Marlene Silva (1) |
O universo da dança está de luto. Partiu Marlene Silva, com
83 anos, nesta segunda(13), ícone da cultura negra em Minas Gerais conhecida
em todo o Brasil.
Marlene Silva é coreógrafa, dançarina, pioneira da Dança Afro,
militante do movimento negro, pesquisadora e professora de teoria musical.
Com mais
de quatro década de trabalho, seu legado mante-se vivo, através das tradições repassadas com muita dedicação para todos alunos. Sua militância contra o racismo fez que criasse um coletivo com bailarinos negros para dançar e fazer a ponte entre a periferia e o centro da Capital Mineira.
Marlene nasceu em Belo Horizonte, atualmente morava no Rio.
Sua trajetória de resistência na dança
começou no balé clássico, ainda na infância.
“Eu era a única aluna
negra da classe. Durante seis meses, a professora me ignorou completamente.
Minha mãe foi perguntar se tinha algum problema comigo, e a professora disse
que eu tinha o bumbum muito empinado e ele não caberia dentro do tule. Minha
mãe me tirou do balé na hora”, disse, ao jornalista Gustavo Rocha. (Entrevista
ao Magazine, em junho de 2018).
Aos 21 anos, assistiu pela primeira vez uma apresentação de
dança afro-brasileira com Mercedes Baptista pioneira no Brasil. Neste momento Marlene apaixonou pela Dança
Afro.
“Eu sempre fui muito
boa de história e quis estudar nosso folclore; quem dera todos tivessem a
oportunidade de estudar o folclore brasileiro. No Rio de Janeiro, tinha
orquestras em todos os teatros públicos e também as companhias de dança. Na
primeira vez que eu vi o balé de Mercedes Baptista, pensei comigo: é isso que
quero", comentou, na já citada matéria.
Marlene Silva participou do filme “Xica da Silva” (1976), de Cacá Diegues e foi convidada a trabalhar os ritmos e a coreografia presentes em uma
das cenas do filme, protagonizado por Zezé Motta e Walmor Chagas.
Por conta do
trabalho, se deslocou para Diamantina, onde conheceu Dulce Beltrão, que tinha
uma Escola de Dança na capital mineira, foi quando Marlene resolveu abrir a sua
academia, dedicada à dança afro na cidade.
O espaço foi o celeiro de vários
espetáculos, como “Raízes da Nossa Terra".
Marlene como toda mulher negra sofreu com racismo.
E por ter
como bandeira e valores a defesa do povo negro era discriminada, mas mantinha
sua força em prol da liberdade através dos belos movimentos em centenas de
apresentações.
Marlene Silva teve vários momentos e reconhecimentos históricos
por parte de setores expressivos da sociedade.
Em 2018, foi a homenageada da mostra Benjamin
de Oliveira.
Desenvolveu diversas coreografias e espetáculos, vistos
por milhares de pessoas.
O primeiro deles, “Raízes da Nossa Terra”, estreou,
inclusive, no Teatro Francisco Nunes, mesmo palco onde Marlene foi homenageada.
Marlene Silva participou de programas como o
"Fantástico", da emissora de televisão Globo.
Apresentou em
centros como o Wellesley College, Sulffolk University, The Boston Globe e The
Boston Phoenix (EUA); e, ainda, esteve no palco em um espetáculo de Milton
Nascimento.
Colegas de profissão e amigos de Marlene Silva falaram sobre
a trajetória pioneira da artista.
"É
uma perda imensurável para a dança, e não só a de matriz africana",
comentou o coreógrafo e dançarino Evandro
Passos, um de seus discípulos.
Em sua dissertação, Evandro dedicou um capítulo a Marlene
Silva, no qual, em um trecho, Marlena fala sobre a resistência e preconceito na
cidade. "Fui eu quem iniciou essa
modalidade de Dança Afro para palco em Belo Horizonte e consegui ter um nome
por aqui. Mas não foi fácil, tive que levar a Dança Afro para as ruas da cidade
também. Apresentei na praça da rodoviária, praça da Liberdade e outras da
cidade, antes de ganhar as academias. Chamavam-nos de macumbeiros e outros
apelidos pejorativos, jogavam pedra e tudo mais", relatou.
O percussionista Marcinho
Martins, que acompanhou Marlene por mais de 30 anos, foi outro a se
emocionar. "Olha, é muito difícil descrever Marlene Silva num momento
desses. Eu não diria quem "foi"
Marlene (usando o passado), porque Marlene continua aqui. E sempre será
eternizada no meu trabalho. Foi mãe, amiga, companheira. E eu tive o prazer de
ter trabalhado com ela ao longo de 35 anos. Iniciei com ela aos 12 anos de
idade. Vivemos juntos muitas vitórias - e muitas barra-pesadas também. Mas ao
final tudo era festa e felicidade, pois preocupávamos mais com o trabalho que
com o lado financeiro. Então, para mim, ela não nos deixou. É uma estrela que
vai ficar no céu, trabalhando junto com a gente".
O multi-instrumentista, cantor e compositor Sérgio
Pererê conta que nos anos 1980, sempre que se falava sobre dança afro,
Marlene era a "referência”. O músico dirigiu homenagens feitas a Marlene
na edição 2018 da Mostra Benjamin de Oliveira, realizada no Teatro Francisco
Nunes.
“Todas as pessoas ligadas à música afro ou de herança africana têm algum
laço direto ou indireto com a Marlene”, comenta ele. “Devemos
celebrar o fato de que tivemos a maravilha de ter alguém tão especial entre
nós.”
Fonte da entrevistas: (Marcinho, Evandro Passos o TEMPO) ( Sérgio Pererê
Estado de Minas)
Fotos: (1) Pablo Bernardo e (2) arquivo de Mônica Aguiar
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