quarta-feira, 26 de abril de 2017

Mulher Negra e Literatura Brasileira

por Mônica Aguiar 

Ampliar o espaço da mulher negra no mercado editorial, desmistificar a interpretação que a literatura produzida por mulheres não integra diversos gêneros e que vai além dos romances afetivos ou autorais, equiparar a comercialização das publicações e leitura entre autores e autoras, não é uma tarefa fácil .

 O fato do mercado editorial  ser muito restrito e não permitir  por diversos preconceitos,  oferecer visibilidade as produções realizadas por mulheres negras, engrossam as fileiras dos dificultadores presentes em toda linha da historia literária no Brasil.

Os esforços que vários grupos de mulheres tem improvisado na atualidade, através de diversas agendas positivas, tem cooperado para divulgar literaturas e desmistificar preconceitos existentes, em torno dos trabalhos  produzidos,  principalmente pelas mulheres negras da literatura.

Mesmo com a deficiência vivente na divulgação, que não alcança com a mesma proporção divulgações de  produções de homens,  que tem setores da mídia a seu favor, as mulheres negras estão paulatinamente entrado neste mercado, mostrando que são capazes de competir, mesmo não sendo garantido pelo mercado a igualdade, objetivo este, de trabalhos desenvolvidos, por vários coletivos literários de feministas negras,  em diferentes regiões do país.

Entre vários coletivos literários estão :- Leia Mulheres, Leia Poetisas, Coletivo Marianas, Kdmulheres e Leia Mulheres Negras,  que traz como ideia principal,  preencher nas livrarias e estantes pessoais, uma lacuna criada pela falta histórica de reconhecimento cultural e intelectual feminino.
Coletivo Leia Mulher Negra

Em entrevista cedida ao Correio, em março deste ano, a  professora e pesquisadora Bianca Gonçalves que  estuda a questão das autoras negras e da literatura marginal-periférica, fundadora  do  Grupo Leia Mulheres Negras, lembrou que a maioria dos autores em editoras nacionais é composta por homens brancos de classe média .  
“....é fundamental preencher essa lacuna no mercado literário.....”
“Essa maioria insiste em construir ficcionalmente o mesmíssimo espaço que ocupam” ...., afirma.

Outro ponto importante ressaltado por Bianca, é a questão do próprio acesso à leitura e aos estudos, historicamente mais restritos entre a população negra brasileira.

“Escrever um livro talvez seja o ápice da atividade intelectual, algo que demanda tempo e capital, tanto financeiro como cultural. As lutas pela democratização do ensino, reivindicações por cotas e políticas de permanência em universidades são centrais para a existência da paridade entre pessoas negras e brancas no exercício intelectual”.

Diferença histórica
De acordo com o livro Literatura brasileira contemporânea, de Regina Dalcastagné, publicado em 2012, 72% dos autores publicados no Brasil são homens, brancos, de classe média, moradores do Rio de Janeiro e São Paulo, professores ou jornalistas. As mulheres continuam sendo minoria no mercado editorial.





Leia Mulheres Negras 

é um projeto que busca contribuir na visibilidade da produção literária de mulheres negras
https://www.facebook.com/leiamulheresnegras/





Escritoras Negras Brasileiras que 
Devemos Conhecer


Maria Firmina dos Reis

A primeira romancista negra brasileira, nascida em 1825. Publicou Úrsula, não seria apenas o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira - fato que nem todos os historiadores admitem - mas é também o primeiro romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção de autoria afro-descendente, que tematiza o negro a partir de uma perspectiva interna e comprometida politicamente em recuperar e narrar a condição do ser negro no Brasil. 
Em 1880, fundou uma escola gratuita e mista, para meninos e meninas, o que causou escândalo no povoado de Maçaricó, em Guimarães. Afinal, a escola teve que ser fechada .

Carolina Maria de Jesus

Seu primeiro livro retratava um sistema cruel e corrupto reforçado durante séculos por ideais colonizadores presentes nas dinâmicas sociais da população, onde o Estado não atuava da maneira correta para reparar tais erros. Suas histórias representavam perfeitamente como o Estado se mostrou falho ao longo dos anos no Brasil, colocando em xeque se o mesmo é capaz de organizar as relações sócio-econômicas presentes no dia a dia. Carolina lutou para se manter fiel à escrita, e aos filhos, era chefe de família . Ao mesmo tempo em que trabalhava como catadora de lixo,  apesar de ter cursado apenas as séries iniciais do primário, registrava o cotidiano da comunidade em cadernos arranjados . Um destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem ao seu livro mais famoso, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.

Jarid Arraes

É cordelista, escritora e autora do livro “As Lendas de Dandara“. 
Criadora do Clube da Escrita Para Mulheres. Tem mais de 60 títulos publicados em Literatura de Cordel. Nasceu em Juazeiro do Norte, cidade localizada na região do Cariri, interior do Ceará, em 12 de Fevereiro de 1991.
Começou a publicar seus escritos aos 20 anos de idade, no blog Mulher Dialética. Em Julho de 2015, Jarid Arraes publicou “As Lendas de Dandara”.
 Além do livro “As Lendas de Dandara”, suas obras mais conhecidas são os cordéis da Coleção Heroínas Negras da História do Brasil; neles, são resgatadas biografias de grandes mulheres negras que marcaram a história brasileira, como Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, Tereza de Benguela, Laudelina de Campos, entre outras. A autora também possui cordéis infantis, como “A menina que não queria ser princesa” e “A bailarina gorda” e “Os cachinhos encantados da princesa”.


