quinta-feira, 17 de maio de 2018

Mostra em Brasília exibe 30 Curtas sobre 'Olhar da Mulher Negra'


Sessões ocorrem todas

as terças, às 20h, na Caixa Cultural. 
Evento promove vários debates.
Entrada gratuita.

Por Luiza Garonce, G1 DF

Edição Mônica Aguiar 

Descolonizar o pensamento." Este é o convite que a mostra Cine Curta Brasil faz a Brasília com a exibição de 30 curtas-metragens sobre "o olhar da mulher negra". Na abertura, nesta terça-feira (15), o filme "Marielle Presente", de Yasmin Thayná, presta homenagem à vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, executada em 14 de março.

Na edição intitulada "Visionária", o festival direciona o foco das câmeras para produções protagonizadas por mulheres negras, à frente ou por trás das lentes. As sessões serão exibidas na Caixa Cultural todas as terças-feiras até dia 10 de julho, sempre às 20h. A entrada é gratuita, mas é preciso retirar senha .
Cena do curta-metragem "Marielle Presente", de
Yasmin Thayná (Foto: Al Jazira Español/Divulgação)

O olhar da mulher negra a que o festival faz referência está "voltado para o afeto", segundo a curadora Melina Bomfim. "São olhares muito conectados com a nossa ancestralidade e identidade", disse ao G1. "A gente vai conversar sobre novos imaginários e possibilidades que estão longe do discuros branco e patriarcal."





Para a cineasta Viviane Ferreira, diretora de "O dia de Jerusa", que será exibido na estreia da mostra, esta perspectiva de olhar vai em direção aos lugares onde a mulher negra pode se sentir representada. Viviane é a segunda mulher negra a dirigir sozinha um longa-metragem de ficção no Brasil. A pioneira foi Adélia Sampaio, com o filme "Amor maldito", em 1983.

"As diversas representações de mulheres negras em filmes realizados por pessoas não negras quase sempre trazem um olhar que a gente não consegue se identificar, porque é uma ideia criada sobre nós que não nos contempla", explicou.

A fim de ampliar os debates e reflexões sobre os espaços de ocupação da mulher negra no cinema e no mercado cultural, o Cine Curta Brasil oferece bate-papos com cineastas, artistas e ativistas locais e nacionais, como a professora da Universidade de Brasília (UnB) Edileuza Penha, que pesquisa cinema negro desde 2006.

No dia 22, ela faz uma palestra com o tema "Quem seríamos com acesso a uma educação afrocentrada?". Segundo Edileuza, o cinema negro feminino propõe um olhar de rompimento e tem pautado o afeto como principal elemento, porque "nós, mulheres negras, não somos vistas em nenhum filme romântico".

Na abertura de cada sessão, a mostra exibe um capítulo da série "Afronta", roteirizada, dirigida e produzida pela cineasta negra Juliana Vicente, da Preta Portê Filmes. Os episódios reconstróem a trajetória de formação de personalidades como Carol Conká, Loo Nascimento e Liniker enquanto indivíduos negros.


