sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A luta pela abertura e funcionamento da Maternidade Leonina Leonor é Luta Universal

Por Mônica Aguiar 

Nesse exato momento em que a sociedade brasileira passa por tantas crises e sem vacina, milhares de brasileiras estão destinadas a conviver e lidar sozinhas com a pandemia. Estamos vendo paulatinamente a degradação da economia em todos os setores e ambiências no Brasil.

C
onsidero que os impactos nos direitos fundamentais, sociais e econômicos se agravam com as perdas dos investimentos destinados à saúde pública(SUS). Iniciando com o congelamento dos recursos públicos para a saúde por 20 anos, determinado pela Emenda Constitucional nº 95 (EC-95) de 2016. 

O perfil de muitos dirigentes no Brasil: negacionismo da ciência e da realidade socioeconômica e racial, com inaptidão administrativa, tendem as práticas do desmoronamento de equipamentos públicos existentes na saúde pública, como o caso recente em Belo Horizonte(MG) com a destruição da Maternidade Municipal Leonina Leonor, um equipamento público construída com recursos do SUS.

As perdas culturais e na educação, fome, pobreza e extrema pobreza, as disputas políticas em torno das vacinas. Tudo junto e inseparáveis. Estão remodelando as maiores desigualdades com milhares de precedentes na história recente.

Entre 2018 e 2020, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou perdas acumulas de R$ 27,5 bilhões no Orçamento da União. Mantendo sem a aprovação de um novo regime orçamentário de exceção, os investimentos totais em Saúde devem retornar a patamares equivalentes a de 2017. 

O que tudo indica também que Estados e munícipios não tem cumprido com suas responsabilidades, demostrando cuidar da saúde pública como um negócio, um consorcio produtivo.

Segundo o IBGE, em 2018 o Brasil tinha mais de 55 milhões de mulheres em idade reprodutiva (entre 10 e 49 anos) e, grande parcela dessas mulheres tornaram-se mães em um momento que não queriam, sem saber o que as esperavam com a Pandemia.

E a pandemia escancarou as consequências das perdas de várias políticas sociais em desenvolvimento. Vou chamar de “adequadas” à realidade brasileira.

Ao fazer a leitura sociorracial correta para formulação da política sociais surgiram os novos caminhos. Ao dar foco e visibilidade a todas variantes historicamente existentes das desigualdades, principalmente as que mulheres estão sujeitas cotidianamente, milhares de seres humanos deixaram a linha de pobreza e extrema pobreza no Brasil.

Hoje as mulheres mais pobres com filhos, chefes de família ou monoparentais, com idade entre 25 a 54 anos, são as mais afetadas com a: perda de trabalho e renda, falta de creches e escolas, impossibilidade de adotar medidas de distanciamento social, falta ou dificuldade de acessar as políticas sociais e de segurança pública.

Vou destacar um pequeno trecho no relatório Situação da População Mundial da UNFPA publicado em 2019: “a liberdade e os direitos reprodutivos são uma realidade para muitas mulheres, ao mesmo tempo em que, no caso de outras, ainda há uma série de desafios e barreiras para o pleno exercício desses direitos”.

Na 16ª Conferência Nacional de Saúde (16ª CNS), também em 2019, após 31 anos da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Conselho Nacional de Saúde lançou um Documento Orientador, que retoma o tema central – Democracia e Saúde – da histórica 8ª Conferência, realizada em 1986.

Neste documento além da retomada do tema central “Democracia e Saúde”, verifiquei indicadores que reafirmam a luta contra o impacto negativo da falta de investimento nas políticas sociais e fundamentais, mas principalmente o impacto do congelamento dos recursos públicos para saúde pública. 

Remete à percepção do não cumprimento de pontos que norteiam sobre este assunto:

  • Revogação da emenda do teto dos gastos;
  • Garantia de financiamento público e sustentável ao SUS;
  • Fortalecimento da Atenção Básica;
  • Respeito à soberania da vontade popular;
  • Reconhecimento da saúde como direito humano e o SUS como política pública e patrimônio do povo brasileiro, garantindo a transparência e a moralidade na gestão pública;  
  • Atendimento da agenda 2030 do desenvolvimento sustentável do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU);
  • Defensa do caráter público e universal do direito à assistência à saúde de qualidade e segundo a necessidade das populações locais, nos diversos níveis de atenção;  
  • Combater o racismo estrutural e institucional, reconhecendo as desigualdades étnico-raciais como determinantes sociais das condições de saúde, vistas à promoção da equidade em saúde;  
  • Garantia a partir da Atenção Básica, o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva da mulher, fortalecendo o planejamento familiar, garantindo a humanização do parto, com foco nas especificidades raciais, sociais, culturais e de orientação sexual.   
Em fim..... Dentre tantas outras que podem ser lidas  clicando aqui.

Não posso deixar de considerar que a pandemia tem agravado a falta de acesso e paralização de serviços de saúde sexual e reprodutiva em todas as cidades brasileiras. E a falta de plano de enfretamento a COVID dentro do planejamento reprodutivo e contracepção tende a aumentar mortes maternas evitáveis, bem como aumentar ainda mais a violência doméstica.

E isto já embaraçam os objetivos traçados em prol das mulheres e meninas até 2030.

 Mas o que tem a ver tudo com a 

Maternidade Leonina Leonor em Belo Horizonte?


*(No contexto de crise econômica, social e política em que se encontra o Brasil, não há dúvidas de que são enormes os desafios da luta pelo direito à saúde no país. Para enfrentá-los, é preciso analisar criteriosamente a história, o momento presente e as tendências que se anunciam)

A Maternidade Leonina Leonor está instalada em Venda Nova, uma das nove(9) regiões que também é Distrito de Belo Horizonte. Tem mais de 200 anos e faz divisas com várias cidades.

