condições de vida" podem aumentar a contestação política no continente em 2011, na base desses protestos estarão "também outros problemas como as altas taxas de desemprego jovem e a falta de liberdade política".
O relatório também alerta para o impacto da subida dos preços alimentares e do petróleo na inflação do continente, que em 2011 deverá subir novamente: "A taxa de inflação média de África que desceu para 7,7 por cento em 2010 deverá subir marginalmente para os 8,4 por cento em 2011, e depois recuar para 7,4 por cento em 2012".
De acordo com o BAD, a maioria dos 51 países africanos analisados "registará taxas de inflação entre os dois e 5,5 por cento em 2011 e 2012", mas países como Angola serão mais afetados. "Na Etiópia, Sudão, Egito e Angola, espera-se que a inflação permaneça acima dos 10 por cento", prevê.
Depois de terem atingido o pico, na segunda metade de 2008, os preços internacionais dos alimentos baixaram, mas rapidamente voltaram a registar aumentos significativos em 2009 e, sobretudo, no decorrer de 2010, com destaque para o trigo e o milho.
O crescimento da procura global, as dificuldades de fornecimento, condições climatéricas adversas, o forte aumento do preço do petróleo (de 30 dólares por barril, em dezembro de 2008, para os cerca de 110 dólares atuais), mas também a "especulação dos mercados financeiros" são, segundo o BAD, algumas das causas que "estão na origem" dessa subida.
O relatório lembra que dos 77 países do mundo, considerados de baixo rendimento e com défice alimentar -- os "mais vulneráveis à subida dos preços alimentares" -- 43 são do continente africano, que é "um importador líquido de alimentos".
Com uma crise alimentar e preços elevados, o BAD destaca a importância de os governos africanos "protegerem os grupos vulneráveis da fome através de subsídios direcionados", em vez de disponibilizarem subvenções para alimentos e combustíveis ao grosso da população. É também preciso investir mais na produtividade do setor agrícola, acrescenta.
Fonte : ANGOP
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