quarta-feira, 30 de julho de 2025

Expectativa para o lançamento do Caderno de Boas Práticas em Atenção à Saúde da População Negra no Brasil

 
Por Mônica Aguiar 

O pré-lançamento do “Caderno de Boas Práticas em Atenção à Saúde da População Negra no Brasil” aconteceu no dia 28 de julho, e marcou um avanço significativo na promoção da equidade em saúde no país. Este projeto, liderado pelo Professor Celso Ricardo, também conhecido como Pai Celso, e pela Professora Rosana Monteiro, busca reconhecer, divulgar e abordar as especificidades e necessidades de saúde da população negra, frequentemente negligenciadas nos sistemas tradicionais de saúde.

Este encontro celebrou a rica tapeçaria de ideias e vozes que compõem ações do povo negro brasileiro.

A apresentação do caderno de Boas Práticas em Atenção à Saúde da População Negra no Brasil aconteceu em formato de reunião on-line, foi um evento marcante, reunindo com os autores de todos os cantos do Brasil, cada um trazendo suas experiências e perspectivas únicas na promoção e  valorização da saúde da população negra.

Esta iniciativa não só contribui para a visibilidade das questões raciais em saúde, mas também destaca a importância de uma abordagem que priorize a humanização, respeito e adoção de medidas nas políticas públicas que combatam o racismo no sistema de saúde.

Em regiões onde a informação é escassa, o Caderno de Boas Práticas em Atenção à Saúde da População Negra no Brasil” se torna um recurso crucial para educar e empoderar comunidades, assegurando que todos tenham acesso a informações sobre os  cuidados de saúde.

Como uma das autoras, poder estar neste projeto, escrevendo sobre o Seminário de Saúde da Mulher do Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova, é extremamente importante.

Julho é um mês de reflexão e conscientização, especialmente no que diz respeito à luta das mulheres negras no Brasil. Destaco a necessidade urgente de enfrentar as desigualdades estruturais que afetam as mulheres negras, principalmente no campo da saúde reprodutiva. 

A alta taxa de mortalidade materna evitáveis entre mulheres negras é um reflexo das disparidades no acesso a serviços de saúde de qualidade e do racismo institucional que persiste. 

Além disso, a falta de autonomia sobre nossos  corpos e a falta de reconhecimento do nosso verdadeiro papel central no parto e nascimento são questões críticas que precisam ser abordadas. 

Promover o protagonismo das mulheres, garantindo-lhes voz e escolha em suas experiências de maternidade, é essencial para avançar em direção a uma sociedade livre de discriminações e violências. 

É fundamental que políticas públicas sejam implementadas e aprimoradas para garantir assistência adequada e respeitosa, assegurando que todas as mulheres tenham o direito de viver experiências específicas de maternidade com segurança de continuidade da vida e com dignidade.

Chego aos 59 anos,  fazendo profundas reflexões sobre as barreiras enfrentadas e as lições valiosas que delas surgiram. 

As dificuldades encontradas por nós mulheres negras são impostas por fatores externos, como a falta de oportunidades e os determinantes sociais que frequentemente impactam a vida das pessoas.


Transformar as adversidades raciais vividas em autodescoberta é um testemunho de resiliência e força.

Agradeço profundamente aos protagonistas Professor e Pai Celso Ricardo e a Prof. Rosana Monteiro, estão proporcionando espaço de crescimento e visibilidade.  Espaços onde tantas pessoas se encontram e crescem juntas.

Que as nossas trajetórias continuem a inspirar e fortalecer as pessoas ao nosso redor.

Ser uma pessoa cientista negra protagonista no Brasil envolve enfrentar uma série de desafios, incluindo o racismo estrutural e as barreiras históricas que limitam o acesso e a ascensão em campos tradicionalmente dominados por uma perspectiva eurocêntrica. 

Muitos desses espaços científicos foram historicamente estruturados para excluir e negar vozes negras, o que torna ainda mais importante o trabalho de desconstrução dessas normas e a promoção de uma ciência mais inclusiva e diversa. 

Cientistas negros desempenham um papel crucial ao trazer novas perspectivas e experiências que enriquecem a pesquisa e a inovação. Além disso, eles servem como modelos inspiradores para as novas gerações, mostrando que é possível romper barreiras e alcançar o sucesso acadêmico e profissional. 

O apoio de políticas institucionais que promovam a igualdade racial e a inclusão é essencial para que essas mudanças ocorram de forma significativa e duradoura.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

DIREITOS SEXUAIS, REPRODUTIVOS, SAÚDE E POLÍTICAS PARA MULHERES . É PRECISO RENOVAR

 Por Mônica Aguiar


Os direitos sexuais e reprodutivos são direitos que deveriam garantir a autonomia e liberdade das pessoas em relação à sua sexualidade e à reprodução.

Isto inclui o direito de decidir sobre a reprodução, exercer a sexualidade de forma livre e segura, ter acesso à informação e serviços de saúde sexual e reprodutiva, e estar livre de violência e discriminações.

No Brasil, apesar dos esforços feitos por mulheres para a garantia destes direitos, existem mecanismos que moldam as relações entre homem e mulheres que impedem que as mulheres desempenhem este direito que é a cidadania. Isto acontece conforme a conjuntura política.

A minha experiência na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos sugere apontar que as práticas conservadoras que negam a ciência são os principais responsáveis por manter nas estruturas do Estado o racismo, o machismo e fomentar a misoginia.

Estas práticas surgem de várias pessoas e em diversos campos. São atitudes discriminatórias que vêm de pessoas independentes da cor/raça, mas a ampla maioria é branca, com grau de instrução superior ou técnica.

E para isto, eu acredito ser preciso pontuar como as representações nas estruturas de Governos fomentam as desigualdades, principalmente na saúde. Lembrar das centenas de formas e justificativas utilizadas, em sua maioria veladamente, para que uma mulher pobre não acesse seus direitos sexuais e reprodutivos. Eu cito:

As práticas intervencionistas, comentários pejorativos, piadas, orientações abusivas de higienização, aconselhamento a cesária, orientação abusiva e higienista para entrega legal, dificuldade ou impedimento na colocação do DIU e de fazer pré-natal, falta de orientação para uso correto de contraceptivos, oferta de contraceptivos esperimentais, oferta de pisicotrópicos em consultas onde a paciente apresenta queixas excesiva de dor, oferta segregacionista massiva de laqueadura de trompas em mulheres negras, colocação de eplanom de forma aliatória, falta da caderneta da mulher, falta de ginecologista nas unidades de saúde pára um acompanhamento adequado, precariedade e demora para atendimento de consultas e exames especilizados, centralização de serviços criando barreiras de acessos, utilização indiscriminada de TCIs(termo de consentimento informado) em mulheres que fazem cirurgias vaginais, uterinas, reto e mamas e também na mulher grávida que recebe orientações desnecessárias para fazer cesária, falta de creches em Conferências, reuniões e seminários, espaços e equipamentos públicos inadequados às grávidas.

