O Coletivo Nacional de Juventude Negra Enegrecer lançou em 12 de outubro a campanha nacional #SemCriançasNãoHáDiaDasCrianças, “Brasil, Pare de Matar Crianças Negras” |
Por Mônica Aguiar
O que tudo indica que as novas práticas racistas institucionais
e estruturais já provocam o retrocesso dos avanços obtidos no combate ao
racismo e suas mazelas
Políticas e ações conquistadas a passos lentos pelo movimento negro
e de mulheres negras para garantir minimamente as reparações dos danos causados
pela escravidão e igualdade entre negros e não negros no Brasil estão sendo
rejeitadas.
A população negra sofre diariamente com o racismo. Existe uma
ineficiência interpretativa proposital nas Leis que punem práticas do racismo.
Leis como a 7.716/89
Caó, que classifica o racismo como crime inafiançável, e prevê prisão de até
cinco anos e multa, é pouco aplicada e muito tipificada.
A Lei nº 12.288/10O Estatuto da
Igualdade racial, destinado a garantir à
população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos
direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e
às demais formas de intolerância étnica esta sendo totalmente ignorado;
A Lei 10639, estabelece a obrigatoriedade do ensino de
"história e cultura afro-brasileira" e estabelece o dia 20 de
novembro como o dia da consciência negra no calendário escolar. Não é implementada. Dentre tantas
outras, tratados e convenções;
Datas históricas de manifestações e debate com a sociedade
sobre o racismo, discriminações, preconceitos, xenofobia, homofobia e
intolerância correlatas, estão sendo desqualificados .
As desigualdades socioeconômicas com variáveis, assimetrias é a grande realidade que se impõem entre o povo negro.
Os índices alarmantes de vulnerabilidades traduzem e
estabelecem os formatos de pobreza no Brasil, somam-se as desigualdades
existente que se mantém mesmo considerando o recorte por nível de instrução.
A falta de responsabilidade, vontade política e intolerância,
estão cavando um grande abismo socioeconômico em relação à cor ou raça no
Brasil.
Altas taxas de analfabetismo principalmente entre jovens :3,9%
são brancos e 9,1% são negros, com maior gargalo aos que residem na área rural,
onde a taxa chega a 20,7%.
A violência é um fator alarmante entre os jovens e crianças negras. O estudo do IBGE mostra que os
negros lideram o pico da taxa de homicídios entre pessoas de 15 a 29 anos,
sendo os homens a maioria.
A taxa de homicídios foi 16% entre as pessoas brancas e 43,4% entre as pretas ou pardas a cada 100 mil habitantes em 2017.
A taxa de homicídios foi 16% entre as pessoas brancas e 43,4% entre as pretas ou pardas a cada 100 mil habitantes em 2017.
Os números só crescem no Brasil.
Uma pessoa negra tem 2,7 vezes mais chances de ser vítima de
homicídio intencional do que uma pessoa branca.
No Brasil, os registros apontam que em cada 10 assassinatos
praticados por ano, 7 são contra a população negra.
Mesmo que negada, dados oficiais comprovam a existência de
filtragem racial nas instituições policiais do país, chanceladas pelo próprio
sistema de Justiça.
Ágatha, Miguel, Juan, Davi, João Pedro são algumas das crianças
assassinadas pelas mãos e aparelho de segurança pública do Estado.
Situações de vulnerabilidade e de discriminação, extermínio
da juventude pobre, negra e periférica, traduzem a falta de uma segurança
pública adequada.
A construção de uma fundada suspeita que se dá : através do comportamento suspeito, da roupa suspeita,
relacionado ao horário, principalmente na busca por drogas e armas.
Um sistema racista, punitivo e letal ao jovens e crianças negras no Brasil.
O Brasil tem hoje a polícia que mais mata e que mais morre no mundo.
Um sistema racista, punitivo e letal ao jovens e crianças negras no Brasil.
O Brasil tem hoje a polícia que mais mata e que mais morre no mundo.
A violência contra a mulher segue igual tendência. Dos 4.939
assassinatos em 2017, o maior número em dez anos, 66% das vítimas eram negras.
A cada dia se registrou 13 mortes de mulheres, nove delas negras. Em dez anos,
as taxas subiram 30% para mulheres negras e, para as não negras, 4,6%.
A violência contra a mulher não é um fato novo. Muito pelo
contrário, é tão antiga quanto a humanidade. Mas é muito recente, pensamentos e
defesa libertárias das condições de opressão e violência que as mulheres sofrem
e são impostas.
A superação da violência como condição necessária para a
construção da humanidade, deveriam ser ações prioritárias de todos os
governantes e gestores no Brasil.
