quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Silenciar e ocultar a sociedade através da invisibilidade

 Por Mônica Aguiar

Eu sempre ouço pessoas afirmando que implementações dos programas e políticas sociais agregados ao reconhecimento das especificidades, propicia a compressão do significado deste grande “mosaico sociocultural brasileiro” encontrado em cada região deste imenso pais.

Mas são pouquíssimas pessoas que falam deste mosaico considerando a população negra. 

E ao falar tudo se modifica.

Proponho aqui identificar esta camada da população brasileira como povos vivendo em um pais dentro de um pais. Com valores, cultura, arte, economia, saúde, educação, política, habitação dentre outros bem específicos.  

Enxergar este outro pais dentro de cada região no Brasil por mais invisível que pareça ser não é nada difícil.

Basta aceitar que territórios brasileiros que tem como característica a concentração de renda baixa, fome, pobreza presentes, somando com as variantes que permeiam o conjunto de todos os indicadores de desigualdades: - educacionais, da saúde, na habitação, no saneamento básico e de acesso aos programas sociais, chegamos a população negra.  

Estrategicamente colocada na invisibilidade. Indiferentes aos olhos de vários governantes e poderes econômicos e político.

A situação das desigualdades já perdura por várias gerações, agravando os índices de vítimas da violência direta, indireta, institucional e estrutural que ocorrem de forma naturalizada e, em sua ampla maioria velada, com graves violações dos direitos humanos e descumprimento dos tratados e convenções.

E como compreender a função da invisibilidade como pensamento ideológico?  

Pincelar por um breve momento chavões com variações escassas, demostrando através de uma vontade individual buscar a redução da miséria, da pobreza e do desemprego. Uma estratégia muito utilizada em épocas de eleições e quando se precisa justificar os índices de desigualdades existentes.

As migalhas prometidas e jogadas aos ventos, estão longe da promoção de igualdade, ou garantia de equidade.


Paralelamente as mulheres negras praticamente invisíveis, fazem parte de um outro grupo populacional que tem como realidade cotidiana o resultado da soma de todas as desigualdades existentes.

E para justificar o injustificável sempre é apresentado os pouquíssimos exemplos de superações acadêmicas e econômicas negra existente em todo Brasil, para uma população que dependem das políticas sociais e parte nem acesso as assistências sociais tem.

Em sua maioria, as mulheres negras se encontram cada dia mais sem qualificação e com baixa renda e escolaridade. Famílias chefiadas por mulheres negras passam fome, estão na miséria.

Silenciar a sociedade através da invisibilidade.

Os exemplos muito utilizados para ocultar as responsabilidades dos governantes criam um imaginário de justiça social. Sustentam elementos suficientes para justificar a ocupação em funções servis, desigualdades salariais chegando até a trabalhos análogos ao período da pós liberdade da escravidão. Ser livre sem ser. Ser livre sem ter. Ser livre sem poder viver.

Grupos marginalizados, este é o termo utilizado para aqueles que sobrevivem das migalhas e das promessas jogadas aos ventos.

Mas, por que este termo de grupo marginalizado foi utilizado para separar os outros grupos populacionais de pobres, mais pobres e muitos pobres do restante da sociedade no Brasil?    

Qual foi o momento da sociedade que surgiu este termo? Porque? Para que e por quem?

Como reconstruir a um grupo de seres humanos que não tem aceso a educação de qualidade, a leitura diária, pensamentos filosóficos, as informações verdadeiras o que significa a ideologia da marginalização e invisibilidade coletiva e individual?

Foram milhões de famílias identificadas vivendo para abaixo da linha da pobreza, extrema pobreza e na miséria recentemente. Neste período de pandemia.  Maioria chefiada por mulheres negras. Afirmar que esta camada da população são invisíveis! Como pode?

Mas a invisibilidade sustenta as desigualdades e as condições escravagistas. A marginalização determina qual seu destino, territórios específicos e a linha de atuação da segurança pública.   

As reparações dos danos causados pela escravidão não é utopia de um grupo político ou das organizações sociais. É política mais que urgente para estes povos de um pais dentro do Brasil.

 

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