Para mim, isto tudo e mais um pouco quando ocorre são violações dos direitos reprodutivos e direitos sexuais das mulheres.   

Os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres são uma parte fundamental dos direitos humanos e não devem ser limitados somente às práticas médicas e condutas dos profissionais de saúde.

Além disso, é crucial reconhecer o direito das mulheres de viverem livres de discriminação, coerção e violência em todas as suas formas. Ampliar o entendimento desses direitos implica em promover políticas públicas inclusivas que respeitem a diversidade das experiências das mulheres, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades atendidas em todas as esferas da sociedade.

 

Defender os direitos das mulheres em uma sociedade que historicamente se estruturou sob a misoginia e o patriarcado é um desafio complexo. Não é uma tarefa que possa ser resolvida com a precisão de uma equação matemática, por envolver questões políticas, preconceitos profundamente enraizados e mudança cultural ampla.

A luta contra o machismo, o racismo e outros preconceitos exige um esforço contínuo de conscientização, educação e políticas públicas realmente eficazes.

A sociedade acredita que as mulheres não podem tomar suas próprias decições sobre o que devem fazer sobre seus corpos.   

A sociedade acredita que:

ü  O corpo da mulher é propriedade da sociedade e instrumento apenas do prazer dos outros.

Historicamente, as mulheres foram frequentemente limitadas a funções domésticas e de cuidado, muitas vezes sem escolha ou reconhecimento de seu potencial. Até hoje, a gravidez é algo obrigatório para uma mulher e de papel secundário, servil e doméstico.

No tema direitos sexuais e reprodutivos, para mim, existem várias gavetas, como citei acima. Uma delas, eu chamo de Manifestações de Mulheres. Dentro desta gaveta, especialmente as mulheres negras, em termos de expressões como sorriso alto, indignação ou discordância, acendem na maioria das pessoas questões profundas de desigualdade, preconceito, violência e racismo enraizados na sociedade.

As manifestações das mulheres negras de demonstrar felicidade, rir e falar alto, se revoltar, usar roupas curtas ou apertadas, frequentar bares, sair a hora que quiser e para onde quiser, lutar pelos seus direitos humanos, participar da política, ser dirigentes ou gestoras com cargos de poder, é motivo suficiente para que muitas pessoas as qualifiquem pejorativamente como:- mulheres vulgares, revoltadas contra o sistema, loucas, difícieis, complicadas, radicais, brigonas e dentre outros.

Sofremos com julgamentos morais e estereótipos que insistem em nos desumanizar, isto cria impedimentos à plena expressão de nossas emoções, opiniões e conquistas.

Manifestar-se contra a autonomia da mulher é um ato de agressão, por tender a impor restrições sobre decisões pessoais que deveriam ser respeitadas. Essas manifestações frequentemente geram debates acalorados, por envolverem valores culturais, religiosos e éticos divergentes.

A luta pela igualdade e pela justiça social passa por reconhecer a legitimidade das expressões das mulheres negras sem que sejam invalidadas ou subjugadas por julgamentos preconceituosos.

Muitas mulheres ainda não perceberam que uma educação sexual abrangente empodera as mulheres com conhecimento, permitindo que façam escolhas conscientes sobre suas vidas sexuais e reprodutivas.

Parcelas significativa dos  que estão nas estruturas de poder e decisões, a maioria homens, não querem enxergar que o direitos reprodutivos e sexual da mulher não pode ser tabú.

A dinâmica e o modo com que a mulher tem se organizado para driblar as mazelas, adquirindo o autocuidado, reformulando seu olhar sobre o que é família e entendendo a importância do seu papel na sociedade é um fato.

Então, estes modelos ainda existentes de políticas públicas de cuidados de saúde da mulher não contemplam mais as mulheres.

É preciso de garantir a reforma obstétrica e na saúde da mulher construir ações que atenda todas as dinâmicas das mulheres; que não seja eurocêntrico; que considere os determinantes sociais; que se preocupe com a justiça sexual e reprodutiva; que não criminalize as poucas ações que protegem as mulheres. Que implementem ações para garantir o acesso às políticas públicas de marco legal, de decisões judiciais e de acesso à saúde.

 O modelo de atenção primária à saúde, com os problemas que tenho detectado, apresenta desafios significativos quando se trata de atender adequadamente às necessidades das mulheres. Esse modelo não considera as especificidades de gênero e raça, resultando em lacunas na assistência.

As políticas públicas são fundamentais para garantir a equidade de gênero e a proteção dos direitos das mulheres.  Não tenho dúvidas de que, se as políticas públicas fossem executadas corretamente, livres dos valores corporativistas e arcaicos, desempenhariam um papel crucial na proteção e promoção das mulheres.

 É essencial que essas políticas sejam continuamente revisadas e adaptadas para responder às necessidades emergentes, garantindo que as conquistas em termos de direitos das mulheres não se percam, e sim sejam mantidas e ampliadas.

 O fortalecimento desses direitos não só melhora a qualidade de vida, mas também contribui para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades, promovendo saúde e bem-estar para todas e todos e todas as fases da vida das mulheres, do nascimento à velhice.

Encerro o meu artigo afirmando que as práticas eurocêntricas na saúde referem-se a abordagens que centram a cultura e os conhecimentos da Europa como o padrão universal e dominante em saúde, negligenciando ou marginalizando outras formas de conhecimento e prática principalmente as que são baseadas na humanização saberes locais, culturais.


quinta-feira, 3 de julho de 2025

OS CICLOS SE MOVEM ENQUANTO HOUVER RESPIRO.

Por Mônica Aguiar 

O ciclo da vida é uma jornada complexa e rica em experiências que nos moldam ao longo do tempo. 
Assim como as nuvens carregam a chuva e os ventos que esculpem a paisagem, sou moldada pelas memórias e desafios que encontrei sozinha.

As estrelas, com seu brilho constante, representam momentos de alegria e realizações, enquanto os açoites simbolizam as dificuldades evitáveis que enfrentei.

Embora nem tudo seja festa, esses altos e baixos sempre me ensinaram resiliência e aflorou-me o sentimento de valorização das poucas conquistas.

Cada fase da vida, as minhas nuances e surpresas, contribuiu para o meu crescimento pessoal e espiritual, ajudando a compreender melhor o mundo e a mim mesma.

Chego aos 59 anos, reflito sobre as barreiras evitáveis que enfrentei ao longo da vida e o esforço que fiz para transformá-las em autodescoberta e crescimento pessoal. Na maioria das vezes, as dificuldades que encontrei não foram consequências diretas de minhas ações, mas de fatores externos, como as escolhas e cobrança de outras pessoas.

Compreender isso me faz libertar de um fardo desnecessário de culpa. À medida que amadureço, tenho ganhado a capacidade de estabelecer limites e desenvolver resiliência frente às adversidades.

