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MARÇO – MÊS INTERNACIONAL DE LUTA DAS MULHERES
"A maior conquista feminina nos últimos anos foi a participação em órgãos onde decisões são tomadas, em todos os níveis. Antes, os homens conseguiam evitar que denunciássemos o que estava acontecendo de errado, mas hoje as mulheres têm mais voz para dizer o que pensam e propor soluções para a melhoria de suas condições de vida", afirma.
Se, por um lado, a presença feminina em cargos de liderança do governo em Moçambique é uma das maiores do mundo, por outro, as mulheres ainda sofrem com uma estrutura social repressiva, na qual a liberdade de escolha e o direito à educação são garantidos prioritariamente aos rapazes." Lídia Sitoe
Presença política
Enquanto no Brasil a presença de mulheres no parlamento não passa de 10%, a Assembleia da República Moçambicana possui um total de 40% de representatividade feminina. Pela primeira vez, inclusive, o órgão é presidido por uma mulher, Verônica Macamo, respeitada entre os colegas e símbolo da luta pela emancipação feminina no país. Nos ministérios, cerca de um terço entre ministros e vice-ministros são dirigidos por mulheres.
A presença da mulher na política moçambicana tem origem distante, juntamente ao nascimento de Moçambique como uma nação independente de Portugal. Os movimentos de libertação que chegaram ao auge nos anos 1970, culminando na oficialização da independência do país e criação da República de Moçambique, possuíam o apoio geral da população e a trazia para perto da luta.
Inspirados pela linha de pensamento socialista, os líderes inconfidentes pregavam a igualdade entre todos, sem discriminação quanto à idade, cor, tribo, religião e sexo. Nesse contexto, por exemplo, as mulheres possuíam sua própria facção dentro da Frelimo (Frente de Libertação Moçambicana) – partido atualmente no poder –, a chamada OMM (Organização das Mulheres Moçambicanas).
Desigualdade de gênero
O grande paradoxo da intensa participação política feminina em Moçambique é a situação desprivilegiada em que se encontram grande parte das mulheres comuns no país em suas vidas cotidianas.
As maiores desigualdades de gênero são observadas nas zonas rurais mais afastadas da capital do país, Maputo. Entre as 7,5 milhões de mulheres morando nessas áreas, mais de seis milhões são analfabetas. Além disso, cerca de 90% dos trabalhadores agrícolas são mulheres, mas 85% das explorações agro-pecuárias são controladas por homens.
O analfabetismo, que assola 52% da população de 22 milhões de moçambicanos, se faz muito maior entre as mulheres também, atingindo uma taxa de 67% entre elas, enquanto entre os homens a porcentagem é de 36%. Como consequência da falta de base educacional, 70% dos 11 milhões vivendo em extrema pobreza no país são do gênero feminino.
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