terça-feira, 7 de julho de 2020

Desigualdades raciais. Quem interessa sustentá-las


 Por Mônica Aguiar 

Nós meus 37 anos de militância e atuação política, nunca eu li, assistir e ou ouvir falar tanto das desigualdades raciais existentes.

Precisou de uma crise sanitária, provocada pela pandemia, para que parcela significativa da sociedade se tornasse visibilizada e para que as desigualdades passassem a ser minimamente interpretadas, considerando os fatores sócio-raciais historicamente registrados pelos movimentos de mulheres negras.

Nas análises de incidências de contaminação e mortalidade pela Corona virus, ao incorporar fazendo o recorte de renda, idade e local de moradia conseguiu que muitos enxergassem o grupo de gênero e raça mais atingindo e em extrema vulnerabilidade social no Brasil.

Os chamados invisibilizados aos olhos dos Governos.

De fato, sempre souberam da existência desta parcela da sociedade e sempre negaram a sua existência. Esta narrativa de invisibilidade,  naturaliza o lançamento da maioria da população negra à própria sorte.  Já estão décadas apontadas em estudos, teses, pesquisas, nas pautas e agendas dos que lutam contra o racismo.

As barreiras de acesso aos direitos fundamentais impõem as mulheres negras a grande maioria da população, situação de pobreza e de extrema pobreza, chefiando a maioria dos lares, com piores salários e residindo longe dos grandes centros.
Implicando o enfraquecimento sistemático dos direitos.

Diversos grupos gestores e governos tem assumido publicamente querer entender melhor as demandas e as violações de direito que fazem parte do cotidiano desta população invisibilizada. 
A grande maioria de negros e negras permanecem em situação de vulnerabilidade e invisibilidade no Brasil desde o período da escravidão. Sem moradia, sem saneamento básico, sem bens duráveis, sem renda adequada, igualdade e oportunidades para sobrevivência.

A  escravidão, muitas vezes, é enxergada apenas como um fenômeno fático, percebido sob nuances sociológicas ou econômicas, que simplesmente existia no Brasil do século XIX e que foi extinto por meio da Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888. Entretanto, a questão não é tão simples assim: a escravidão era amparada por uma legislação, que, inclusive a constitucionalizava, apesar de não se referir a ela diretamente {(MORAES, 1966, p.372). De André Emmanuel Batista Barreto Campello}

O saneamento básico não está ao alcance de muitos moradores de comunidades e bairros nas periferias das cidades brasileiras.

E para provocar reflexões pergunto:

- Devemos afirmar que os determinantes sociais agravam a pandemia, ou que a pandemia é agravada pelos determinantes sociais existentes?

- As marcas das desigualdade aumentam o desafio para prevenção e controle da Covid-19 ou é a falta de responsabilidade política, o negacionismo do governo brasileiro com as vidas negras?

As políticas que foram desenvolvidas de raça, gênero, específicas e afirmativas no Brasil, criadas para garantir o enfrentamento ao racismo, consolidação da democracia e o exercício da cidadania,   desapareceram dos Ministérios deste Governo Bolsonarista.

A precarização, sucateamento, estagnação e desmantelamento do SUS no Brasil poderá trazer consequências devastadoras nas vidas de milhares de inocentes.

O que tudo indica que as práticas de  racismo institucional e estrutural reveladas nas afirmações , práticas e condutas destes atuais governantes,  provocam brutalmente retrocesso dos avanços obtidos no combate ao racismo e suas mazelas.

No Brasil a falta de saneamento básico impacta mais as mulheres, 47% das escolas  não possuem um lavatório com água e sabão, o que afeta 900 milhões de crianças em idade escolar. Cerca de 17% da população não têm acesso à água tratada e apenas 46% do esgoto no país passa por tratamento. (Pesquisa da Unicef, divulgada em 13 de março) e  levantamento feito pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) .

Qual é a alternativa apresentada pelo Governo brasileiro para população, neste momento onde milhares de vidas e com elas as chamadas vidas invisibilizadas deixam de existir?

A privatização de serviços de saneamento básico?

Será esta medida afirmativa, prepositiva e concreta que o Governo federal estar apresentando para populações de baixa renda, sem renda e desalentada neste tempos de quarentena ao COVD19?

O apartheid social no Brasil será o principal responsável pelas consequências trágicas do COVD19. Ingenuidade pensar que não existe escolhas do grupo social que se contamina e morre com este vírus.

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