É importante reconhecer a força interior, superar os desafios e continuar a buscar caminhos que levem à realização pessoal e à paz interior.

Especialmente, este novo ciclo representa uma oportunidade de renovação e reflexão sobre o que foi vivido. É mais do que somente a contagem do tempo; é uma jornada de experiências e aprendizados. 

À medida que desafio esta página do tempo, recarrego as memórias e, inconscientemente, me preparo para novos enfrentamentos.

Para mim, a beleza da vida está justamente nessa capacidade de reinventarmos, de adaptarmos nossas rotinas e de continuarmos a perseguir nossos sonhos, mesmo diante das dificuldades.

Cada aniversário realmente marca um novo capítulo em minha vida, oferece a chance de refletir sobre o passado e quem sabe,  planejar o meu futuro.

Neste ciclo que se vai, consigo abraçar cada momento de minha vida estando ao lado da minha prole, minha mãe, meus irmãos, meus sobrinhos, com minha família, amigos e todas as pessoas com quem convivo, com gratidão e otimismo.

Valorizo as pequenas alegrias e aprendo todos os dias com cada vivencia. As lembranças que chegam nos sonhos, como suaves visitantes da noite, trazem consigo a serenidade dos bons momentos, que aquecem o meu coração.

Enfrentar os desafios é desenrolar um carretel cujos fios parecem infinitos e, por vezes, indesejados. Dá vontade de guardá-lo, mas as circunstâncias da vida me impelem a desatar os nós, a lidar com cada emaranhado de emoções e situações.

Assim, em um ato de coragem e resiliência, teço, com retalhos das minhas experiências e sabedoria, a concha protetora que envolverá a mim e aos que me cercam, uma capa que me dará força e abrigo ao longo da jornada. E, dessa forma, prossegui, transformando o fio da minha vida em uma tapeçaria única, imortalizando em textos o que um dia será de todas as pessoas.

Compartilho minha história e experiência, contribuindo para um patrimônio imaterial coletivo de sabedoria e beleza, na busca de transformar vidas em relíquias que transcendem o tempo e se tornam parte do tecido da humanidade.  

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Autodeclaração ou apropriação? Respeite a identidade, organização e história das mulheres negras.

 
Pôr Mônica Aguiar  

Muitas pessoas que se identificam como brancas e depois se alto declaram negras podem ter ascendência africana ou indígena, mas suas características físicas, como tom de pele ou textura do cabelo, podem não refletir isso de maneira evidente. 

É importante reconhecer que a identidade racial não se limita somente ao fenótipo, mas também envolve aspectos culturais, históricos e pessoais. 
Como uma pessoa escolhe se identificar é um fenômeno complexo que na maioria das vezes é influenciado por uma variedade de fatores, incluindo o contexto social, político e cultural em que está inserida ou pretende se inserir.

Vários fatores podem moldar e até mesmo transformar a identidade de alguem, se, considerarmos o momento e como se coloca com as repercussões momentâneas.

No entanto, é importante saber que “apropriação” de uma identidade pode também ser o ato de adotar elementos de uma cultura por pessoas de outra cultura, muitas vezes sem compreender ou respeitar o contexto original, o que pode ser problemático.  

Em última análise, a identidade é uma escolha pessoal, mas é essencial promover o respeito e a compreensão das diversas experiências e identidades raciais.

A apropriação, quando se refere a elementos raciais, é complexa e frequentemente controverso.

É inadmissível naturalizar as atitudes de pessoas, que estão ligadas cultural e historicamente ao grupo racial dominante, que passam, em um passo de mágica, a adotar aspectos da população negra, especificamente das mulheres negras.

Isso se torna particularmente problemático quando essas práticas são tratadas como uma moda passageira, respostas e justificativas entre uma discussão ou moeda de troca, desconsiderando o contexto histórico e social de onde se originaram.  

E, quando essa apropriação é criticada, muitas vezes se revela o racismo subjacente, especialmente quando os elementos culturais são tratados como objetos descartáveis ou exóticos.

O debate se torna ainda mais caloroso quando se questiona quem tem o direito de decidir o que é apropriado ou não, exigindo uma reflexão cuidadosa sobre respeito, empatia e reconhecimento das injustiças históricas associadas. 

Uma justificativa que tenho observado e que está se tornando comum é que a adoção de tais elementos é uma forma de opinião, mas isso frequentemente ignora o poder e o privilégio inerentes nas dinâmicas raciais. 

A desmistificação do discurso da democracia racial no Brasil é essencial para compreender as estruturas de desigualdade racial que ainda persistem na sociedade.

A apropriação carrega veladamente a ideia de que o Brasil é uma democracia racial, sugere não haver discriminação racial significativa e que todas as raças convivem harmoniosamente. 

No entanto, essa narrativa mascara as profundas desigualdades e o racismo que afetam, desproporcionalmente, as populações negras, especialmente as mulheres negras. 

As tipificações pejorativas contra as mulheres negras são manifestações desse racismo, perpetuando estigmas e estereótipos que as desumanizam, relações, é opressor e provocam o silenciamento das mulheres negras.

Essas apropriações limitam as oportunidades de ascensão social e econômica e reforçam a discriminação em diversas esferas, como no mercado de trabalho, na educação, bem como a representatividade das mulheres negras em espaços de poder.

As mulheres negras,  que são militantes históricas e ativistas no combate ao racismo enfrentam um desafio constante de resistência e resiliência. 

Elas frequentemente se deparam com afirmações que tentam desqualificar suas experiências e lutas, tornando profundamente exaustivo colocar tais questões na mesa.

Isto é desqualificação. E vem disfarçada de críticas ou questionamentos aparentemente inofensivos, mas que, na verdade, têm a intenção de minar a legitimidade de nossas denúncias e conquistas.

Atualmente, o cansaço não é somente físico, mas também emocional e psicológico, pois lutar contra o racismo é uma batalha contínua que exige força e uma determinação imensa.

Afirmar que o debate sobre racismo, este tipo de apropriação provoca desgaste, é outro argumento perverso que, de fato, minimiza a importância crucial dessa discussão na sociedade contemporânea.

O racismo é uma questão estrutural que afeta profundamente a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, e ignorar ou diminuir a relevância de seu debate é perpetuar a desigualdade e a injustiça.

A questão da identidade racial é complexa e envolve uma compreensão profunda das experiências pessoais, sociais e culturais.

A identidade racial não pode ser simplesmente adotada ou descartada de forma instantânea.

Para muitas pessoas, reconhecer-se como parte de um grupo racial específico é um processo que pode ser profundamente influenciado por fatores como história familiar, aparência física, cultura, e experiências vividas.

No caso de alguém que nunca se viu como negro ou não é reconhecido socialmente como negro, tornar-se parte desse grupo envolve mais do que uma simples decisão pessoal; requer o reconhecimento e a validação da vivência e das experiências compartilhadas por aqueles que se identificam como negros.

