quarta-feira, 23 de julho de 2025

DIREITOS SEXUAIS, REPRODUTIVOS, SAÚDE E POLÍTICAS PARA MULHERES . É PRECISO RENOVAR

 Por Mônica Aguiar


Os direitos sexuais e reprodutivos são direitos que deveriam garantir a autonomia e liberdade das pessoas em relação à sua sexualidade e à reprodução.

Isto inclui o direito de decidir sobre a reprodução, exercer a sexualidade de forma livre e segura, ter acesso à informação e serviços de saúde sexual e reprodutiva, e estar livre de violência e discriminações.

No Brasil, apesar dos esforços feitos por mulheres para a garantia destes direitos, existem mecanismos que moldam as relações entre homem e mulheres que impedem que as mulheres desempenhem este direito que é a cidadania. Isto acontece conforme a conjuntura política.

A minha experiência na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos sugere apontar que as práticas conservadoras que negam a ciência são os principais responsáveis por manter nas estruturas do Estado o racismo, o machismo e fomentar a misoginia.

Estas práticas surgem de várias pessoas e em diversos campos. São atitudes discriminatórias que vêm de pessoas independentes da cor/raça, mas a ampla maioria é branca, com grau de instrução superior ou técnica.

E para isto, eu acredito ser preciso pontuar como as representações nas estruturas de Governos fomentam as desigualdades, principalmente na saúde. Lembrar das centenas de formas e justificativas utilizadas, em sua maioria veladamente, para que uma mulher pobre não acesse seus direitos sexuais e reprodutivos. Eu cito:

As práticas intervencionistas, comentários pejorativos, piadas, orientações abusivas de higienização, aconselhamento a cesária, orientação abusiva e higienista para entrega legal, dificuldade ou impedimento na colocação do DIU e de fazer pré-natal, falta de orientação para uso correto de contraceptivos, oferta de contraceptivos esperimentais, oferta de pisicotrópicos em consultas onde a paciente apresenta queixas excesiva de dor, oferta segregacionista massiva de laqueadura de trompas em mulheres negras, colocação de eplanom de forma aliatória, falta da caderneta da mulher, falta de ginecologista nas unidades de saúde pára um acompanhamento adequado, precariedade e demora para atendimento de consultas e exames especilizados, centralização de serviços criando barreiras de acessos, utilização indiscriminada de TCIs(termo de consentimento informado) em mulheres que fazem cirurgias vaginais, uterinas, reto e mamas e também na mulher grávida que recebe orientações desnecessárias para fazer cesária, falta de creches em Conferências, reuniões e seminários, espaços e equipamentos públicos inadequados às grávidas.

Para mim, isto tudo e mais um pouco quando ocorre são violações dos direitos reprodutivos e direitos sexuais das mulheres.   

Os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres são uma parte fundamental dos direitos humanos e não devem ser limitados somente às práticas médicas e condutas dos profissionais de saúde.

Além disso, é crucial reconhecer o direito das mulheres de viverem livres de discriminação, coerção e violência em todas as suas formas. Ampliar o entendimento desses direitos implica em promover políticas públicas inclusivas que respeitem a diversidade das experiências das mulheres, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades atendidas em todas as esferas da sociedade.

 

Defender os direitos das mulheres em uma sociedade que historicamente se estruturou sob a misoginia e o patriarcado é um desafio complexo. Não é uma tarefa que possa ser resolvida com a precisão de uma equação matemática, por envolver questões políticas, preconceitos profundamente enraizados e mudança cultural ampla.

A luta contra o machismo, o racismo e outros preconceitos exige um esforço contínuo de conscientização, educação e políticas públicas realmente eficazes.

A sociedade acredita que as mulheres não podem tomar suas próprias decições sobre o que devem fazer sobre seus corpos.   

A sociedade acredita que:

ü  O corpo da mulher é propriedade da sociedade e instrumento apenas do prazer dos outros.

Historicamente, as mulheres foram frequentemente limitadas a funções domésticas e de cuidado, muitas vezes sem escolha ou reconhecimento de seu potencial. Até hoje, a gravidez é algo obrigatório para uma mulher e de papel secundário, servil e doméstico.

