Por Mônica Aguiar
A população negra do Brasil se não tivessem o SUS estariam com um número de mortes previníveis muito maiores.Estudos e
estatísticas oficiais de saúde apontam que as mulheres negras com idade entre
10 a 49 anos são bastante afetadas por mortes maternas provocadas por causas
evitáveis como hipertensão, hemorragia e infecção puerperal.
As mortes na primeira
semana de vida também são mais frequentes entre
crianças negras quando comparadas às brancas.
Ainda no contexto de
mortalidade, a estatística registram que a segunda causa de morte mais
frequente entre a população negra é o homicídio, enquanto para brancos, esta
aparece como a quinta causa de mortalidade mais comum.
A população negra estar
mais propensas a doenças genéticas e hereditárias: diabetes, hipertensão, miomas
e doenças falciforme. São consideradas doenças mais comuns entre a população
negra brasileira.
Analisando todos os números
de óbitos por causas previníveis, estamos na porta do genocídio, por descaso e falta
de implementação da Política Nacional de Saúde da População Negra nos municípios
do Brasil.
A Política Nacional
de Saúde Integral da População Negra foi instituída no Brasil em 13 de maio de 2009,
reconhecendo o racismo, as desigualdades étnico-raciais como determinantes
sociais das condições de saúde e o impacto que o racismo provoca na garantia da
vida e saúde da população negra.
O Sistema Único de
Saúde é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. Ele deveria garantir
acesso integral, universal e gratuito para toda a população brasileira.
A cada ano,
aproximadamente 2,4 milhões de recém-nascidos fazem o exame de Doença
Falciforme pelo SUS, ou seja, uma cobertura de 83,2% das crianças que nascem no
país, Mas, dos recém-nascidos no Brasil, a maior taxa de mortalidade neonatal estão
majoritariamente as crianças negras.
Devemos nestes 30
anos de SUS lembrar que o Brasil assumiu compromissos para com a saúde da população
negra no ano que foi instituído a Década Internacional de Afrodescendentes pela
ONU, para implementações de políticas em atenção à saúde da população negra, combate
ao genocídio, acesso ao saúde pública de qualidade e reconhecimento das
especificidades existente e dentre outras.
Estamos vivendo um
período de descasos e perdas na implementação das políticas de saúde da população
negra por parte do Ministério da Saúde e Ministério da Mulher, Família e Direitos
Humanos. Estes Ministérios tem negado sistematicamente a existência das especificidades,
a importância da transversalidade, intersetorialidade para combater o racismo institucional,
garantir acessos iguais em lugares e de gestão públicas. Direitos fundamentais
estabelecidos na Constituição Brasileira.
A falta de existência
de um simples Comitê Gestor ou de uma simples Comissão dentro em um Conselho Municipal de Saúde corroboram com o
não cumprimento por parte de gestores municipais da saúde com os objetivos,
diretrizes, estratégias com vistas à promoção da equidade em saúde da população
negra dentro do SUS.
As resistências racistas,
tem solidificado cada dia mais o racismo institucional e estrutural. Os números
de óbitos vem demostrando o tamanho desafio e importância para de implementação
desta política no Brasil.
Mesmo com a população
negra sendo a que mais acessa o SUS, ainda é a que tem menor acesso a saúde pública.
60% das mortes
maternas ocorrem entre mulheres negras e 34%, entre mulheres brancas.
O
racismo institucional funciona como uma espécie de mecanismo de impedimento de
acesso das pessoas negras ao serviço de saúde, trazendo enormes prejuízos no
seu processo de saúde, já que, por vezes, causa uma morte que poderia ser
evitável e prevenível ou até mesmo antecipando essa morte que poderia acontecer
de modo mais tardio.( Emanuelle Góes, mulher
negra, doutora em Saúde Pública pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC/UFBA).
Os
desafios de um sistema de saúde são constantes e novas demandas sempre surgem
agudas e crônicas.
Em Belo Horizonte, na
Região Distrito Venda Nova, existe uma maternidade pública, a Maternidade (Leonina
Leonor), foi construída e equipada a mais de 10 anos, para atender de forma
humanizada grávidas da Capital seu
entorno. Foram quase 10 milhões de investimento com dinheiro público e até o presente
momento não foi colocada para funcionar.
A Maternidade Leonina
Leonor, é um equipamento voltado ao atendimento na linha de humanização do
parto e se se estivesse aberta, funcionando, teria a capacidade para atender
350 parturientes por mês inicialmente, a expectativa seria que a unidade
realizasse cerca de 500 partos humanizados.
Venda Nova e uma
região como predominância de mulheres pobres e negras. A população é composta
por 51,61% mulheres e faixa etária entre 19 a 44 anos, que somam 68,34% em idades
férteis e reprodutivas.
A abertura da
Maternidade Leonina e Leonor foi eleita prioridade pela 14ª Conferência
Municipal de Saúde em 2017 e definida como a meta 4.2.4 no eixo de urgência,
emergência e atendimento hospitalar no Plano Municipal de Saúde de Belo Horizonte
2018 – 2021, documento que expressa as responsabilidades da gestão municipal
sobre a construção de políticas e ações de saúde a partir de um diagnóstico das
condições e necessidades da população, mas segue sendo descumprido e a
Maternidade permanece fechada
Na região de Venda Nova,
são as mulheres que mais recorrem ao Sistema Único de Saúde para atendimento
pré-parto, parto e pós-parto. Contudo, a Secretaria Municipal de Saúde alega que
faltariam recursos para o seu funcionamento, isto à revelia das reivindicações
sociais, deliberações do Conselho Municipal de Saúde, dados estatísticos de
mortalidade infantil e materna na região, compromissos assumidos pelo Brasil no
Oitavo objetivos do Milênio e compromisso assumido pelo Brasil na Década dos
Afro Descentes.
Ao declarar a Década Internacional de Afrodescendentes
(2015-2024), a comunidade
internacional reconhece que os povos afrodescendentes representam um grupo
distinto cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos.
O Brasil firmou
compromisso de diminuir os números de mortes maternas até 2030, dentro dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável Assim sendo, é necessária a sua eliminação por
meio do seu reconhecimento no país e da promoção de mudanças na cultura
organizacional, objetivando a adoção de práticas de combate ao racismo
dirigidos ao seu enfrentamento, assim como a comunicação pública de compromisso
do país com a diversidade e enfrentamento de atos discriminatórios, a fim de
que todos possam ter o acesso devido aos serviços públicos sem qualquer
discriminação, já que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, conforme
prescreve a Constituição brasileira de 1988.
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