Por Mônica
Aguiar
A maioria das mulheres que são
acometidas pela morte materna são as mulheres negras.
As estatísticas revelam um
fosso que separa as mulheres pretas e pardas das brancas, independentemente da
classe social.
Estão também mais propensas a
doenças previníveis, é notório que no Brasil, as doenças hipertensivas
constituem a principal causa de morte materna, responsáveis por um terço dessas
mortes.
Em 2018, mais da metade (54,1%)
das mortes maternas no Brasil ocorrem entre as mulheres negras de 15 a 29 anos.
Entre centenas de relatos que
nos chegam no Centro de Referência da Cultura Negra de Venda Nova, quando uma
família tem uma vítima de mortalidade materna, relatam, fatos ocorridos, antes
e pós parto, revelando a desigualdade racial no âmbito da saúde pública desde a
atenção básica:
Falta de pré-natal adequado; presenças
de doenças hipertensivas; falta de atendimento adequado no parto com
procedimentos inadequados; falta de orientação e acompanhamento sobre os
direitos sexuais e reprodutivos, pela equipe de saúde desde
criança; falta de capacitação dos profissionais de saúde; falta de
oferta de remédios para alívio das dores; falta de massagens, tomar água, banho
dentre outros; ineficiência de visita da equipe de saúde da família durante o
período de puerpério.
O que observamos e analisamos
nos relatos em conjunto aos dados estatísticos e debates com a sociedade,
que existe pouca eficácia para as mulheres negras nos programas e
políticas de saúde da mulher, acesso a proteção e direitos.
E por mais que o Brasil tenha
reduzido os números de mortalidade materna nos últimos anos, ainda não se conseguiu
atingir a meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas de reduzir o
número de óbitos.
Mesmo com as diretrizes na
Política Nacional para Atenção Integral à Saúde da Mulher de orientações relativo
às mulheres negras, ressaltando o respeito as singularidades culturais e,
sobretudo para as especificidades no perfil de morbimortalidade, há
resistência discriminatórias.
Tenho plena certeza que a
morte materna negra é uma violações dos direitos humanos.
E para chamar a reflexão deste
debate sem entrar nas contra argumentações de vitimismo eu pergunto:
- Porque tantas mulheres
pobres, pouco escolarizadas, moradoras de periferias são vítimas da mortalidade
materna?
É porque são mais
vulneráveis ou por que são negras?
- Porque as pessoas não gostam
de falar sobre a mortalidade materna nos conselhos locais de saúde?
Todos os anos, no dia 28 de
Maio, dia Internacional Pela Saúde da Mulher e o dia Nacional Pela Redução
da Mortalidade Materna, são realizadas milhares de agendas para chamar
atenção principalmente dos Governos sobre os altos índices de óbitos que
ocorrem devido a doenças obstétricas ou doenças preexistentes.
Momento que fazemos diversos
destaques e reafirmamos que todas as mulheres tem direito a gravidez
desejada, atenção de alta qualidade, humanizada e não discriminatória, no
pré-natal, durante o parto no pós parto.
Respeito, igualdade e equidade
O racismo institucional e
estrutural é responsável pelos autos índices de mortalidade materna.
A uma mulher negra não é dado o
tempo para fala e escuta, existe uma minimização e simplificação
pré-estabelecida de queixas, atendimentos que deveriam dar um tom
acolhedor, mais parecem um formulário de pronto atendimento com
duração estabelecida.
Como entender as doenças
específicas sem incluir a situação socioeconômica e, as relações nos lares sem
o estimulo a fala?
As discriminações são mais
sentidas entre as mulheres negras. Mas, por que são a maioria que utilizam o SUS
ou porque são negras?
Porque todas as vezes que
queremos tratar das desigualdades raciais na saúde, muitas pessoas ainda tem
resistência, e entendem, como pontos de lamentações e ou excesso de reclamações,
achando que é um momento de apontar soluções, como se a práticas, condutas
e governabilidade de garantia na saúde, estivessem nas mãos e fossem de responsabilidade
das mulheres negras?