Conceição Evaristo

É mestra em Literatura Brasileira , e doutora em Literatura Comparada .
Suas obras, em especial o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.
Conceição Evaristo é militante do movimento negro, com grande participação e atividade em eventos relacionados a militância política-social. Ganhadora de vários prêmios,  “Olhos d’água” (Pallas), vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Contos em 2015, ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira ao abordar, sem meias palavras, a pobreza e a violência que a acometem
 O talento da autora, aliado à sua luta por mais visibilidade a vozes tradicionalmente marginalizadas, fez dela uma das principais personalidades culturais de 2016.  

Alzira Rufino

É ativista política atuante no movimento de Mulheres Negras. Alzira é Iyalorixá, poeta e Presidente da Casa de Cultura da Mulher Negra . Tem publicado artigos em jornais e revistas brasileiras e do exterior. Ganhou diversos prêmios de poesia em nível local e nacional e tem publicações de poesia, ficção e ensaios. Foi a primeira mulher a ter seu depoimento gravado no Museu de Literatura Mário de Andrade, participou de uma feira feminista do livro no Canadá, em 1988. Em 1988 ela lançou seu Eu, mulher negra, resisto, um livro de poesia. Além de escritora, é também ativista pioneira sobre a violência contra a mulher negra na Baixada Santista, em São Paulo.


Geni Guimarães 

O primeiro livro, Terceiro filho, foi lançado em 1979. Na década de 1980, aproximou-se do Movimento negro e suas obras passaram a refletir a preocupação com a cultura afro-brasileira. Escreveu contos para a revista Cadernos Negros e em 1989 publicou A cor da ternura, novela que recebeu o prêmio Adolfo Aisen


Miriam Alves 

Poeta, dramaturga e prosadora brasileira, tem cinco livros publicados. Defensora dos direitos dos afrodescendentes e da mulher, principalmente da mulher negra. Contribui de forma decisiva para a valorização dos afrodescendentes e a divulgação da literatura negra brasileira no Brasil .  Publicou  Mulher Matiz uma a reunião de vários trabalhos publicados a o longo de 25 anos de minha vida literária. A maioria consta em publicações, já esgotadas, da coletânea Cadernos Negros, que começou a  a publicar no ano de 1983. Outros foram traduzidos para o alemão e o inglês, sendo publicados em coletâneas na Alemanha e Estados Unidos e Inglaterra. Os textos  agrupados revelam o universo da mulher afro-brasileira em suas várias possibilidades vivencial-afetivas.Tem os seguintes livros de poemas publicados: Momentos de BuscaEstrelas nos Dedos, a peça teatral Terramara, ensaios em Brasilafro AutorreveladoBará – na Trilha do Vento e o livro de contos Mulher Mat(r)iz

 Lia Vieira 

É uma autora com vasta publicação de contos e poemas editados em “Cadernos Negros”, sempre tratando a realidade das mulheres negras com muita astúcia. Com nove contos, seu Só As Mulheres Sangram colocam em cena um panorama frequentemente excluído da literatura brasileira: a da mulher negra. De sua autoria, os livros “Eu, mulher” – mural de poesias (1990) e “Chica da Silva – a mulher que inventou o mar” (2001) e agora este “Só as mulheres sangram”, sob a chancela da editora mineira Nandyala e com prefácio da escritora e ensaísta Miriam Alves.

Cristiane Sobral 

É atriz, escritora e poeta brasileira.Estreou na literatura em 2000, publicando textos nos Cadernos Negros. Foi crítica teatral da revista Tablado, de Brasília. Mestre em Artes (UnB) com pesquisa sobre as estéticas nos teatros negros brasileiros. Membro do Sindicato dos Escritores do DF. Dez anos depois veio sua primeira obra autoral Não Vou Mais Lavar os Pratos, atualmente na segunda edição.

Esmeralda Ribeiro

Jornalista, nascida em São Paulo em 1958, faz parte da Geração Quilombhoje, sendo uma das coordenadoras , atua nos movimentos de combate ao racismo e na construção da Literatura Negra. Publicou seu próprio livro de contos, o Malungo e Milongas (1988), que ficou bastante famoso nas traduções para a língua inglesa.


Lélia Gonzalez 

Política, professora e antropóloga brasileira. Graduou-se  em história e filosofia e trabalhou como professora da rede pública de ensino. Seus escritos, simultaneamente permeados pelos cenários da ditadura política e da emergência dos movimentos sociais, são reveladores das múltiplas inserções e identificam sua constante preocupação em articular as lutas mais amplas da sociedade com a demanda específica dos negros e, em especial das mulheres negras.Seu livro de 1987, o Festas Populares no Brasil, é um dos maiores clássicos da literatura negra – e brasileira como um todo.

Ana Maria Gonçalves 

Escritora brasileira, escreveu seu primeiro livro  Ao lado e à margem do que sentes por mim em 2002. O livro foi publicado de forma independente.  Vendido pela própria autora pela internet.
Seu segundo romance, Um defeito de cor, de 2006, conquistou o Prêmio Casa de las Américas na categoria literatura brasileira. A obra, inspirada na vida de Luísa Mahin, conta a trajetória de uma menina nascida no Reino do Daomé e capturada como escrava aos 8 anos de idade, até a sua volta à terra natal como mulher. 

            
Elisa Lucinda

Poeta, jornalista, cantora e atriz brasileira.
Fundadora da «Casa-Poema», instituição sócio-educativa. 
Publicou a Lua que menstrua (produção independente, 1992), entre outros, os livros "A Menina Transparente", "Euteamo e suas estréias", "O Semelhante" e a "Coleção Amigo Oculto" (trilogia infantil). Gravou os Cd’s de poesias: “Semelhante” e “Euteamo e suas Estréias” , sob o selo da gravadora Rob Digital.


Fontes: correiobraziliense / Wikipedia/mdemulher/ nossaescrevencia/ Fotos : Internet

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