Por Mônica Aguiar
Continuo
buscando informações na internet, em jornais, que retratam a falta de mulheres
em espaços de poderes.
Trata-se
da ausência e dificuldades que as mulheres encontram para ser uma diplomara no
Itamaraty .
Como
Eu disse antes aqui no Blog Mulher Negra , na minha matéria, publicada dia 07
de Abril, Nós e o Poder. Como estamos?
“Estas mulheres desafiadoras lutam por representação e pelos direitos individuais e coletivos e estão historicamente em menor número que os homens nos espaços de poderes. Suportar posturas machistas e patriarcais não é uma tarefa fácil para uma mulher que estar sozinha ou em menor número nos espaços de poderes”.
![]() |
Maria José de Castro Rebello Mendes, em 1918: ela foi a primeira mulher a ingressar no Ministério das Relações Exteriores |
"Quando prestou concurso para o
Itamaraty, em 28 de agosto de 1918, a baiana Maria José de Castro Rebello
Mendes, de 27 anos, não pensava em levantar bandeiras. Queria apenas uma fonte
de renda para sustentar a mãe viúva e uma irmã doente .....
Mas ela acabou escrevendo seu
nome na história da diplomacia brasileira como a primeira mulher a ingressar no
Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Foram 19 provas em sete dias:
de português a aritmética, de datilografia a direito, de inglês a alemão. Ao
fim da exaustiva maratona de testes escritos, exames orais e até uma redação
sobre Minas Gerais, Maria José de Castro Rebello Mendes (1891-1936) foi aprovada
em primeiro lugar no concurso. Era a única mulher, entre cinco homens, a
disputar a vaga de terceiro oficial da Secretaria de Estado.
"No período imperial, os
diplomatas brasileiros eram homens, brancos e bem vestidos, recrutados no seio
da elite econômica e intelectual porque o Brasil buscava reproduzir os padrões
europeus de 'nobreza'", explica Gabrielly Amparo, doutoranda em Economia
Política Mundial pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e autora de A
Diplomacia Não Tem Rosto de Mulher: O Itamaraty e a Desigualdade de Gênero (2021).
"A mulher não faz parte da história oficial do Itamaraty. Elas não estão presentes em cargos de visibilidade e prestígio internacionais. Logo, se não são 'vistas', tornam-se 'invisíveis' e 'inexistentes'. Aquilo que desconhecemos, não existe".
A aprovação de Maria José
suscitou polêmica. Muita polêmica. "Podem as mulheres ocupar cargos
públicos?", questionou o jornal A Noite na edição de 31 de agosto de 1918.
Até o escritor Lima Barreto (1881-1922) classificou como "ideia de
botequim" a decisão do então ministro Nilo Peçanha (1867-1924) de dar
posse a uma mulher. "Sua Excelência, eu lhe rogo, procure arranjar para as
meninas bons maridos, honestos e trabalhadores", escreveu o autor em
artigo publicado no jornal ABC do dia 5 de outubro de 1918.
Alvo de críticas e protestos,
Maria José chegou a consultar o jurista Ruy Barbosa (1849-1923) sobre se
poderia concorrer a cargo público. Diante do seu parecer favorável, ela
oficializou sua inscrição. "Melhor seria, certamente, para seu prestígio
que continuasse à direção do lar, tais são os desenganos da vida pública, mas
não há como recusar sua aspiração", despachou o chanceler Nilo Peçanha.
"Quando começou a
trabalhar no Itamaraty, em 1º de outubro de 1918, o ministério teve que
adaptar, às pressas, espaço para uso como banheiro feminino, pois somente
existiam na repartição sanitários masculinos", explica o ministro
Guilherme José Roeder Friaça, cônsul-geral adjunto em Madri, no livro Mulheres
Diplomatas no Itamaraty (1918-2011) — Uma análise de trajetórias, vitórias e
desafios (2018).
Responsável por abrir as
portas da diplomacia brasileira às mulheres, Maria José morreu em 29 de outubro
de 1936, aos 45 anos, de osteomielite.
