segunda-feira, 23 de março de 2020

Em tempos do COVD19, a solidariedade é um fator primordial para garantir a sobrevivência de milhares de seres humanos Negros


Por Mônica Aguiar   

Além de todo o cuidado físico necessário, também devemos nos preocupar com os aspectos psíquicos e mentais que o isolamento e a quarentena podem trazer à população, não só individualmente, mas também à coletividade. 
Medos de infecção, frustração, tédio, excessos de informações inadequadas, perdas financeiras, sentimento de abandono, preconceito e discriminação são fatores citados causadores de estresse na população. 
As consequências, confusão metal, raiva, tristeza, ansiedade, solidão, episódios de pânico que podem aumentar à medida que a população se autoisola para evitar o contágio. 

Vários especialistas tem lembrado que a falta de acesso a necessidades básicas e o medo da recessão econômica também são fatores de risco.

Embora seja uma situação de medo justificado, especialistas também afirmam que é possível minimizar os danos à saúde mental com estratégias simples. Manter os vínculos sociais, apesar da distância física, é fundamental. O importante neste momento é cumprir com as orientações para evitar o contágio e proliferação mas também ser solidário e responsável. 

Isto não é uma tarefa difícil.

Convém, urgentemente, diante desse quadro de iminente pandemia, ficarmos atentos com o tratamento que será dado aos nossos idosos negros e crianças negras.

Para as pessoas que tem acesso à tecnologia e, se mantem conectados 24 horas, priorize a divulgações significativas e responsáveis. 
Use mensagens de vídeo para ver e ouvir pessoas importantes e próximas, divulguem textos, aplicativos com palavras de confiança que ajudem a superar este momento.Converse por telefone, crie grupos online, de família, vizinhos e amigos próximos.

Ao buscar informações, muita atenção às fontes oficiais das autoridades sanitárias e tenha cuidado ao compartilhar notícias falsas entre sua rede de contatos. 
Limite a quantidade de notícias relacionadas à pandemia. 
O excesso de notícias alarmantes acabam chegando em pessoas que requer cuidados especiais e que tem problemas sociais e mentais, podendo causar danos irreparáveis, levando até ao suicídio.

Crie uma cadeia de informações positivas, que chegue nas pessoas que estejam vulneráveis socialmente e precisam de ajuda.  

Lembremos que lavar as mãos corretamente e o isolamento social são fundamentais e parece ser uma tarefa simples na prevenção do COVID19, mas na prática, não é fácil, pois 40% da população mundial não tem acesso a água. 

A situação nas escolas se estivessem em aulas seriam alarmantes, 47% das escolas que não possuem um lavatório com água e sabão, o que afeta 900 milhões de crianças em idade escolar. (Pesquisa da Unicef, divulgada em 13 de março).

No Brasil a falta de saneamento básico impacta mais as mulheres.

Na África ao sul do Saara, 63% da população das áreas urbanas, ou 258 milhões de pessoas, não têm como lavar as mãos. Cerca de 47% dos sul-africanos urbanos, equivalente a 18 milhões de pessoas, não possuem instalações básicas para lavar as mãos em casa.

De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), na média brasileira, 83,5% da população é servida por rede de água e apenas 52,4% tem o esgoto coletado, do qual somente 46% é tratado, são quase 35 milhões de pessoas vivendo sem acesso à água tratada e 100 milhões sem esgoto(Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento em 2018). A maioria são pessoas negras.

As desigualdades sóciorraciais tem colocado historicamente a população pobre em situação vulnerável diante várias epidemias, coloca em maior magnitude nesta pandemia.

O saneamento básico não está ao alcance de muitos moradores de comunidades e bairros nas periferias das cidades brasileiras.
Em milhares dos domicílios brasileiros, o abastecimento de água é intermitente. Faltam condições econômicas para adquirir água para tão orientada e importante desinfecção das mãos e para permanecer em casa. A maioria dos lares brasileiros tem poucos cômodos e abrigam várias pessoas. 

De acordo com a pesquisa nacional por amostra de domicílio continua do IBGE, 71 milhões de lares existentes no Brasil (2018), 45% eram chefiados por mulheres a maioria mulheres negras.

A população brasileira pobre sempre teve saneamento básico precário, pouco acesso à água e quase nenhum equipamento de saúde, tornando difícil o exercício das orientações recomendadas para evitar o contágio e a transmissão do vírus. Não chegamos a citar o custo abusivo do preço do álcool gel.

Todas as cidades devem ter um plano municipal, investimento real em serviços de água, esgotos, lixo e drenagem das águas de chuva. Mas não é realidade da ampla maioria das cidades brasileiras.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu como direitos fundamentais a saúde, a moradia digna e o meio ambiente equilibrado, implicando na necessidade de implementação de políticas públicas de saneamento básico.

