quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Pandemia: profissionais de saúde negras sofrem mais com desigualdades

 

Publicado em Julho ,2021 - Por Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil - São Paulo


Há 15 meses atuando na linha de frente da covid-19, profissionais de saúde no Brasil ainda se sentem despreparados para lidar com a pandemia, mostra estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). Entre as mulheres, 72,2% das entrevistadas disseram não ter informações suficientes para trabalhar. Essa condição atinge 61,1% dos homens. Para profissionais negras, o percentual é ainda maior e chega a 78,22%. Os pesquisadores destacam que os indicadores de sensação de despreparo refletem os dados sobre quem recebeu mais treinamento, orientações ou recursos.

“Essas desigualdades têm marcas de gênero e de raça. As mulheres estão em situação pior e essa diferença vem aumentando em relação aos homens ao longo do tempo [da pandemia]”, diz Gabriela Lotta, uma das pesquisadoras responsáveis pelo trabalho. O relatório foi produzido com dados de uma enquete online, com 1.829 profissionais de saúde, entre os dias 1º e 20 de março deste ano.

Esta é a quarta rodada da pesquisa e faz parte de uma série realizada pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB-FGV), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Rede Covid-19 Humanidades. A proposta é compreender as percepções dos profissionais que atuam na linha de frente da pandemia sobre as condições de trabalho nesse período

Sobre o recebimento de equipamentos, treinamento e testagem, também observam-se disparidades. Enquanto 57,93% dos homens brancos disseram ter recebido equipamentos de forma contínua, o percentual cai para 38,12% entre os homens negros. Em relação ao treinamento, 43,9% dos homens brancos relataram ter recebido, e as mulheres negras foram as que menos receberam, com 20,94%. A testagem de forma contínua foi citada por 22,5% dos homens brancos e 11,5% das mulheres negras.

“A gente achava que ao longo do tempo essas desigualdades fossem amenizadas, mas, pelo contrário, elas foram se acentuando”, afirma a pesquisadora. Gabriela explica que a análise por gênero e raça se mostrou fundamental ao longo do trabalho. “Nas outras etapas ficou cada vez mais evidente que embora a pandemia afetasse a todas as pessoas, e especialmente os profissionais de saúde, ela atingia de maneira diferente mulheres e homens, especialmente as questões de raça.”

A desigualdade aparece também nas áreas de saúde mental e divisão do trabalho doméstico. Para 67,3% dos homens entrevistados, a saúde mental teve impacto durante a pandemia. Entre as mulheres, o índice chega a 83,7%. Mais da metade das profissionais de saúde disseram dedicar mais de 14 horas por semana às tarefas domésticas, contra 39% dos homens.

Em termos comparativos das etapas do levantamento Gabriela mostra que, no geral, os indicadores se mantiveram ruins. “O sentimento de despreparo diminuiu um pouco, o acesso a equipamentos de proteção individual aumentou, o acesso à testagem aumentou, o suporte e orientação aumentaram mas outros indicadores se mantiveram muito ruins o tempo inteiro.”

Gabriela chama atenção para o esgotamento dos profissionais de saúde. “Estamos com alto percentual de adoecimento, mortalidade muito alta também, especialmente antes da vacinação, profissionais que estão com a saúde mental abalada e precisam continuar cuidando dos pacientes. Eles não estão tendo descanso, não têm férias, não têm licença e estão no limite.”

A pesquisadora destaca a necessidade de políticas que observem as desigualdades estruturais. “Essas políticas deveriam ser para todos os profissionais, elas precisariam ter um olhar muito cuidadoso, pois o estudo revela os reflexos também dessa desigualdade estrutural de gênero na sociedade", diz. Para ela, as políticas sempre devem ter um olhar diferenciado para homens e mulheres, porque "se elas tratam todo mundo igual, a gente está só reproduzindo desigualdades.”

