quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Microviolência, micromachismo, tudo junto e misturado. Práticas de uma sociedade patriarcal

 Por Mônica Aguiar 

O micromachismo e microviolência como vem sendo chamado nesta década é uma série de comportamentos que se manifestam através de discriminações e são muito sutis. Acontecem todos os dias, até mesmo nos ambientes mais progressistas.

Comportamentos que subjugam e desrespeitam as mulheres. Interrompimentos, risadas e olhares desfaçadas de deboche quando uma mulher fala; comportamentos que subjugam, promovem objetificação da mulher na publicidade, comportamentos e afirmações elogiáveis nas tarefas de casa e  ao desempenhar  funções servis.

Depreciação e desqualificação da linha de pensamento da mulher sempre em tom meigo. 

Utilização de adjetivos referentes a beleza para qualificar potencialmente uma mulher. 

Termos pejorativos para limitar a postura, posição e o grau de conhecimento e conduta de uma mulher.

Tudo junto e misturado, condiciona as mulheres as mais variadas formas de violências. Praticas dissimuladas e muito sutis.

Estas discriminações que podem acorrer em ambientes públicos ou não, são perpetuadas de tal forma que fazem parte do quotidiano da sociedade.

É muito comum uma mulher achar que determinado comportamento ou fala de um homem não é nada demais, não teve a intenção de depreciação e, ou são, simples circunstâncias que acontecem inocuamente, ou seja, sem qualquer intenção lesiva.

Mas de fato são práticas do machismo cotidiano que as mulheres estão sempre submetidas.  

Ao naturalizar tais práticas como um simples comportamento de um homem, as mulheres que sofrem, são remetidas ao círculo rítmico de violência, propiciando a aceitação de outros tipos de violência graves podendo chegar ao feminicídio.  

Durante a reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na CPI da Pandemia, a Senadora Simone Tebet (MDB-MS) ao questionar a atuação da CGU na fiscalização de negociações sobre compras de vacinas, foi chamada de descontrolada pelo ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner.

Formato de atitude naturalizado principalmente entre os homens que não suportam ser questionados por uma mulher, mesmo que esta mulher esteja ocupando um cargo igualmente de poder.

As divergências e questionamentos postulados por uma mulher quando não aceitos, sempre são sucedidas com denominações de:  louca, histérica, exaltada. Isto entre tantos outros predicados naturalizados que desqualificam o conhecimento técnico, científico, político e social da mulher,  tem como objetivo central a manutenção do domínio sobre a situação posta e sobre o corpo da mulher.

Tais violências sempre foram silenciadas por milhares de mulheres para não provocar desconforto entre as pessoas que circulam entre seu meio. 

Um círculo de violência que se tornou naturalizado e que formata e sustenta a sociedade patriarcal e racista.

O silêncio sempre esteve presente na vida das mulheres. Para muitas, a única arma utilizada para evitar que tais violências não possam se transformem em algum tipo de violência física.

Não é fácil !  

 Blog Mulher Negra

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Síndrome de burnout atinge cada dia mais as mulheres

Por Flávia Peixoto na Agência Brasil

Uma síndrome específica do mundo do trabalho, que é resultado de níveis devastadores de estresse: trata-se da síndrome de burnout. O termo, traduzido do inglês, significa queimar completamente. O programa da TV Brasil Caminhos da Reportagem deste domingo vai mostrar como o excesso de trabalho leva ao burnout, os sintomas e tratamentos da síndrome e exemplos de quem passou por isso e mudou de vida.

O diagnóstico de burnout surgiu, pela primeira vez, em 1974 e, desde então, atinge cada vez mais pessoas. No Brasil, estima-se que 32% da população sofre com a síndrome. O país só perde para o Japão, onde 70% da população sente os efeitos do esgotamento profissional.

O psicanalista e professor da USP, Christian Dunker, explica que o burnout não acontece porque você passou um fim de semana sem dormir para entregar um projeto. “Quando você passa meses, quando você entra em anos fazendo isso, você começa a se arriscar a ter uma espécie de pane geral”, diz ele.

Foi o que aconteceu com Duly Mittelstedt. Trabalhando sem parar como pianista e professora de piano, Duly diz que um dia o cérebro dela cansou de decodificar sons. Ela não conseguia ouvir nada. Precisou parar, fez musicoterapia e mudou o ritmo de vida para se recuperar.

