Segundo o professor de filosofia da religião da Universidade de Brasília, Agnaldo Cuoco Portugal, muitas vezes a intolerância extrapola a religião e relaciona-se com questões socioeconômicas e políticas. "O Brasil é um país relativamente pacífico em termos de violência religiosa", compara. Entre casos extremos de intolerância, ele cita o recente ataque à redação do semanário francês Charlie Hebdo e os ataques consequentes a mesquitas. No Brasil, ele defende que para combater a intolerância é necessária uma imprensa ativa, canais de participação e acesso a denúncia pela sociedade civil e a própria educação religiosa. "A ideia de educação religiosa na escola pública no Brasil é interessante. Só acho uma pena que ela seja entregue às igrejas. A minha visão é de que seja assunto de estudo científico, como qualquer outro, deveria ser o estudo das religiões para saber o que pensam os grupos, de forma científica e não catequética", defende Portugal.
Veja o que dizem algumas lideranças religiosas sobre a tolerância:
Judaísmo
O judaísmo nasce como uma tradição em direção ao diálogo. Isso não significa, no entanto, que ao longo de tantos anos, a postura sempre tenha sido tolerante. Mas, de maneira geral, temos vários exemplos de tolerância e de diálogo. A tolerância gera mais riqueza, riqueza cultural. É um tema do nosso cotidiano. A promoção do diálogo é saudável, interessante e desejável.
Sergio Napchan, diretor de Relações Institucionais da Confederação Israelita do Brasil
Catolicismo - Desde 1965, com o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica iniciou uma forma mais clara de busca de comunhão e diálogo com as igrejas cristãs e grandes tradições religiosas. Para os católicos, vivenciar o Evangelho é reconhecer que todas as religiões procuram responder a questões humanas, que são comuns. Cada um responde de acordo com suas doutrinas, ritos e caminhos, mas todos procuram responder às mesmas questões. Reconhecendo isso, vamos nos encontrar com o propósito de paz, harmonia e felicidade. Padre Marcus Barbosa, integrante da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Interreligioso, da Comissão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Religiões islâmicas e muçulmanas- São contra qualquer tipo de matança. "Nossa religião é clara: quem mata uma alma, mata a humanidade inteira". A nossa educação é que vivamos em paz com outras religiões. Quem vai julgar as pessoas é Deus. É preciso tratar o próximo com amor e carinho. No Brasil, estamos abrindo diálogo com outras religiões, visitando outras igrejas. Estamos convivendo em paz, é um excelente exemplo. A religião islâmica não é esse fantasma e o terrorismo não representa os muçulmanos. Sheikh Khaled Taky El Din, presidente do Conselho de Teólogos Islâmicos no Brasil
Candomblé - O candomblé tem por princípio o acolhimento, receber bem, dar um rumo para as pessoas, esclarecer. "Tenho grandes amigos de outras religiões. Com a tolerância, ganhamos a união. Todos ficam mais fortes. O ideal seria que se tivesse um problema na minha Casa, fosse conversar com um pastor ou um padre para saber a opinião deles. Ouvindo a opinião de outras religiões, consegue-se fazer melhor juízo. Ialorixá Dora Barreto, do terreiro Ilê Axé T'Ojú Labá
Espiritismo- "Entendemos que todas as religiões devem ser tratadas com respeito e reconhecimento às condições e à liberdade de culto e pensamento. A nossa posição é de estímulo ao diálogo e a somatória de esforços, quando houver necessidade de colaboração com a sociedade. O mundo em que vivemos não admite o isolamento em grupos ou clãs. A única forma de pensar a convivência e o respeito é estabelecer o diálogo. Antonio Cesar Perri, presidente da Federação Espírita Brasileira
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