segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Mulheres Negras e Saúde : A resistência que salva vidas

 Por Mônica Aguiar 

As mulheres negras ativistas e militantes, ao longo da história tem lutado para transformar a vida de outras mulheres negras que vivem em condições desfavoráveis pela falta de oportunidades e desigualdades raciais existentes . Centenas de mulheres negras não fazem  parte do conjunto da população que conseguem acessar as políticas fundamentais. O exercício da cidadania  ainda é extremamente limitado, demarcando o alcance da liberdade e  autonomia sobre seu corpo.

As mulheres negras ativistas e feministas trouxeram para dentro da Política Nacional  de Atenção Integral  à Saúde das Mulheres  e dos direitos sexuais e reprodutivos a importância do reconhecimento das especificidades existentes na saúde da população negra. Com isto, temas que nunca foram debatidos passaram a ser também temas de conferências da saúde, a exemplo:  as Mortes maternas e evitáveis no Brasil ganharam força na voz das mulheres negras, tornando resoluções e Leis especificas :

·       A Portaria nº 344, de 1º de fevereiro de 2017, do Ministério da Saúde, passou a adotar o critério da autodeclaração, ou seja, o próprio usuário define qual é sua raça/cor, com exceção nos casos de recém-nascidos, óbitos ou diante de situações em que o usuário estiver impossibilitado cabendo aos familiares ou responsáveis a declaração de sua cor ou pertencimento étnico-racial.

  • ·    A Portaria nº 992, de 13 de maio de 2009: institui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
  • ·     A Portaria nº 4.279, 30 de dezembro de 2010: estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)
  • ·      A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

É fundamental o reconhecimento da existência de doenças de maior prevalência na população negra em virtude do condicionamento de fatores genéticos que atuam conjuntamente com fatores sociais, econômicos e ambientais e, que, tem, efeitos diretos e indiretos na produção de comorbidades, morbidades e na mortalidade da população negra. Fatores que influenciam de forma drástica na perspectiva de vida das mulheres negras grávidas e puérperas, devem ser objetos de estudos e não de resistência.  

A Precocidade de óbitos maternos ressaltado nas altas taxas de mortalidade materna e infantil, e as prevalências de doenças crônicas, infecciosas e de desnutrição demostram os níveis de desigualdades existentes quando o assunto é a falta de acesso aos diretos fundamentais.

Mesmo tendo avançado na política pública de saúde, ainda existem muitas resistências por parte de profissionais da saúde pública e privada, secretarias de saúde e conselhos de saúde para implementar, colocar em prática a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Existe “indisposição e melindres” por parte de vários profissionais da saúde para direcionar ao paciente o direito de responder a definição étnica/racial a ser incluída nos prontuários.

Também podemos observar no conteúdo das argumentações de vários profissionais da saúde pública e gestores que participam dos espaços de controle social (Conselhos), a negativa que a declaração da raça/cor é importante para a construção de políticas públicas, pois permite que os sistemas de informação do SUS consolidem indicadores que traduzem os efeitos dos fenômenos sociais e das desigualdades sobre os diferentes segmentos populacionais.

De outro lado, existem consensos por muitos especialistas que são profissionais da saúde pública e gestores públicos que certas doenças e agravos prevalentes na população negra necessitam de uma abordagem específica e para isto tais doenças foram agrupadas como: geneticamente determinados; adquiridos em condições desfavoráveis; de evolução agravada ou tratamento dificultado.

Afinal, a   igualdade e  equidade pela vida não é privilégio é direito de todas de ter saúde com dignidade.

O racismo ainda estar muito presente nas concepções e valores de muitos profissionais, infelizmente ainda são denominados culturais no Brasil.  

As mulheres negras são as que mais sofrem, são principais vítimas das práticas racistas na saúde.  A mulher negra chega ao ponto de ficar totalmente refém deste sistema muito abstrato e que se move a partir da concepção racial de cada um, “claramente” detectada nas linguagens, abordagens, acolhimento, tempo de consulta, desinteresse a escuta, quebra de sigilo, dificuldade de consultas e exames específicos, erros nos diagnósticos e dos  preenchimento de prontuários até a dificuldade de apresentação de dados em comitês e Fóruns mortalidade materna/saúde da mulher separadas por grupos étnicos/racial.

Existe segregação da população negra na saúde pública. E por mais que seja em sua maioria a quem mais acesa o Sistema Único de Saúde no Brasil o SUS,  este fato é notório, apontados em diversas pesquisas.

Não acredito que certas práticas profissionais devam ser consideradas como racismo institucional ou estrutural.  As relações interpessoais se dão em breves momentos com formatos e foro íntimo.  Comportamentos discriminatórios e preconceituosas produzidos a partir da concepção pessoal que cada profissional tem ao  ver, enxergar o outro principalmente, aqui reafirmo, a mulher negra como semelhante, igual.  

Neste todo processo de avalições e supervisão do controle social é importante ressaltar que as análises apresentadas das mortes maternas e infantis, violência obstétrica  não contenham linguagens, formatos criminalizadores e preconceituosos, mas que busque reforçar o papel do Estado para garantia da igualdade na atenção da saúde pública; universalidade do acesso e   integralidade da atenção, bem como o papel dos Governos independente das forças políticas e da  esfera administrativa em reparar os danos causados pela escravidão.

A dimensão político-programática de combate ao racismo institucional é caracterizada pela produção e disseminação de informações sobre as experiências diferentes e/ou desiguais em nascer, viver, adoecer e morrer; pela capacidade em reconhecer o racismo como um dos determinantes das desigualdades no processo de ampliação das potencialidades individuais; pelo investimento em ações e programas específicos para a identificação de práticas discriminatórias; pelas possibilidades de elaboração e implementação de mecanismos e estratégias de não discriminação, combate e prevenção do racismo e intolerâncias correlatas – incluindo a sensibilização e capacitação de profissionais; pelo compromisso em priorizar a formulação e implementação de mecanismos e estratégias de redução das disparidades e promoção da equidade. (Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política do SUS)

TEMPOS DE COVIDE

No Brasil, neste período de pandemia, o coronavirus matou mais as pessoas negras e pobres que são trabalhadores de serviços essenciais e informais, trabalhadores que não puderam deixar de trabalhar, além de pessoas pobres idosas e com comorbidades, com acesso desigual ao sistema de saúde.

A pandemia escancarou o que a décadas as mulheres negras vem denunciando em relação a falta de acesso a saúde de qualidade para a população negra.  Terreno fértil para a população que se encontra cada dia mais  em situação de desigualdades sociais e econômica, sem alimentação adequada e sem aceso ao saneamento básico.

 Resultados de um estudo do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, grupo da PUC-Rio, em julho de 2020, confirmam que pretos e pardos morreram por covid-19 mais do que brancos no Brasil. O grupo analisou a variação da taxa de letalidade da doença no Brasil de acordo com variáveis demográficas e socioeconômicas da população. Cerca de 30 mil casos de notificações de covid-19 até 18 de maio disponibilizados pelo Ministério da Saúde foram levados em conta. Considerando esses casos, quase 55% de pretos e pardos morreram, enquanto, entre pessoas brancas, esse valor ficou em 38%. A porcentagem foi maior entre pessoas negras do que entre brancas em todas as faixas etárias e também comparando todos os níveis de escolaridade. (BBC)

Fontes e pesquisas:  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/SUS_bracos_abertos_saude_populcao_negra.pdf  /BBC / CRIOLA/ GELEDÉS/ FOLHA/ ESTADO DE MINAS 

Nenhum comentário:

MAIS LIDAS