A jornalista Izabella Camargo corria contra o tempo para dar conta de todas as funções. Descobriu que estava com burnout depois de passar por cinco especialistas para tratar 25 sintomas. Quando voltou da licença médica, foi demitida. Hoje ela dá palestras de prevenção ao estresse no trabalho e tem uma vida mais equilibrada.

Em 2022, por determinação da Organização Mundial da Saúde, o burnout passa a fazer parte da nova Classificação Internacional de Doenças. O que, de acordo com Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente do ISMA Brasil, trará muitos benefícios. “Em primeiro lugar, para o empregado, para o trabalhador, que poderá subsidiar essa queixa de burnout, que hoje em dia ainda é muito superficial, ela não tem um embasamento legal”, explica Ana Maria.

Pandemia

A pandemia aumentou o número de pessoas no limite do estresse. Um levantamento do portal de saúde Pebmed mostrou que 83% dos médicos da linha de frente sofreram de burnout. O teletrabalho também piorou a situação de outros trabalhadores. As vidas pessoal e profissional acabaram se fundindo, o que levou muitas pessoas a fazerem jornadas mais extensas.

Segundo a coordenadora nacional de Igualdade, do Ministério Público do Trabalho, Adriane Reis, essa nova realidade atingiu ainda mais as mulheres. “Como no Brasil nós temos uma sociedade patriarcal em que a mulher ainda é vista como a responsável pelos cuidados familiares e, nesse momento pandêmico, houve fechamento de escolas, ficou muito mais complicado para as mulheres conseguirem compatibilizar a jornada profissional e a jornada familiar.”, ressalta.

O diagnóstico da síndrome ainda é um desafio, já que muitos sintomas são similares aos da ansiedade e da depressão. Medicamentos para as duas doenças são, inclusive, usados no tratamento. Mas pesquisadores avaliam o efeito do canabidiol para os casos de burnout.

Quem já passou por isso diz que medicamentos e terapias não são suficientes sozinhos. “Não adianta você tomar remédio, fazer terapia e continuar no ambiente estressor. Ou não adianta o ambiente mudar e você continuar com comportamentos nocivos para a sua saúde. Não tem problema nenhum você vestir a camisa da sua empresa, desde que você também vista o seu pijama, desde que você também vista uma roupa para fazer uma atividade física, desde que você também vista para uma atividade de lazer.”, resume Izabella Camargo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Erradicação da Pobreza e da fome. Dia que não pode esperar !

 
Por Mônica Aguiar 

A data tem o objetivo de conscientizar os governos de todo o mundo sobre o elevado número de pessoas que ainda estão vivendo na extrema pobreza, expostos à miséria, fome crônica e todas as formas de violências.

A erradicação da pobreza e da fome faz parte dos oito objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Mas são poucos que articulam formas para diminuir a pobreza e combater à fome .

Neste período que estamos vivendo, no mundo o número de pessoas na pobreza e extrema pobreza crescem cotidianamente.

Ao meu ver, isto faz parte de um conjunto de falta de ações que não foram tomadas, outras foram deixadas de lado, que acabaram se agravando com a pandemia. Além disto tudo, o fato de não querer enxergar a existência de uma camada da população historicamente afetadas com a falta de políticas sociais e direitos fundamentais.   

De acordo com as Nações Unidas, o mundo tem 736 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza de US$ 1,90 por dia.  A organização destaca o fato de cerca de 55% da população mundial não ter qualquer benefício monetário do sistema de proteção social.  

No Brasil, as condutas ideológicas com a coisa pública, tem colocado cada dia mais famílias na pobreza extrema, passando fome.  

Um cenário muito ruim, que não se agravou somente a pandemia, mas pela falta de responsabilidade política dos poderes atuais com o povo desta nação.  

Milhares de brasileiros, nesta semana de erradicação da pobreza, estão presenciando os filhos passando fome; não tem perspectiva de trabalho com uma remuneração mínima; estão disputando espaço e ganho no mercado precário e totalmente informal; estão sobrevivendo  da ajuda do programa de transferência de renda o Bolsa Família que cada dia sofre modificações; aguardando ajuda de um  Auxilio emergencial que fica entre US$ 26,85 dólar e US$ 45,03 dólar ou seja, entre R$150,00 e R$250,00 mensalmente.

