quinta-feira, 20 de março de 2025

Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, uma batalha que deve ter fim !


 Por Mônica Aguiar

21 de março, dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, data histórica e importante  para refletir sobre as assimetrias existentes do racismo e as mazelas da escravidão. 

Esta data é um lembrete da necessidade contínua de combater todas as formas de discriminação racial e promover a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, mas, principalmente para as mulheres negras.

 Particularmente, eu destaco a importância de reconhecer e enfrentar as múltiplas camadas de opressão vividas pelas mulheres negras, que ainda enfrentam discriminação tanto por sua raça quanto por seu gênero. As mulheres negras, em sua luta diária, buscam não apenas reconhecimento, mas também a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde suas vozes e experiências sejam valorizadas e respeitadas. 

Este dia serve como um chamado à ação para todos, incentivando práticas inclusivas e políticas que promovam a igualdade racial.

O 21 de Março nos convida a refletir sobre as dolorosas consequências da escravidão, cujas cicatrizes ainda são visíveis nas estruturas sociais e econômicas de hoje.

Ela nos urge a reconhecer as injustiças do passado e cobrar do Estado ações que desmantele as barreiras raciais existentes, promovendo um Brasil realmente  justo e equitativo.

Esta data é crucial para reflexão sobre o papel que governos e sistemas de justiça brasileiro e principalmente do STF-Supremo Tribunal Federal,  sobre o  desempenham no combate ao racismo e às mazelas escravagistas. 

No contexto brasileiro, onde a Constituição de 1988 estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, é imprescindível que essas instâncias atuem de forma eficaz no cumprimento dos Tratados, Convenções e Estatuto da Igualdade Racial. Avaliem concretamente as medidas afirmativas, as politicas públicas,  os mecanismos de denúncia e apuração de casos de racismo, discriminação racial, a assistência na promoção das pessoas negras.

As desigualdades raciais e o racismo são problemas profundamente enraizados que exigem abordagens genuínas e eficazes para serem superados. Em pleno 2025 observo que a maioria das ações são superficiais ou simbólicas e, utilizam as datas de denúncias para oferecer à sociedade uma aparência de progresso, e não abordam as causas estruturais subjacentes que perpetuam essas desigualdades e sustentam o racismo.

Nós, mulheres negras sabemos muito bem o que são palavras jogadas aos ventos, chavões criados para maquiar as mazelas existentes e agradar os poderosos e amigos.

As mulheres negras frequentemente enfrentam o peso dos chavões criados para maquiar as mazelas do racismo, expressões que minimizam ou distorcem a história e a responsabilidade do Estado e governos.

21 de  Março de 2025 ainda deparamos com chavões como "somos todos iguais" , "não vejo cor", “vitimismo”, “o racismo é estrutural”, “a sororidade faz a diferença”, que, embora possam até parecer bem-intencionadas, desconsideram as desigualdades e desafios específicos enfrentados por  mulheres negras.  Além disso, esses chavões tem servido para  silenciar discussões importantes sobre racismo discriminação, perpetuando um ciclo de exclusão e invisibilidade. É fundamental que a sociedade organizada reconheça e aborde essas questões de forma aberta , para que possamos avançar nas reparações.

De fato, o racismo é uma ideologia profundamente enraizada as estrutura que permeia diversas esferas da sociedade. Ele se manifesta de maneira sistemática, influenciando políticas públicas, práticas institucionais e relações sociais, perpetuando desigualdades e injustiças. Se ajusta conforme as forças políticas que se organizam, o racismo se adapta as pequenas mudanças estruturais.

Espero que neste 21 de Março as pessoas que tem o poder nas mãos, que tem o poder de fala e de comunicação façam uma abordagem crítica e abrangente.  

A confiança da sociedade nas instituições governamentais é essencial para a saúde de qualquer democracia. 

No Brasil, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm o dever não apenas de criar e interpretar leis, mas também de assegurar sua efetiva implementação.

O racismo no Brasil é uma questão complexa e persistente, muitas vezes não é devidamente reconhecida ou enfrentada pelo sistema de justiça.

O racismo é estruturado por padrões históricos existente nas pessoas que estão em situação de privilégios a comparar com a maioria da sociedade. Historicamente, ele tem sido sustentado por sistemas sociais, econômicos e políticos que privilegiam certos grupos raciais em detrimento de outros.

