quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Quanta Dor !


Por Mônica Aguiar

O que causa mais dor entre as pessoas, verdadeiramente cidadãs de bem no Brasil?

O que provoca angústia e desalentos nas pessoas que lutam cotidianamente pela sobrevivência dos seus?

As respostas estão postas nos semblantes de milhões das brasileiras que caminham nas  manhãs em busca de trabalho, cumprindo uma rotina cruel e desalentada.

As que seguem seu caminho ao trabalho, a única certeza, são trinta dias para receber um salário que mal dá para pagar as contas de água, luz, comprar o gás e pagar o aluguel.

Café da manhã, só o café. Pão com margarina, pouco sobra dinheiro.

- O leite com o preço que tá, melhor não comprar fruta, a casula precisa do leite para tomar.  

Alimentação em dia, nem se falam mais.

- Melhor não reclamar!

Termina conversas dentro de coletivos públicos entre pessoas que as vezes não se conhecem mais querem e precisam desabafar.

Uma caminhada rumo a única possibilidade de trabalho, com coração em dor.

As forças vem da consciência e responsabilidade com a prole que necessita comer, estudar e morar.

- Uma coisa ou outra?

- Não. As duas juntas. Tudo junto e misturado!

Ameaçam um sorriso entre o canto do rosto suado, marcado pelos reflexos dos problemas do dia a dia.

Entre olhares distante, ecoa pensamentos em suspiros do medo de ter que deixar os filhos sozinhos para trabalhar.

Entre o total silencio uma única frase imortaliza a conversa:

- Não é fácil!

Em um breve momento, o rosto já cansado pela manhã, escondem lágrimas nas mangas das blusas surradas pelos excessos de lavagem.

O frio d’alma sobressai no aroma do suor. Cada uma com sua dor, clamando por paz.

Entre caminho e caminhadas, notícias chegam que filhos se vão para nunca mais voltar.

- O que eu fiz meu Deus para merecer tanta dor?

Pergunta a mãe desalentada por ter que reconhecer seu filho cruelmente assassinado pela polícia.

- Que pena dura é esta!

Em liberdade limitada, muito vigiada, por poderosos que julgam e condenam por morar em uma comunidade pobre e negra. 
Donos de um poder que não exigiu o voto democrático. 
Criminalizam, julgam e estabelecem no mesmo momento como pena a  morte .

Os gritos de dor ficam sufocados diante as mais variáveis justificativas entoadas de Corporações que mantém as regras falidas que sustentam a violência extrema e a segregação.

Quem saberá mensurar o tamanho desta dor?

Três dias para respirar, diminuir choro e clamor, retornar em passos lentos no mesmo caminho rumo a sobrevivência dos outros que ficaram em casa, refém de um Estado que deveria resguardar a vida, dar escola, lazer, cultura e ajudar a alimentar.

Milhares de olhares tristes já pairam no rosto do povo que é considerado o mais felizes do mundo.

Os lírios começam a murchar.

Tão covardes são estes que acreditam que ceifar vidas de inocentes garantem o exemplo para manutenção da moral e bons costumes que os filhos deles não praticam.

_ Para onde eu vou, onde vou morar, por que meus filhos?

Outros Lírios, gritaram ... Juntas vamos gritar


2 comentários:

Unknown disse...

Pungente.
A dura realidade.
Que as palavras, com que nos brinda aqui, continuem nos tocando, despertando e unindo.

Mulher Negra disse...

Obrigada

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