Diante todo este cenário, famílias que já eram afetadas pelas desigualdades socioeconômicas, sofrem com os resultados das crises políticas e institucionais que provocam cada dia a alta dos preços de produtos básicos para sobrevivência.

A tristeza no rosto das pessoas se tornam nítidas. Os traços de cansaço não são mais disfarçados nos belos sorrisos.

O levantamento foi feito entre junho de 2017 e julho de 2018 pelo IBGE, apontou piora na alimentação das famílias brasileiras. Entram na conta somente os moradores em domicílios permanentes, ou seja, estão excluídas do levantamento as pessoas em situação de rua, o que poderia aumentar ainda mais o rastro da fome pelo país.

  • Metade das crianças com até 5 anos vive tem restrição no acesso à alimentação de qualidade e mais da metade dos domicílios onde há fome são chefiados por mulheres.

Em uma matéria da Bruna Ribeiro, publicada na página do CEERT ela aponta que : “Em tempos de pandemia, as desigualdades raciais se aprofundaram e o aumento dos níveis de pobreza da população negra confirma esta constatação”.  Segundo Mario Rogério, diretor do CEERT, mais da metade da população em idade de trabalhar ficou desempregada. No segundo trimestre de 2021 atingiu 50,4%, retratando fielmente o impacto da pandemia nas famílias negras. A taxa de desocupação das mulheres negras (20,1%) foi mais que o dobro da taxa dos homens brancos (9,7%)”.

A matéria também fala que dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar em Contexto de Covid e do levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional,  apontam que  no final de 2020, 55,2% da população brasileira sofreu alguma ameaça ao direito aos alimentos, ou seja, não tinha certeza se haveria comida suficiente em casa no dia seguinte e, 9%  da população vivenciou insegurança alimentar grave, isso significa que essas pessoas passaram fome. 

São centenas de organizações dos movimentos sociais e de pessoas, que distribuem cestas básicas, material de higiene e proteção à Covid no Brasil, desde 2020.  Mesmo que anônimos, criam uma rede de solidariedade para "alternar" o dia de fome em milhares de famílias.

A fome no Brasil cresce mais a cada dia, superando as taxas de quando o Bolsa família foi criado em 2003.  

São 59,4% da população enfrentando um algum grau de insegurança alimentar, o equivalente a um total de 125 milhões de pessoas.  

Em todas as pesquisas, encontrei resultados que apontam para o aumento da fome no Brasil.  A pobreza extrema é considerada um crime contra os Direitos Humanos, sendo, o Estado deve assegurar que os seus habitantes tenha, condições de sobreviver com dignidade.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

OUTUBRO ROSA CLARO É TAMBÉM OUTUBRO DAS ROSAS NEGRAS

 Por Mônica Aguiar 

A história de luta das mulheres negras pela vida, sempre estiveram presentes em todas as fases do Brasil, antecede a organização das mulheres brancas feministas.

Nesta vasta e longa história, foi a pouco tempo que as mulheres negras conseguiram incluir  dentro da Política Nacional de Saúde o debate da importância do reconhecimento das especificidades existentes na saúde da população negra e a importância de se ter uma política específica de atenção a saúde do povo negro e das mulheres.

Com isto, temas que nunca foram debatidos na sociedade e dentro dos governos, passaram a ser temas de conferências da saúde, a exemplo:  as Mortes maternas e evitáveis no Brasil e o direitos sexuais e reprodutivos que ganharam força na sociedade na voz das mulheres negras.

Mesmo com todos os avanços na saúde pública, muitos programas ainda são imaginários  e  sustentam a ideologia da democracia racial.  As mulheres negras em sua ampla maioria vivem cotidianamente sem exercitar plenamente sua cidadania, independente do espaço que ocupem.  Estão em ampla maioria sem oportunidades iguais e sem condições de fazer parte do conjunto da população que conseguem acessar as políticas fundamentais.

Mas porque alguns “fatores sociais” ainda influenciam de maneira drástica e direta a vida das mulheres negras? Pensado nos fatores que fomentam as desigualdades raciais na saúde resolvi falar do  

OUTUBRO ROSA CLARO, lembrando da importância das ROSAS NEGRAS.

A pobreza crônica, o racismo disfarçado e profundo, completa os principais determinantes do quadro de saúde da população negra no Brasil.

Dados históricos epidemiológicos sempre indicaram que os negros brasileiros, homens ou mulheres, adoecem mais e morrem mais cedo, em todas as idades.