Além disso, é importante lembrar que a identidade racial está enraizada em questões sociais e históricas, e a apropriação de uma identidade sem vivenciar suas realidades pode ser vista como desrespeitosa ou insensível.

 Assim, é essencial abordar essa questão com sensibilidade, responsabilidade e respeito, considerando as nuances e a profundidade que envolvem a identidade racial.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Por que é importante falar das mortes maternas, direitos e justiça reprodutiva na terceira idade?

Por Mônica Aguiar 

28 de maio. Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna

Chego aos meus 60 anos e muitas pessoas perguntam, Monica Aguiar, por que falar das mortes maternas, direitos sexuais e reprodutivos na idade em que você se encontra?

Por um instante, abaixo a cabeça, lembro exatamente o que passei para ter meus seis filhos. Levanto a cabeça, olho para frente e para os lados e percebo que muitas ainda passam igualmente por tudo que passei. São 37 anos do primeiro parto e 21 do último. Refletir sobre uma jornada de maternidade é um exercício poderoso de memória e resiliência. Criar seis filhos ao longo de quase quatro décadas não é somente uma prova de força física e compromisso contínuo. Cada geração tem suas próprias dificuldades, mas é impressionante como algumas experiências permanecem constantes.

Ao olhar ao redor, é possível ver outras mães que enfrentam batalhas semelhantes, cada uma com suas próprias histórias e desafios. Isso cria uma rede invisível de solidariedade e compreensão entre mulheres que, mesmo em tempos diferentes, compartilham a mesma essência ao ser mãe.

A questão da coincidência do destino em comparação ao ritmo produzido no tempo de reflexão profunda sobre como as nossas vidas são moldadas. À medida que a sociedade avança e se aprofunda em novos conhecimentos, é inevitável que paradigmas e conceitos repressores sejam desafiados e reinterpretados. Muitas vezes, o que pode parecer uma coincidência pode, na verdade, ser o resultado do acesso a informações científicas e à educação que moldam nossas experiências e escolhas. 

Os valores que antes eram considerados inabaláveis podem se transformar, e conceitos que pareciam eternos podem se dissipar à medida que novas ideias emergem. Este processo de mudança é uma característica intrínseca da evolução humana e nos desafia a adaptarmo-nos e a reconsiderar o que realmente importa em nossas vidas.

Assim, ao considerarmos o futuro da humanidade, é essencial pensarmos em como as decisões que tomamos hoje, tanto em termos de ciência quanto de valores, impactarão o mundo que deixaremos para os nossos descendentes.

Com estas mudanças, o acesso a direitos que eram até pouco tempo privilégio para algumas pessoas passa a ser acessado por várias camadas socioeconômicas da sociedade. Mudanças dos conceitos e descoberta da sociedade de que a política do toma lá dá cá, a depender de onde se pratica e como se pratica, não é ruim e pode ser aplicada na hora do voto.

Então, o que tudo isto tem a ver com falar de mortes maternas? Falar de mortes maternas, vamos ter que abordar violência, determinantes sociais, autonomia, humanização das relações, respeito, tolerância, emancipação, ganhos salariais, racismo, misoginia e avaliar a prestação de serviços. Abordar essas questões pode levar a uma redução significativa nas mortes maternas e a um sistema de saúde mais justo e equitativo para todas as mulheres, além de contribuir para o entendimento da emancipação das mulheres, permitindo-lhes participar plenamente nas decisões que afetam suas vidas.

Por que tantos filhos? A questão de ter muitos filhos é frequentemente envolta em uma série de preconceitos e julgamentos que não consideram as complexidades da sociedade e nem as motivações pessoais, sociais, culturais das pessoas e famílias.

O debate sobre os direitos reprodutivos das mulheres tem se intensificado, sendo questionados à medida que novos conceitos sobre a definição dos direitos das mulheres ganham destaque.

É preciso que conceitos emancipatórios tenham a compreensão mais abrangente da autonomia corporal, igualdade de gênero e acesso a cuidados de saúde de qualidade. Ao reconhecer que os direitos reprodutivos são fundamentais para a realização plena dos direitos humanos das mulheres, discute-se a importância de garantir acesso seguro e legal a serviços de saúde reprodutiva, incluindo contracepção e aborto. 

Além disso, Há que analisar sobre as barreiras culturais, religiosas, econômicas e legais que impedem as mulheres de exercerem com autonomia seus direitos reprodutivos. 

Infelizmente, centenas de mulheres tem seu corpo violado por estupro. Esse é um tema profundamente complexo na sociedade e doloroso que demanda sensibilidade e empatia. A questão do estupro e da violência sexual é uma violação grave dos direitos humanos e deve ser abordada com seriedade e compaixão. 

Quando a sociedade aplaude a decisão de uma mulher de continuar uma gravidez resultante de estupro, é essencial distinguir entre apoiar a coragem e a resiliência da vítima e, inadvertidamente, perpetuar uma cultura que minimiza a gravidade da violência sofrida.

A sociedade contemporânea promove frequentemente a ideia de que a liberdade sexual é o único caminho para a felicidade plena e a realização pessoal. No entanto, essa liberdade é muitas vezes acompanhada de um julgamento moral que afeta desproporcionalmente as mulheres. A moralidade sexual ainda é, em muitos aspectos, uma questão de controle social, onde normas tradicionais tentam ditar o comportamento feminino, perpetuando estigmas e preconceitos.

Falar sobre mortes maternas e direitos sexuais e reprodutivos é crucial em qualquer idade, e minha experiência e sabedoria de vida podem trazer uma perspectiva valiosa para essas discussões.

Muitas vezes, mulheres mais jovens se beneficiam da orientação e apoio de pessoas que já percorreram etapas significativas de suas vidas.

Além disso, questões relacionadas dos direitos reprodutivos afetam mulheres de todas as idades e, ao abordar esses temas, estou contribuindo para a conscientização e mudança social. 

O meu, o seu, o nosso envolvimento ao tema pode ajudar a promover políticas públicas mais eficazes e garantir que futuras gerações tenham acesso a cuidados de saúde adequados e direitos reprodutivos protegidos. 

Continuar a falar sobre esses assuntos mostra compromisso com a justiça social e a dignidade humana, valores que não conhecem limites de idade.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

MULHERES REDEFINEM PAPEIS TRADICIONAIS

 Por Mônica Aguiar 

Nos últimos anos, observamos uma mudança significativa na dinâmica de gênero em diversas profissões que, tradicionalmente, eram dominadas por homens. Estudos recentes têm mostrado que as mulheres estão se destacando e assumindo posições de liderança.

As mulheres ao redor do mundo estão continuamente redefinindo papéis tradicionalmente atribuídos a elas, rompendo barreiras e desafiando normas sociais históricas.

Esse fenômeno é visível em áreas como a medicina, o direito, a engenharia e até mesmo na tecnologia da informação.

