quarta-feira, 6 de outubro de 2021

IDOSAS NEGRAS " O DESAFIO DE ENVELHECER COM DIGNIDADE"


Envelhecer com saúde, feliz, livre de responsabilidades deveria ser uma norma universal para todas idosas, mas não é.  As idosas negras sentem o peso do envelhecimento cotidianamente ao garantir a sobrevivência dos seus, assumindo a responsabilidade do Estado.

Por Mônica Aguiar

Eu resolvi fazer um levantamento de temas que retratam as desigualdades existentes entre as mulheres negras idosas, nesta semana que se comemora o dia do idoso.  

Encontrei estudos que falam sobre a realidade das mulheres negras idosas considerando as condições de moradia, saúde, socioeconômicos, chefia de família e modo de vida.

Navegando pelos mares da internet, deparei com algumas citações e, encontrei pesquisas valorosas, que retratam as condições das mulheres negras idosas no Brasil. Apesar de ter localizado poucas, mas entre as poucas encontradas, quatro (4) me chamaram muito a atenção.

A primeira pesquisa que eu li foi “Mulheres negras idosas: a invisibilidade da violência doméstica”, uma tese de doutorado em Serviço Social pertencente a Ilka Custódio, 2016- do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social, PUCSP. Um trecho que separei afirma que:

As diferenças vivenciadas pelas classes sociais ao longo do ciclo de vida desenham diferentes velhices. Não é um processo homogêneo, já que ricos e pobres não o vivenciam da mesma forma. O envelhecimento é um problema social para a classe trabalhadora, que, possuidora apenas da sua força de trabalho, quando envelhece, perde o valor de uso para o capital e é acometida, mais uma vez, pela depreciação social e pobreza, tornando-se mais invisível socialmente conforme vai envelhecendo. O envelhecimento carrega consigo as desigualdades sociais vivenciadas ao longo da vida. A população negra, devido ao racismo e seus desdobramentos, tem uma vida com mais desvantagens que a população branca, o envelhecimento é uma experiência mais difícil para a população negra. As mulheres vivem mais que os homens, mas, se ao conjunto de desigualdades sociais fomentadas pelo racismo se somarem as desigualdades de gênero, o envelhecimento da mulher negra é ainda mais desafiador”....... .

Continuando a navegação surge a segunda pesquisa, “SOLIDÃO DA MULHER IDOSA NEGRA? ANÁLISE DE FATORES DEMOGRÁFICOS, SOCIOECONÔMICOS E MODO DE VIDA DE IDOSAS DA CIDADE DE SÃO PAULO de Alexandre da Silva; Etienne Larissa Duim; Luís Eduardo Batista; Carla Ferreira do Nascimento.. Publicada no X Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em 2017.

Encontrei as seguintes afirmações:

(2)Pesquisadores da temática racial têm demonstrado em suas pesquisas que determinantes sociais influenciam a forma de ocorrência da mortalidade de homens negros, a escolaridade das mulheres negras e as relações afetivas. E pouco se sabe como esta condição ocorre no envelhecimento.”

Esta pesquisa refletiu a realidade da maioria da população negra idosa no Brasil ao concluir que:

(2)As condições socioeconômicas e modo de vida foram piores para idosas pretas e pardas e a “solidão” da idosa parda existe na cidade de São Paulo e tem relação com a idade avançada, ter filhos vivos e não ter criado outras relações sociais geracionais e intergeracionais ao longo da vida”.

A terceira lida, foi (3)O ENVELHECER PARA A MULHER NEGRA”, escrito por Sheila Souza  Pedagoga Especialista em Envelhecimento, publicado em 2018.

Pontuo as seguintes afirmações:

1)      “.....Portanto, quando dizemos que a mulher sofre grandes violências dentro dessa sociedade machista, temos que voltar o nosso olhar para o duplo sofrimento da mulher negra, pois, ela sofrerá por ser mulher, e por ser negra. E ao envelhecer, essa violência, logicamente, só aumentará, pois, sabemos como o envelhecimento ainda é estigmatizado na sociedade......

2)      .... e há um real entendimento sobre a perversidade que o povo negro enfrentou ao longo da história, é possível entender o motivo pelo qual a mulher negra sofre e sofrerá muito mais em seu processo de envelhecimento do que as mulheres não negras. Pois, ao envelhecer, as mulheres negras continuam sofrendo machismo por ser mulher, continuam sofrendo racismo, e nessa nova fase de sua vida, sofre também gerontofobia .  ....

3)      ......não há como negar que o envelhecimento da mulher negra será com muito menos qualidade do que as mulheres não negras. E é importante entender que, “quando se fala em envelhecimento com qualidade temos que ter em mente que não estamos falando somente do processo saúde-doença, mas sim de toda uma configuração” (SANTOS, 2017, p.22)”....... 

Neste cenário que apresento, considero os fatores históricos das desigualdades existentes, pod3endo afirmar que  o racismo é operado como instrumento ideológico para manutenção e fomentação das desigualdades socioraciais , principalmente quando  comparamos os dados, o cenário que  emerge é de dois até três países, completamente distintos.

O processo de envelhecimento para as mulheres negras não ocorre de modo homogêneo e semelhantes. As fases da vida são determinantes para muitas ao considerando fatores sociorterritóriais. O número de doenças, as condições crônicas existentes e dentre estes o acesso ao Sistema Único de Saúde(SUS), são fatores que devemos considerar ao analisar as condições de sobrevivência das mulheres negras idosas.  

As mulheres negras historicamente são em sua maioria chefes de famílias e, com a expansão dos percentuais de mulheres chefes de família ao longo da segunda metade do século XX, a realidade das idosas negras passam a ser outro.

Sendo, estes números já eram elevados naquele momento, eles mais que dobraram nos primeiros 15 anos do século XXI.  Famílias monoparentais deixam de ser a maioria, passando a ser maioria os arranjos unipessoais (pessoas sós), que são composições familiares de núcleo único (sem cônjuge). A chefia feminina passou a crescer automaticamente.

As mulheres de maneira geral predominam entre a população idosa, principalmente, entre a muito idosa e, com isto, surge o aparecimento de novos papéis sociais, como de ser avós e chefia de famílias diretamente responsáveis pelo sustento. Com aumento do desemprego ocorre a extensão de responsabilidades familiar e de ajuda financeira assumida por mulheres idosas.

 A redução da mortalidade entre os idosos beneficiou ambos os sexos, é mais expressiva entre as mulheres, o que resulta na sua maior representatividade dentre a população idosa. Isto não significa que este aumento tenha melhorado as condições de vida das idosas de maneira geral.  Muito pelo contrário.

Finalizo minha navegação citado alguns parágrafo do artigo de Siomara Meireles Magalhães e Sheila Marta C. Rocha (6)A VULNERABILIDADE ACENTUADA DA PESSOA IDOSA NEGRA, NO CONTEXTO ATUAL DE PANDEMIA: UMA HERANÇA ESCRAVISTA”, publicada nos Anais da 23ª Semana de Mobilização Científica- SEMOC | 2020.

O objetivo desse artigo é traçar o contexto social que o idoso negro está inserido e sua vulnerabilidade acentuada, sobretudo, as dificuldades que os circundam para que possam existir socialmente, levando em consideração o estado atual de pandemia

1)      A estrutura social racista desumaniza corpos negros e, para além, naturaliza a prática da desumanização. Racismo significa cerceamento, restrição de direitos, desconsideração e morte física e da alma.

2)      Faz-se necessário uma análise emergente não só da sociedade, mas do Estado, na promoção de forma equitativa de saúde, moradias e formas de condições de vida para que os idosos negros tenham condições de alcançar a longevidade e, para além, se manter vivos de forma sadia durante a idade idosa. Dando efetividade ao art. 230 da CRFB/88, que outorga ao Estado, a sociedade e família a responsabilidade de amparar as pessoas idosas, promovendo a sua dignidade humana e direito à vida. A conscientização da sociedade sobre e como é emergente a adoção de atitudes antirracistas, além de pesquisas voltadas para a análise sobre a ambiência social que a pessoa idosa da raça negra está inserida, seria fundamental para se pensar sobre novas formas de mudar esses ciclos estruturantes. Uma sociedade marcada por repetições de ciclos de violências, em decorrência da negação do direito de existir de maneira plena, é uma sociedade não evoluída completamente.

3)      Falar de racismo, é falar de cerceamento e introspecção, e negar uma história de afirmação de Direitos Humanos, através da desafirmação ou negação deles, como pessoas, sujeitos de direitos. É negar séculos de construção de direitos baseados na dignidade da pessoa humana”.

REFERÊNCIAS

Nenhum comentário:

MAIS LIDAS