Anemia falciforme, diabete melito, hipertensão arterial, miomas e a deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase são doenças com maior incidência entre negros. As mulheres Negras carregam a maior incidência de câncer de mama na pré-menopausa, tem a maior  taxa de mortalidade quando comparadas a outros grupos.

São diversas pesquisas e teses existentes que apontam como é fundamental o reconhecimento da existência de doenças de maior prevalência na população negra, em virtude do condicionamento de fatores genéticos que atuam conjuntamente com fatores sociais, econômicos, ambientais, que tem efeitos diretos e indiretos na produção de comorbidades, morbidades e na mortalidade da população negra. Fatores que influenciam de forma drástica na perspectiva de vida das mulheres negras grávidas e puérperas. 

E foi na 12ª Conferência Nacional de Saúde que se aprovou várias propostas para reforçar e criar estratégias específicas de atenção à saúde dessa grande parcela da população, com  foco de instituir a política de atenção à saúde da população negra. 

Os movimentos negros e de mulheres negras, criaram agendas em todo o Brasil através de encontros e seminários, com o objetivo de apresentar ao Governo Federal uma proposta específica como política de Estado, com base na Carta Magna, Tratados e Convenções para redução da desigualdade na saúde, combate à discriminação racial e do racismo existente na saúde pública.

As mulheres negras continuam sendo as principais vítimas das práticas racistas na saúde, chegando ao ponto de ficar totalmente refém do  sistema que se move a partir da concepção racial de cada um, “claramente” detectadas: - nas linguagens, abordagens, acolhimento, tempo de consulta, desinteresse a escuta, quebra de sigilo e na dificuldade de consultas e exames especializados.

Os estereótipos racistas existentes na sociedade e, reproduzidos de forma especifica na saúde,   tem contribuído significativamente para que as mulheres negras não sintam confiantes em buscar cuidados médicos para não sofrer  de discriminações racial.

E mesmo tendo o Brasil avançado na política pública de saúde, ainda existem resistências na gestão federal, em vários estados e municípios, na saúde pública e privada, sejam:- (secretarias de saúde, conselhos de saúde, fóruns, comitês), para implementar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. 

A Precocidade de óbitos nas mulheres negras já contribuem com o aumento das altas taxas de mortes por câncer de mama e maternas, demostram os níveis de desigualdades existentes, quando o assunto é a falta de acesso a um direito que é fundamental.

As pesquisas vem apontando que a sobrevida de mulheres negras em casos de câncer de mama é até 10% menor do que entre mulheres brancas, muito em função a diagnóstico tardio e menor acesso e atenção às ações do plano de controle do câncer de mama no Brasil.

Entre 2009 ne 2012, a incidência de câncer em mulheres negras estavam em torno de 124 para cada 100 mil mulheres.

 O controle do câncer de mama é reconhecido como uma das prioridades pela saúde pública no Brasil desde o início da implementação do SUS. Porém o que observamos que a segregação da população negra na saúde pública aumentaram nestes últimos anos.

O que estamos vivenciando é um SUS cada dia mais intencionado aos privilégios. E os direitos de ter saúde com dignidade tem passado a pertencer apenas a um grupo e setor.

A falta de reconhecimento e o negacionismo tem fomentado o aumento das proporções de mulheres negras diagnosticadas com câncer de mama, em estágio avançado. A distância crescente entre  o momento em que a mulher percebe que há algo de errado na mama até conseguir a primeira consulta médica tem  aumentado a chance de um diagnóstico tardio.

As opções de tratamento são mais restritas e menos eficazes e, portanto, a sobrevida é pior do que no início estágios. Há grande demora para conseguir os serviços de atenção.   

As imagens das campanhas de publicidade sobre a conscientização do câncer de mama também estão longe de ser inclusiva. Por tanto é preciso ENTENDER QUE EM OUTUBRO TAMBÉM TEM ROSAS NEGRAS. 

"Estimamos que cerca de 7.500 mortes por câncer de mama poderiam ter sido evitadas no Brasil em 2012, se 80% das mulheres com câncer de mama diagnosticadas no estágio 3 ou 4 nos cinco anos anteriores tivessem sido diagnosticadas com doença em estágio 2."