Mais de um século se passou e
pouca coisa mudou na diplomacia brasileira. O Itamaraty continua a ser um
reduto predominantemente masculino. De 1953 a 2019, segundo o Anuário do
Instituto Rio Branco (2020), 2.235 candidatos foram aprovados no Concurso de
Admissão à Carreira de Diplomata (CACD). Desses, apenas 454 (20,3%) eram
mulheres.
"Há variáveis que ajudam
a explicar essa predominância masculina. A primeira delas é estrutural. No
mundo do trabalho, os homens são a maioria nos espaços de decisão, privilégio e
salário", afirma Karla Gobo, doutora em Sociologia pela Unicamp e autora
do artigo Da Exclusão à Inclusão Consentida: Negros e Mulheres na
Diplomacia Brasileira (2018). "Enquanto os homens seriam o polo
racional, objetivo e afeito à vida pública, as mulheres seriam emotivas, menos
objetivas e voltadas aos cuidados da vida privada".
Entre os 1.543 diplomatas brasileiros,
apenas 354 (23%) são do sexo feminino
No dia 22 de fevereiro de
2022, a embaixadora Irene Vida Gala postou em seu perfil no Twitter:
"Associar, em nossos dias, a ausência de mulheres em posições destacadas
no MRE a qualificação definitivamente desautoriza o autor do comentário".
A postagem era um desabafo a uma declaração dada pelo diplomata Sérgio Amaral
na noite anterior, em entrevista ao programa Roda Viva, em que disse ser
necessário combinar "representatividade com qualificação" das
mulheres diplomatas.
"É uma vergonha um colega homem fazer esse julgamento de suas colegas mulheres. Toda e qualquer pessoa minimamente informada sabe que a reduzida presença de mulheres é de ordem estrutural e jamais por qualificação inferior", afirma Vida Gala. E acrescenta:
"Não quero saber das razões históricas para a situação ser
como é hoje. O que interessa é saber por que a instituição e seus
representantes ainda não empreenderam uma política efetiva para a promoção da
igualdade de gênero no Itamaraty. E a resposta é clara: porque não querem
mudar".
Formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), Irene ingressou no Itamaraty em 1985. Em uma turma de 44 alunos, só 10 eram mulheres. E, dessas 10, seis já chegaram ao posto de embaixadoras, um coeficiente de sucesso (60%) não alcançado pelos homens.
"Nenhuma de nós obteve, até o momento, nenhum papel de destaque na
carreira", enfatiza. "O máximo que alcançamos foi uma subsecretaria
de Administração".
No exterior, Vida Gala esteve em missões permanentes em Lisboa, Luanda e Pretória e, provisórias, em Bissau, Lusaca e Dacar. Isso sem contar as incontáveis visitas em missão oficial a países do continente africano, como Moçambique, Quênia e Etiópia. Hoje, atua no Escritório de Representação do MRE em São Paulo.
"É preciso denunciar a
postura machista do Itamaraty. Sou reconhecida dentro e fora da instituição
como uma especialista em temas africanos. Mas nunca consegui ser chefe do
Departamento da África. O meu é um desses muitos casos em que a tese da falta de
qualificação não se sustenta".
Em 2018, por ocasião do centenário da entrada de Maria José na diplomacia brasileira, o Itamaraty lançou a campanha #maismulheresdiplomatas.
Dos cerca de 3 mil servidores da pasta, apenas 37% são mulheres (1.114). Entre os 1.543 diplomatas, 23% são do sexo feminino (354) e, entre 213 embaixadores, 20% (43). A título de comparação, segundo levantamento do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), o percentual de embaixadoras em outros países é: Suécia (49%), Filipinas (41%), Austrália (40%), EUA (36%) e Irlanda (35%). Entre os sul-americanos, o melhor índice pertence à Colômbia (28%).
"Não havia nenhuma
convicção institucional por trás dessa campanha", afirma Vida Gala.
"Nenhum homem do Itamaraty usou seu lugar de poder para assumir, em alto e
bom som, uma posição em defesa do ingresso de mais mulheres na carreira. Foi um
blefe para reduzir a pressão. Ou, em linguajar diplomático, para inglês
ver". E conclui: "Tudo se resume a uma palavra: querer. É preciso
querer ampliar a representatividade. E, até que se prove em contrário, esse
desejo não existe".