Programação

22 de maio

  • "Afronta" com Yasmin Thayná (2018, 15min, livre)
  • "Mulheres de barro", de Edileuza Penha de Souza (2014, 26min, livre)
  • "Casca de Baobá", de Mariana Luiza (2014, 11min, livre)
  • Provocações: "Quem seríamos com acesso a uma educação Afrocentrada?", com Edileuza Penha
29 de maio
  • "Afronta" com Loo Nascimento (2018, 15min, livre)
  • "O Rito", de Cintia Lima e Bia Lima (2014, 7min, livre)
  • "El Reflexo", de Everlane Moraes Santos (2016, 3min, livre)
  • "Aurora", de Everlane Moraes Santos (2018, 14 min, livre)
  • Provocações: "Militância estética", com Neggata.
5 de junho
  • "Afronta" com Érica Malunguinho (2018, 13min, livre)
  • "Peripatéticos", de Jéssica Queiroz (2017, 15 min, livre)
  • "O tempo dos Orixás", de Eliciana Nascimento (2016, 21 min, livre)
12 de junho
  • "Afronta" com Liniker (2018, 14min, livre)
  • "O olho e o Zarolho", de Juliana Vicente (2013, 18min, livre)
  • "Monga, retrato de Café", de Everlane Moraes Santos (2017, 13min, livre)
  • Provocações: "O cinema e os afetos", com Luana Ferreira
19 de junho
  • "Afronta" com Dani Ornellas (2018, 13min, livre)
  • "Orum Ayê", de Jamile Corrêa e Cinthia Maria (2016, 13min, livre)
  • "Pety pode tudo", de Anahí Borges (2015, 18min, livre)
  • Provocações: "Escrita catárticas imagens reais", com Tate Nascimento
26 de junho
  • "Afronta" com Karol Conka (2018, 14min, livre)
  • "Nós, Carolinas", do coletivo Nós, mulheres da periferia (2017, 17min, livre)
  • "Kbela", de Yasmin Thayná (2015, 22min, livre)
  • Provocações: "Palavra Poder", com Thábata Lorena
3 de julho
  • "Afronta" com Anelis Assumpção (2018, 14min, livre)
  • "Clausura", de Mariana França (2018, 25 min, 12 anos)
  • "Das raízes às pontas", de Flora Egécia (2016, 20min, livre)
  • "SobreTudo", de Ana Paula Mathias (2018, 6min, livre)
  • Provocações: "Trançando o pensamento", com Calila das Mercês
10 de julho
  • "Afronta" com Ingrid Silva (2018, 13min, livre)
  • "Com os Pés no Chão", de Marise Urbano (2017, 10min, livre)
  • "Rainha", de Sabrina Fidalgo (2016, 31 min, 12 anos)
  • "Tempo de Cura", Ana Paula Mathias (2016, 16min, livre)
  • Provocações: "As novas narrativas corporais negras", com Luara Moreira

Conheça Viviane Ferreira


(Trechos  entrevista  Carta Capital )

Viviane Ferreira, segunda mulher negra a dirigir
um longa-metragem de ficção sozinha no Brasil,
  é autora do filme 'O dia de Jerusa' 
Ativista e diretora de "Um dia com Jerusa" fala sobre memória coletiva e os desafios enfrentados no cenário do audiovisual brasileiro, Viviane Ferreira é a segunda mulher negra brasileira a dirigir um filme de longa metragem. A primeira foi Adélia Sampaio, em 1983, diretora de Amor Maldito. O projeto de Viviane, intitulado Um dia com Jerusa, quebra, portanto, um jejum histórico de falta de participação das mulheres negras como diretoras no cenário do audiovisual brasileiro.

............Qual é a sensação de saber que você é a segunda mulher negra a dirigir um longa de ficção no Brasil?


A sensação de responsabilidade é muito grade, sobretudo, por ter consciência da quantidade de outras histórias, tão boas quanto a minha, que não foram selecionadas. Depois, porque proponho um filme que tem sua fonte criativa na “memória coletiva” da população negra brasileira.
.................
Qual é a importância das ações afirmativas em editais de audiovisual?

É um fato incontestável que a sociedade brasileira vive uma história de profunda desigualdade racial. De mesmo modo, é incontestável a necessidade de esforços do Estado brasileiro para propor políticas reparatórias que visem reduzir esse fosso de desigualdades.
Por isso, os editais curta e longa afirmativos são importantes por serem reveladores de uma demanda reprimida: há pessoas negras sedentas por contar a própria história.............................

Quais os efeitos de tal aliança, em especial, para negros e negras?

VF: Essa aliança produz uma escassez de recursos e oportunidades diante da nossa demanda coletiva reparação. E, consequentemente, adoece os nossos com uma frustração coletiva, diante das dores cotidianas produzidas por essas frustrações. 

Ainda que estejamos organizadas(os) em uma associação, não são os nomes de todos os associados que aparecem entre habilitados ou contemplados em editais de fomento ao audiovisual. Também a seleção para grandes festivais faz com que, cotidianamente, precisemos ter parcimônia e resiliência para gerir a frustração coletiva e distribuir água sobre "fogo amigo", tentando não nos permitir esquecer que tudo isso é efeito do tal "matrimônio perfeito" entre racismo, sexismo e capitalismo, que alimenta a farsa da meritocracia. 

Com tudo isso, para me manter atenta, atuante e reflexiva para colaborar com as minhas e os meus na elaboração de estratégias que contemplem um número cada vez maior de sonhos, subjetividades e construções simbólicas negras no setor audiovisual, é preciso dormir e acordar lembrando de como sonhava, ainda guria no Coqueiro Grande, em cima do pé de cajueiro, em fazer filmes pela primeira vez. .................



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