quinta-feira, 16 de abril de 2020

O IMPACTO DO COVID NA VIDA DAS MULHERES NEGRAS


Por Mônica Aguiar 


Para muitos especialistas a renda emergencial traz o reconhecimento das trabalhadoras informais e chefes de família no Brasil, mas também, ampliam os dados socioeconômicos das mulheres negras.

As crises política e institucional em percurso, elevam cada dia mais os números de miseráveis, desempregados e desalentados em todo o Brasil. 

Até a crise do coronavirus, não existia nada e nem dados que, conseguissem fazer com que parcela da sociedade detentora de poderes:- econômicos, jurídicos e políticos, enxergassem com pontualidade o tamanho das desigualdades existes, principalmente entre as mulheres negras.

Precisou da crise provocada pelo surto do novo coronavírus no Brasil, para que o Congresso do Brasil reconhecessem e sancionassem uma Lei, estabelecendo na Renda Básica Emergencial o valor de R$1.200.00 para as mulheres chefes de família. Iniciativa das mulheres parlamentares, que são minoria na Câmara federal.

Especialistas ouvidas pelo HuffPost Brasil apontaram que a medida é inédita e de forte impacto na vida de milhões de brasileiras e, em especial, seus filhos, além de ser considerada um marco que pode incentivar políticas públicas de combate às desigualdades no País. O governo estima que o benefício pode atingir cerca de 54 milhões de pessoas, e poderá chegar custar R$ 98 bilhões.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já havia apresentado que há cerca de 11,6 milhões de famílias chefiadas exclusivamente por mães de filhos de até 14 anos no Brasil.

De acordo com os dados, as mulheres pardas e pretas monoparental estão em maioria abaixo da linha da pobreza no Brasil.

Somando o número de trabalhadoras que são MEIs e informais com as desalentadas e desempregadas, o número de mulheres que são declaradamente chefe de família monoparental se torna tão visível, que desnuda a realidade sócio econômica das mulheres, apontando para uma responsabilidade direta do papel significativo que as mulheres negras tem na movimentação e sustentação de vários setores econômicos, sobrevivência dos filhos, muitas de netos e do lar. (Diaristas, ambulantes, constureiras, manicures, cabeleireiras, cuidadoras de idosos, técnicas de produção em diversas áreas, domésticas, motoristas, vendedoras, marisqueiras, quebradeiras de coco), dentre tantas outras categorias que não possuem emprego formalizados.

Podemos afirmar que todas as mulheres brasileiras tiveram impactos financeiros, imediatos, diretos e indiretos com a pandemia. 
Isto considerando também as chefes de família monoparental : com carteiras de trabalho registradas, aposentadas, pensionistas etc, etc........ e as que dividem as responsabilidade do sustento do lar.

São centenas de fatores, que podemos atribuir para existência de tantas desigualdades sociais e no mercado de trabalho: racismo, discriminação, preconceitos, desinteresse político, machismo, violência, falta de implementação de políticas pública especificas, reformas trabalhistas, economia, feminização da pobreza, naturalização de estereótipos, dentre tantos outros. 

Conforme informações publicada no jornal OTempo em 2018, nos últimos 15 anos, o número de lares com este formato mais que dobrou, com crescimento de 105% e já representando 40,5% das residências do país. Eram 14 milhões em 2001 e, em 2015, somavam 28,9 milhões. Dessas, 11,6 milhões estão inseridas no chamado “arranjo monoparental”, ou seja, composição familiar de núcleo único (sem cônjuge). No geral, o número de famílias brasileiras (todos os formatos) aumentou 39% no mesmo período.

Esta medida de dobrar o valor repassado a “Renda Emergencial” para mulheres chefe de família, diferencia de programas fundamentais criados de transferências de renda, como o Bolsa família. Somente após a execução do bolsa familia constatou-se: quem os acessa em maioria como titulares são as mulheres.  Chegando a 92%.

Lembrando que mesmo com vários movimentos, por décadas afirmando que programas específicos de transferência de renda impactaria diretamente nas famílias chefiadas por mulheres, influenciaria e modificaria vários fatores social e econômico no Brasil, somente em 2003 foi criado o Bolsa família.

Existem mais de 7,8 milhões de pessoas vivendo em casas chefiadas por mulheres negras, chefiadas por mulheres brancas, o número absoluto é de 3,6 milhões.

Dados do IBGE afirmam que a vulnerabilidade das mulheres é intensificada em famílias formadas por mulheres pretas ou pardas: 63%.
Em 2017 e em 2016, este número se manteve em cerca de 64%.
Em 2012, 61% do total de famílias monoparentais lideradas por uma mulher negra pertencia ao grupo que vive com menos de R$ 10 por pessoa por dia.
Em 2018, essa parcela representava 63% com filhos até 14 anos.

Conforme os anos passam e os governam mudam, as desigualdades se acentuam, aumentando o número de mulheres negras na pobreza extrema no Brasil.

Ainda de acordo com os dados, a participação das mulheres no trabalho informal é superior à dos homens. As taxas mais elevadas de informalidade entre elas ocorrem nas atividades de serviços domésticos, chegando a 71,2%. E muitas seguem trabalhando neste período de coronavirus, expondo sua vida e dos filhos.

A maioria dos lares tem no máximo três cômodos e não possuem saneamento básico e nem escolas ou creches próximas. As mais vulneráveis neste cenário continuam sendo as mulheres negras.

O que disto tudo percebo:- a sociedade que detém tanto poder, recursos financeiros, comunicação e informações, começou a enxergar que não se trata de vitimização os dados de desigualdades sociais e raciais existentes, tanto denunciados pelos movimento de mulheres negras. 

Se as mulheres adoecer e morrer, vai interromper a principal engrenagem do Brasil.

Uns investidores acreditam que reduzir mortes com isolamento social é pior para economia. Afirmou o presidente do Banco Central no Brasil, hoje,16 de Abril (do Theintercept).

Mesmo que muitos neguem a leitura do importante papel das mulheres negras na economia e que “esta conquista” não tenha vindo diretamente de processo de mobilização imediata das mulheres, analistas e investidores terão que entender o que sempre afirmamos: 
- Tudo faz parte de um conjunto propostas e ações já a décadas construídas de enfrentamento das desigualdades no mercado de trabalho, apontadas por seguimentos importantes da sociedade que lutam contra todas as desigualdades sociais, raciais e contra o machismo.

A prioridade é a vida, o bem estar e viver.  

Construir ações públicas diretas para mulheres não é privilégio, é adotar com convicção, sem ideologia e valores morais a defesa do ser humano, com oportunidades, equidade e igualdade.




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