Fonte e texto : AgenciaBrasil

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Mulheres Negras e Saúde : A resistência que salva vidas

 Por Mônica Aguiar 

As mulheres negras ativistas e militantes, ao longo da história tem lutado para transformar a vida de outras mulheres negras que vivem em condições desfavoráveis pela falta de oportunidades e desigualdades raciais existentes . Centenas de mulheres negras não fazem  parte do conjunto da população que conseguem acessar as políticas fundamentais. O exercício da cidadania  ainda é extremamente limitado, demarcando o alcance da liberdade e  autonomia sobre seu corpo.

As mulheres negras ativistas e feministas trouxeram para dentro da Política Nacional  de Atenção Integral  à Saúde das Mulheres  e dos direitos sexuais e reprodutivos a importância do reconhecimento das especificidades existentes na saúde da população negra. Com isto, temas que nunca foram debatidos passaram a ser também temas de conferências da saúde, a exemplo:  as Mortes maternas e evitáveis no Brasil ganharam força na voz das mulheres negras, tornando resoluções e Leis especificas :

·       A Portaria nº 344, de 1º de fevereiro de 2017, do Ministério da Saúde, passou a adotar o critério da autodeclaração, ou seja, o próprio usuário define qual é sua raça/cor, com exceção nos casos de recém-nascidos, óbitos ou diante de situações em que o usuário estiver impossibilitado cabendo aos familiares ou responsáveis a declaração de sua cor ou pertencimento étnico-racial.

  • ·    A Portaria nº 992, de 13 de maio de 2009: institui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
  • ·     A Portaria nº 4.279, 30 de dezembro de 2010: estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)
  • ·      A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

É fundamental o reconhecimento da existência de doenças de maior prevalência na população negra em virtude do condicionamento de fatores genéticos que atuam conjuntamente com fatores sociais, econômicos e ambientais e, que, tem, efeitos diretos e indiretos na produção de comorbidades, morbidades e na mortalidade da população negra. Fatores que influenciam de forma drástica na perspectiva de vida das mulheres negras grávidas e puérperas, devem ser objetos de estudos e não de resistência.  

A Precocidade de óbitos maternos ressaltado nas altas taxas de mortalidade materna e infantil, e as prevalências de doenças crônicas, infecciosas e de desnutrição demostram os níveis de desigualdades existentes quando o assunto é a falta de acesso aos diretos fundamentais.

Mesmo tendo avançado na política pública de saúde, ainda existem muitas resistências por parte de profissionais da saúde pública e privada, secretarias de saúde e conselhos de saúde para implementar, colocar em prática a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Existe “indisposição e melindres” por parte de vários profissionais da saúde para direcionar ao paciente o direito de responder a definição étnica/racial a ser incluída nos prontuários.

Também podemos observar no conteúdo das argumentações de vários profissionais da saúde pública e gestores que participam dos espaços de controle social (Conselhos), a negativa que a declaração da raça/cor é importante para a construção de políticas públicas, pois permite que os sistemas de informação do SUS consolidem indicadores que traduzem os efeitos dos fenômenos sociais e das desigualdades sobre os diferentes segmentos populacionais.

De outro lado, existem consensos por muitos especialistas que são profissionais da saúde pública e gestores públicos que certas doenças e agravos prevalentes na população negra necessitam de uma abordagem específica e para isto tais doenças foram agrupadas como: geneticamente determinados; adquiridos em condições desfavoráveis; de evolução agravada ou tratamento dificultado.

Afinal, a   igualdade e  equidade pela vida não é privilégio é direito de todas de ter saúde com dignidade.

O racismo ainda estar muito presente nas concepções e valores de muitos profissionais, infelizmente ainda são denominados culturais no Brasil.  

As mulheres negras são as que mais sofrem, são principais vítimas das práticas racistas na saúde.  A mulher negra chega ao ponto de ficar totalmente refém deste sistema muito abstrato e que se move a partir da concepção racial de cada um, “claramente” detectada nas linguagens, abordagens, acolhimento, tempo de consulta, desinteresse a escuta, quebra de sigilo, dificuldade de consultas e exames específicos, erros nos diagnósticos e dos  preenchimento de prontuários até a dificuldade de apresentação de dados em comitês e Fóruns mortalidade materna/saúde da mulher separadas por grupos étnicos/racial.