Mulher com câncer de mama usuária do SUS, que necessita de acesso a medicina personalizada para obter tratamentos mais eficazes, não podem ficar esperando boa vontade dos gestores de saúde pública nem melhor eficiência nas coordenações de saúde da mulher. 

A PNPCC estabelece princípios e diretrizes relacionados ao cuidado integral da pessoa com câncer que devem ser seguidas. 

Neste todo processo é importante ressaltar a importância em cobrar o papel do Estado para garantia da igualdade na atenção da saúde pública; universalidade do acesso e integralidade da atenção.   

Manter os exames em dia é outra forma importante de autocuidado. A realização anual da mamografia para mulheres a partir de 40 anos é muito importante para que a doença seja diagnosticada precocemente.

Será que as mulheres estão tendo acesso a mamografia corretamente?

Quais os protocolos que existentes de atenção a mulher com suspeita ou diagnosticada com câncer de mama? Estão seguindo o tempo determinado para início do tratamento?

O PNPCC são seguidos nos municípios?   

Quais é o investimento financeiro do governo federal destinado aos municípios para prevenção e tratamento do Câncer?

As mulheres tem aceso fácil aos serviços apontados?  

Em que momento as campanhas de conscientização traduz em oferta de serviços públicos?

Sendo, façamos que o Outubro Rosa  seja um também Outubro das Rosas Negras

 

PDF icon A situação do câncer de mama no Brasil

https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//a_situacao_ca_mama_brasil_2019.pdf


Foto: Fala Dantas 2018

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

IDOSAS NEGRAS " O DESAFIO DE ENVELHECER COM DIGNIDADE"


Envelhecer com saúde, feliz, livre de responsabilidades deveria ser uma norma universal para todas idosas, mas não é.  As idosas negras sentem o peso do envelhecimento cotidianamente ao garantir a sobrevivência dos seus, assumindo a responsabilidade do Estado.

Por Mônica Aguiar

Eu resolvi fazer um levantamento de temas que retratam as desigualdades existentes entre as mulheres negras idosas, nesta semana que se comemora o dia do idoso.  

Encontrei estudos que falam sobre a realidade das mulheres negras idosas considerando as condições de moradia, saúde, socioeconômicos, chefia de família e modo de vida.

Navegando pelos mares da internet, deparei com algumas citações e, encontrei pesquisas valorosas, que retratam as condições das mulheres negras idosas no Brasil. Apesar de ter localizado poucas, mas entre as poucas encontradas, quatro (4) me chamaram muito a atenção.

A primeira pesquisa que eu li foi “Mulheres negras idosas: a invisibilidade da violência doméstica”, uma tese de doutorado em Serviço Social pertencente a Ilka Custódio, 2016- do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social, PUCSP. Um trecho que separei afirma que:

As diferenças vivenciadas pelas classes sociais ao longo do ciclo de vida desenham diferentes velhices. Não é um processo homogêneo, já que ricos e pobres não o vivenciam da mesma forma. O envelhecimento é um problema social para a classe trabalhadora, que, possuidora apenas da sua força de trabalho, quando envelhece, perde o valor de uso para o capital e é acometida, mais uma vez, pela depreciação social e pobreza, tornando-se mais invisível socialmente conforme vai envelhecendo. O envelhecimento carrega consigo as desigualdades sociais vivenciadas ao longo da vida. A população negra, devido ao racismo e seus desdobramentos, tem uma vida com mais desvantagens que a população branca, o envelhecimento é uma experiência mais difícil para a população negra. As mulheres vivem mais que os homens, mas, se ao conjunto de desigualdades sociais fomentadas pelo racismo se somarem as desigualdades de gênero, o envelhecimento da mulher negra é ainda mais desafiador”....... .

Continuando a navegação surge a segunda pesquisa, “SOLIDÃO DA MULHER IDOSA NEGRA? ANÁLISE DE FATORES DEMOGRÁFICOS, SOCIOECONÔMICOS E MODO DE VIDA DE IDOSAS DA CIDADE DE SÃO PAULO de Alexandre da Silva; Etienne Larissa Duim; Luís Eduardo Batista; Carla Ferreira do Nascimento.. Publicada no X Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em 2017.

Encontrei as seguintes afirmações:

(2)Pesquisadores da temática racial têm demonstrado em suas pesquisas que determinantes sociais influenciam a forma de ocorrência da mortalidade de homens negros, a escolaridade das mulheres negras e as relações afetivas. E pouco se sabe como esta condição ocorre no envelhecimento.”

