Por Mônica Aguiar
Além de todo o cuidado
físico necessário, também devemos nos preocupar com os aspectos psíquicos e
mentais que o isolamento e a quarentena podem trazer à população, não só
individualmente, mas também à coletividade.
Medos de infecção,
frustração, tédio, excessos de informações inadequadas, perdas financeiras,
sentimento de abandono, preconceito e discriminação são fatores citados causadores
de estresse na população.
As consequências, confusão metal, raiva, tristeza,
ansiedade, solidão, episódios de pânico que podem aumentar à medida que a
população se autoisola para evitar o contágio.
Vários especialistas
tem lembrado que a falta de acesso a necessidades básicas e o medo da recessão
econômica também são fatores de risco.
Embora seja uma
situação de medo justificado, especialistas também afirmam que é possível
minimizar os danos à saúde mental com estratégias simples. Manter os vínculos
sociais, apesar da distância física, é fundamental. O importante neste
momento é cumprir com as orientações para evitar o contágio e proliferação mas também
ser solidário e responsável.
Isto não é uma tarefa difícil.
Convém, urgentemente,
diante desse quadro de iminente pandemia, ficarmos atentos com o tratamento que
será dado aos nossos idosos negros e crianças negras.
Para as pessoas que
tem acesso à tecnologia e, se mantem conectados 24 horas, priorize a divulgações
significativas e responsáveis.
Use mensagens de vídeo para ver e ouvir pessoas
importantes e próximas, divulguem textos, aplicativos com palavras de confiança que ajudem a superar este momento.Converse por telefone, crie grupos online, de família, vizinhos e amigos próximos.
Ao buscar
informações, muita atenção às fontes oficiais das autoridades sanitárias e
tenha cuidado ao compartilhar notícias falsas entre sua rede de contatos.
Limite a quantidade de notícias relacionadas à pandemia.
O excesso de notícias alarmantes
acabam chegando em pessoas que requer cuidados especiais e que tem problemas sociais
e mentais, podendo causar danos irreparáveis, levando até ao suicídio.
Crie uma cadeia de informações
positivas, que chegue nas pessoas que estejam vulneráveis socialmente e precisam
de ajuda.
Lembremos que lavar
as mãos corretamente e o isolamento social são fundamentais e parece ser uma tarefa
simples na prevenção do COVID19, mas na prática, não é fácil, pois 40% da
população mundial não tem acesso a água.
A situação nas
escolas se estivessem em aulas seriam alarmantes, 47% das escolas que não
possuem um lavatório com água e sabão, o que afeta 900 milhões de crianças em
idade escolar. (Pesquisa da Unicef, divulgada em 13 de
março).
No Brasil a falta de
saneamento básico impacta mais as mulheres.
Na África ao sul do
Saara, 63% da população das áreas urbanas, ou 258 milhões de pessoas, não têm
como lavar as mãos. Cerca de 47% dos sul-africanos urbanos, equivalente a 18
milhões de pessoas, não possuem instalações básicas para lavar as mãos em casa.
De acordo com o
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), na média brasileira,
83,5% da população é servida por rede de água e apenas 52,4% tem o esgoto
coletado, do qual somente 46% é tratado, são quase 35 milhões de pessoas
vivendo sem acesso à água tratada e 100 milhões sem esgoto. (Dados
do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento em 2018).
A maioria são pessoas negras.
As desigualdades sóciorraciais tem colocado historicamente a população pobre em situação vulnerável diante
várias epidemias, coloca em maior magnitude nesta pandemia.
O saneamento básico não
está ao alcance de muitos moradores de comunidades e bairros nas periferias das
cidades brasileiras.
Em milhares dos
domicílios brasileiros, o abastecimento de água é intermitente. Faltam
condições econômicas para adquirir água para tão orientada e importante desinfecção
das mãos e para permanecer em casa. A maioria dos lares brasileiros tem poucos
cômodos e abrigam várias pessoas.
De acordo com a pesquisa
nacional por amostra de domicílio continua do IBGE, 71 milhões de lares
existentes no Brasil (2018), 45% eram chefiados por mulheres
a maioria mulheres negras.
A população brasileira
pobre sempre teve saneamento básico precário, pouco acesso à água e quase
nenhum equipamento de saúde, tornando difícil o exercício das orientações recomendadas
para evitar o contágio e a transmissão do vírus. Não chegamos a citar o custo
abusivo do preço do álcool gel.
Todas as cidades
devem ter um plano municipal, investimento real em serviços de água, esgotos,
lixo e drenagem das águas de chuva. Mas não é realidade da ampla maioria das
cidades brasileiras.
A Constituição
Federal de 1988 estabeleceu como direitos fundamentais a saúde, a moradia digna
e o meio ambiente equilibrado, implicando na necessidade de implementação de
políticas públicas de saneamento básico.
É responsabilidade do
Estado brasileiro (governo federal, estadual e municípios), garantir, condições
necessárias para que famílias sem acesso ao saneamento básico tenham condições
de se proteger contra o COVID19.
Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
pobreza no Brasil passou de 25,7% para 26,5% da população. O
número dos extremamente pobres, aqueles que vivem com menos de R$
140 mensais, saltou, no período, de 6,6% para 7,4% dos brasileiros.
Dados do Cadastro
Único do Ministério da Cidadania mostram que a pobrezas extrema no país aumentaram
e já atinge 13,2 milhões de pessoas.
Nos últimos sete anos, mais de 500 mil
pessoas entraram em situação de miséria no Brasil.
O Governo Federal de Jair
Bolsonaro e à política econômica tem sofrido diversas críticas por não focar nos
programas sociais.
A falta de reconhecimento
e medidas deste Governo para com o quadro de crescimento da pobreza é preocupante.
A Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo IBGE, mostrou que no trimestre de
novembro-dezembro-janeiro de 2020, o Brasil tinha 24.575 trabalhadores por
conta própria e 6.260 trabalhadores domésticos, sendo que destes, 72,18%
não tinham carteira assinada.
As propostas do Ministro
da economia para reduzir os efeitos econômicos da pandemia não chegará na
população desempregada e desalentada.
Mesmo as medidas de antecipação do 13º
salário não resolveram os problemas na maioria dos lares onde tem aposentados.
Além que tal medidas, trará dificuldades econômicas futuramente.
Os impactos diretos
na renda mensal com a pandemia do coronavírus afetarão 41,4% da
população.
A responsabilidade é do
governo pagar esta fatura, não dos pobres do Brasil!
A situação ainda pode
se agravar com o novo marco do saneamento básico, aprovado na Câmara dos
Deputados e em tramitação no Senado Federal.
O texto facilita a privatização de
empresas públicas de saneamento, na distribuição de água e no esgotamento
sanitário.
Como resolver um problema sério e atual de saúde, onde os compromissos com
as metas de universalização ao saneamento básico podem ser cumpridas até o fim de 2033?
A pandemia do COVID19
é a afirmação da existência de um apartheid sanitário demarcado pelas práticas
do racismo institucional no Brasil.
Milhares de
brasileiros não tem condições de ter sabonete em casa.
A crise econômica e política
estalada neste Governo, a falta de saneamento básico em milhares de lares, o alto
índice de desemprego, os índices de desalentados, somando com a informalidade, encontram
um território aberto para grande contaminação.
Todos os Governos
sabiam e conhecem bem a situação econômica e social do povo de seu Estado e do Brasil.
A falta de responsabilidade política com
a ampla maioria da população brasileira declaradamente negra nunca ficou tão evidente.
Qual a medida afirmativa,
prepositiva e concreta que os Governos estão apresentando para populações de
baixa renda ou sem renda neste tempos de quarentena ao COVD19?
O apartheid social no
Brasil será o principal responsável pelas consequências trágicas do COVD19. Ingenuidade
pensar que não existe escolhas do grupo social que se contamina e morre com este
vírus.
Exemplo já temos:- Cleonice,
63 anos, a segunda morte confirmada no Brasil de coronavírus. Pode ter se
contaminada na casa da patroa, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Trabalhou por vinte anos cozinhando.
A
patroa teve que ficar de quarentena ao chegar da Itália.
Diante tantos descasos
e demora em ações efetivas e preventivas ao COVID19, surgem as ações de solidariedade
por parte da sociedade em prol às famílias desalentadas, desprovidas de acesso
aos recursos materiais.
Olhando, cuidando dos lírios de nossos Campos:
- Lírios negros, a maioria mulheres negras e chefe de família.
Dentro do objetivo de
chamar atenção para esse cenário de descaso por parte dos governantes, várias lideranças comunitárias e
moradores estão publicando relatos nas redes sociais com a hashtag
#Covid19nasFavelas, que ficou entre os tópicos mais compartilhados do país.
Muitos deles partiram de comunidades do Rio de Janeiro, que sofrem com a
escassez de água. O estado é o segundo em número de casos no Brasil e enfrentou
recentemente uma crise hídrica.
O Grupo de Trabalho
de Saúde da População Negra, em parceria com a Associação de Medicina de
Família e Comunidade do Rio de Janeiro (AMFaC-RJ) e apoio da SBMFC, lançou guia
com orientações para prevenção do coronavírus (Covid – 19) para a população das
periferias e comunidades.
O Ministério
Público Federal, via Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC),
solicitou ao Ministério da Saúde que apresente um planejamento prioritário
para o atendimento a favelas e periferias das cidades brasileiras no contexto
do combate ao novo coronavírus. Protocolado na quinta-feira 19/3, o pedido
estabelece prazo de cinco dias para a resposta.
“O quadro estrutural de desigualdade
existente na sociedade brasileira não pode ser potencializado em momentos de
pandemia, o que significa dizer que grupos historicamente subalternizados devem
merecer atenção prioritária, uma vez que já estão, especialmente em termos de
saúde pública, em situação de desvantagem em relação ao restante da
coletividade nacional”. O pedido de informações é assinado pela procuradora
federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat.(Fonte MPF)
Fontes: MPF/Senado/
Brasil de Fato/Theintercept/IBGE/Geledés/Cartacapital
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