quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Aborto é descriminalizado pela Suprema Corte no México

 


Por Mônica Aguiar

A Suprema Corte do México descriminalizou o aborto em todo pais, afirmando sua inconstitucionalidade, negando o emprego dos artigos do código Penal para condenar uma mulher até 03 anos de prisão por interrupção voluntária da gravides.

Três Estados e na Capital do México já tinham como prática a não criminalização da mulher que fizer o procedimento até a 12ª semana de gravides e 32 Estados permitiam o aborto se a vida da mãe estivesse em risco e ou, a gravides fosse consequência de estupro. Mas, nem sempre eram cumpridas.

É uma decisão histórica, aprovada por unanimidade pelos ministros. Dez dos onze Juízes votaram e se manifestaram contra a pena.  Em jogo nesta terça-feira 07/09, estava a validade do Artigo 196 do Código Penal do Estado de Coahuila.

Para que o aborto seja permitido em todo o país, ainda é necessário que os legislativos regionais o regulamentem. O julgamento da Suprema Corte facilita que eles avancem na formulação desses textos.

Também foi unanime a votação que declarou inválido um artigo do Código Penal de Coahuila em que o estupro dentro do casamento ou em um casal era menos penalizado do que nos demais casos.

A Suprema Corte também declarou inconstitucional a existência de um prazo específico para abortar em caso de estupro.

A decisão de descriminalizar o aborto baseou em vários fatores:- no direito da autonomia da mulher para decidir sobre a maternidade, direitos humanos, além dos altos índices de violências existentes. Decisão esplendida. Contraria aos conceitos subjetivos, valores pessoais e religiosos que interferem diretamente na vida de cada uma e na liberdade sobre o corpo e que discriminaliza e criminalizam as mulheres.

 “O embasamento do direito penal para punir não é prerrogativa do legislador, mas dos Direitos Humanos, o resto são sofismas que obscurecem o problema das mulheres”. Cabe aos Estados “garantir a saúde e a segurança pública”, acrescentou. “Bane-se a ameaça de prisão das mulheres e o estigma”, disse depois o ministro relator, Luis María Aguilar Morales.

O interrupção da gravides voluntária salvará vidas de milhares de mulheres. Em todo o México são realizados todos os anos entre 750.000 e um milhão de abortos clandestinos e tem a maior taxa de gravidez entre adolescentes, com 77 nascimentos por mil mulheres entre 15 e 19 anos. Um terço deles resulta em complicações que requerem atenção médica urgente. No último ano, foram assassinadas 3.952 mulheres, aumento de 13% em relação a 2019.

Agora a Suprema Corte deve deliberar sobre a objeção de consciência. Milhares de mulheres perdem a vida com intervenções caseiras ou chegam com hemorragia em hospitais, onde normalmente não encontram a compreensão dos profissionais da saúde, que temem que o Estado tome medidas contra eles por facilitar o aborto.

“Falar de uma ideia de vida vai além do direito e um tribunal constitucional não pode embasar suas decisões em opiniões particulares e subjetivas, mas sim universais”, disse a ministra Margarita Ríos Farjat.

A decisão mexicana abre a porta para a possibilidade de libertação de mulheres encarceradas por terem realizado abortos.

As mulheres dos movimentos feministas comemoram a definição.  A mobilização das mulheres não é nova. Em 2016, após a etiqueta #MiPrimerAcoso (Meu primeiro assédio) visibilizar a frequência com que as mexicanas sofrem assédios nas ruas, as mulheres começaram a denunciar. 

Três anos depois a situação é igual ou mais alarmante: o movimento Me Too conseguiu fazer com que as mulheres rompessem o silêncio com uma única voz; as manifestações ficaram mais fortes e têm mais participação.


Centenas de  marchas feministas  vêm sendo realizadas no México e têm no direito ao aborto e na luta contra o assassinato de mulheres suas principais bandeiras.  A pauta do aborto e direitos sexuais e reprodutivos ganharam ainda mais força com a atual configuração do Congresso, agora com quase 50% de legisladoras mulheres. Elas são 49% no Senado e 49,2 na câmara dos deputados.  

Na América Latina, até mesmo os cargos máximos da política já foram ocupados por mulheres. Em 2014 chegou a haver quatro mulheres presidentes ao mesmo tempo: Dilma Rousseff no Brasil, Cristina Fernández na Argentina, Michelle Bachelet no Chile e Laura Chinchilla em Costa Rica.

O movimento feminista no México vai em consonância com as mobilizações e pautas chamada globais e universais, caso de países como a Espanha, Argentina, Brasil e os Estados unidos. A maré verde da Argentina – que promove o direito ao aborto no país – chegou a tocar as mulheres mexicanas, que também adotaram o lenço verde para exigir seu direito a decidir sobre seus corpos. 

As mulheres latinas-americanas estão bem perto de nós, afinal o Brasil é um pais latino americano. Precisamos avançar em várias pautas específicas do movimento de mulheres negras. Como bem afirmou Lélia Gonzáles precisamos “Amerifricanizar o feminismo”.

Embora o aborto continue ilegal na maior parte da América Latina, quatro países já permitem o procedimento em praticamente todas as circunstâncias no início da gravidez: Argentina, Cuba, Uruguai e Guiana.

No Brasil, o aborto só é permitido em três casos: quando a gestação é decorrente de estupro, em casos de anencefalia ou quando a gravidez representa risco para a saúde da mulher. Na América do Sul, cerca de 62,5% das mulheres em idade fértil só tem direito ao aborto em casos de risco à vida.

Fontes: Folha/Geledes/ ElPais/BBC/DW/Brasildefato/Estadão internacional

 

Nenhum comentário:

MAIS LIDAS