Algumas práticas e políticas foram institucionalizadas ao longo do tempo. Até me permito acreditar que algumas sem a intenção consciente de perpetuar a discriminação e sem intenções racistas. 

Porém, como estão em  posições privilegiadas muitas vezes se beneficiam, em silêncio desses sistemas de desigualdade.

De fato, o silêncio em relação ao racismo pode ser interpretado como uma forma de conivência ou complacência com comportamentos racistas, muitas vezes adotada sob a justificativa de evitar conflitos ou desconforto. Essa prática, no entanto, perpetua a discriminação e impede o avanço na implementação da igualdade e justiça social. Quando as pessoas escolhem não se manifestar diante de ações racistas, elas acabam por normalizar essas atitudes, permitindo que continuem a existir sem questionamento.

Portanto, para combater eficazmente o racismo, é crucial abordar tanto as atitudes e ações individuais quanto as fórmulas e formas de gestão nas estruturas institucionais que sustentam a desigualdade racial.

O exercício da cidadania é um direito fundamental que todas as pessoas devem ter garantido, mas, para as mulheres negras, essa jornada é marcada por desafios históricos e sociais específicos. No Brasil, o legado da escravidão e o racismo  impõem barreiras significativas ao acesso igualitário a oportunidades e direitos.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Cresce o número de filmes curtos com imagens de mulheres apanhando de homens .

 Por Mônica Aguiar 

O aumento no número de filmes curtos que retratam violência contra mulheres é uma tendência preocupante e que merece atenção crítica. Esse tipo de conteúdo pode ter um impacto negativo ao perpetuar estereótipos prejudiciais e normalizar comportamentos abusivos.

Com o avanço das tecnologias de comunicação, tornou-se mais fácil para indivíduos mal-intencionados atacar, intimidar ou assediar principalmente as mulheres em ambientes virtuais.

As plataformas digitais, frequentemente usadas para conexão e expressão, tornam-se palcos livres de comportamentos abusivos, como assédio, agressões, ameaças e difamação. Formando uma rede de violência cibernética.

Os atos de violência cibernética afetam o bem-estar emocional das mulheres e principalmente das meninas que têm acesso livre a estes canais e plataformas de comunicação.

A facilidade de anonimato e a falta de consequências imediatas incentivam a perpetuação desses abusos.

A produção simbólica de violências desempenha um papel crucial na formação e disseminação de ideias e valores, são espelhos das estruturas sociais e culturais existentes. No contexto das referências de relação da sociedade, essa produção perpétua narrativas e estereótipos que reforçam preconceitos e discriminações raciais.

O imaginário que coloca a culpa nas mulheres por variados aspectos da sociedade é uma construção social enraizada em estereótipos de gênero e desigualdades históricas. 

Essa visão simplista e equivocada ignora a complexidade das dinâmicas sociais e a contribuição significativa das mulheres em todas as esferas da vida. 

A afirmação de que metade do mundo é composta por mulheres e a outra metade foi parida por elas tenta, de maneira reducionista, atribuir uma responsabilidade injusta às mulheres, sem reconhecer o papel ativo e vital que desempenham na sociedade e todo o processo de violências sofrida.

Não existe compreensão por parte de muitas pessoas que valorize a igualdade de gênero, reconhecendo que tanto homens quanto mulheres têm responsabilidades e direitos iguais. Desconstruir conceitos de violência, mitos, promoção do respeito mútuo e da colaboração entre todos os gêneros passa por mudanças de padrões das plataformas para inclusão destas “curtas/filmes” em redes socais.

Estas produções denominadas particulares/individual de violência nas redes sociais, infelizmente, têm desempenhado um papel significativo na perpetuação e intensificação das desigualdades sociais.

Quando reafirmam estereótipos raciais contra uma mulher negra, essas representações contribuem para a manutenção de hierarquias e divisões baseadas em raça. A exposição contínua a conteúdos que enfatizam essas divisões normalizam e solidificam preconceitos e discriminações, tornando-se um círculo vicioso.

Além disso, a natureza viral e instantânea das redes sociais permite que essas mensagens se espalhem rapidamente, alcançando um público vasto e diversificado. Isto inclui crianças e adolescentes.