Se nada for feito, igualdade
de gêneros só será alcançada em 2066
No dia de sua posse, em 2003,
a conselheira Viviane Rios Balbino se surpreendeu ao encontrar, em uma turma de
39 diplomatas, apenas quatro outras mulheres: "Onde estão minhas
colegas?".
Recém-saída da Universidade de Brasília (UnB), onde a paridade no curso de Psicologia era normal, Viviane não conhecia, até então, as razões históricas e sociais que determinavam que a carreira diplomática fosse masculina. No mestrado em diplomacia pelo Instituto Rio Branco, transformou seu questionamento em pesquisa. Em 2005, apresentou a dissertação Diplomata. Substantivo Comum de Dois Gêneros. Um Retrato da Presença Feminina no Itamaraty no Início do Século 21. No exterior, serviu na missão do Brasil junto à OEA, em Washington, e na embaixada em Doha, no Catar.
"Enquanto vários países põem em marcha medidas que vão desde campanhas de recrutamento para mulheres até metas mínimas de promoção e lotação em postos no exterior, no Brasil temos apenas ações pontuais, adotadas em caráter informal", lamenta a chefe da Divisão de Nações Unidas I do Itamaraty.
Jornal A Noite publica nota da
aprovação de Maria José no concurso do Itamaraty
Durante o governo Lula, o
ministro Celso Amorim adotou uma política informal de cotas para promoção de
mulheres. Segundo o estudo A Diplomacia Não Tem Rosto de Mulher: o
Itamaraty e a Desigualdade de Gênero (2021), a proporção de mulheres
promovidas entre os diplomatas cresceu de 16% para 29%. No entanto, com o fim
do governo, a medida logo perdeu fôlego.
"O que se busca não é um afago, nem ganhos individuais para algumas diplomatas, mas uma mudança institucional, de longo prazo. Para isso, é fundamental contar com liderança e vontade política suficientes para enfrentar as resistências, esperadas e conhecidas", afirma Balbino.
À frente da Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional, a senadora Kátia Abreu defende um
projeto de lei que reserve pelo menos 30% das vagas de embaixador para
mulheres.
"É preciso que uma mulher
ocupe lugar de decisão para detectar discrepâncias invisíveis para a maioria
masculina", observa Balbino.
Segundo a conselheira, países como França, Austrália e África do Sul já adotaram cotas de gênero para cargos de chefia. No Brasil, não há unanimidade sobre o assunto, nem mesmo entre as mulheres.
"Numa carreira em que os avanços devem ser baseados em mérito,
um sistema de cotas talvez não constitua o melhor caminho, mas pode ser o começo
de uma solução", pondera a embaixadora Thereza Quintella.
Mas, a julgar pelo índice de mulheres aprovadas no concurso entre 1954 e 2010, a tão esperada paridade entre os sexos só seria alcançada no distante ano de 2066.
A conclusão é do estudo As Mulheres na Carreira Diplomática Brasileira: Uma Análise do Ponto de Vista da Literatura sobre Mercado de Trabalho e Gênero (2016), dos pesquisadores Rogério Farias e Géssica Carmo. A embaixadora Irene Vida Gala é uma das maiores entusiastas do projeto:
"É preciso somar a nossa luta, a
das mulheres diplomatas, à de tantas outras mulheres em outras categorias
funcionais em que são igualmente postas à margem. Nossa luta é comum. Estamos
todas em uma mesma luta por igualdade e respeito", diz.
2 comentários:
ola bom diaaaa.
Olá, adorei seu conteúdo e gosto muito deste site,
as postagens são muito interessante, por isso recomendo
a todos que tem bom gosto.
Aproveitando a oportunidade quero deixar uma dica!!!
Se você já tentou de tudo para deixar seu CABELO LISINHO,
e quando olha no espelho ainda está insegura ou insatisfeita com o resultado?
Eu indico o HIDRALISO - Alisante de Chuveiro - S/FORMOL
Acesse esse link e saiba como:
https://bit.ly/hidraliso_original_site_oficial
Postar um comentário