Existe segregação da população negra na saúde pública. E por mais que seja em sua maioria a quem mais acesa o Sistema Único de Saúde no Brasil o SUS,  este fato é notório, apontados em diversas pesquisas.

Não acredito que certas práticas profissionais devam ser consideradas como racismo institucional ou estrutural.  As relações interpessoais se dão em breves momentos com formatos e foro íntimo.  Comportamentos discriminatórios e preconceituosas produzidos a partir da concepção pessoal que cada profissional tem ao  ver, enxergar o outro principalmente, aqui reafirmo, a mulher negra como semelhante, igual.  

Neste todo processo de avalições e supervisão do controle social é importante ressaltar que as análises apresentadas das mortes maternas e infantis, violência obstétrica  não contenham linguagens, formatos criminalizadores e preconceituosos, mas que busque reforçar o papel do Estado para garantia da igualdade na atenção da saúde pública; universalidade do acesso e   integralidade da atenção, bem como o papel dos Governos independente das forças políticas e da  esfera administrativa em reparar os danos causados pela escravidão.

A dimensão político-programática de combate ao racismo institucional é caracterizada pela produção e disseminação de informações sobre as experiências diferentes e/ou desiguais em nascer, viver, adoecer e morrer; pela capacidade em reconhecer o racismo como um dos determinantes das desigualdades no processo de ampliação das potencialidades individuais; pelo investimento em ações e programas específicos para a identificação de práticas discriminatórias; pelas possibilidades de elaboração e implementação de mecanismos e estratégias de não discriminação, combate e prevenção do racismo e intolerâncias correlatas – incluindo a sensibilização e capacitação de profissionais; pelo compromisso em priorizar a formulação e implementação de mecanismos e estratégias de redução das disparidades e promoção da equidade. (Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política do SUS)

TEMPOS DE COVIDE

No Brasil, neste período de pandemia, o coronavirus matou mais as pessoas negras e pobres que são trabalhadores de serviços essenciais e informais, trabalhadores que não puderam deixar de trabalhar, além de pessoas pobres idosas e com comorbidades, com acesso desigual ao sistema de saúde.

A pandemia escancarou o que a décadas as mulheres negras vem denunciando em relação a falta de acesso a saúde de qualidade para a população negra.  Terreno fértil para a população que se encontra cada dia mais  em situação de desigualdades sociais e econômica, sem alimentação adequada e sem aceso ao saneamento básico.

 Resultados de um estudo do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, grupo da PUC-Rio, em julho de 2020, confirmam que pretos e pardos morreram por covid-19 mais do que brancos no Brasil. O grupo analisou a variação da taxa de letalidade da doença no Brasil de acordo com variáveis demográficas e socioeconômicas da população. Cerca de 30 mil casos de notificações de covid-19 até 18 de maio disponibilizados pelo Ministério da Saúde foram levados em conta. Considerando esses casos, quase 55% de pretos e pardos morreram, enquanto, entre pessoas brancas, esse valor ficou em 38%. A porcentagem foi maior entre pessoas negras do que entre brancas em todas as faixas etárias e também comparando todos os níveis de escolaridade. (BBC)

Fontes e pesquisas:  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/SUS_bracos_abertos_saude_populcao_negra.pdf  /BBC / CRIOLA/ GELEDÉS/ FOLHA/ ESTADO DE MINAS 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Mulheres Negras. " Sobrevivem e resistem "

Por Mônica Aguiar

 As mulheres negras representam 49% da população negra brasileira.  A população afrodescendente da América Latina e Caribe soma quase 130 milhões de pessoas, de acordo com dados dos censos realizados até 2015.

A população negra soma 53,6% do total no Brasil, (IBGE). 