Esta pesquisa refletiu a realidade da maioria da população negra idosa no Brasil ao concluir que:

(2)As condições socioeconômicas e modo de vida foram piores para idosas pretas e pardas e a “solidão” da idosa parda existe na cidade de São Paulo e tem relação com a idade avançada, ter filhos vivos e não ter criado outras relações sociais geracionais e intergeracionais ao longo da vida”.

A terceira lida, foi (3)O ENVELHECER PARA A MULHER NEGRA”, escrito por Sheila Souza  Pedagoga Especialista em Envelhecimento, publicado em 2018.

Pontuo as seguintes afirmações:

1)      “.....Portanto, quando dizemos que a mulher sofre grandes violências dentro dessa sociedade machista, temos que voltar o nosso olhar para o duplo sofrimento da mulher negra, pois, ela sofrerá por ser mulher, e por ser negra. E ao envelhecer, essa violência, logicamente, só aumentará, pois, sabemos como o envelhecimento ainda é estigmatizado na sociedade......

2)      .... e há um real entendimento sobre a perversidade que o povo negro enfrentou ao longo da história, é possível entender o motivo pelo qual a mulher negra sofre e sofrerá muito mais em seu processo de envelhecimento do que as mulheres não negras. Pois, ao envelhecer, as mulheres negras continuam sofrendo machismo por ser mulher, continuam sofrendo racismo, e nessa nova fase de sua vida, sofre também gerontofobia .  ....

3)      ......não há como negar que o envelhecimento da mulher negra será com muito menos qualidade do que as mulheres não negras. E é importante entender que, “quando se fala em envelhecimento com qualidade temos que ter em mente que não estamos falando somente do processo saúde-doença, mas sim de toda uma configuração” (SANTOS, 2017, p.22)”....... 

Neste cenário que apresento, considero os fatores históricos das desigualdades existentes, pod3endo afirmar que  o racismo é operado como instrumento ideológico para manutenção e fomentação das desigualdades socioraciais , principalmente quando  comparamos os dados, o cenário que  emerge é de dois até três países, completamente distintos.

O processo de envelhecimento para as mulheres negras não ocorre de modo homogêneo e semelhantes. As fases da vida são determinantes para muitas ao considerando fatores sociorterritóriais. O número de doenças, as condições crônicas existentes e dentre estes o acesso ao Sistema Único de Saúde(SUS), são fatores que devemos considerar ao analisar as condições de sobrevivência das mulheres negras idosas.  

As mulheres negras historicamente são em sua maioria chefes de famílias e, com a expansão dos percentuais de mulheres chefes de família ao longo da segunda metade do século XX, a realidade das idosas negras passam a ser outro.

Sendo, estes números já eram elevados naquele momento, eles mais que dobraram nos primeiros 15 anos do século XXI.  Famílias monoparentais deixam de ser a maioria, passando a ser maioria os arranjos unipessoais (pessoas sós), que são composições familiares de núcleo único (sem cônjuge). A chefia feminina passou a crescer automaticamente.

As mulheres de maneira geral predominam entre a população idosa, principalmente, entre a muito idosa e, com isto, surge o aparecimento de novos papéis sociais, como de ser avós e chefia de famílias diretamente responsáveis pelo sustento. Com aumento do desemprego ocorre a extensão de responsabilidades familiar e de ajuda financeira assumida por mulheres idosas.

 A redução da mortalidade entre os idosos beneficiou ambos os sexos, é mais expressiva entre as mulheres, o que resulta na sua maior representatividade dentre a população idosa. Isto não significa que este aumento tenha melhorado as condições de vida das idosas de maneira geral.  Muito pelo contrário.

Finalizo minha navegação citado alguns parágrafo do artigo de Siomara Meireles Magalhães e Sheila Marta C. Rocha (6)A VULNERABILIDADE ACENTUADA DA PESSOA IDOSA NEGRA, NO CONTEXTO ATUAL DE PANDEMIA: UMA HERANÇA ESCRAVISTA”, publicada nos Anais da 23ª Semana de Mobilização Científica- SEMOC | 2020.

O objetivo desse artigo é traçar o contexto social que o idoso negro está inserido e sua vulnerabilidade acentuada, sobretudo, as dificuldades que os circundam para que possam existir socialmente, levando em consideração o estado atual de pandemia

1)      A estrutura social racista desumaniza corpos negros e, para além, naturaliza a prática da desumanização. Racismo significa cerceamento, restrição de direitos, desconsideração e morte física e da alma.

