Para que a inserção da mulher negras no mercado, não basta
esperar mudanças espontâneas: especialistas defendem políticas públicas
O debate do empoderamento feminino traz à tona dificuldades
vivenciadas por mulheres pretas e pardas, no mercado de trabalho no mês da consciência
negra e nos 16 dias de ativismo.
Relatório do Departamento Intersindical de Estatísticas e
Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que não há muito a comemorar e afirma
que as afrodescendentes “enfrentam uma dupla discriminação no mercado de
trabalho, de raça e de gênero”. Entre essas mulheres, na capital federal, a
taxa de desemprego é a mais elevada, e o valor pago por hora trabalhada é o
mais baixo. A exclusão se repete nos demais locais avaliados pela Pesquisa de
Emprego e Desemprego (PED): Fortaleza, Porto Alegre, São Paulo e Salvador.
Os números foram divulgados na última semana de novembro, e
reafirma uma condição que a mulher negra é imposta em ampla maioria.
As mulheres negras ainda são maioria em exercício no trabalho
domestico, e tem dois anos apenas que as empregadas domésticas conquistaram direitos
trabalhistas.
No DF, 14% das negras e 9,7% das não negras são domésticas.
Mesmo entre as profissionais pretas e pardas que tiveram acesso a boa educação
e ocupam posições de melhor remuneração, o racismo afeta o dia a dia.
Professora de comunicação e serviço social da Universidade
Católica de Brasília (UCB), a doutora em comunicação e pesquisadora de raça e
gênero Isabel Clavelin observa que as negras se encontram na base da pirâmide
social. “Nas relações de trabalho, isso afeta objetivamente o ingresso, o
acesso a promoções, a permanência, o salário. Elas se deparam ainda com outras
dificuldades, como assédio sexual e moral.” Essa estrutura é perpetuada, na
opinião da pesquisadora, por uma conivência das empresas com o racismo. “As
companhias sabem da situação, mas pouco fazem”, diz. Exemplo disso é que as
negras são apenas 0,4% das executivas do país, segundo dados do Instituto Ethos
sobre as 500 maiores empresas do país.
Dione Moura, professora da Faculdade de Comunicação da
Universidade de Brasília (FAC/UnB), analisa que profissionais pretas e pardas
enfrentam diversos obstáculos — o primeiro deles, socioeconômico, que leva a
piores condições de educação. “Existe ainda uma visão de que elas são menos
capazes para o trabalho”, diz a doutora em ciências da informação.
Estética
O racismo o perpassa, inclusive, aspectos estéticos. Em
muitos casos, as próprias pretas e pardas têm em mente um ideal de beleza
europeu e, em outros, há cobranças para que elas se sujeitem a ele. “Quando a
primeira desembargadora negra do Rio de Janeiro — Ivone Caetano — foi tomar
posse, um desembargador perguntou se ela participaria da cerimônia com aquele
cabelo”, exemplifica frei David Santos diretor executivo da organização não
governamental Educafro Educafro.
“O preconceito não é causado pelo cabelo, pelo turbante ou
pela roupa, mas pelo que as pessoas acham que isso significa. O brasileiro tem
dificuldade de lembrar o período de escravidão, então optou por negar os
elementos africanos. Há uma fuga em reconhecer a identidade negra, e as dívidas
decorrentes dela. É uma tentativa de apagar essa ancestralidade que foi
injustiçada. O mesmo acontece com os indígenas”, analisa Dione Moura.
Soluções
As pesquisadoras Dione Moura e Isabel Clavelin concordam que serão
necessárias medidas que responsabilizem as empresas nas relações de desigualdades
cometidas. Iniciativas de adesão voluntária em ações afirmativas como o
Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, são necessárias para combater tais
desigualdades. Como as empresas não
enxergam a falta de inserção de trabalhadoras negras como um problema, cabe ao
governo trabalhar essa questão de cima para baixo, afirma Isabel.
Na visão da professora Dione Moura entanto, é preciso ter
mais políticas públicas efetivas para o mercado de trabalho. Ela cita os
Estados Unidos como a nação com ações mais fortes com relação a isso. “Esse
país desenhou o perfil das empresas para perceber se elas são inclusivas ou
não. Mesmo lá, a solução não foi definitiva (já que essas medidas não acabam
com o racismo, mas garantem acesso a melhores condições socioeconômicas): há
poucos dias, a primeira-dama Michelle Obama foi alvo de racismo, e isso teve
consequências.”
Fonte Correio Brasiliense
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Monica Aguiar
Eu acredito que mesmo com uma avaliação muito positiva da
conjuntura atual, que a mulher está cada vez mais, conquistando seu espaço no
ambiente profissional e participando, pela primeira fez e de forma definitiva,
das mudanças ocorridas.
As habilidades e características femininas são pouco
valorizadas pela sociedade, a mulher e principalmente a mulher negra é vista ainda como uma mera coadjuvante em
determinados segmentos sociais e profissionais, mesmo com exemplos
significativos de acesso a posições estratégicas em relação ao trabalho.
O processo de reestruturação produtiva, a
mão-de-obra feminina tem sido aceita e solicitada. O Crescimento da
participação feminina no mercado de trabalho é intenso e diversificado e apesar
dos números atuais, não retrocedeu.
As mulheres têm uma significativa participação nas esferas
econômicas e entre os empreendedores já representa praticamente a metade neste
setor, isto graças ao crescimento na formação acadêmica.
As mulheres estão muito presente no mercado de trabalho formal
que inclui indústria, construção, comércio, serviços e agropecuária. Mas sua
participação, no entanto, varia com a área, pois a grande parcela permanece
condicionada no setor de serviços e destas, a ampla maioria são as mulheres negras .
Na hora de decidir sobre uma promoção
aos empregados ou escolher aquele que irá ocupar um cargo de liderança, as
empresas ainda dão preferência aos homens, mesmo que a mulher tenha o mesmo
grau de formação.
Quanto aos lares a maioria deles são chefiados por mulheres,
quando analisados grupos pretas e pardas, estas estão acima da média nacional e
têm maior participação na renda de suas famílias.
Embora sejam as mulheres expressivamente parte da força de
trabalho, o contingente feminino tem sido sujeito de limitações, que mascara, e
fomentar dificuldades que impedem o acesso de cargos estratégicos,
representações de poderes, ascensão na carreira, especialmente no que se refere
à dinâmica de conciliação das demandas familiar e profissional.
A desqualificação da imagem da mulher nas peças publicitárias
e programas de TVs, enquanto práticas de interação não podem ser mais consideradas
ingênuas, natural, desprovida de intencionalidade, servem de fortalecimento das
desigualdades, privilegiam manifestações ideológicas racistas e classistas.
O Brasil ratificou a maioria dos
instrumentos de proteção no trabalho, mas o contraditório esta
presente demostrado através dos dados de desigualdades sociais e econômicas da
estagnação das leis que deixa visível que ainda há muito por fazer.
A resolução 156 da OIT determina igualdade de oportunidade e
tratamento para homens e mulheres com responsabilidade familiares. Mas a realidade e que parcela significativa dos homens na sociedade espera que as
mulheres e perincipalmente as mulheres negras continuem ocupando apenas funções auxiliares, e desde que estas não
sejam deliberativas e ou determinantes.
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