Essa forma de violência pode ter consequências devastadoras para as vítimas, incluindo danos emocionais, psicológicos e, em casos extremos, até físicos.

Combatê-la exige uma abordagem multifacetada, que inclui a educação digital para promover comportamentos online responsáveis, o fortalecimento das leis e regulamentações para punir comportamentos abusivos, e o desenvolvimento de tecnologias de detecção e prevenção de ataques cibernéticos.

A promoção de canais de denúncia eficazes é crucial para combater a violência contra a mulher. Infelizmente, muitas vezes faltam sistemas adequados que incentivem as vítimas a denunciar agressões, ou que garantam que todas as produções culturais, como curtas-metragens, incluam mensagens explícitas sobre a criminalidade desses atos.

É essencial que criadores de conteúdo e plataformas de distribuição reflitam sobre a responsabilidade que têm em promover narrativas mais saudáveis e inclusivas. Além disso, é fundamental que o público esteja ciente dos efeitos que essas representações podem ter na sociedade e exija uma abordagem mais ética e consciente na produção audiovisual.

Além disto, as plataformas online precisam assumir a responsabilidade de criar ambientes seguros e acolhedores, onde todos possam interagir sem medo de represálias ou assédio. A colaboração entre governos, empresas de tecnologia e a sociedade civil é essencial para enfrentar efetivamente esse desafio crescente.

A arte e o entretenimento têm o poder de educar e inspirar mudanças positivas, por isso é importante que sejam usados para promover respeito e igualdade.

 

quarta-feira, 5 de março de 2025

CARNAVAL 2025. A MINHA NARRATIVA CELEBRA A CONTRIBUÇÃO DA CULTURA NEGRA

Por Mônica Aguiar

"Dentro dessas comunidades, destaco as mães negras que ocupam uma posição central, não apenas como cuidadoras, mas como verdadeiras guardiãs e transmissoras de tradições culturais e valores". 

O Carnaval de 2025 surge como um palco vibrante para a discussão de temas fundamentais na sociedade brasileira, entrelaçando tradição, crítica social e celebração.

As escolas de samba transformam a avenida em um mosaico de cores e sons que reflete a realidade do país, abordando a violência institucional, a homofobia, o racismo, o machismo e a intolerância religiosa.

 Com alegorias impressionantes, como peixes e águas-vivas infláveis, as escolas destacam a luta e os desafios enfrentados por milhões de brasileiros, especialmente os jovens negros, que sofrem com a brutalidade policial.

Entre os sambas-enredo, o respeito mútuo entre diferentes crenças, a precariedade das condições de vida nas favelas.

A narrativa do Carnaval também celebra a rica contribuição afro-brasileira, com referências à história do candomblé e aos rituais de matriz africana, além de homenagear figuras históricas da luta LGBTQI+. Um exemplo notável é a inclusão da primeira travesti não indígena documentada na história do Brasil, que simboliza tanto a luta pelos direitos LGBTQI+ quanto as diversas posições ocupadas por essas comunidades na sociedade.

A representação do povo negro na passarela transcende a moda, tornando-se uma poderosa narrativa de resiliência e contribuição histórica. 

Sem armas, mas com coragem e alegria, as representações reafirmam a capacidade inabalável de construir uma nação rica em diversidade e cultura.

Este desfile foi uma celebração do futuro e da tecnologia, que, ao mesmo tempo, presta homenagem às lutas históricas que moldaram nossa sociedade.

Este ato de inclusão e reflexão retrofuturista destaca a importância de se reconhecer e valorizar a diversidade em todas as suas formas, promovendo um futuro mais justo e equitativo.

 Um espetáculo onde a tradição encontra a tecnologia, o Carnaval de 2025 não só entretém, mas também provoca reflexão e promove a inclusão e o respeito, destacando-se como um marco na história da festa mais emblemática do Brasil.

O retrato da religiosidade que se entrelaça com os gritos das favelas é uma representação vívida da complexidade e riqueza cultural do Brasil.

A obra de Milton Nascimento é um exemplo perfeito de como a música pode capturar a essência da experiência humana, expressando tanto a dor quanto a esperança presentes nas comunidades marginalizadas. Sua música, carregada de fé, amizade e sonhos, ressoa profundamente com as alegorias e fantasias que permeiam a arte barroca de Minas Gerais. 