No entanto, a representação política nas esferas de decisão do país, a presença das mulheres negras é inversamente proporcional ao seu tamanho.

Os espaços de decisão democrática, participação social, nas casas legislativas, governos estaduais e municipais não reproduzem a configuração quantitativa do contingente social da população negra. Esta não configuração de representação, fomenta a falta do pleno exercício da cidadania, contribuem com as distorções das pautas transversais que são estabelecidas como compromissos assumidos nos tratados, conversões e Leis nacional de combate ao racismo.

Ao ser confrontado com as estatísticas, o racismo sustentado pelas mazelas em três séculos de escravidão é minimizado pelo sistema nativo hierarquizado branco. Revela-se sem meias palavras no sofrimento das mulheres negras pela sobrevivência.

Na Revisão Periódica Universal da Organização das Nações Unidas (ONU), para analisar   a situação interna de direitos humanos nos Estados membros da ONU, o Brasil recebeu 246 recomendações para combate ao racismo estrutural existente. Dentre estas, destacamos a determinação para se construir reforma legislativa específica para fortalecer as medidas contra a discriminação baseada no gênero e na etnia; implementar medidas destinadas a prevenir a violência e a discriminação racial contra a população negra.

Dos poucos avanços que obtivemos, frutos de muitas lutas, os problemas políticos atuais estabelecidos pela atual Gestão pública nacional, nos remetem à perdas significativas, dando largos passos para trás. 

A falta de relevância com a ciência, a falta de consideração as Leis direcionadas ao desenvolvimento de políticas públicas, antirrepublicanismo, aversão aos valores que formulam a democracia, o negacionismo as medidas reparatórias são ainda características de vários setores no Brasil.  

Reafirmo que são as mulheres negras as que mais amargam a falta de oportunidades. Sofrem diretamente com todas as variantes das violências, preconceitos, discriminações e com racismo estrutural e suas práticas institucionais.

Carregam a responsabilidade de lutar por sua própria conta e sorte, pela transformação de sua história e de suas gerações.

Neste período de pandemia o fosso racial se tornou mais profundo, agravando com extremismo as desigualdades sociorraciais, principalmente quando considerarmos vacinações, medidas de distanciamento, mortes materna e neonatal, desempregos e renda emergencial.  

Falar da mulher negra no Brasil é falar de uma história de exclusão onde as variáveis sexismo, racismo e pobreza permanecem estruturantes.

Porém nossas bandeiras de luta ainda causam desconfortos na sociedade, existem resistências diretas de parcelas da população que acreditam na existência da democracia racial.

Manifestações públicas ideológicas, de ódio racial e controversas sobre conceitos racial históricos e científicos são denunciadas diariamente. Estão presentes nas redes sociais e são contrários a quase tudo que é publicado principalmente por mulheres negras que respaldam a garantia de direitos, livre exercício da cidadania, oportunidades, igualdade, equidade abrindo o debate direto com a sociedade para possibilidades das reparações dos danos causados pela escravidão.

Hoje são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3 milhões de pessoas.   Em Agosto de 2020, as mulheres estavam entre o maior grupo de desemprego 14,9%. A população negra,17,8%, e parda, 15,4%, totalizando a maior parcela de desempregadas.  Mais da metade dos 13,9 milhões de brasileiros sem trabalho são do sexo feminino; seis em cada dez (60,0%) se autodeclaravam pretos ou pardos.

Ao analisar este grupo, dentro deste período, a taxa de ocupação e a diminuição da renda, as mulheres negras são minoria de ocupadas, são as que mais tiveram a renda diminuída e que perderam renda. O número de pessoas sem perspectivas, na extrema pobreza e passando fome só crescem.

Mesmo assim, com tanta gente passando fome e na miséria, muitas pessoas não param para pensar o que significam estes ataques preconceituosos e qual prejuízos trazem tais práticas racistas formuladas com teorias escravagistas.

O dia 25 de Julho é uma data para rememorar a luta das mulheres negras latino-americanas e caribenhas para toda a sociedade.