Eu acredito que essa transformação pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo maior acesso à educação superior e técnica, políticas mais ampla de igualdade de gênero e mudança de valores. Além disso, as mulheres têm demonstrado habilidades excepcionais em gestão, comunicação e inovação, o que as torna valiosas em qualquer equipe.

Esse cenário não apenas redefine os papéis tradicionais de gênero, mas também enriquece o mercado de trabalho com uma gama mais ampla de perspectivas e experiências. A necessidade de inclusão e ampliação no ambiente de trabalho, portanto, não é apenas uma questão de justiça social, mas também de aprimoramento organizacional e sucesso econômico a longo prazo.

A inclusão e ampliação da presença feminina no ambiente de trabalho são temas dos que buscam ampliação da economia.

Estudos mostram que a diversidade de gênero não só promove um ambiente de trabalho mais rico e inovador, mas também está correlacionada com melhores resultados financeiros. Ao integrar mulheres em todos os níveis hierárquicos, as empresas podem aproveitar uma gama mais ampla de perspectivas e habilidades, o que é essencial para enfrentar os desafios complexos do mercado atual.

Embora exista aumento dentro de vários espaços, ainda persistem desigualdades salariais  entre homens e mulheres. As mulheres ainda recebem salários inferiores aos dos homens, mesmo quando ocupam posições equivalentes e possuem qualificações semelhantes.

Em 2024, as mulheres ganhavam, em média, 20,9% a menos que os homens, isso em empregos do setor privado e público. É o que aponta o 3º Relatório de Transparência Salarial, divulgado em abril de 2025.

MÉDICOS

De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil (DMB), pela primeira vez, médicas são maioria entre os profissionais e no ensino de medicina.

Esta edição, feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), foi realizada com o Ministério da Saúde. Em 2010, as mulheres eram 41% da população médica.

Hoje as mulheres representam 50,9% dos médicos no Brasil, porém as mulheres predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas. O aumento da composição feminina na profissão é considerado expressivo.

As projeções indicam que, até 2035, as mulheres serão 56% do total de médicos no país.

Em 2010, as mulheres representavam 53,7% dos matriculados nos cursos de graduação, número que subiu para 61,8% em 2023.

Entre as 55 especialidades regulamentadas no Brasil, sete concentram 50,6% do total de especialistas: clínica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia/obstetrícia, anestesiologia,  cardiologia, ortopedia, traumatologia.

O estudo destaque que a parcela de especialistas (59,1%) em relação ao total de médicos está pouco abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 62,9%. (Fonte CNNBRASIL).

A predominância das mulheres na população brasileira, conforme indicado pelo Censo 2022, que aponta que elas representam 51,5% da população total, é um dado significativo que pode influenciar diversas áreas da sociedade. 

Este equilíbrio demográfico levanta questões importantes sobre a representação feminina em diferentes esferas, como no mercado de trabalho, na política e na educação.  Além disso, a presença majoritária feminina pode impactar políticas públicas, direcionando-as para atender melhor às necessidades das mulheres, como em questões de saúde, segurança e igualdade de oportunidades.

É fundamental reconhecer essa maioria não apenas destaca a importância das mulheres na construção social e econômica do país, mas também ressalta a necessidade de promover a igualdade de gênero e a inclusão em todos os níveis.

ESTUDO

As mulheres são maioria nas faculdades no Brasil. Elas representam 59.01% das matrículas no ensino superior, com cerca 10 milhões de matrículas. Este número é maior quando consideramos a conclusão dos cursos de graduação, chegando a 60,3% em 2022.

CHEFIA DE LARES

As mulheres são praticamente a metade de chefes de domicílio no Brasil. De acordo com o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, as mulheres são responsáveis por 40,2 milhões de lares. O IBGE aponta que o percentual de lares com responsáveis femininas ultrapassa os 50% em 10 estados.

As mudanças na dinâmica familiar e o crescente número de mulheres qualificadas têm desempenhado um papel crucial na transformação da percepção sobre o papel das mulheres no ambiente de trabalho.

Com mais mulheres buscando educação superior e se especializando em diversas áreas, há um aumento significativo na presença feminina em setores anteriormente dominados por homens.

Essa evolução não só desafia estereótipos de gênero, mas também amplia as oportunidades para as mulheres assumirem posições de liderança e influência. Além disso, a dinâmica familiar moderna, que muitas vezes envolve uma abordagem mais equilibrada na divisão de responsabilidades domésticas e cuidado dos filhos, permite que as mulheres se dediquem mais às suas carreiras.

Essa transformação cultural está se refletindo em políticas corporativas mais inclusivas e em um mercado de trabalho que reconhece e valoriza a diversidade de gênero como um ativo essencial para a inovação e o crescimento econômico.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Benedita fala sobre Santíssima Trindade ter nome publicado na Portaria MCID Nº 366

 Por Mônica Aguiar 

Benedita Dias dos Santos Souza, presidenta do
 Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade
 

  Hoje, vou conversar com Benedita Dias dos Santos Souza, presidenta do Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade, integrante do Coletivo Coordenadoras Unidas, 
é uma das sete entidades de Minas Gerais  que teve o nome publicado na PORTARIA MCID Nº 366, DE 11 DE ABRIL DE 2025.

O programa Minha Casa Minha Vida Entidades é uma iniciativa do governo federal brasileiro que visa facilitar o acesso à moradia para famílias de baixa renda. Através da modalidade Entidades, organizações da sociedade civil podem atuar como intermediárias, auxiliando grupos de famílias a acessar linhas de financiamento para a construção de suas casas. Este modelo permite que as famílias participem ativamente do processo, desde o planejamento até a execução das obras, promovendo não apenas o acesso à moradia, mas também o fortalecimento do senso de comunidade e a autogestão. Além disso, a modalidade Entidades busca garantir que os projetos habitacionais sejam sustentáveis, respeitando as particularidades de cada região e promovendo o desenvolvimento social e econômico local. Com isso, o programa contribui significativamente para a realização do sonho da casa própria, transformando a vida de milhares de famílias brasileiras.

Núcleo Sem Casa Santíssima Trindade  é uma entidade de luta por moradia e foi fundada em 1986.  O Projeto Sonho e Esperança, idealizado por Benedita, é uma iniciativa notável que busca proporcionar moradia digna através da autogestão organizativa das  famílias associadas. Este projeto se destaca por promover a participação ativa das famílias na gestão de suas próprias habitações, criando um senso de pertencimento e comunidade.

 Através de workshops, reuniões e colaborações, as famílias são capacitadas a tomar decisões coletivas sobre o desenvolvimento e manutenção dos espaços habitacionais. Além de oferecer uma solução prática para a questão da moradia, o projeto também visa fortalecer laços comunitários e incentivar a solidariedade entre as pessoas  participantes. Dessa forma, a iniciativa não só trabalha para suprir uma necessidade básica, mas também para transformar a vida das pessoas envolvidas, promovendo um futuro mais justo.