No tema direitos sexuais e reprodutivos, para mim, existem várias gavetas, como citei acima. Uma delas, eu chamo de Manifestações de Mulheres. Dentro desta gaveta, especialmente as mulheres negras, em termos de expressões como sorriso alto, indignação ou discordância, acendem na maioria das pessoas questões profundas de desigualdade, preconceito, violência e racismo enraizados na sociedade.

As manifestações das mulheres negras de demonstrar felicidade, rir e falar alto, se revoltar, usar roupas curtas ou apertadas, frequentar bares, sair a hora que quiser e para onde quiser, lutar pelos seus direitos humanos, participar da política, ser dirigentes ou gestoras com cargos de poder, é motivo suficiente para que muitas pessoas as qualifiquem pejorativamente como:- mulheres vulgares, revoltadas contra o sistema, loucas, difícieis, complicadas, radicais, brigonas e dentre outros.

Sofremos com julgamentos morais e estereótipos que insistem em nos desumanizar, isto cria impedimentos à plena expressão de nossas emoções, opiniões e conquistas.

Manifestar-se contra a autonomia da mulher é um ato de agressão, por tender a impor restrições sobre decisões pessoais que deveriam ser respeitadas. Essas manifestações frequentemente geram debates acalorados, por envolverem valores culturais, religiosos e éticos divergentes.

A luta pela igualdade e pela justiça social passa por reconhecer a legitimidade das expressões das mulheres negras sem que sejam invalidadas ou subjugadas por julgamentos preconceituosos.

Muitas mulheres ainda não perceberam que uma educação sexual abrangente empodera as mulheres com conhecimento, permitindo que façam escolhas conscientes sobre suas vidas sexuais e reprodutivas.

Parcelas significativa dos  que estão nas estruturas de poder e decisões, a maioria homens, não querem enxergar que o direitos reprodutivos e sexual da mulher não pode ser tabú.

A dinâmica e o modo com que a mulher tem se organizado para driblar as mazelas, adquirindo o autocuidado, reformulando seu olhar sobre o que é família e entendendo a importância do seu papel na sociedade é um fato.

Então, estes modelos ainda existentes de políticas públicas de cuidados de saúde da mulher não contemplam mais as mulheres.

É preciso de garantir a reforma obstétrica e na saúde da mulher construir ações que atenda todas as dinâmicas das mulheres; que não seja eurocêntrico; que considere os determinantes sociais; que se preocupe com a justiça sexual e reprodutiva; que não criminalize as poucas ações que protegem as mulheres. Que implementem ações para garantir o acesso às políticas públicas de marco legal, de decisões judiciais e de acesso à saúde.

 O modelo de atenção primária à saúde, com os problemas que tenho detectado, apresenta desafios significativos quando se trata de atender adequadamente às necessidades das mulheres. Esse modelo não considera as especificidades de gênero e raça, resultando em lacunas na assistência.

As políticas públicas são fundamentais para garantir a equidade de gênero e a proteção dos direitos das mulheres.  Não tenho dúvidas de que, se as políticas públicas fossem executadas corretamente, livres dos valores corporativistas e arcaicos, desempenhariam um papel crucial na proteção e promoção das mulheres.

 É essencial que essas políticas sejam continuamente revisadas e adaptadas para responder às necessidades emergentes, garantindo que as conquistas em termos de direitos das mulheres não se percam, e sim sejam mantidas e ampliadas.

 O fortalecimento desses direitos não só melhora a qualidade de vida, mas também contribui para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades, promovendo saúde e bem-estar para todas e todos e todas as fases da vida das mulheres, do nascimento à velhice.

Encerro o meu artigo afirmando que as práticas eurocêntricas na saúde referem-se a abordagens que centram a cultura e os conhecimentos da Europa como o padrão universal e dominante em saúde, negligenciando ou marginalizando outras formas de conhecimento e prática principalmente as que são baseadas na humanização saberes locais, culturais.


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