O momento para fazer análises dos retrocessos e falta de efetivação de políticas públicas voltadas para a redução da desigualdades que ameaçam de maneira mais acentuada a vida de mulheres negras.

Uma data para avaliar a invisibilidade existente.

Criar pautas do nosso papel histórico na construção e organização da história brasileira em seus diversos campos, considerando todos os protagonismos existentes que contribuiu e contribui significativamente com a construção econômica, cientifica, social, justiça e política na sociedade brasileira.

No Brasil, em 2014, o dia 25 de julho foi declarado como Dia Nacional da Mulher Negra a partir da data regional, em homenagem à líder quilombola Teresa de Benguela, que viveu em Mato Grosso e lutou contra a escravidão no século XVII. Símbolo da resistência negra na região do Vale do Guaporé, no Mato Grosso, no período de 1750 a 1770.

Mas a instituição da data 25 de julho antecede 2014, foi aprovada em 1992 no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana, em um encontro que foi construído para dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a discriminação, preconceitos, exploração sexual, contra o racismo, vivido até hoje.

Saudemos a vida, a resistência e luta das mulheres negras!  

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

A médica Jurema Werneck demostra o papel dos negacionistas para aumento da mortes evitáveis e fortalecimento da segregação racial, na CPI da Covid

 Por Mônica Aguiar

Dra. Jurema Werneck, Mulher Negra, médica, lésbica e feminista, cultua as tradições de matriz africana é diretora da Anistia Internacional no Brasil.

Para estar nos espaços que representa Dra. Jurema passou por centenas de dificuldades sociorracial estruturais impostas para as mulheres negras.  

Sua trajetória de luta, dar exemplos e estimula outras mulheres negras a seguir pelos mesmos caminhos em busca das reparações.

Ao estar presente na CPI da Covid no Senado, demostrou com altives a importância das mulheres negras em ocupar espaços que estão constituídos por maioria de homens brancos. 

Os pesquisadores Dra. Jurema Werneck e Dr. Pedro Hallal  foram convidados pela  CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para ser ouvidos pela CPI da COVID, na quinta-feira 24 de junho.

Porém  podemos falar mais, ao relembrar a participação da Dra. Jurema Werneck na audiência da CPI no Senado.  

Werneck cobrou responsabilização e criticou a atual gestão federal pela crise sanitária. 

Falou que milhares de mortes por covid-19 no país que poderiam ser evitadas se a condução do Ministério da Saúde não permanecesse na contramão da ciência mas com responsabilidade imediata, sem demora na aquisição das vacinas, com testagens, com investimento para adequar o sistema de saúde pública, com orientação da população e Governos, de modo estratégicos de enfrentamento, estimulando o uso de máscara e o distanciamento social.

“Esses devem ser responsabilizados não apenas no sentido imediato, mas é preciso passar uma importante mensagem à sociedade, a todos e todas: que isso não vai se repetir, porque isso não pode se repetir, isso não pode ser aceito por ninguém, que gestores que estavam em posição de fazer o que deviam tenham se recusado, a custo de tantas vidas”, afirmou. ( Do Jornal G1) 

Falou da perversidade em utilizar para sociedade o termo “imunidade de rebanho”. Temo utilizado por fazendeiros pecuaristas e veterinários. Reafirmou que o termo correto é Imunidade Coletiva.

Eu cá ao pé das montanhas das Minas Gerais, na minha amada região e Distrito de Belo Horizonte Venda Nova, que tem seus mais de 200 anos de existência, sei muito bem, que quando utilizam este termo para população, estão falando da população negra.

O nosso País carrega e sustenta as mazelas da história de mais de 300 anos de escravidão. Dentre os países da América, o Brasil foi o último a abolir a escravidão negra formalmente em 1888 e, mesmo após a formalização da denominada liberdade, ainda persistem formatos e resquícios verbais escravagistas. 

Depois de todos estes séculos, percebemos que se mantém enraizado no inconsciente coletivo da sociedade brasileira o pensamento que impedem a população negra de exercer concretamente e com liberdade sua cidadania.