Eu perguntei a Benedita : Quando vc iniciou o projeto?

Benedita: O programa Minha Casa Minha Vida, criado para facilitar o acesso à moradia para famílias de baixa renda, teve suas operações afetadas por diversos fatores ao longo dos anos. O chamamento de 2013, foi uma oportunidade importante para muitas associações que buscavam oferecer moradias dignas aos seus membros. 

O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 trouxe instabilidade, impactando a continuidade e o financiamento de muitos programas sociais, incluindo o Minha Casa Minha Vida. A busca por alternativas e soluções para esses desafios continua sendo essencial para garantir que programas habitacionais cumpram seu objetivo de reduzir o déficit habitacional no Brasil.  

Assim que foi publicado em 2013, o primeiro chamamento do Minha Casa Minha Vida entidades, eu encontrei neste programa uma alternativa para atender as famílias que fazem parte da minha associação. Em 2014 eu me escrevi no Programa e obtive 500 moradias e não foi construída por falta do terreno.

O que te motivou a manter o projeto?


Benedita: Com a eleição do Lula , a Politica de Habitação voltou e novamente e, eu fiquei motivada em cadastrar a minha Associação no Programa Nacional Minha Casa Minha Vida entidades. O processo de conseguir terreno para construção através de programas públicos pode ser bastante desafiador, especialmente quando esbarra em questões legais e burocráticas. É compreensível que a negativa da PBH/URBEL em liberar o terreno tenha sido um obstáculo significativo. Contudo, o apoio de profissionais experientes como Cláudia Pires pode ser um diferencial importante. Ela, com sua experiência em movimentos de moradia, possui o conhecimento e as habilidades necessárias para navegar por esses desafios. Além disso, é crucial continuar buscando apoio de outros órgãos públicos e explorar alternativas, como parcerias com o setor privado ou a busca por legislações que possam ser propostas para facilitar esse tipo de doação no futuro. O importante é não perder a esperança; o trabalho em equipe e a persistência abrem novos caminhos para transformar este sonho em realidade.

Vc percebe ausência em políticas pública da habitação em BH com relação as associações de luta por moradia?

Benedita: - Sim, percebo. A necessidade de ampliação das políticas públicas de habitação é um tema crucial, especialmente quando se trata de atender famílias que há anos aguardam suporte por meio de associações cadastradas na URBEL. Estas associações, que operam de maneira legal e têm um histórico de contribuição social, enfrentam desafios significativos devido à falta de critérios universais claros que definam a relação com a URBEL. 

É imperativo que o conselho municipal de habitação estabeleça diretrizes transparentes e equitativas para assegurar que essas famílias recebam a assistência necessária. 

A criação de tais critérios não só beneficiaria as famílias, mas também fortaleceria o papel das associações na sociedade, garantindo que seu trabalho seja reconhecido e continuado de forma eficaz. A implementação de políticas claras e justas pode transformar a realidade de muitas pessoas, promovendo um acesso mais igualitário à moradia digna.

Qual sua perspectiva ?

Benedita: - O meu compromisso é ajudar na redução do déficit habitacional em Belo. Buscar alternativas e mecanismos de atendimento é crucial, especialmente para famílias trabalhadoras de baixa renda. 

Construir uma proposta de contrapartida financeira por parte do Município é uma excelente estratégia para diminuir o custo final das obras, tornando a moradia mais acessível. Além disso, é fundamental criar políticas de proteção para famílias que vivem de favor ou aluguel, pois essas estão organizada dentro da associações e em situação de vulnerabilidade. 

Manter o foco em ajudar famílias de associações que compartilham a mesma missão e que demonstram organização e trabalho sólido é fundamental para ampliação do Projeto. Ajudar a fortalecer as associações podendo criar uma rede de apoio mais robusta, garantindo melhores condições de vida para um número maior de pessoas associadas.

É importante continuar dialogando com o poder público para buscar apoio e parcerias que possam fortalecer ainda mais essa iniciativa.

Quais foram as principais dificuldades encontradas?

Benedita:- Organizar as famílias com o perfil sócio econômico e renda conforme determina a Caixa Econômica Federal  é um dificultador. Conseguir encontrar e comprar o terreno é difícil. Convencer o dono do terreno que aguarde o tempo de tramitação burocrática do Ministério da Cidades e Caixa Econômica federal é muito difícil. Juntada de documentos, comprovações de legalidades e cumprimento dos prazos no tempo determinado pelos órgãos envolvidos  é muito difícil. Fazer com que as famílias  entendam a importância da autonomia da gestão financeira para execução do projeto desde o inicio é muito difícil. Aguentar criminalização, critica infundadas, desqualificação, discriminação, não é fácil.  Encontrar alguém com responsabilidade social como eu encontrei na arquiteta Cláudia Pires total solidariedade, responsabilidade e compromisso para ser a responsável técnica do Projeto não é uma tarefa fácil.

Eu digo o seguinte :

O Núcleo Santíssima Trindade, sob a liderança de Benedita, destacou-se no processo seletivo instituído pela Portaria MCID nº 862, de 4 de julho de 2023, não apenas por sua capacidade de concorrer e conquistar a contratação, mas também por sua organização independente. Esta associação em Belo Horizonte se diferencia por sua trajetória autônoma, fruto de anos de dedicação e empenho na luta por habitação digna. A experiência acumulada ao longo dos anos confere à associação uma posição de destaque, demonstrando que a mobilização comunitária e a gestão eficiente podem gerar resultados significativos mesmo sem a colaboração de outras entidades. Essa conquista reflete uma combinação de perseverança, conhecimento e compromisso com a causa habitacional, servindo como inspiração para outras organizações que buscam fazer a diferença em suas comunidades.


Benedita é verdadeiramente uma inspiração para muitos. Sua participação ativa em diversos conselhos de políticas públicas demonstra seu comprometimento em promover mudanças significativas na sociedade. Como uma mulher engajada na luta pela igualdade, Benedita dedica-se a combater o machismo e a promover um ambiente mais justo e inclusivo para todas as pessoas. Sua voz é poderosa e ressoante, levantando questões cruciais sobre a necessidade de se desconstruir estereótipos de gênero e de se construir uma sociedade onde todos tenham as mesmas oportunidades. Ao se posicionar contra as injustiças e ao trabalhar incansavelmente por um mundo mais igualitário, Benedita não apenas defende seus próprios direitos, mas também os de futuras gerações. Seu exemplo encoraja outras mulheres a se unirem à luta pela igualdade e a continuarem a desafiar as normas sociais que perpetuam a desigualdade de gênero.



segunda-feira, 14 de abril de 2025

Vulnerabilidade econômica entre as mulheres negras


Por Mônica Aguiar 

A vulnerabilidade econômica entre as mulheres negras é uma questão complexa e multifacetada que reflete desigualdades históricas. No Brasil, as mulheres negras enfrentam diversas dificuldades de acesso a oportunidades econômicas, devido ao legado do racismo e do patriarcado que permeia o sistema politico, estruturas de governos e econômicas.