Nesta conjuntura política, vivenciamos várias atitudes deste
Governo, reafirmam direta e indiretamente costumes que naturalizam a violação
de corpos, mentes e vidas de mulheres e crianças.
Um artigo da socióloga Rachel Barros na Fase ( mulher negra e
desejosa em ser mãe, convida a reflexão sobre o extermínio da infância negra e
periférica), desenvolveu uma pergunta
para refletir sobre os assassinatos de crianças que fazem parte do crescimento
escandaloso do número de mortes causadas por intervenções policiais em 2019, no
Rio de Janeiro.
Barros pergunta:
- O que fazer no momento político em que nenhuma normativa
legal, nenhum princípio democrático estabelecido por lei, é suficiente para
proteger a existência digna de crianças que moram em favelas e periferias?
É cruelmente contraditório ver que em termos populacionais, o
país avançou no aumento da expectativa de vida, e ao mesmo tempo criou práticas
para ceifar o desenvolvimento de determinadas vidas ao permitir o crescimento
do número de assassinatos de crianças e adolescentes. Afirma Rachel Barros
A violência se alicerça na estrutura patriarcal e no racismo.
O que vem sendo reconsolidado como Segurança Pública, não
pode ser considerada uma política pública de verdade: privilegia uma minoria
branca, elitizada e seu vasto patrimônio.
Nota-se que o Estado - com apoio da mídia e da opinião
pública formada pela elite, boa parte seguidores defensores e adeptos da
ideologia do armamento e da letalidade como ação policial, estão apresentando
ao longo de um bom tempo, um modelo de segurança pública direcionado para
medidas que criminalizam negros, comunidades e a pobreza, justificadas no
combate as drogas em detrimento de programas sociais e de
medidas preventivas que não sejam controladoras.
No Brasil ainda prevalece uma mentalidade que não existe
práticas e condutas demarcatórias a partir da cor. A chamada filtragem racial.
Com esta negativa, as condutas racistas ficam muito
difícil de ser identificadas, devido a existência do paradigma de como muitas
pessoas querem, acham ou ditam, a partir de seus valores como deve ser
identificado o racismo.
As práticas racistas, vem apresentando adaptações,
mudando de estratégia conforme as circunstâncias. Na maioria das vezes
até chegam assumir configuração e discurso do politicamente correto.
Fato exposto publicamente nas declarações do presidente da
Fundação Palmares desse governo Bolsonaro.
Centenas de setores do movimento negro chamam para assinar uma nota de repúdio à gestão da Fundação Palmares e pedido de exoneração do atual presidente
do órgão, justificados pelas publicações feitas no site institucional e nas
redes sociais da Fundação Cultural Palmares por ocasião do dia 13 de maio.
As
publicações feitas pelo Presidente da Fundação Palmares, distorcem a história e
minimizam a luta de Zumbi dos Palmares, herói nacional. Atentam contra a imagem
de Zumbi, dignidade, ferindo a pátria brasileira e o povo negro.
Para o Movimento Negro tal postura do Presidente da Fundação Palmares caminha na direção contrária da missão para a qual foi criada em 1988,
de atuar “para promoção e preservação dos valores culturais, históricos,
sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade
brasileira”. Pedem que assinem a petição: http://chng.it/VXTv2Y8c
Mas eu farei a seguinte pergunta
para reflexão:
-Qual a relação entre as
declarações do Presidente da Fundação Palmares, as declarações do Presidente Bolsonaro,
as declarações da Ministra dos Direitos Humanos e da Família, com a violência e
extermínio que acontecem com as mulheres, jovens e crianças negras?
O desprezo, a desconsideração, a
desqualificação às regras e princípio dos direitos humanos, sempre mantendo a aparência
técnica e política com traços criminogênicos, fortalecem e legitima condutas
finais tomada por agentes da segurança pública a partir da cor.
Esta institucionalização e práticas
racistas, sejam veladas ou não, levam tanto a sociedade quanto as instituições
públicas ficar isentas das responsabilidades quanto à acusação de cometer a filtragem
racial.
Protegem, fortalecem e disseminam o ódio e a superioridade racial através das redes sociais.
Protegem, fortalecem e disseminam o ódio e a superioridade racial através das redes sociais.
Precisamos lutar por uma reforma
profunda da política de segurança pública. Se faz necessário que
tenhamos uma política de segurança pública que privilegie a vida, respeito aos
direitos, igualdade e seja pautada nos direitos humanos.
Fontes: Brasil Escola/IBGE/Ponte.org/Fase/ Blog Mulher negra
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