A naturalização destas situações, afirmações, termos e falas, formam pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro e, vem sustentando direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. 

Um método que atinge duramente e cotidianamente a população negra, desta principalmente as mulheres negras e suas gerações.

Jurema Werneck apresentou à CPI o estudo do Grupo Alerta, levou em consideração a presença da doença e as mortes em decorrência da pandemia. “Mortes evitáveis por Covid-19 no Brasil”

De acordo também com o estudo, se os Gestores do Ministério da Saúde tivessem, realizado medidas de controle da transmissão do vírus, haveria uma redução de 40% no potencial de transmissão do vírus.

Nos estudos apresentados também foi afirmado que a demora da compra de vacinas levou a mortes de pelo menos 95,5 mil pessoas, que poderiam ter sido evitadas.

Para Jurema Werneck, o caos da pandemia é causado por negligência. Ressaltou a necessidade e a urgência da criação de um decreto garantindo distribuição de máscaras e acesso a medidas que evitem o contagio, considerando a atual situação socioeconômica que se encontra a população brasileira.  

"Ao não colocar em prática, não mover o Sistema Único de Saúde com o potencial de liderança, de indutor do sistema, de não fazer as previsões e não fazer os investimentos necessários, não há dúvida que o Ministério da Saúde falhou terrivelmente – poderia ter sido diferente – e segue falhando", disse Jurema Werneck(CNNBrasil)

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Justiça condena governo Bolsonaro a pagar multa e promover campanhas após ofensas contra as mulheres

Por Mônica Aguiar

Hoje fomos agraciadas com uma bela matéria de Tayguara Ribeiro na Folhapress, divulgando a determinação da Justiça para que o Governo Federal pague multa por danos morais coletivos no valor de R$ 5 milhões por ofensas proferidas contra as mulheres em declarações públicas realizadas pelo presidente Jair Bolsonaro e por outros membros de sua gestão nos Ministérios.

Na matéria observamos que a decisão considera as falas em diversas situações, desde o início do governo, pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves; pelo ministro da Economia, Paulo Guedes; pelo ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo; e pelo deputado Federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A decisão também condena a União a realizar campanhas de conscientização sobre problemas sociais enfrentados pelas mulheres no Brasil, como violência doméstica e assédio sexual, no valor de R$ 10 milhões.

Os grupos diretamente ligados ao Governo Bolsonaro sempre apresentaram como principais características a aversão a tudo que é diferente de seus conceitos pessoais que são formados por valores morais e religiosos.  Atingem com tais condutas de maneira dura e letal mulheres negras, crianças e jovens negros.

Esta ação encorajadora e reparatória foi ajuizada pelo Ministério Público Federal em agosto do ano passado. O órgão entrou com esta ação por considerar que “desde o início da atual gestão, integrantes da cúpula do governo federal já proferiram uma série de declarações e atos administrativos que revelam um viés preconceituoso e discriminatório contra o público feminino, reforçando estigmas e estimulando a violência”.

Segundo a decisão, as declarações constituem abuso da liberdade de expressão no desempenho do poder estatal e afronta aos deveres basilares no desempenho das atribuições de seus cargos.

Na decisão divulgada nesta quarta-feira (23), a juíza Ana Lúcia Petri Betto, da 6ª Vara Cível Federal de São Paulo, afirma que “se as expressões utilizadas, por si só, são dignas de espanto e repúdio, assumem ainda maior gravosidade quando inseridas no contexto fático e social em que se situam as cidadãs brasileiras, de intensa desigualdade e privação”.

Ainda segundo a magistrada, “não se mostra crível que ocupantes de altos cargos do Poder Executivo e do Poder Legislativo, a quem compete institucionalmente o estabelecimento de políticas públicas para a promoção da igualdade, da isonomia, da harmonia e da paz entre os cidadãos, façam uso de seus cargos para investir contra parcelas da população historicamente inseridas em situação de hipossuficiência social”.