É notório e estou percebendo a naturalização por parte dos poderes ao avaliar as posições de trabalho informais ou de baixa remuneração, com menos acesso a benefícios como licença maternidade e aposentadoria das mulheres negras.

As mulheres negras enfrentaram barreiras adicionais devido ao racismo, sendo frequentemente relegadas a trabalhos mal remunerados e sem direitos trabalhistas.

A maldita herança histórica contribuiu para a manutenção das desigualdades econômicas e sociais, onde a maioria ainda ocupa os degraus mais baixos da escala econômica. A falta de acesso aos direitos fundamentais continua a ser um obstáculo significativo, que reforça o ciclo de pobreza e exclusão.

Esta desigualdade econômica, onde a ampla maioria são mulheres negras já deveria ter sido encarrada pelo Brasil com ações verdadeiramente reparatórias.

Todos sabem muito bem que durante uma crise econômica, as mulheres frequentemente enfrentam um impacto desproporcional no mercado de trabalho. Elas tendem a perder mais empregos formais em comparação aos homens.

Além disso, as responsabilidades domésticas e de cuidado, que já são desigualmente distribuídas, aumentam para as mulheres durante períodos de instabilidade.

Com baixa remuneração, dependendo apenas dos recursos de transferência de renda de governos as tarefas, que incluem cuidar de crianças, idosos e a gestão do lar, sobrecarregam ainda mais seu tempo e energia, dificultando a busca por novas oportunidades de emprego ou a manutenção de seus empregos atuais.

Essa dinâmica não apenas exacerba desigualdades de gênero preexistentes, mas também retarda a recuperação econômica geral, já que metade da população enfrenta barreiras adicionais para contribuir plenamente com o crescimento econômico.

As questões analíticas avaliadas como subjetivas representam um desafio significativo na vida das mulheres negras, pois frequentemente são permeadas por preconceitos implícitos e estereótipos raciais.

Essas análises, muitas vezes, desconsideram as experiências e perspectivas únicas das mulheres negras, resultando em avaliações injustas que impactam suas oportunidades acadêmicas e profissionais.

A subjetividade pode levar à desvalorização de suas contribuições e habilidades, perpetuando desigualdades de gênero e raça.

É essencial reconhecer que, se as mulheres negras enfrentam uma falta de qualificação suficiente, isso é reflexo das desigualdades “estruturais” que persistem na sociedade. Repensar as medidas tomadas para diminuir essas desigualdades econômicas é crucial para garantir que todos tenham oportunidades justas de desenvolvimento.

Os programas de transferência de renda têm sido alvo de debates quanto ao seu impacto nas mulheres em situação de vulnerabilidade.

Embora esses programas forneçam um alívio financeiro crucial a curto prazo, eles nem sempre resultam em um aumento significativo e sustentável na capacidade econômica de compra das mulheres. Em muitos casos, a assistência recebida é suficiente apenas para atender às necessidades básicas, sem proporcionar oportunidades para investir em educação ou capacitação profissional, essenciais para romper o ciclo de pobreza.

Além disso, se não forem acompanhados de políticas complementares que promovam a inclusão no mercado de trabalho e a igualdade de gênero, esses programas podem, inadvertidamente, perpetuar a dependência econômica e a vulnerabilidade.

 Portanto, é fundamental que as políticas públicas integrem estratégias mais abrangentes que visem empoderar as mulheres, promovendo sua autonomia e participação ativa.

E a falta de leituras e análises aprofundadas sobre esse tema significa que muitas dessas questões ficam invisíveis ou subvalorizadas, dificultando a implementação de políticas eficazes e inclusivas. É essencial que pesquisadores, formuladores de políticas e a sociedade em geral reconheçam e abordem essas interseções para promover uma mudança real para  mitigar essa vulnerabilidade.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, uma batalha que deve ter fim !


 Por Mônica Aguiar

21 de março, dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, data histórica e importante  para refletir sobre as assimetrias existentes do racismo e as mazelas da escravidão. 

Esta data é um lembrete da necessidade contínua de combater todas as formas de discriminação racial e promover a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, mas, principalmente para as mulheres negras.

 Particularmente, eu destaco a importância de reconhecer e enfrentar as múltiplas camadas de opressão vividas pelas mulheres negras, que ainda enfrentam discriminação tanto por sua raça quanto por seu gênero. As mulheres negras, em sua luta diária, buscam não apenas reconhecimento, mas também a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde suas vozes e experiências sejam valorizadas e respeitadas. 

Este dia serve como um chamado à ação para todos, incentivando práticas inclusivas e políticas que promovam a igualdade racial.

O 21 de Março nos convida a refletir sobre as dolorosas consequências da escravidão, cujas cicatrizes ainda são visíveis nas estruturas sociais e econômicas de hoje.

Ela nos urge a reconhecer as injustiças do passado e cobrar do Estado ações que desmantele as barreiras raciais existentes, promovendo um Brasil realmente  justo e equitativo.

Esta data é crucial para reflexão sobre o papel que governos e sistemas de justiça brasileiro e principalmente do STF-Supremo Tribunal Federal,  sobre o  desempenham no combate ao racismo e às mazelas escravagistas. 

No contexto brasileiro, onde a Constituição de 1988 estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, é imprescindível que essas instâncias atuem de forma eficaz no cumprimento dos Tratados, Convenções e Estatuto da Igualdade Racial. Avaliem concretamente as medidas afirmativas, as politicas públicas,  os mecanismos de denúncia e apuração de casos de racismo, discriminação racial, a assistência na promoção das pessoas negras.

As desigualdades raciais e o racismo são problemas profundamente enraizados que exigem abordagens genuínas e eficazes para serem superados. Em pleno 2025 observo que a maioria das ações são superficiais ou simbólicas e, utilizam as datas de denúncias para oferecer à sociedade uma aparência de progresso, e não abordam as causas estruturais subjacentes que perpetuam essas desigualdades e sustentam o racismo.

Nós, mulheres negras sabemos muito bem o que são palavras jogadas aos ventos, chavões criados para maquiar as mazelas existentes e agradar os poderosos e amigos.

As mulheres negras frequentemente enfrentam o peso dos chavões criados para maquiar as mazelas do racismo, expressões que minimizam ou distorcem a história e a responsabilidade do Estado e governos.

21 de  Março de 2025 ainda deparamos com chavões como "somos todos iguais" , "não vejo cor", “vitimismo”, “o racismo é estrutural”, “a sororidade faz a diferença”, que, embora possam até parecer bem-intencionadas, desconsideram as desigualdades e desafios específicos enfrentados por  mulheres negras.  Além disso, esses chavões tem servido para  silenciar discussões importantes sobre racismo discriminação, perpetuando um ciclo de exclusão e invisibilidade. É fundamental que a sociedade organizada reconheça e aborde essas questões de forma aberta , para que possamos avançar nas reparações.

