segunda-feira, 6 de maio de 2024

Interferência, violações de direitos ou violência política?

 Por Mônica Aguiar 

Caminhando. Na batalha. Sobrevivendo. Na luta. São respostas da maioria de mulheres que atuam como dirigentes nos partidos políticos quando perguntamos como está você.

Respostas demonstradas na voz exaurida das batalhas travadas cotidianamente.

Nestas considerações não vou falar das pesquisas que abordam das dificuldades das campanhas eleitorais e o peso dos fatores como a divisão sexual do trabalho, com a tripla responsabilidade e limitações da atuação política ou do Fundo Partidário.

Vou falar das relações, comportamentos, das consequências do domínio das direções partidárias por homens.

Nestes anos de observações, percebi que são poucas as mulheres que se erguem para furar a bolha política da casta humanidade masculina e todas ao falar das relações políticas internas, demonstram aspectos em comum: olhar cansado e distante, ombros caídos, rigidez ao sorrir e austeridade. Produto do tamanho do sofrimento e cansaço provocado por almejar fazer parte desta estrutura que sustenta a política.

Inadequadamente, as, interferência política de homens nas decisões das mulheres nos partidos causam desgastes nas relações, mas não provocam o debate político sério. Mesmo com as mulheres sendo a maioria entre as pessoas filiadas dentro nos partidos políticos a violência política e o racismo  interferem de maneira negativa nas chances de disputar e se eleger por um partido ou por um grupo interno partidário.

Deixa para lá! Você conhece fulano! Isto acontece! Você é forte. São frases vinda dos que dizem produzir a  “solidariedade” masculina quando existem embates políticos internos que escapolem das regras normativas estabelecidas também por eles.  

Dos que a mulher se encoraja e enfrenta, surgem termos insultuosos,  preconceituosos, declaradamente discriminatórios: Ela não aprende mesmo! Louca! Desajustada! Descompensada! Vaca! Cala boca mulher! Não sabe falar! Uma coitada! Não dá conta! Ela está querendo o quê?

Esta relação assentada na estrutura do patriarcado constituem violência política, possuem características especificas e muitas são veladas. Criam condicionantes dentro do sistema partidário que afetam os resultados para composição das direções partidárias.

É como escutássemos: “Sirvam nós de seus conhecimentos e afazeres, das grandes mobilizações, mas não venham querer estar onde estamos”.  

A maioria das mulheres não tem formação política porque o desenho organizacional nas direções não priorizam a formação política para mulheres. Muitas não tem compreensão alguma das práticas partidárias, negam a existência da violência política, fortalecem homens para estar nas frentes das fileiras ditando regras para as estruturas dos partidos. A maioria das mulheres dirigentes não tem acesso aos acordos que produzem os cálculos eleitorais, muito menos a quem manipula os recursos e aos mandatários que determinam  o lugar de cada pessoa nesta “engenharia”.

Este o sistema partidário brasileiro garante que a engrenagem rode sempre a favor do vasto e dominante poderio masculino.

A sustentação do discurso de boas práticas com novos modelos de relações, a utilização dos chavões generalistas, postura maternalista, comportamento baseados na obrigação e obediência feminina, aceitáveis aos homens, evitando constrangimentos políticos não coloca mulher alguma dentro das estruturas de um plano político maior. Tudo depende da vontade politica, do que estar em curso no jogo político que os homens produzem.

Por mais esforço que a mulher faça para corroborar, sempre será exigido a manutenção das regras do cuidado e da boa moral para com a denominada cúpula partidária.

Se as mulheres não enfrentarem os desafios de igual para igual e, entender que eles se modificam conforme a conjuntura política, continuará submetidas a violência política. 

A sustentação de certas opiniões existentes de democracia, igualdade e gênero não estão conseguindo acompanhar as mudanças e desafios atuais existentes dentro dos partidos políticos.

Resistência com passividade.  Ira na paz. Falas sem direcionamentos políticos. Hoje não existe concordância, é pura obediência.

Se quiser assim bem, se não, avoca-se as cotas!

Ideologia ou ideologismo? Estrategicamente, não se colocam como setores ou grupos organizados durante o processo eleitoral e nem se posicionam em prol de qualquer bancada existente. Sabem que quanto mais estiverem divididos nos partidos políticos, maior será sua representação.

Estes homens são representantes dos grandes setores e seguimentos que detém a informação, formação, capital e, que ganham visibilidade e existência organizacional pós o período eleitoral. Eleitos formam as grandes bancadas nas casas legislativas. Ocupam as presidências nas câmaras dos vereadores, Câmara Federal e Senado, presidem também as principais câmaras técnicas e comissões.

Para os seguimentos com pautas voltadas aos direitos humanos, hoje denominados “identitarias”, mulheres, negros, indígenas, LGBTQI+ e, dentre outros, tal estratégia política não funciona.

Existem impedimentos para que as mulheres não conheçam o que de fato existe dentro desta bolha do sistema partidário, politico e sistema eleitoral.

E onde estão as mulheres? Aguardando o cumprimento das cotas e migalhas de repasse dos recursos. 

Sendo perseguidas e criminalizadas dentro de muitos partidos.

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