terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Com a pandemia, surge um novo modelo de escravidão

 Por Mônica Aguiar 

Historicamente as mulheres são  submetidas a conviver com as variantes das desigualdades sociais e econômica. E  neste momento estão passando por outros diversos problemas, agravados com a pandemia e com a crise política no Brasil.

Os aspectos específicos relacionados às desigualdades que decorrem cotidianamente nas vidas das mulheres, visibiliza a situação vivida por cada família chefiada por elas.  

Evidenciando as formas díspares com que a pandemia atinge a população, para além da questão ligada diretamente à doença.

As mulheres mais pobres com filhos, chefes de família ou monoparentais, com idade entre 25 a 54 anos  são as mais afetadas com a : perda de trabalho e renda, falta de creches e escolas, impossibilidade de adotar medidas de distanciamento social, falta ou dificuldade de acessar as políticas sociais e de segurança pública.

Dados do Monitor da Violência em 2020, traz aumentos de números e homicídios cometidos contra as mulheres. Os números mostram um aumento nos homicídios de mulheres e feminicídios em 14 e 11 UFs, respectivamente, no primeiro semestre de 2020, quando comparado com o mesmo período de 2019. O aumento dos homicídios de mulheres e feminicídios pode estar relacionado, além do aumento do tempo de convivência entre as vítimas e autores, ao agravamento de episódios de violência pré-existentes, bem como à suspensão de serviços prestados por instituições de acolhimento a vítimas de violência doméstica, ou até mesmo ao distanciamento das redes de apoio de familiares e amigos. (Fonte G1)

Neste estudo destaca-se que no caso dos homicídios, 73% das mulheres mortas eram negras, enquanto que mulheres brancas eram 26% das vítimas. Ao analisar somente os feminicídios, essa desigualdade diminuiu, apesar de ainda se manter elevada: 59% das vítimas eram negras enquanto que 40% eram brancas. 

Os efeitos da pandemia na vida das mulheres, extrapolam as assimetrias da doença e, intensificam as desigualdades pré-existentes. O distanciamento das mulheres da sua rotina já existente, maior acúmulo de problemas nos lares, na sociedade e em seu entorno, trazem, prejuízos à vida das mulheres negras pobres que lidam diretamente com todas as desigualdades econômica. 

Se tornam muralhas dos problemas na sociedade e dos filhos fora da escola dentro dos lares.  

Estão escancaradas as vulnerabilidades e desigualdades no mercado de trabalho, com ampla maioria das mulheres (mal remuneradas em tempo parcial ou intermitente), sem acesso aos direitos fundamentais (água, luz, moradia, educação, alimentação, lazer, segurança pública) e sem acessos as políticas públicas específicas.

O número de mulheres em situação de miserabilidade só crescem. Assumem sozinhas a responsabilidade dos filhos e também dos netos. Ao lado delas, centenas de crianças, adolescentes e jovens são destinadas a nunca ter direitos. Uma geração sem conhecimento e acesso à vida digna, plena e da cidadania.

Uma vergonha para estes Governos, gestores, parlamentares e o judiciário que não dão atenção para as mulheres . Sempre fecharam os olhos para esta camada da sociedade !

Vergonhosamente com a pobreza e desigualdades escancaradas e, sem a menor pretensão de dar respostas, classificam as que estão pobres ou na estrema pobreza como um setor invisível na sociedade. Invisível para quem? Invisível de quem ? 

A pandemia escancarou a falta e as consequências das perdas de várias políticas, vou chamar de “adequadas” à nossa realidade, que apontavam e determinavam caminhos, considerando todas as variantes historicamente existentes das desigualdade, às quais as mulheres estão sujeitas cotidianamente.

Com tudo isto, ou pior, com nada acontecendo neste Brasil de políticas de combate às desigualdades de gênero e com a pandemia, surgem outras novas responsabilidades com posição de inferioridade destinadas para mulheres negras. Expostas a todos os riscos de saúde e sem conseguir acessar a saúde pública, nas denominadas tarefas domésticas, prestando serviços. Cuidado sozinhas dos que cuidavam e mais alguém.

A subjugação da mulher aos interesses patriarcais. Muitos homens e também mulheres ainda mantém em nome de uma falsa moral religiosa a narrativa e práticas opressoras, machistas e racistas.

Reinventam conceitos para legitimar a nova escravidão. Prevalecendo com naturalidade as desigualdades sóciorraciais justificadas por “um processo cultural”. 

Sobrecarregam ainda mais as mulheres negras, sem a menor preocupação com as sequelas.  Afinal, para este sim SETOR, o que vale é o lucro e a manutenção deste formato de sociedade neste NOVO MODELO DE ESCRAVIZAÇÃO. 

Em 2018, O IBGE divulgou que o Brasil chegou a 13,537 milhões de pessoas na extrema pobreza, vivendo em condições de miséria.  A maioria preta e parda. 75% da população vivendo em condições de miséria.

Nos dados da Pnad Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, 13,88 milhões de brasileiros viviam nessa condição, cerca de 170 mil mais do que no ano anterior. São 6,7% da população do país. O Número de pobres que não estão na miséria extrema somam 38 milhões de pessoas. 18% da população brasileira.

Estes números se alteram muito de região para região no Brasil. O levantamento do IBGE mostra que todas as regiões do Brasil tiveram piora no índice de pobreza.

Milhares sobrevivem com menos de um salário mínimo. A tendência óbvia é piorar com o corte do auxílio emergencial e diminuição dos valores do Bolsa família.

A extrema pobreza avança e na outra ponta, os bilionários do mundo têm visto a fortuna crescer durante a pandemia. Executivos das áreas de tecnologia, saúde e da indústria estão entre os que assistiram maior avanço da renda no período. 

No Brasil a classe média não sofreu alterações de perdas.

A miséria tem que ser um assunto e pauta de todos e todas as brasileiras que tem responsabilidade com a vida digna!

Qualquer possibilidade de crescimento político, social, econômico vai depender de pautar e combater as misérias e pobrezas existente no Brasil. Sem estigmatizar, criminalizar e associar a responsabilidade da pobreza e miséria que são frutos dos desgovernos e da escravidão às mulheres negras e jovens negros, pois estes são vítimas deste sistema.




Mônica Aguiar é uma blogueira negra feminista, residente em Belo  Horizonte/MG, que desde 2010 mantém o Blog Mulher Negra, com “notícias do Brasil e do mundo diariamente. Educação, ciências e tecnologia, cultura, arte, cinema, literaturas, economia, política, dentre outros. Construindo a visibilidade das mulheres negras em fatos reais no mundo”. 

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