De fato, o racismo é uma ideologia profundamente enraizada as estrutura que permeia diversas esferas da sociedade. Ele se manifesta de maneira sistemática, influenciando políticas públicas, práticas institucionais e relações sociais, perpetuando desigualdades e injustiças. Se ajusta conforme as forças políticas que se organizam, o racismo se adapta as pequenas mudanças estruturais.

Espero que neste 21 de Março as pessoas que tem o poder nas mãos, que tem o poder de fala e de comunicação façam uma abordagem crítica e abrangente.  

A confiança da sociedade nas instituições governamentais é essencial para a saúde de qualquer democracia. 

No Brasil, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm o dever não apenas de criar e interpretar leis, mas também de assegurar sua efetiva implementação.

O racismo no Brasil é uma questão complexa e persistente, muitas vezes não é devidamente reconhecida ou enfrentada pelo sistema de justiça.

O racismo é estruturado por padrões históricos existente nas pessoas que estão em situação de privilégios a comparar com a maioria da sociedade. Historicamente, ele tem sido sustentado por sistemas sociais, econômicos e políticos que privilegiam certos grupos raciais em detrimento de outros.

Algumas práticas e políticas foram institucionalizadas ao longo do tempo. Até me permito acreditar que algumas sem a intenção consciente de perpetuar a discriminação e sem intenções racistas. 

Porém, como estão em  posições privilegiadas muitas vezes se beneficiam, em silêncio desses sistemas de desigualdade.

De fato, o silêncio em relação ao racismo pode ser interpretado como uma forma de conivência ou complacência com comportamentos racistas, muitas vezes adotada sob a justificativa de evitar conflitos ou desconforto. Essa prática, no entanto, perpetua a discriminação e impede o avanço na implementação da igualdade e justiça social. Quando as pessoas escolhem não se manifestar diante de ações racistas, elas acabam por normalizar essas atitudes, permitindo que continuem a existir sem questionamento.

Portanto, para combater eficazmente o racismo, é crucial abordar tanto as atitudes e ações individuais quanto as fórmulas e formas de gestão nas estruturas institucionais que sustentam a desigualdade racial.

O exercício da cidadania é um direito fundamental que todas as pessoas devem ter garantido, mas, para as mulheres negras, essa jornada é marcada por desafios históricos e sociais específicos. No Brasil, o legado da escravidão e o racismo  impõem barreiras significativas ao acesso igualitário a oportunidades e direitos.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Cresce o número de filmes curtos com imagens de mulheres apanhando de homens .

 Por Mônica Aguiar 

O aumento no número de filmes curtos que retratam violência contra mulheres é uma tendência preocupante e que merece atenção crítica. Esse tipo de conteúdo pode ter um impacto negativo ao perpetuar estereótipos prejudiciais e normalizar comportamentos abusivos.

Com o avanço das tecnologias de comunicação, tornou-se mais fácil para indivíduos mal-intencionados atacar, intimidar ou assediar principalmente as mulheres em ambientes virtuais.

As plataformas digitais, frequentemente usadas para conexão e expressão, tornam-se palcos livres de comportamentos abusivos, como assédio, agressões, ameaças e difamação. Formando uma rede de violência cibernética.

Os atos de violência cibernética afetam o bem-estar emocional das mulheres e principalmente das meninas que têm acesso livre a estes canais e plataformas de comunicação.

A facilidade de anonimato e a falta de consequências imediatas incentivam a perpetuação desses abusos.

A produção simbólica de violências desempenha um papel crucial na formação e disseminação de ideias e valores, são espelhos das estruturas sociais e culturais existentes. No contexto das referências de relação da sociedade, essa produção perpétua narrativas e estereótipos que reforçam preconceitos e discriminações raciais.

O imaginário que coloca a culpa nas mulheres por variados aspectos da sociedade é uma construção social enraizada em estereótipos de gênero e desigualdades históricas. 

Essa visão simplista e equivocada ignora a complexidade das dinâmicas sociais e a contribuição significativa das mulheres em todas as esferas da vida. 

A afirmação de que metade do mundo é composta por mulheres e a outra metade foi parida por elas tenta, de maneira reducionista, atribuir uma responsabilidade injusta às mulheres, sem reconhecer o papel ativo e vital que desempenham na sociedade e todo o processo de violências sofrida.

Não existe compreensão por parte de muitas pessoas que valorize a igualdade de gênero, reconhecendo que tanto homens quanto mulheres têm responsabilidades e direitos iguais. Desconstruir conceitos de violência, mitos, promoção do respeito mútuo e da colaboração entre todos os gêneros passa por mudanças de padrões das plataformas para inclusão destas “curtas/filmes” em redes socais.

Estas produções denominadas particulares/individual de violência nas redes sociais, infelizmente, têm desempenhado um papel significativo na perpetuação e intensificação das desigualdades sociais.

Quando reafirmam estereótipos raciais contra uma mulher negra, essas representações contribuem para a manutenção de hierarquias e divisões baseadas em raça. A exposição contínua a conteúdos que enfatizam essas divisões normalizam e solidificam preconceitos e discriminações, tornando-se um círculo vicioso.

Além disso, a natureza viral e instantânea das redes sociais permite que essas mensagens se espalhem rapidamente, alcançando um público vasto e diversificado. Isto inclui crianças e adolescentes.

Essa forma de violência pode ter consequências devastadoras para as vítimas, incluindo danos emocionais, psicológicos e, em casos extremos, até físicos.

Combatê-la exige uma abordagem multifacetada, que inclui a educação digital para promover comportamentos online responsáveis, o fortalecimento das leis e regulamentações para punir comportamentos abusivos, e o desenvolvimento de tecnologias de detecção e prevenção de ataques cibernéticos.

A promoção de canais de denúncia eficazes é crucial para combater a violência contra a mulher. Infelizmente, muitas vezes faltam sistemas adequados que incentivem as vítimas a denunciar agressões, ou que garantam que todas as produções culturais, como curtas-metragens, incluam mensagens explícitas sobre a criminalidade desses atos.

É essencial que criadores de conteúdo e plataformas de distribuição reflitam sobre a responsabilidade que têm em promover narrativas mais saudáveis e inclusivas. Além disso, é fundamental que o público esteja ciente dos efeitos que essas representações podem ter na sociedade e exija uma abordagem mais ética e consciente na produção audiovisual.

Além disto, as plataformas online precisam assumir a responsabilidade de criar ambientes seguros e acolhedores, onde todos possam interagir sem medo de represálias ou assédio. A colaboração entre governos, empresas de tecnologia e a sociedade civil é essencial para enfrentar efetivamente esse desafio crescente.

A arte e o entretenimento têm o poder de educar e inspirar mudanças positivas, por isso é importante que sejam usados para promover respeito e igualdade.

 

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