A ministra das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves sempre se apresentou com postura dura ao afirmar valores da sua própria fé: confunde o rebanho do templo evangélico com o povo de uma democracia. Chegou a defender abstinência sexual para adolescentes.

Em 2019 a também Ministra, promoveu indignação na sociedade brasileira no lançamento do Programa Abrace Marajó. Culpou meninas de provocar o estupro e violência sexual por não usar calcinhas, sugerindo  como política de Estado para combater a prostituição infantil doações de roupas íntimas e construção de fábrica de calcinhas na ilha de Marajó.  

“Se a mulher permanece com o agressor porque depende dele financeiramente, vamos trazer oportunidade a elas no emprego ou no empreendedorismo. Se as crianças são trocadas por alimentos ou óleos diesel que movimentam os barcos, vamos atacar o crime, conscientizar, mas também trazer as empresas que promovam a renda dessas famílias” declarou a ministra.

Suas declarações despropositadas, vem demostrando uma falta de conhecimento em gestão de política públicas para mulheres.  Suas propostas sempre discriminatórias e preconceituosa estão distantes das ações e leis de enfrentamento a exploração e violência sexual de meninas e adolescentes no Brasil.

Também em 2020 o Presidente da Fundação Cultural Palmares, referiu à Adna dos Santos ( Mãe Baiana) , no momento que  coordenava as Políticas de Promoção e Proteção da Diversidade Religiosa da Subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial no Distrito Federal. Também atacou Zumbi, referindo-se a ele como um "filho da puta que escravizava pretos". Chamou o movimento negro de "escória maldita" formada por "vagabundos", durante uma reunião interna com servidores, cujo áudio foi divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo.   O Presidente da Fundação Palmares foi extremamente violento, racista e intolerante, além de deixar “claro” aos seus comandos e agentes públicos que compactuam com esta ideologia governamental, seu papel de perseguição política aos militantes do movimento negro.

Dentre tantas as declarações estapafúrdias do Presidente Bolsonaro neste período de pandemia chegou atribuir o aumento da violência doméstica em meio à pandemia provocada pelo COVID-19 (CoronaVírus) a presença de mulheres dentro das casas brasileiras. Destacou em 2020, que com efeitos desastrosos para a economia, o Brasil deve abandonar a medida do isolamento social, a qual foi definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar, meu Deus do céu. É crime trabalhar?”, afirma Bolsonaro.

Outra afirmação que também causou grande impacto na sociedade foi a afirmação pública do Presidente: -“Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. “Ela é muito feia. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque ela não merece”. “O cara paga menos para a mulher porque ela engravida”.

 “o Brasil não pode ser o paraíso do turismo gay. Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”.

Estas frases fazem parte do discurso machista, violento e de ódio do presidente Jair Bolsonaro. Deixa nítido que sua política é de absoluta violência institucional contra as mulheres, impondo com sua falta de gestão social e com sua política econômica o aumento da pobreza e a violências extremas.

A juíza determinou o bloqueio imediato de verbas do Orçamento da União como forma de garantia de implementação das obrigações determinadas na sentença. No caso do valor da multa de R$ 5 milhões, o dinheiro deverá ser destinado ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.

Na reportagem de Tayguara Ribeiro – Folhapress  afirma que procurou a assessoria de imprensa do governo Bolsonaro, mas até não obteve resposta.

Vale ressaltar que o genocídio, massacres, injustiças, cárceres, pobrezas, fomes, misérias, violências, segregação, desigualdades territorial econômicas e educacional. Não faltam predicados para definir como é estabelecido o padrão de relação da minoria da sociedade brasileira com sua ampla maioria da população.   Mas nada disto daria tão certo se esta minoria branca não estivesse nas mãos as estruturas públicas de todo o Estado Democrático e de Direitos.

Fontes de inspirações e consulta:  FolhaPress / Portal Paraná / O Tempo/ CRIOLA/GELEDÉS  

 

 

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