2)      Faz-se necessário uma análise emergente não só da sociedade, mas do Estado, na promoção de forma equitativa de saúde, moradias e formas de condições de vida para que os idosos negros tenham condições de alcançar a longevidade e, para além, se manter vivos de forma sadia durante a idade idosa. Dando efetividade ao art. 230 da CRFB/88, que outorga ao Estado, a sociedade e família a responsabilidade de amparar as pessoas idosas, promovendo a sua dignidade humana e direito à vida. A conscientização da sociedade sobre e como é emergente a adoção de atitudes antirracistas, além de pesquisas voltadas para a análise sobre a ambiência social que a pessoa idosa da raça negra está inserida, seria fundamental para se pensar sobre novas formas de mudar esses ciclos estruturantes. Uma sociedade marcada por repetições de ciclos de violências, em decorrência da negação do direito de existir de maneira plena, é uma sociedade não evoluída completamente.

3)      Falar de racismo, é falar de cerceamento e introspecção, e negar uma história de afirmação de Direitos Humanos, através da desafirmação ou negação deles, como pessoas, sujeitos de direitos. É negar séculos de construção de direitos baseados na dignidade da pessoa humana”.

REFERÊNCIAS

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Fake news sobre gênero e sexualidade refletem disputa moral no País

 

Da Redação / Arte: Lívia Magalhães/Jornal da USP

Publicação em 01/10/2021

Artigo publicado na revista MATRIZes traz uma análise de 65 notícias falsas sobre o tema compartilhadas em 2019 no Brasil

Artigo publicado na última edição da revista MATRIZes se dedica a investigar as fakes news sobre as questões de gênero e sexualidade. Os pesquisadores analisaram 65 peças desinformativas sobre o tema compartilhadas em 2019 no Brasil. 

Dentre os resultados do estudo, verificou-se uma predominância de narrativas envolvendo políticos, celebridades e autoridades públicas, na maioria contestando a obtenção de direitos civis por pessoas LGBTQIA+, criminalizando arranjos familiares que fogem de padrões heteronormativos e recriminando mulheres por condutas consideradas inadequadas.

O material foi coletado na base de dados de agências de checagem de fatos e recebeu uma análise qualitativa, que abrange seus temas principais e meios de divulgação. Os dados estão no artigo Desinformação sobre gênero e sexualidade e as disputas pelos limites da moralidade.

Segundo os autores do trabalho, os pesquisadores Thales Vilela Lelo, pós-doutorando do Departamento de Comunicações e Artes (CCA) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e Lorena Caminhas, pós-doutoranda do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a desinformação em relação a questões de gênero e sexualidade é amplamente difundida e busca reforçar valores morais conservadores de uma parcela da população brasileira.

Os pesquisadores também estudaram o contexto das disputas morais que viabilizam a crença nas notícias infundadas. “O potencial público visado por estas notícias falsas coaduna com uma cosmovisão conservantista, uma vez que tais textos visam acionar sensibilidades morais para um fim ideológico, isto é, a promoção de ideais reacionários, mobilizados discursivamente nas narrativas”, afirmam.

O artigo também aponta como funciona a disseminação desse conteúdo, frequentemente reproduzido em páginas da internet que se autointitulam “informativas” e “imparciais”, além de analisar as histórias mais comentadas. É o caso de uma notícia falsa sobre um suposto projeto de lei do Congresso Nacional que legalizaria o casamento entre pais e filhos, denominado pejorativamente de “Lei do Poliamor”.


Lista de páginas de desinformação analisadas - Crédito: Revista MATRIZes

Os autores salientam a importância deste tipo de estudo, que analisa a produção e a circulação da desinformação levando em conta o contexto sociocultural e as disputas morais que a impulsionam. Trata-se de uma abordagem que busca ir além da investigação das fake news como fenômeno comunicacional e midiático, e que pode ser utilizada para compreender os efeitos da desinformação sobre diversos setores da sociedade. 

“Visando a impulsionar investigações afins, apontam-se como possíveis desdobramentos deste trabalho estudos focados em identificar falsas narrativas baseadas em outros marcadores sociais da diferença – como classe, raça e etnia, por exemplo.”

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