por Ailma Teixeira
Aos 78 anos de idade e com mais de seis décadas de carreira, Elza Soares encarna “A Mulher do Fim do Mundo” e sobe ao palco do Teatro Castro Alves, neste sábado (23), para cantar sobre a força da mulher que enfrenta tudo e não desiste. Com a voz já afetada pela idade, a cantora conversou com o Bahia Notícias sobre a produção de seu 34º disco, as composições inéditas que interpreta e a importância de falar sobre assuntos polêmicos, como a violência doméstica contra a mulher e a situação marginalizada em que vivem as travestis – ambos temas de canções do novo álbum. Elza, que recebeu o título de cidadã soteropolitana, em 2009, comentou ainda sobre suas expectativas para o show único e sem participações na capital baiana. Confira a entrevista completa:
Quem é “a mulher do fim do mundo” e o que ela representa na sua música?
A mulher do fim do mundo é a mulher que aguenta tudo, é aquela que passa por várias, várias coisas pela vida, mas ela sustenta, ela segura, ela não desiste, ela vai em frente. Venha o que vier, ela está aí segurando e defende a outra mulher.
Tem um pouco de você nela?
Tem sim. Tem de quanto eu falo da defesa da mulher, eu falo da Elza. A mulher que não precisa mais sofrer dentro de casa, apanhar do marido, isso é grave, isso mata. Ela tem que denunciar, eu faço denúncia quando sei de algum caso.
Na canção que dá nome ao disco, você clama pelo direito de cantar, de se expressar. Em algum momento da vida, você já se sentiu desvalorizada pela classe artística da música popular brasileira?
Enfrentei vários problemas, enfrentei problemas seríssimos, então a gente sabe o que a gente passa e tem que segurar. Mulher negra, pobre, quando chega nesse meio tem que ter muita força, muita raça.
Nesse disco, você trabalha com uma equipe totalmente nova de artistas conhecidos na cena independente de São Paulo. O que te levou a se unir com tanto "sangue novo" da música para a produção do álbum? Como foi unir seu talento e experiência às aspirações desses músicos para construir o disco?
Esse trabalho a gente passou a fazer ele aos pouquinhos com muita paciência. Foram 50 músicas que fizeram pra eu gravar, mas não foi difícil, não. Eles trouxeram aqui pra casa pra eu escutar, ajudar a escolher e eu escolhi tudo com muito carinho, foi muito bacana.
As letras são fortes, mas todos os seus trabalhos anteriores tinham essa mesma ousadia para falar dos problemas sociais. “Maria da Vila Matilde”, por exemplo, fala sobre uma mulher que sofre de violência doméstica. O que é que te inspira a interpretar canções tão sofridas?
É um pouco da gente. A gente passa o que a gente é na canção também e eu acho que eu cantei a Elza ali dentro.
Então, é um disco sobre a sua história?
Mais ou menos. Mais ou menos. Eu faço muita denúncia também, dos preconceitos, das mazelas da sociedade.
Para você, qual a importância de dar voz a uma letra como "Benedita", que fala sobre a realidade marginalizada em que vivem as travestis?
É grande. Eu vejo que está tudo tão difícil, tudo tão estranho. Falo de homofobia também e, junto, a gente fala também da droga. Falo a verdade. É um trabalho feito do livro que se vê hoje dentro da sociedade, é machismo. Então, esse CD tem essa levada de tocar nas feridas.
Imensa. É uma cidade... Eu sou irmã de vocês, não é? Eu ganhei o título aí na Bahia, então, pra mim, cantar aí é muito grande, é muito forte. A gente colocou no show mais algumas músicas antigas, “A Carne”, “Malandro”... Umas três para completar. Vai ser “Pra Fuder”! Pra fuder, pra fuder, pra fuder mesmo.
Fonte: Bahianotícias
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