Minas Geris é conhecida por suas igrejas ornamentadas e rica herança cultural, serve de pano de fundo para uma expressão artística que une o sagrado e o cotidiano, revelando a beleza nas adversidades e a espiritualidade que brota em meio às dificuldades. Através de suas letras e melodias, Milton Nascimento oferece um vislumbre da alma mineira, onde a tradição e a inovação coexistem harmoniosamente, criando uma sinfonia de vozes que ecoam os anseios e sonhos de um povo.

A religião afro-brasileira Tambor de Mina é um testemunho vibrante da ancestralidade africana no Brasil, destacando-se não apenas como uma manifestação de fé, mas também como uma celebração da rica cultura negra. Os rituais repletos de energia e espiritualidade, envolvendo cânticos, danças e oferendas que evocam a presença dos voduns. Desempenho do papel fundamental na preservação e disseminação das tradições religiosas africanas no Brasil. A contribuição africana é igualmente visível no Carnaval, onde a herança cultural e a música de matriz africana enriquecem essa festividade com ritmos e expressões únicas. Nos cultos de matriz africana, rituais de proteção são realizados para assegurar a harmonia e o equilíbrio espiritual dos praticantes, destacando a profunda conexão entre o sagrado e o cotidiano.

Além disso, a influência dos negros de etnias bantu é evidente na cultura carioca, especialmente nas tradições musicais e culinárias, que continuam a moldar a identidade cultural do Rio de Janeiro. Essas contribuições ressaltam a importância da preservação e valorização do legado afro-brasileiro na construção da identidade nacional.

As favelas são espaços de resistência e resiliência que desempenham um papel crucial na cultura e na sociedade brasileira. 

Elas são frequentemente estigmatizadas, vistas apenas através de lentes de violência e pobreza, mas são também berços de rica diversidade cultural, inovação e solidariedade. 

Dentro dessas comunidades, destaco as mães negras que ocupam uma posição central, não apenas como cuidadoras, mas como verdadeiras guardiãs e transmissoras de tradições culturais e valores. 

Elas ensinam sobre a importância da coletividade, da luta por direitos e da preservação das identidades afro-brasileiras. Suas histórias e vivências são fundamentais para a construção de uma narrativa mais inclusiva e verdadeira sobre o Brasil. 

Ao mesmo tempo, o estereótipo negativo associado às favelas precisa ser desafiado e desconstruído para que essas comunidades sejam reconhecidas por suas contribuições significativas à sociedade e à cultura do país.

Percorrer o Brasil durante o Carnaval é embarcar em uma viagem cultural diversa e rica, onde cada região revela sua própria identidade e história através de suas celebrações. 

O samba e as escolas de samba trazem à avenida enredos que refletem lutas sociais e homenagens a figuras importantes da história nacional. Os blocos afro e o axé se misturam em uma festa que celebra a herança africana e a resistência cultural. O frevo e o maracatu ganham as ruas com suas tradições vibrantes e coloridas, contando histórias de resistência e celebração popular. Elementos mostrando a diversidade cultural mesmo dentro de uma única festividade. 

Cada canto do país, através de seu Carnaval, narra contos reais que falam sobre a identidade e a diversidade do povo brasileiro, em uma celebração que é tão multifacetada quanto a própria nação.

Eu sempre digo o seguinte: 

"É fundamental evitar a perpetuação de estereótipos que contribuem para a criminalização de determinados grupos sociais. Esses estereótipos muitas vezes são baseados em preconceitos e generalizações injustas que não refletem a complexidade e a diversidade das experiências individuais. Quando reforçamos esses estereótipos, perpetuamos um ciclo de discriminação e marginalização que pode levar a consequências graves, como a estigmatização social e a injustiça sistêmica. Devemos promover a compreensão e o respeito mútuo, valorizando cada pessoa por suas qualidades únicas e desafiando as narrativas simplistas que alimentam a divisão social. Ao rejeitarmos esses estigmas, contribuímos para uma sociedade mais justa e inclusiva, onde todos têm a oportunidade de serem vistos e tratados de maneira ivrdadeiramente igualitária e respeitosa". 

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