segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Parteiras no Brasil

 Por Mônica Aguiar 

Resolvi pesquisar matérias que falam da vida das parteiras no Brasil. Foram várias informações encontradas. Pouca visibilidade dada ao terma e, algumas pesquisas.

Dentre as matérias lidas, observei que todas apontam para as especificidades e citam várias dificuldades regionais existentes. Uma das características em comum na prática do parto natural é  a utilização dos  conhecimentos milenares mantidos através da oralidade e,  mesmo com as distâncias regionais possuem “métodos” em comum.

Então pergunto:- Porque tanta discriminações e resistência aos trabalhos desenvolvidos pelas parteiras?

O parto normal e domiciliar auxiliado por parteiras ainda são cercado de mitos e desinformações.  

São muitos os preconceitos existentes ao parto normal. Muitos estão associados ao perigo, a dor e sofrimento. Uma Formulação que tem induzido veladamente, cada dia mais gestante ao desejo de ter o parto hospitalar e optar pelo procedimento cesário.

Andando por este pouco mas vastos caminhos, surge o debate com análise muito importante sobre os indicadores em relação à atenção perinatal. 

Ao ler a o artigo PARTO DOMICILIAR: COMPREENDENDO OS MOTIVOS DESSA ESCOLHA de Clara Fróes de Oliveira Sanfelice e  Antonieta Keiko Kakuda Shimo, deparo com a seguinte afirmação. Escolhi este parágrafo:

“O modelo obstétrico tecnocrático hegemônico reverbera em um índice injustificável de parto cirúrgico (cesárea) e em taxas de mortalidade materna e neonatal ainda bastante altas, com indicadores perinatais piores que os encontrados em outros países com índices de desenvolvimento socioeconômico iguais ou inferiores aos do Brasil”.

Retorno as parteiras e vejo que existem um conjunto de saberes transmitidos há gerações que corre o risco de desaparecer se este processo discriminatório continuar reverberando no Brasil.

As regiões que concentram um número grande de hospitais gerais com unidade adaptadas para realização de partos hospitalares tem em comum como característica a resistência para não atuação de uma enfermeira obstétrica ou doula durante o parto . 

Os níveis de induções para garantir que a gestante opte pelo atendimento puramente médico hospitalar, sem ter o direito de saber e conhecer o que é um parto humanizado se torna grotesco chegando a ser agressivo.

Centenas de gestantes não conhecem, ou tem informação de  qual o modelo de assistência municipal estar sendo incluída durante o pré-natal.

Acima, dona Prazeres, 80 anos, mostra as mãos que ajudaram a trazer mais de 5 mil bebês ao mundo (Foto: EDUARDO QUEIROGA)

Em uma pesquisa feita pelas as antropólogas Julia Morim e Sumaia Vieira, a psicóloga Dan Gayoso e o fotógrafo Eduardo Queiroga, todos de Recife (PE), em 2019, decidiram se unir para registrar as práticas dessa profissão e a história de vida das mulheres parteiras com o objetivo é dar visibilidade para essa atividade tão antiga que não é valorizada nem reconhecida, entre os trechos cito: - 

Elas têm outras profissões e são donas de casa. Via de regra, não recebem nada por acompanhar os partos, mas se tornam líderes em suas comunidades, desempenhando, muitas vezes, os papéis de juíza, psicóloga e assistente social entre as famílias”. 

Com esta afirmação, penso no papel político da mulher parteira na comunidade, de transformação e conscientização e passo a entender tantas resistências a uma prática que é milenar.    

Dentro da obra literária encontrei informações imprescindíveis para mudanças dos protocolos utilizados na atenção na saúde da gestante. 

Extremamente importante são os relatos da não existência de óbitos maternos quando os partos são realizados por parteiras. 

Dona Prazeres, uma das parteiras acolhida dentro desta bela obra, relatou que já tinha auxiliado mais de 5 mil partos sem nenhuma mortes.  Relatos contidos no livro “Cordão” denominado Museu da Parteira. 

Muitas parteiras tem recorrido a formação em enfermagem, associando a prática acadêmica as tradições. Muitas são impedidas de exercer os saberes ancestrais pelos protocolos e modelos de atenção que não respeitam e nem reconhecem as tradições.

Muitos modelos de atenção tem conteúdos discriminatórios com indução as práticas que acabam abrindo espaços para a violência obstétrica, opção pela cesárea, aumentando as mortes maternas e neonatais.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2020, cerca de 140 milhões de nascimentos acontecem todos os anos, a maioria sem complicações para mulheres e bebês. A organização considera como “razoável” o índice de 15% dos nascimentos por meio de cesárias. No Brasil, 55,6% do total de partos realizados anualmente são cirúrgicos.

É preciso que exista de fato mudanças dos protocolos e reconhecimento legal da profissão e inclusão no SUS de forma universal.

Este é um desejo de milhares de mulheres. Sem vozes e invisibilizadas.

Pesquisas já vem demostrando que as mulheres desejam com naturalidade um modelo de assistência ao parto onde estejam próximas as famílias e tenha autonomia sobre seu corpo.

Infelizmente muitas mães solo, principalmente as jovens, ainda não recebem orientações corretas durante o pré-natal sobre a importância do parto normal e seu favorecimento com relação ao vínculo do bebê com a mãe, fortalecimento dos laços e até mesmo restabelecimento dos laços quando a gravides não foi planejada, o aleitamento e amamentação até a recuperação pós-parto mais rápida e menos dolorosa para a mãe quando o parto é “normal”.

O parto domiciliar feito por uma parteira, desperta através de aconselhamentos para a  consciência do papel da mãe, a satisfação do vínculo, alegria e paz. 

Criam através de palavras e com naturalidade a sensação de dever cumprindo, mas com a  futura e extensa tarefa de ser desenvolvida e que ainda cabe a nós mulheres, a criação.

 Somos uma sociedade onde os papeis de ser mãe e ser pai não são igualitários. Neste sentido, este preparo, também é fundamental e somente sabe quem tem cajado na mão e de outra mulher.

Fontes: Crescer /Agencia Brasil / G1     -                 Fotos: Eduardo Queiroga

2 comentários:

sonialansky disse...

Muito legal e muito relevante tratar desse tema dos saberes tradicionais e do parto como opção da mulher incluindo o local do parto, o próprio ninho da mulher que é a sua casa, com o conforto e a segurança e o cuidado que uma mulher precisa para ter uma boa experiência de parir e do bebê de nascer. Este debate está velado e precisa ser feito no sentido da autonomia das mulheres brasileiras. Sem manipulação da verdade e assegurando o acesso às suas escolhas informadas

Mulher Negra disse...

Dra Sônia Lansk . Muito orgulho de pode r estar a seu lado na militância em defesa das mulheres

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