Não é fácil abrir
jornais de grade circulação e perceber que as notícias de grande repercussão falam
e denunciam vítimas do feminicídio e seu número alarmantes de vítimas. Fatos importantes
para aprofundar o debate e ações no combate a violência sobre as mulheres.
Verônica SantanaRFI |
Mas hoje fui surpreendida
com uma bela notícia na página das Vozes do Mundo de Paloma Varóm fala sobre Verônica
Santana, camponesa, sergipana, membro do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural
do Nordeste (MMTR-NE) , está em Paris para apresentar o filme que fez em
parceria com outras mulheres do seu grupo. Autoproduzido por 100% de mulheres e sem financiamento “Mulheres Rurais em Movimento” , O que tudo
indica uma aventura científica, educacional, feminista e humana.
Segue matéria:
“Este filme que me
trouxe a Paris e à França, onde nós faremos uma turnê de exibição e de debates,
nasce do diálogo possível entre as mulheres trabalhadoras ruais do Nordeste,
que se auto-organizam há mais de 30 anos – nosso movimento nasceu em 1986 – e
Heloïse Prévost, da Universidade de Toulouse, que vai ao Brail fazer pesquisa
para o seu doutorado”, explica Verônica.
A ida de Prévost ao
Brasil para estudar as mulheres rurais e como elas dialogam com o meio ambiente
serviu para catalizar a vontade das mulheres do MMTR-NE de contarem a sua
própria história em um documentário, para celebrar os 30 anos do movimento.
“Nós queríamos contar a
nossa própria história. Que esta narrativa seja nossa: um feito por nós,
sobre nós”, relata Verônica, contando que foram feitas mais de 100 horas de
filmagem para se chegar a um produto final de 45 minutos. Foram 30 mulheres
rurais envolvidas diretamente no projeto, que envolveu os nove Estados do
Nordeste brasileiro.
Feminismo no campo
“Nosso movimento nasceu
há mais de 30 anos e desde que a gente começou a se organizar a gente sempre
teve formações feministas feitas por feministas reconhecidas no Brasil. Mas nós
tínhamos dificuldade de nos reconhecer como feministas, a gente acreditava que
ser feminista era uma coisa muito longe das nossas vidas, que teria que
dialogar com o pensamento da academia e tudo o mais.”
Mas ela conta que, com
o tempo e com a tomada de consciência sobre a agroecologia, este paradigma
mudou.
“Discutir a vida de uma
mulher rural é discutir a sua conexão com a natureza, com meio ambiente, com a
água – como nós estamos no Nordeste, temos sérios problemas de acesso à água –
etc.”.
“Para mim, o feminismo
rural é trazer a vida das mulheres neste seu espaço para a pauta. A gente quer
ver discutido o nosso modo de vida” acrescenta.
Sobre a utilização das
redes sociais pelo movimento social da qual faz parte, Verônica defende,
explicando que, no campo, a conectividade ainda é baixa.
“Nós somos um movimento
auto-organizado, nos nove Estados do Nordeste, que é uma região imensa e com
uma diversidade igualmente imensa. A comunicação, a internet, não chegou em
vários lugares; mas o pouco que chegou, a gente tem usado para diminuir estas
distâncias. Isso tem possibilitado fortalecer a nossa organização”, conta ela,
que usa principalmente Facebook e whatsapp como ferramentas de comunicação e
luta.
Agro-ecologia como modo
de vida
“A gente costuma dizer
que a agro-ecologia é uma ciência, é uma forma de vida e um movimento. Ela é a
forma política pela qual nós expressamos o nosso desacordo à forma de
agricultura desenvolvida no Brasil pelo agronegócio: que destrói a natureza,
destrói os rios, mata gente, mata tudo”, explica.
“A gente tem outra
forma de trabalhar e interagir com a natureza, que mostra que é possível ter
uma agricultura e uma vida em harmonia com a natureza”, afirma ela, lamentando
que, “com o desmonte do governo atual”, acabou a política nacional de agro-ecologia
e produção orgânica.
“Mas a resistência e as
experiências das famílias camponesas e agricultoras familiares permanecem. A
agro-ecologia é um projeto de vida para nós que vivemos no campo”, conclui.
Edição e introdução Mônica Aguiar
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