quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Desigualdades no trabalho somente acabaram quando Governos tiverem compromissos com as Mulheres


Por Mônica Aguiar 


Em junho de 2019, os dados do desemprego de longo prazo, no primeiro trimestre, já atingiam fortemente as mulheres. Entre as desocupadas, 28,8% permaneciam  nestas condições, há pelo menos dois anos. 

No quarto trimestre de 2019 as trabalhadoras domésticas independente da formação, representavam 92,4% e, mais de 70% não tinham registro na carteira de trabalho. 

As mulheres negras representavam 74% das mulheres sem o registro.

Em junho de 2020, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo IBGE, reafirmou que o desemprego atingiu 14,5% das mulheres. São 39,4% superior a taxa de desocupação dos homens.

Estes dados que vem crescendo alarmantemente por conta da pandemia e por estar sendo retirado pelos atuais governantes, a responsabilidade do Estado em desenvolver ações de combate às desigualdades raciais e de gênero. As mulheres além de ser as mais atingidas pela crise econômica, são as mais afetadas por todos os efeitos da pandemia.

Segundo o IBGE, 38 milhões de pessoas no Brasil estão abaixo da linha pobreza; dessas, pelo menos 27,2 milhões são mulheres; elas também são a maioria entre a população idosa (56%) que sobrevive sozinha e com pequenos recursos.

No ranking da igualdade salarial, o Brasil é o penúltimo entre todos os países das Américas, perdendo só para o Chile (ocupamos o 124º lugar de 142 países avaliados). Estar no poço das desigualdades.  

As mulheres estão em maioria, exercendo as funções na prestação de serviços, serviços essenciais, domésticos, impactando consideravelmente na população negra.

Com o isolamento social, as categorias que mais sofrem e tiveram perdas, são as diaristas e empregadas domésticas, compostas por maioria de mulheres negras.

Se compararmos a participação das mulheres no mercado de trabalho, no período de 2019 e 2020,  depararemos com uma queda em 2020 de 7 pontos percentuais.  

Devemos lembrar que, mesmo as mulheres que tem mais qualificações(formação acadêmica e técnica), encontram dificuldades de se manter no mercado de trabalho. 
As mulheres com mais qualificações e que, ainda estão trabalhando, também tem a renda menor que de homens e encontram grandes dificuldades de ascensão na carreira.  

Milhares de mulheres com qualificação, ocupam postos  de trabalhos bem diferentes de sua formação acadêmica e técnica. A maioria são mulheres negras. 

Uma mulher chega ganhar 20% menos que um homem. Uma mulher negra chega ganhar 50% menos. Estas diferenças tem se aprofundado casa dia mais. 

Muitas profissões são usadas para demarcar o território e a renda que as mulheres são subordinadas a ocupar. Principalmente quando esta ocupação for pleiteada por uma mulher negra. 

Nesta conjuntura, em todas as funções, as mulheres enfrentam mais horas de trabalho que os homens. 

Considerado o período de isolamento social, com tantas creches e escolas fechadas, com salários tão baixos, sem condições de assumir a contratação de uma profissional, por ser chefe de família ou dividir as despesas do lar, a maioria das mulheres tem assumido uma jornada de trabalho exaustiva, ao ter que conciliar:-  trabalho fora, trabalho em casa, cuidado dos filhos ou netos, educação direta, ajuda à familiares e sobrevivência.

Com o nível de cobrança muito maior, muitas mulheres sofrem com a violência doméstica, discriminações e preconceitos dentro dos lares e na sociedade em seu entorno. 

A falta de perspectiva na política brasileira, passam a ser refletidas nos rostos cansados, vistos diariamente pelas ruas.   

Não é fácil para uma mãe ver seus filhos passando fome. Ao conversar com algumas mulheres, várias fizeram seguintes relato:

“Se estivessem pequenos, eu teria pelo menos o leite do peito para dar”

O Governo Bolsonaro e maioria dos Estados e Cidades, não se dispuseram em dar um passo, em direção ao combate às desigualdades sociais e raciais no mercado de trabalho para as mulheres antes e  durante a pandemia.

As mulheres são consideradas por estes gestores, pessoas sem direitos, de segunda categoria.  
Eles abandonaram totalmente a ideia que as mulheres são peças fundamentais para o equilíbrio da sociedade e, para isto as políticas afirmativas, transversais, intersetoriais, oportunidades e equidade são estratégias fundamentais. 

Acreditam que quaisquer políticas de gênero e raça são instrumentos ideológicos. 

Não aceitam desenvolve-las, e já retiraram vários recursos das politicas desenvolvidas que sobreviveram, como o foi o corte feito de repasses orçamentários para políticas de combate a violência contra mulher. 
Cortaram orçamentos e mudaram ações na saúde, educação e habitação direcionadas às mulheres.  

De fato, estas perdas obtidas, são medidas reparatórias, fundamentais no equilíbrio econômico e social.  

Mas estes Governos, vem interferindo de forma direta e negativa em todo processo de reorganização ou rearranjo econômico e social das mulheres na sociedade, interrompendo com todo o processo da diminuição de desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho e demais setores.  
Mesmo com 70% das mulheres preferindo um emprego a ficar em casa . E prova disso , foi o relatório 2020, do Fórum Econômico Mundial, que conclui que a igualdade de gêneros só se dará em 2095, e se houver avanços nas políticas pelos direitos das mulheres.

Precisamos modificar as justificativas das práticas machistas associadas a um comportamento cultural. 
Para estes governos,  isto é um prato cheio para incluir valores religiosos, desqualificar o que estava sendo construindo como política de Estado para as mulheres e para o povo negro e fortalecer a penalização da maternidade existente sejam em empresas públicas ou privadas.  
A tolerância e igualdade de direitos, são princípios fundamentais garantidos na Constituição  Brasileira, mas,  não tem o menor valor para eles.

A lacuna que deveria diminuir, só cresce.  


Fontes: IPEA/ Pravale/Camara/ INPER

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