Ainda existem resistência
em anotar os dados cor/raça nos formulários de atendimento da saúde pública.
A subnotificação da variável cor (“quesito cor”) na maioria dos sistemas
de informação da área de saúde tem dificultado uma análise mais
consistente sobre a saúde da mulher negra no Brasil.
*A Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra precisa expandir dos Comitês de Monitoramentos
Estaduais para os conselhos locais de saúde e efetivação de fato por parte dos
Governos.
O racismo é um determinante
social da saúde, principalmente para as mulheres negras.
A saúde é um
direito Constitucional, condição importantíssima no reconhecimento e
exercício da cidadania.
O caso Aline em 2011, menina
pobre, negra, moradora da Baixada Fluminense, morreu no sexto mês de gravides,
em estado de total abandono e, por não receber atendimento adequado. Tornou
sinônimo de luta pela saúde das mulheres negras. Não temos como
falar de mortalidade materna, sem memorizar Alyne.
É preciso mudar esta “cultura”
de concepção racial na saúde.
Acabar com as condutas
discriminatórias existentes, sejam por preconceitos involuntários, ignorância,
negligencia racial e ou esteriotipação racista.
Estas condutas, só servem para
ampliar as barreiras de acesso e provocar o afastamento das usuárias negras
do sistema de saúde pública.
Qual sentimento que as pessoas
imaginam que uma mulher negra tem quando ouve?
Nossa vocês são como coelho,
como cria.
Sua casa não tem televisão?
Você gosta de dá, em?
Fecha as pernas ou vai encher o
mundo de vagabundo.
Para falar em equidade,
devemos, reconhecer as diferenças de relações discriminatórias, suas causas
e consequências sem tabú e celeumas morais.
Tenham certeza que a
discriminação sofrida por uma mulher negra aflora um sentimento de impotência
diante a situação sofrida. Ocasiona uma dor igual ou maior que a vivida em
uma agressão física. Interferem diretamente na autoestima, reforçam e
compactua com a violência doméstica que muitas mulheres sofrem nos lares.
Por mais avanços que tenhamos
obtidos na sociedade com relação as não práticas racistas, muitas pessoas ainda
olham para seu semelhante de cor negra e enxerga um objeto, uma
mercadoria. E mercadorias não sentem dor. Objetos não tem desejos e
alterações.
A falta de ações públicas de
atenção à saúde da população negra, vem promovendo milhares de mortes
previníveis.
O Estado deveria cumprir seu
papel de promover a igualdade, mas como isto não acontece e soma-se ao não
reconhecimento das especificidades e resistência no trato da saúde da
população negra, sustentam institucionalmente todas as assimetrias existente de
racismo na saúde, indo na contramão das diretrizes e princípios do SUS e dos
direitos humanos.
*A Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra define os princípios, a marca, os
objetivos, as diretrizes, as estratégias e as responsabilidades de gestão,
voltados para a melhoria das condições de saúde desse segmento da população.
Inclui ações de cuidado, atenção, promoção à saúde e prevenção de doenças, bem
como de gestão participativa, participação popular e controle social,
produção de conhecimento, formação e educação permanente para
trabalhadores de saúde, visando à promoção da eqüidade em saúde da população
negra.
(Síntese da fala de Mônica Aguiar na live
realizada pelo Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte,
em atenção ao Dia Nacional pela redução da Mortalidade Materna )
3 comentários:
Muito bom Mônica! Te escutar e estar junto com vcs nesta luta faz mais sentido! Agradeço! Sigamos pela eliminação da discriminação racial e de toda desigualdade, pela vida das mulheres!!
Como sempre, texto maravilhoso. Pena que não posso dizer o mesmo do tema. O racismo não dá descanso. Soma-se isso ao machismo. Aquelas frases ditas para mulheres negras são tão comuns. É tão comum nos desprezar. E quando você falou que isso corrobora para a aceitação da violência doméstica. Meu Deus! São muitas verdades. Bem escritas. Todo mundo tinha que ler esse blog.
Devemos nos manter vigilantes as fases e práticas do racismo. Obrigada pelo comentário
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