Por Mônica Aguiar
Eu resolvi fazer um levantamento
de temas que retratam as desigualdades existentes entre as mulheres negras
idosas, nesta semana que se comemora o dia do idoso.
Encontrei estudos que falam sobre
a realidade das mulheres negras idosas considerando as condições de moradia, saúde,
socioeconômicos, chefia de família e modo de vida.
Navegando pelos mares da
internet, deparei com algumas citações e, encontrei pesquisas valorosas, que retratam
as condições das mulheres negras idosas no Brasil. Apesar de ter localizado poucas,
mas entre as poucas encontradas, quatro (4) me chamaram muito a atenção.
A primeira pesquisa que eu li foi
“Mulheres negras idosas: a invisibilidade da violência
doméstica”, uma tese de doutorado em Serviço Social pertencente a Ilka
Custódio, 2016- do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social, PUCSP. Um
trecho que separei afirma que:
“As diferenças vivenciadas pelas classes sociais ao longo do ciclo de
vida desenham diferentes velhices. Não é um processo homogêneo, já que ricos e
pobres não o vivenciam da mesma forma. O envelhecimento é um problema social
para a classe trabalhadora, que, possuidora apenas da sua força de trabalho,
quando envelhece, perde o valor de uso para o capital e é acometida, mais uma
vez, pela depreciação social e pobreza, tornando-se mais invisível socialmente
conforme vai envelhecendo. O envelhecimento carrega consigo as desigualdades
sociais vivenciadas ao longo da vida. A população negra, devido ao racismo e
seus desdobramentos, tem uma vida com mais desvantagens que a população branca,
o envelhecimento é uma experiência mais difícil para a população negra. As
mulheres vivem mais que os homens, mas, se ao conjunto de desigualdades sociais
fomentadas pelo racismo se somarem as desigualdades de gênero, o envelhecimento
da mulher negra é ainda mais desafiador”....... .
Continuando a navegação surge a segunda
pesquisa, “SOLIDÃO DA MULHER IDOSA NEGRA? ANÁLISE DE FATORES DEMOGRÁFICOS,
SOCIOECONÔMICOS E MODO DE VIDA DE IDOSAS DA CIDADE DE SÃO PAULO de Alexandre da Silva; Etienne Larissa
Duim; Luís Eduardo Batista; Carla Ferreira do Nascimento.. Publicada
no X Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em 2017.
Encontrei as seguintes afirmações:
(2)“Pesquisadores da temática racial têm
demonstrado em suas pesquisas que determinantes sociais influenciam a forma de
ocorrência da mortalidade de homens negros, a escolaridade das mulheres negras
e as relações afetivas. E pouco se sabe como esta condição ocorre no
envelhecimento.”
Esta pesquisa refletiu a realidade
da maioria da população negra idosa no Brasil ao concluir que:
(2)“As condições socioeconômicas e modo de vida
foram piores para idosas pretas e pardas e a “solidão” da idosa parda existe na
cidade de São Paulo e tem relação com a idade avançada, ter filhos vivos e não
ter criado outras relações sociais geracionais e intergeracionais ao longo da
vida”.
A terceira lida, foi (3)“O ENVELHECER PARA A
MULHER NEGRA”, escrito por Sheila Souza Pedagoga Especialista em Envelhecimento,
publicado em 2018.
Pontuo as seguintes afirmações:
1)
“.....Portanto,
quando dizemos que a mulher sofre grandes violências dentro dessa sociedade
machista, temos que voltar o nosso olhar para o duplo sofrimento da mulher
negra, pois, ela sofrerá por ser mulher, e por ser negra. E ao envelhecer, essa
violência, logicamente, só aumentará, pois, sabemos como o envelhecimento ainda
é estigmatizado na sociedade......
2)
.... e
há um real entendimento sobre a perversidade que o povo negro enfrentou ao
longo da história, é possível entender o motivo pelo qual a mulher negra
sofre e sofrerá muito mais em seu processo de envelhecimento do que as
mulheres não negras. Pois, ao envelhecer, as mulheres negras continuam
sofrendo machismo por ser mulher, continuam sofrendo racismo, e nessa nova
fase de sua vida, sofre também gerontofobia . ....
3) ......não há como negar que o envelhecimento da mulher negra será com muito menos qualidade do que as mulheres não negras. E é importante entender que, “quando se fala em envelhecimento com qualidade temos que ter em mente que não estamos falando somente do processo saúde-doença, mas sim de toda uma configuração” (SANTOS, 2017, p.22)”.......
Neste cenário que apresento, considero
os fatores históricos das desigualdades existentes, pod3endo afirmar que o racismo é operado como instrumento ideológico
para manutenção e fomentação das desigualdades socioraciais , principalmente
quando comparamos os dados, o cenário
que emerge é de dois até três países,
completamente distintos.