Bairros dos municípios vizinhos são totalmente integrados com Venda Nova, constituindo dependência social, econômica, na saúde, educação e trabalho com Belo Horizonte.  São recentemente denominados caminhos que levam o futuro à Capital Mineira.

Sua população é composta por maioria de mulheres negras com idade reprodutiva entre 19 à 49 anos. A ampla maioria depende do SUS.

Atualmente, Belo Horizonte possui sete unidades de maternidades, cinco delas funcionam dentro de hospitais gerais. Um problema certo e direcionado os riscos de contaminações das gestantes/puérperas neste período de pandemia.

Apenas duas maternidades têm prédios próprios:- Sofia Feldman e a Maternidade Odete Valadares administrada pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG).

A Maternidade Municipal Leonina Leonor, tinha uma ambiência adequada para receber as mulheres, seus futuros bebes e famílias com equidade, dignidade, respeito e conforto.

*1(Planejada com as melhores recomendações internacionais baseadas em evidências científicas, pensada para ser um centro de parto normal de excelência em atendimento humanizada).

Representa toda uma luta pelos direitos humanos, combate às desigualdades raciais existentes no Brasil, defesa das mulheres negras, dos direitos sexuais e reprodutivos, do parto humanizado, combate a violência obstétrica, defesa de todos os trabalhadores, do SUS e todo seu patrimônio.

A destruição dos equipamentos e não funcionamento da Maternidade Leonina Leonor evidenciam a falta de responsabilidade com o dinheiro público.

O Secretário Municipal de Saúde reproduz com o mesmo clamor e ânimo, o desrespeito e negacionismo existentes por parte do Governo Bolsonaro.  

Demostra com as suas declarações à empresa “desconhecimento” da história do Vetor Norte e das suas especificidades existentes:  socioeconômica e composição étnico-racial e, de duas outras grandes regiões que divide regionalmente Belo Horizonte e fazem divisas direta com Venda Nova: Pampulha e Norte.  


Afirmou o Secretário Municipal de Saúde: “que o padrão de maternidade que se quer fazer lá é um culto romântico ultrapassado”. Esta declaração contraria todas as deliberações tomadas em defesa da saúde da mulher para combater os riscos que podem ser gerados em decorrência de um procedimento cirúrgico desnecessário, no caso as cesárias.

*2As estatísticas demonstram uma violência institucionalizada. Mulheres negras são privadas do direito e do acesso à saúde. Isso se aplica à população negra em geral, mas é mais latente com as pretas e pardas, em particular”, diz Rebeca Campos Ferreira, doutoranda em antropologia e perita em antropologia no Ministério Público Federal. Para ela, os dados são desumanizadores por tratarem de mortes evitáveis e demonstrarem um genocídio.

No Brasil, pelo menos cinco mulheres negras morrem ao dia por causas relacionadas à gravidez. Assim, ocorre na Região de Venda Nova (BH/MG). Apesar de não ter encontrado nenhum dado específico, como moradora da região a 54 anos, respeitando a oralidade e vivenciado dezenas de situações cotidianas que  afirmo sem dúvidas: -  Muitas, mas muitas deixaram seus filhos para entrar nas estatísticas de mortalidade materna da Organização Mundial da Saúde (OMS), que incluiu o Brasil em uma lista de 75 países que precisam reduzir os óbitos de mães até 2030.

No documento Mortes maternas em Belo Horizonte, Brasil: percepções sobre qualidade da assistência e evitabilidade encontrei como conclusão: *3(que os óbitos maternos registrados em Belo Horizonte entre 2003 e 2010 estiveram associados a questões possivelmente evitáveis, relacionadas aos direitos reprodutivos da mulher, à assistência à gravidez, ao parto e ao puerpério).

A existência da Maternidade Leonina Leonor é uma luta universal e cumpre com resoluções, recomendações , decretos, portarias e Tratados. 

TEM QUE RECOMPOR TODOS OS EQUIPAMENTOS, ABRIR E FUNCIONAR 

REFERÊNCIAS 

  1. *(Trechos do Os desafios atuais da luta pelo direito universal à saúde no Brasil de Ciências e Saúde Coletiva)
  2. CNTS
  3.  *2Geledés
  4.  *3PBH publicações da vigilância em-saúde, boletimASPgestante
  5. UNFPA
  6. IBGE
  7. MS
  8. CNS
  9. ONU MULHERES
  10. BLOG MULHER NEGRA
  11. OMS
  12. *1 UOL UNIVERSAS      
  13. Documento orientador da 16ª Conferência Nacional de Saúde e com a Política Nacional de Humanização da Assistência da Obstétrica e Neonatal consubstanciada na Portaria 1067/2005;
  14. Portaria nº 3186, no dia 26 de novembro de 2020, tem como objetivo reduzir os riscos individuais e coletivos decorrentes da Covid-19 não só nas salas de parto, mas também nos centros obstétricos e nos alojamentos conjuntos e unidades neonatal,
  15. Portaria 2.222/GM/MS, DE 25 DE AGOSTO DE 2020 institui, em caráter excepcional e temporário, Ações Estratégicas de Apoio à Gestação, Pré-Natal e Puerpério;
  16. Nota Técnica COVID-19 Nº 12/2020 com recomendações para prevenção e controle de infecções pelo novo coronavírus (COVID-19) para Atenção à Gestante e Puérpera;
  17. As regras estabelecidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) constante na Resolução Normativa nº 368 para estimular o parto normal e reduzir as cesarianas desnecessárias. Acesse aqui a RN 368.

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