É responsabilidade do Estado brasileiro (governo federal, estadual e municípios), garantir, condições necessárias para que famílias sem acesso ao saneamento básico tenham condições de se proteger contra o COVID19.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pobreza no Brasil passou de 25,7% para 26,5% da população. O número dos extremamente pobres, aqueles que vivem com menos de R$ 140 mensais, saltou, no período, de 6,6% para 7,4% dos brasileiros.

Dados do Cadastro Único do Ministério da Cidadania mostram que a pobrezas extrema no país aumentaram e já atinge 13,2 milhões de pessoas. 
Nos últimos sete anos, mais de 500 mil pessoas entraram em situação de miséria no Brasil.

O Governo Federal de Jair Bolsonaro e à política econômica tem sofrido diversas críticas por não focar nos programas sociais.  
A falta de reconhecimento e medidas deste Governo para com o quadro de crescimento da pobreza é preocupante.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo IBGE, mostrou que no trimestre de novembro-dezembro-janeiro de 2020, o Brasil tinha 24.575 trabalhadores por conta própria e 6.260 trabalhadores domésticos, sendo que destes, 72,18% não tinham carteira assinada.

As propostas do Ministro da economia para reduzir os efeitos econômicos da pandemia não chegará na população desempregada e desalentada.
Mesmo as medidas de antecipação do 13º salário não resolveram os problemas na maioria dos lares onde tem aposentados. 
Além que tal medidas, trará dificuldades econômicas futuramente.

Os impactos diretos na renda mensal com a pandemia do coronavírus afetarão 41,4% da população. 

A responsabilidade é do governo pagar esta fatura, não dos pobres do Brasil!

A situação ainda pode se agravar com o novo marco do saneamento básico, aprovado na Câmara dos Deputados e em tramitação no Senado Federal. 
O texto facilita a privatização de empresas públicas de saneamento, na distribuição de água e no esgotamento sanitário.

Como resolver um problema sério e atual de saúde, onde os compromissos com as metas de universalização ao saneamento básico podem ser cumpridas até o fim de 2033?

A pandemia do COVID19 é a afirmação da existência de um apartheid sanitário demarcado pelas práticas do racismo institucional no Brasil.

Milhares de brasileiros não tem condições de ter sabonete em casa. 
A crise econômica e política estalada neste Governo, a falta de saneamento básico em milhares de lares, o alto índice de desemprego, os índices de desalentados, somando com a informalidade, encontram um território aberto para grande contaminação.

Todos os Governos sabiam e conhecem bem a situação econômica e social do povo de seu Estado e do Brasil. 

A falta de responsabilidade política com a ampla maioria da população brasileira declaradamente negra nunca ficou tão evidente.

Qual a medida afirmativa, prepositiva e concreta que os Governos estão apresentando para populações de baixa renda ou sem renda neste tempos de quarentena ao COVD19?

O apartheid social no Brasil será o principal responsável pelas consequências trágicas do COVD19. Ingenuidade pensar que não existe escolhas do grupo social que se contamina e morre com este vírus.

Exemplo já temos:- Cleonice, 63 anos, a segunda morte confirmada no Brasil de coronavírus. Pode ter se contaminada na casa da patroa, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Trabalhou por vinte anos cozinhando. A patroa teve que ficar de quarentena ao chegar da Itália.

Diante tantos descasos e demora em ações efetivas e preventivas ao COVID19, surgem as ações de solidariedade por parte da sociedade em prol às famílias desalentadas, desprovidas de acesso aos recursos materiais. 
Olhando, cuidando dos lírios de nossos Campos: - Lírios negros, a maioria mulheres negras e chefe de família.

Dentro do objetivo de chamar atenção para esse cenário de descaso por parte dos governantes, várias lideranças comunitárias e moradores estão publicando relatos nas redes sociais com a hashtag #Covid19nasFavelas, que ficou entre os tópicos mais compartilhados do país.
Muitos deles partiram de comunidades do Rio de Janeiro, que sofrem com a escassez de água. O estado é o segundo em número de casos no Brasil e enfrentou recentemente uma crise hídrica.

O Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra, em parceria com a Associação de Medicina de Família e Comunidade do Rio de Janeiro (AMFaC-RJ) e apoio da SBMFC, lançou guia com orientações para prevenção do coronavírus (Covid – 19) para a população das periferias e comunidades. 

O Ministério Público Federal, via Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), solicitou ao Ministério da Saúde que apresente um planejamento prioritário para o atendimento a favelas e periferias das cidades brasileiras no contexto do combate ao novo coronavírus. Protocolado na quinta-feira 19/3, o pedido estabelece prazo de cinco dias para a resposta.

 “O quadro estrutural de desigualdade existente na sociedade brasileira não pode ser potencializado em momentos de pandemia, o que significa dizer que grupos historicamente subalternizados devem merecer atenção prioritária, uma vez que já estão, especialmente em termos de saúde pública, em situação de desvantagem em relação ao restante da coletividade nacional”. O pedido de informações é assinado pela procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat.(Fonte MPF)

Fontes: MPF/Senado/ Brasil de Fato/Theintercept/IBGE/Geledés/Cartacapital

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