Por Mônica Aguiar
A história de luta das mulheres negras pela vida, sempre estiveram presentes em todas as fases do Brasil, antecede a organização das mulheres brancas feministas.
Nesta vasta e longa história, foi a pouco tempo que as mulheres negras conseguiram incluir dentro da Política Nacional de Saúde o
debate da importância do reconhecimento das especificidades existentes na saúde
da população negra e a importância de se ter uma política específica de atenção
a saúde do povo negro e das mulheres.
Com isto, temas que nunca foram debatidos na sociedade e dentro dos governos, passaram a ser temas de conferências da saúde, a exemplo: as Mortes maternas e evitáveis no Brasil e o
direitos sexuais e reprodutivos que ganharam força na sociedade na voz das
mulheres negras.
Mesmo com todos os avanços na saúde pública, muitos programas ainda são imaginários e sustentam a ideologia da democracia racial. As mulheres negras em sua
ampla maioria vivem cotidianamente sem exercitar plenamente sua cidadania, independente
do espaço que ocupem. Estão em ampla
maioria sem oportunidades iguais e sem condições de fazer parte do conjunto da
população que conseguem acessar as políticas fundamentais.
Mas porque alguns “fatores sociais” ainda influenciam de
maneira drástica e direta a vida das mulheres negras? Pensado nos fatores que fomentam as desigualdades raciais na saúde resolvi falar do
OUTUBRO ROSA CLARO, lembrando da importância das ROSAS NEGRAS.
A pobreza crônica, o racismo disfarçado e profundo, completa
os principais determinantes do quadro de saúde da população negra no Brasil.
Dados históricos epidemiológicos sempre indicaram que os
negros brasileiros, homens ou mulheres, adoecem mais e morrem mais cedo, em
todas as idades.
Anemia falciforme, diabete melito, hipertensão arterial, miomas e a deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase são doenças com maior incidência entre negros. As mulheres Negras carregam a maior incidência de câncer de mama na pré-menopausa, tem a maior taxa de mortalidade quando comparadas a outros grupos.
São diversas pesquisas e teses existentes que apontam como é fundamental o reconhecimento da existência de doenças de maior prevalência na população negra, em virtude do condicionamento de fatores genéticos que atuam conjuntamente com fatores sociais, econômicos, ambientais, que tem efeitos diretos e indiretos na produção de comorbidades, morbidades e na mortalidade da população negra. Fatores que influenciam de forma drástica na perspectiva de vida das mulheres negras grávidas e puérperas.
E foi na 12ª Conferência Nacional de Saúde que se aprovou várias propostas para reforçar e criar estratégias específicas de atenção à saúde dessa grande parcela da população, com foco de instituir a política de atenção à saúde da população negra.
Os movimentos negros e de mulheres negras, criaram agendas em todo o Brasil através de encontros e seminários, com o objetivo de apresentar ao Governo Federal uma proposta específica como política de Estado, com base na Carta Magna, Tratados e Convenções para redução da desigualdade na saúde, combate à discriminação racial e do racismo existente na saúde pública.
As mulheres negras continuam sendo as principais vítimas das práticas
racistas na saúde, chegando ao ponto de ficar totalmente refém do sistema que
se move a partir da concepção racial de cada um, “claramente” detectadas: - nas
linguagens, abordagens, acolhimento, tempo de consulta, desinteresse a escuta,
quebra de sigilo e na dificuldade de consultas e exames especializados.
Os estereótipos racistas existentes na sociedade e, reproduzidos de forma especifica na saúde, tem contribuído significativamente
para que as mulheres negras não sintam confiantes em buscar cuidados médicos para
não sofrer de discriminações racial.
E mesmo tendo o Brasil avançado na política pública de saúde, ainda existem resistências na gestão federal, em vários estados e municípios, na saúde pública e privada, sejam:- (secretarias de saúde, conselhos de saúde, fóruns, comitês), para implementar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
A Precocidade de óbitos nas mulheres negras já contribuem com o aumento das altas taxas de mortes por câncer de mama e maternas, demostram os níveis de desigualdades existentes, quando o assunto é a falta de acesso a um direito que é fundamental.
As pesquisas vem apontando que a sobrevida de mulheres negras em casos de câncer de mama é até 10% menor do que entre mulheres brancas, muito em função a
diagnóstico tardio e menor acesso e atenção às ações do plano de controle do
câncer de mama no Brasil.
Entre 2009 ne 2012, a incidência de
câncer em mulheres negras estavam em torno de 124 para cada 100 mil mulheres.
O controle do câncer de mama é reconhecido como uma das prioridades pela saúde pública no Brasil desde o início da implementação do SUS. Porém o que observamos que a segregação da população negra na saúde pública aumentaram nestes últimos anos.
O que estamos vivenciando é um SUS cada dia mais intencionado
aos privilégios. E os direitos de ter saúde com dignidade tem passado a pertencer
apenas a um grupo e setor.
A falta de reconhecimento e o negacionismo tem fomentado o aumento das proporções de mulheres negras diagnosticadas com câncer de
mama, em estágio avançado. A distância crescente entre o momento em que a mulher percebe que há algo
de errado na mama até conseguir a primeira consulta médica tem aumentado a chance
de um diagnóstico tardio.
As opções de tratamento são mais restritas e menos eficazes
e, portanto, a sobrevida é pior do que no início estágios. Há grande demora
para conseguir os serviços de atenção.
As imagens das campanhas de publicidade sobre a conscientização
do câncer de mama também estão longe de ser inclusiva. Por tanto é preciso ENTENDER
QUE EM OUTUBRO TAMBÉM TEM ROSAS NEGRAS.
"Estimamos que cerca de 7.500 mortes por câncer de mama
poderiam ter sido evitadas no Brasil em 2012, se 80% das mulheres com câncer de
mama diagnosticadas no estágio 3 ou 4 nos cinco anos anteriores tivessem sido
diagnosticadas com doença em estágio 2."
Mulher com câncer de mama usuária do SUS, que necessita de acesso a medicina personalizada para obter tratamentos mais eficazes, não podem ficar esperando boa vontade dos gestores de saúde pública nem melhor eficiência nas coordenações de saúde da mulher.
A PNPCC estabelece princípios e diretrizes
relacionados ao cuidado integral da pessoa com câncer que devem ser seguidas.
Neste todo processo é importante ressaltar a importância em cobrar
o papel do Estado para garantia da igualdade na atenção da saúde pública;
universalidade do acesso e integralidade da atenção.
Manter os exames em dia é outra forma importante de
autocuidado. A realização anual da mamografia para mulheres a partir de 40 anos
é muito importante para que a doença seja diagnosticada precocemente.
Será que as mulheres estão tendo acesso a mamografia
corretamente?
Quais os protocolos que existentes de atenção a mulher com suspeita
ou diagnosticada com câncer de mama? Estão seguindo o tempo determinado para início
do tratamento?
O PNPCC são seguidos nos municípios?
Quais é o investimento financeiro do governo federal destinado
aos municípios para prevenção e tratamento do Câncer?
As mulheres tem aceso fácil aos serviços apontados?
Em que momento as campanhas de conscientização traduz em oferta
de serviços públicos?
Sendo, façamos que o Outubro Rosa seja um também Outubro das Rosas Negras
A situação do câncer de mama no
Brasil
Foto: Fala Dantas 2018
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