O processo de envelhecimento para
as mulheres negras não ocorre de modo homogêneo e semelhantes. As fases da vida
são determinantes para muitas ao considerando fatores sociorterritóriais. O
número de doenças, as condições crônicas existentes e dentre estes o acesso ao Sistema
Único de Saúde(SUS), são fatores que devemos considerar ao analisar as
condições de sobrevivência das mulheres negras idosas.
As mulheres negras historicamente
são em sua maioria chefes de famílias e, com a expansão dos percentuais de
mulheres chefes de família ao longo da segunda metade do século XX, a realidade
das idosas negras passam a ser outro.
Sendo, estes números já eram
elevados naquele momento, eles mais que dobraram nos primeiros 15 anos do século
XXI. Famílias monoparentais deixam de
ser a maioria, passando a ser maioria os arranjos unipessoais (pessoas sós),
que são composições familiares de núcleo único (sem cônjuge). A chefia feminina
passou a crescer automaticamente.
As mulheres de maneira geral predominam
entre a população idosa, principalmente, entre a muito idosa e, com isto, surge
o aparecimento de novos papéis sociais, como de ser avós e chefia de famílias
diretamente responsáveis pelo sustento. Com aumento do desemprego ocorre a
extensão de responsabilidades familiar e de ajuda financeira assumida por
mulheres idosas.
A redução da mortalidade entre os idosos beneficiou
ambos os sexos, é mais expressiva entre as mulheres, o que resulta na sua maior
representatividade dentre a população idosa. Isto não significa que este
aumento tenha melhorado as condições de vida das idosas de maneira geral. Muito pelo contrário.
Finalizo minha navegação citado
alguns parágrafo do artigo de Siomara Meireles Magalhães e Sheila Marta C.
Rocha (6) “A
VULNERABILIDADE ACENTUADA DA PESSOA IDOSA NEGRA, NO CONTEXTO ATUAL DE PANDEMIA:
UMA HERANÇA ESCRAVISTA”, publicada nos Anais da 23ª Semana de Mobilização
Científica- SEMOC | 2020.
“O objetivo desse artigo é traçar o contexto social que o idoso negro
está inserido e sua vulnerabilidade acentuada, sobretudo, as dificuldades que
os circundam para que possam existir socialmente, levando em consideração o
estado atual de pandemia”
1)
“A
estrutura social racista desumaniza corpos negros e, para além, naturaliza a
prática da desumanização. Racismo significa cerceamento, restrição de direitos,
desconsideração e morte física e da alma.
2)
Faz-se
necessário uma análise emergente não só da sociedade, mas do Estado, na
promoção de forma equitativa de saúde, moradias e formas de condições de vida
para que os idosos negros tenham condições de alcançar a longevidade e, para
além, se manter vivos de forma sadia durante a idade idosa. Dando efetividade
ao art. 230 da CRFB/88, que outorga ao Estado, a sociedade e família a
responsabilidade de amparar as pessoas idosas, promovendo a sua dignidade
humana e direito à vida. A conscientização da sociedade sobre e como é
emergente a adoção de atitudes antirracistas, além de pesquisas voltadas para a
análise sobre a ambiência social que a pessoa idosa da raça negra está
inserida, seria fundamental para se pensar sobre novas formas de mudar esses
ciclos estruturantes. Uma sociedade marcada por repetições de ciclos de
violências, em decorrência da negação do direito de existir de maneira plena, é
uma sociedade não evoluída completamente.
3) Falar de racismo, é falar de cerceamento e introspecção, e negar uma história de afirmação de Direitos Humanos, através da desafirmação ou negação deles, como pessoas, sujeitos de direitos. É negar séculos de construção de direitos baseados na dignidade da pessoa humana”.
REFERÊNCIAS
- (1) Mulheres negras idosas: a invisibilidade da violência doméstica (https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/PUC_SP-1_876b9385b6a230d44ee3bf380d63b54e
- (2) SOLIDÃO DA MULHER IDOSA NEGRA? ANÁLISE DE FATORES DEMOGRÁFICOS, SOCIOECONÔMICOS E MODO DE VIDA DE IDOSAS DA CIDADE DE SÃO PAULO (https://proceedings.science/epi/trabalhos/solidao-da-mulher-idosa-negra-analise-de-fatores-demograficos-socioeconomicos-e-modo-de-vida-de )
- (3) O envelhecer para a mulher negra (https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/o-envelhecer-para-a-mulher-negra/)Associação da cor/raça aos indicadores de saúde para idosos no Brasil: um estudo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2008) ( https://www.scielo.br/j/csp/a/JVSx9HymqJ6RByWpQzP3jqd/?lang=pt&format=pdf
- MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA NO BRASIL: AVANÇOS E DESAFIOS
- (6) http://ri.ucsal.br:8080/jspui/bitstream/prefix/2961/1/A%20VULNERABILIDADE%20ACENTUADA%20DA%20PESSOA%20IDOSA%20NEGRA%2C%20NO%20CONTEXTO%20ATUAL%20DE%20PANDEMIA%20UMA%20HERAN%C3%87A%20ESCRAVISTA.docx.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário